sábado, 4 de dezembro de 2010

CADEIRA Nº 35

Madre Marieta Moura (Acadêmica)

Entre as mais virtuosas filhas do município de Lavras da Mangabeira, destaca-se a Madre Marieta Moura, nascida no Sítio Melancias, localizado entre o Calabaço e a Várzea do Saco, nas proximidades da cidade de Lavras, a 29 de janeiro de 1929.
Na sua residência, povoada das necessidades próprias dos pequenos proprietários de terra, situados à margem esquerda do Riacho do Rosário, Deus ungiu ao seu chamado não apenas o seu nome e o seu fervor de amante de Cristo e da Igreja, mas também tocou o coração do seu irmão, o Cônego Horório de Moura, uma das mais expressivas figuras na Igreja Católica do Brasil, no século precedente.
Sua mãe, Vicência Maria das Virgens, era natural de Quitaius e descendia dos Amaros de Barros daquela importante região do município; seu pai, Joaquim Honório de Moura, provinha dos Gomes de Moura, que se estabeleceram, como ribeirinhos, nas margens do Salgado, em terras de baixios e de pequenas lavouras, onde se cultivavam o feijão-de-corda e o melão, a rapadura e outros produtos da roça e da vazante.
Sentindo-se, desde cedo, vocacionada para o serviço da fé, iniciou os seus estudos em sua cidade natal, no Grupo Escolar José Martins Rodrigues, e os prosseguiu no colégio Santa Teresa de Jesus, na cidade do Crato, isto até 1947, quando fez opção definitiva pela Congregação da Ordem de Santa Teresa, em princípio como aspirante e depois como postulante e Noviça.
Na mesma instituição, fez os seus primeiros votos de religiosa e votos de Consagração Perpétua, sagrando-se inicialmente freira e realizando depois o Curso Superior de Teologia, requisitos que a elevaram, como muita persistência, ao posto de Superiora Greral da Ordem de Santa Teresa de Jesus.
Como religiosa, trabalhou em diversos lugares do Brasil, distinguindo-se, mercê da sua vocação, em Estados como o Piaui, Maranhão, Paraiba, Ceará, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, exercendo as funções de Conselheira, Ecônoma, Superiora e Supervisora da Ordem religiosa que a acolheu como postulante.
A serviço da comunidade a que pertence, visitou mais de uma dezena de países. Em Portugal, esteve na Basílica de Nossa Senhora de Fátima e na Capela das Aparições e, em Israel, peregrinou pelos lugares sagrados, visitando a Galiléia, Cesaréia, o Monte Carmelo, Cafarnaum, o Monte das Bemaventuranças, a Igreja da Multiplicação dos Pães e a Igreja do Primado, o que muito robusteceu a sua fé e a sua experiência de religiosa.
Viajou pelo Mar de Tiberíades e, no rio Jordão, teve confirmado o seu batismo, visitando, inclusive, Caná, Nazaré, a Basílica da Anunciação, Jerusalém, o Monte das Oliveiras, o Horto da Agonia, o Muro das Lamentações, a Piscina de Betesda e a Via Dolorosa, banhando-se por igual nas águas do Mar Morto.
Sentindo-se fascinada pela cultura dos antepassados, a Madre Marieta Moura deslumbrou-se, em suas viagens pelo mundo, com as Pirâmides do Egito, mas é certo que se sentiu também fascinada por Atenas, tendo marcado também a sua alma a sua passagem pelo Vaticano, pela Igreja de São Pedro e pela Capela Sixtina, tocando-lhe o coração de freira a bêncão que recebeu de Sua Santidade, o Papa João Paulo II, em Castel Gandolfo.
Educadora, cultora do vernáculo, professora e humanista das mais qualificadas, a Madre Marieta Moura presta serviços atualmente na casa capitular da sua Congregação, localizada na rua José Honório Pequeno, s/n, Estrada do Lameiro, na cidade do Crato, onde atende a seus devotados seguidores.
Em agosto de 2009, aos oitenta anos de idade, tomou posse na Cadeira nº 35 da Academia Lavrense de Letras, cujo patrono é o seu irmão, o Cônego Honório Joaquim de Moura, tratando-se, como se pode observar facilmente, de um dos maiores nomes que o Ceará deu à Igreja Católica do Brasil.
A Madre Marieta Moura, pela vastidão de seus conhecimentos e em face da sua vocação, instiga-nos a pensar na abenegação de outras grandes mulheres lavrenses que se dedicaram à causa de Deus e da Igreja, tais os nomes de Inês Férrer Augusto Lima, Paula Senhorinha Alves Bezerra, Aurélia Teixeira Férrer e Divina Olindina Leite.
Não é exagero, portanto, dizer que Lavras da Mangabeira é um celeiro de filhos ilustres, e que não fui longe, no início da minha carreira, ao tracejar os perfis de uma centena de lavrenses, que muito alto se houveram no remate de suas trajetórias. (DIMAS MACEDO).





