segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ALGUMAS LEMBRANÇAS DE JOARYVAR - Emerson Monteiro

Conheci Joaryvar Macedo quando eu cursava os últimos anos do Ensino Médio no Colégio Diocesano, e ali ele morava numa das dependências do vetusto estabelecimento cratense, isto na segunda metade da década de 60. Figura silenciosa, homem alto, de óculos de lentes fortes, não poucas vezes lhe observava o fiel interesse pelos livros, vendo-o sempre munindo de leituras, o que se notava pela porta entreaberta do quarto pequeno em que se instalava à Avenida Duque de Caxias.
Era eu quem presidia o grêmio do colégio e editávamos um jornal mimeografado a tinta, o Nossa Opinião, ao lado de outros alunos, José Esmeraldo Gonçalves, Pedro Antônio Lima, José Clenilson Macedo, José Huberto Tavares, e Joaryvar, professor, cumpria, a nosso convite, as funções de revisor dos artigos divulgados. Nessa estação, alimentávamos as ideias libertárias, fase política nacional da Revolução de Março, vigência do Governo Castelo Branco.
Noutras ocasiões o encontrei diversas vezes quando, nas minhas idas e vindas ao colégio, passando na calçada da Rua Ratisbona, avistava sua presença na casa que frequentava com assiduidade, residência de sua namorada e depois esposa, Dona Rosalba.
Em 1967, me mudaria para Brejo Santo, a fim de trabalhar no Banco do Brasil, seguindo quatro anos depois para Salvador. Na capital baiana, reencontraria Joaryvar Macedo quando ele viajava para cursar pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior, na Universidade Católica.
Numa dessas ocasiões, estive no hotel em que os alunos do Cariri se hospedavam e com eles sai para conhecer algumas das belezas tradicionais da Boa Terra.
Logo adiante, visitei Joaryvar em Juazeiro do Norte, à Rua José Marrocos, próximo ao Mercado Senhora Santana, na casa em que viveu bom tempo com a família. Conversamos variados temas, cultura, literatura, amizade, genealogia, Lavras da Mangabeira, donde ambos procedemos. Nesse meio tempo, publicaria o livro Os Augustos, árvore genealógica de meu pai, reeditado em 2009, em Fortaleza, graças aos esforços de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves, que também assina esta segunda edição, num belo trabalho de 600 e tantas páginas.
No final dos anos 80, retornei para permanecer ao Cariri e, em algumas outras ocasiões, reencontraria Joaryvar, nas suas presenças em atos oficiais, no desempenho das funções de Secretário de Cultura do Ceará.
Para o lançamento em Crato do seu consagrado livro O império do bacamarte, dele recebi o honroso convite, porém não pude comparecer. Esse trabalho o consagraria em definitivo no seio das letras cearenses, obra do mais rico conteúdo, que narra em detalhes a história do universo feudal do sul do Ceará e as movimentações políticas tumultuadas dos rincões interioranos durante a primeira metade do século XX, leitura autêntica, de sabor típico, obrigatório aos que queiram mergulhar no assunto preservado pela oralidade sertaneja pesquisada por Joaryvar Macedo no melhor que existe a respeito dos eventos verificados.
Em tempos recentes, conheci Jéssen Violene Macedo, uma das filhas de Joaryvar, minha vizinha, no Bairro Grangeiro, em Crato, de quem sou amigo, dela, das filhas e do esposo.

domingo, 28 de novembro de 2010

CONVITE

Convite


O Presidente da Academia Lavrense de Letras

João Gonçalves de Lemos

Convida para solenidade de posse do acadêmico Vicente de Paulo Lemos.

Como titular da cadeira de Nº. 39, que tem como patrono:



Padre Raimundo Nonato





Traje: passeio Hora: 19h
Local: Distrito de Mangabeira Data: 15 de janeiro de 2011

sábado, 27 de novembro de 2010

CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA

CONVITE


O presidente da Academia Lavrense de Letras - ALL.

João Gonçalves de Lemos

Convida todos os acadêmicos/as para o encontro de confraternização natalina para
fortalecer, estreitar relações do grupo e torná-lo mais coeso, e ainda agradecer as realizações do ano de 2010.


Local: Restaurante Hortelã, Avenida Senador Virgílio Távora, 1901/Aldeota.