Honório Joaquim de Moura (Patrono)


O município de Lavras da Mangabeira e a brisa serena do Salgado deram, à constituição do clero cearense, um total de quarenta sacerdotres, sendo que oito, entre eles, se fizeram prelados. Miguel Antônio de Souza, Sandoval Teixeira Férrer e Honório Joaquim de Moura foram distinguidos com o título de Cônego. Já Manuel Roberto Sobreira, Vicente Pinto Teixeira, Manuel Carlos de Moraes, Alonso Benício Leite e José Edmilson de Macedo foram elevados, pelo Vaticano, à condição de Monsenhores.
Honório Joaquim de Moura, filho de Vicência Maria das Virgens e de Joaquim Honório de Moura, descende de imigrantes paraibanos que se fixaram nas margens do Riacho do Rosário, próximo à confluência deste com o Rio Salgado. Nasceu no Sítio Melancias, em trecho de terra também conhecido por Melancia dos Honórios, aos 06 de dezembro de 1927, tendo falecido no Rio de Janeirio, aos 28 de outubro de 2005.
Pertence a uma prole de oito irmãos, a seguir nominados: José Joaquim, Francisca de Assis, Maria de Jesus (residente em Juazeiro do Norte), Júlia Vicência (moradora no Rio de Janeiro), Paulo Joaquim (residente em Brasília), Luiz Joaquim (falecido) e Madre Marieta Moura, Superiora da Congregração das Filhas de Santa Teresa, titular da Cadeira 35 da Academia Lavrense de Letras e orgulho máximo do seu município de origem.
O seu genitor, Joaquim Honório de Moura, era parente, por sinal muito próximo, de Dom Zacarias Rolim de Moura, Bispo Emérito de Cajazeiras, no Estado da Paraiba, confirmando, assim, a trajetória dos Mouras que, originários de Portugual, povoaram diversas faixas de terra do Nordeste.
Iniciou o seu aprendizado em sua cidade natal, entre 1937 e 1942, prosseguindo os seus estudos, entre 1942 e 1948, no Seminário do Crato (onde sua irmã, Madre Marieta Moura, foi aluna do Colégio Santa Teresa até 1947, quando fez opção pela Congregação a que hoje pertence).
A sua vocação ao sacerdócio foi despertada aos dez anos de idade, sendo influenciada pelos Frades Capuchinhos e especialmente por Frei Damião de Bozzano, o célebre missionário do Nordeste, cujas prédicas e sermões acompanhava com entusiasmo, quando das passagens das santas missões em sua terra.
Em Fortaleza, foi aluno do tradicional Seminário da Prainha, onde iniciou e concluiu o seu Curso de Filosofia, nos anos letivos de 1949 e 1950. Já o Curso de Teologia foi todo ele realizado no Seminário São José do Rio Comprido, Estado do Rio de Janeiro, entre 1952 e 1956.
Ordenou-se na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, sendo ungido sacerdote por Dom Jaime de Barros Câmara, em 29 de junho de 1956. A sua primeira missa foi celebrada na Igreja da Imaculada Conceição, na Praia de Botafogo, e a sua primeira missa cantada se fez na Igreja de Santa Teresinha do Túnel Novo, igualmente no Rio de Janeiro.
Entre 1957 e 1963, foi Professor, Prefeito e Diretor Espiritual do Seminário São José, no Rio de Janeiro, onde lecionou Português, História do Brasil e História Geral. Em seguida, se fez vigário da Paróquia de São Francisco Xavier (1964) e pároco da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Tijuca, entre 1965 e 1986.
Foi Capelão da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro (1986-1993), vigário da Paróquia de São Pedro e São Paulo, no sul de Bronx, em Nova York, Estados Unidos (1993-1996) e vigário, por igual, da Paróquia de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, de 1996 até a data do seu falecimento, tendo, nesta última função, se distinguido, de forma soberana, no exercício do seu apostolado.
Ainda quando residente em Nova York, alí publicou o seu primeiro livro - Retrato do Vovô Quincas (1995), inventário de recordações e de afetos do seu pai, Joaquim Honório de Moura, e dos seus irmãos. O livro é dedicado à sua mãe, Vicência Maria das Virgens, e traz apresentações em inglês, do Padre Vicente A. Resta, e em respanhol, de Ruben Dario Rivera Figueroa, representante da Comunidade Hispânica da Paróquia de São Pedro e São Paulo.
Nos Estados Unidos, como registra num dos seus livros, fez Estágio de Pastoral Hospitalar (Withier-Los Angeles); e na Alemanha foi Assistente da Capelania no Convento de Wittibsmuhle (em Moosburg), tendo sido também Capelão de Bordo do Navio Português Vera Cruz, numa das viagens Rio-Lisboa-Rio.
Em suas viagens pelo mundo, afirma que conheceu templos e lugares sagrados os mais variados, e assim também os Santuários de Fátima (Portugal), Lourdes (França), Guadalupe (México), Nossa Señora de Lujan (Argentina);os da Misericórdia (New Jersey) e de NossaSenhora (Massachesetts), nos Estados Unidos.
O que marcou, contudo, a sua rica e brilhante trajetória de servo de Deus e da Igreja, parece ter sido a sua condição de Cônego da Irmandade de São Pedro Apóstolo, junto à Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde realizou trabalho memorável e de ampla repercussão social e pastoral.
Além da Filosofia e da Teologia, graduou-se também em Direito, no Rio de Janerio, e se houve, perante os seus superiores, como autoridade em diversas línguas estrangeiras, destacando-se entre elas o inglês e o latim, desfrutando, com justo merecimento, a reputação de erudito, circunstância que muito concorreu para ser titulado como um dos Patronos da Academia Lavrense de Letras.
No Ceara, celebrou sua primeira missa em Iguatu, e a segunda foi realizada na Igreja Matriz de Acopiara, localidades para as quais se transferiram, respectivamente, os seus irmãos José Joaquim e Francisca de Assis.
Ao falecer, deixou um manuscrito inédito – História de Um Levita - , publicado em 2006, no cinquentenário da sua ordenação e distribuído entre os seus paroquianos. Trata-se de um auto de fé e esperança, onde narra os desafios da sua caminhada e os apelos da sua vocação, tendo os seus restos mortais sepultados no Cemitério São Francisco de Xavier, no Rio de Janeiro, também conhecido por Cemitério do Caju.
Entre todos os sacerdotes nascidos no município de Lavras, o Cônego Joaquim Honório de Moura reluz, pelas suas virtudes e saberes, no diadema da primeira constelação, ao lado de Raimundo Ricardo Sobrinho, Alonso Benício Leite, Argemiro Rolim de Oliveira, Manoel Lemos de Amorim, Clairton Alexandrino de Oliveira e José Edmilson de Macedo, sem desmerecimento dos demais.
Segundo o Padre Aureliano Diamantino Silveira, no seu livro Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará (Fortaleza, Editora Premius, 2004), tinha o Cônego Honório de Moura por lema o seguinte pensamento: “Creio na Igreja de Jesus Cristo, na sua face humana e divina, onde me alegro profundamente em exercer o ministério como dispensador dos mistérios de Deus”.
Orgulho-me de ter proposto o seu nome para Patrono da Academia Lavrense de Letras e de nunca ter desistido de pesquisar a sua rica trajetória, desde a publicação do meu livro Lavrenses Ilustres, em 1981.
A sua irmã, a Madre Marieta Moura, nascida aos 27 de janeiro de 1929, destacou-se, assim como ele, por conta do seu fervor religioso e humanista, tendo sido, assim no Ceará como no Piauí, e em diversos Estados do Brasil, Superiora Geral da Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus. (DIMAS MACEDO).

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