Referência:: Casas Freitas

Hora: 11h30min Data: 04 de dezembro

IDOLATRIA PRIMÁRIA - Emerson Monteiro

Tanto que se dá valor a coisas irrelevantes nesta vida que ao encontrar aquilo que na verdade pede atenção ficam as pessoas meio desconfiadas, achando que esqueceram o que de importante haveria e é essencial para levar aos bolsos e dotar a vida. São os efeitos colaterais da distração impostos pelos instrumentos modernos, vícios inconvenientes da ilusão.
A realidade mesma, a que merece respeito e ocupação dos sentidos, quantas vezes deixamos de lado, o amor aos filhos, aos pais, ao marido, à mulher, ao próximo, que se tornaram assuntos vulgares, matéria das novelas sucessivas da televisão, reino vasto das emoções enlatadas...
Para onde dirigir a visão, o indivíduo cumpre determinações do mercado de consumo, até em termos de crença, que, para muitos, raia campos de mera credulidade, preenchimento das fichas do invisível a preço do imediatismo.
No entanto a fome de justiça e a fé continuam rasgando as entranhas dos tempos e dos costumes. Aceitar o desconhecido precisa de consciência, pois a dureza do solo cotidiano assim exige. Essa atitude conformista de engolir as pílulas douradas do esquecimento da realidade jamais satisfará o desejo de equilíbrio que nasce com a gente e sobreviverá para sempre nos demais.
Preencher o vazio apenas com farrapos desnecessários anestesia durante algum tempo, contudo a cólica volta mais forte na sensação de inutilidade e perda de mínimas condições de amor. Disso anda cheio o mundo, homens impacientes, angustiados e agressivos, sem responder ao para que viessem e sumiram longe na próxima curva, fora de ao menos oferecer outros meios e exemplos aos que os aguardaram, na solução dos dramas existenciais elementares.
Nesse apetite agoniado de música nova os dentes mastigaram fel de pedra e poeira, disparos sem qualquer nexo revolucionário a não ser a intenção de ferir os céus da boca das feras inexistentes da droga, no padrão oficial da vontade.
Correm pelas ruas ventos de medo na forma dos ídolos vagos de quaisquer significados. Gente complexa, desavisada no estágio das consequências do que querem, e fazem lama onde antes havia ar puro, água limpa e esperança. Isso constrange, revira de dentro as barrigas famintas de outros sonhos que não fossem tão só de desespero e temor.
Os tais batalhões de gente agressiva pelo simples gesto de ferir, vingar o que ninguém sabe quando, embalados na ira dos atores no palco gigantesco das florestas das cidades artificiais produzem massas, batatas estragadas e luas cinzentas, que ainda brilham no espaço desses turnos assustados.
Silenciosas, gerações inteiras fixam os olhos nas imagens de terras estranhas, senhores de cicatrizes e tatuagens escuras, vestes andrajosas, garras afiadas, numa praia deserta e maré de esperas insistentes. Só.
As carcaças de barcos antigos projetam suas sombras no pôr do sol envoltas nas águas verdes que estiram os dedos às várias outras estações perdidas nas praias dos mundos enigmáticos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

UM FILME PARA SER VISTO - Emerson Monteiro

Trata-se de A língua das mariposas, produção espanhola de 1999, do diretor José Luis Cuerda, um drama bem elaborado que retrata a vida pacata do interior da Espanha às vésperas da Guerra Civil, idos de 1936. O roteiro reúne o desenrolar de três contos de Manuel Rivas, exímio escritor que revive histórias populares através de reconstituições da tradição oral recente da Península Ibérica. Em 2007, Rivas esteve no Cariri, juntamente com outro escritor, o contista moçambicano Mia Couto, ambos a proferir palestra conjunta no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri, em Crato.
O filme retrata a história de um garoto de sete anos que inicia seus estudos com um mestre-escola, Don Gregório, de ideias libertárias, vinculado ao Partido Comunista numa fase política contraditória que desaguaria nos traumas profundos e nas grandes tragédias das movimentações revolucionárias posteriores.
A Espanha serviria de campos de testa para as armas sofisticadas alemãs, logo em seguida utilizadas por Hitler na Segunda Grande Guerra. O confronto de pensamentos políticos diversos, socialismo, anarquismo, comunismo, fascismo e nazismo, terminaria ocasionando chagas profundas a centenas de milhares de espanhóis mortos, desaparecidos e refugiados, vincando de dor a paz daquela gente.
O despertar da criança para a vida tem, pois, como pano de fundo essa fase social, do ponto de vista da pequena comunidade e seus personagens, numa película elaborada com fotografia de rara qualidade e ritmo envolvente.
Numa graduação de interesses, o aluno desperta para a realidade sob os olhos atentos e cuidados do mestre, identificando-o com as novidades da natureza que revela nos primores da ciência e encontram na infância território fértil e alegre. No entanto, diante da serenidade aparente daquele universo em fermentação, crepitam temores da insegurança futura e os acontecimentos destruidores da paz, causando mágoas ainda hoje a persistir na alma da pátria.
O belo capítulo de um passado próximo que o tempo destruiu vem no filme e termina quando se iniciam outras situações com o furor que manifestaria rosto nostálgico de ódio e revolta dos seres humanos e seus caminhos desencontrados, afeitos aos valores apenas materiais.
Cenas finais assinalariam fortes emoções no espectador, reflexo e desfecho da amizade que se formara entre aluno e mestre, clímax digno das melhores quadras cinematográficas, quanto vista na sinceridade e no respeito pelas justas crenças.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

CONSUMO CONSCIENTE - Emerson Monteiro

Depois da Revolução Industrial, dois séculos atrás, que as sociedades se veem expostas aos caprichos do comércio, principal distribuidor dos bens produzidos nas fábricas. Da necessidade em vender a produção criaram-se motivos feitos pela propaganda, o que virou ciência e arte, denominada mercadologia, ou “marketing”.
A impulsão nas vendas ultrapassa regras corretas do anseio natural das pessoas, provoca faixas mentais abstratas e gera seres dependentes dos supérfluos, ou virtuais, como hoje são denominadas necessidades artificiais criadas pela propaganda.
Alguém disse certa vez do quanto são exóticas as criaturas humanas, pois gastam o que não têm para adquirir coisas de que não necessitam, visando impressionar a quem não gostam. Isso indica bem o momento da oferta e da procura, onde bilhões se atropelam no afã de alimentar ilusões estabelecidas pelas mensagens subliminares contínuas dos meios de comunicação de massa, sugando energias vitais à sobrevivência.
O gesto de comprar exercita o poder para deslocar os objetos da loja para casa, na forma de mercadorias que alimentam o sonho da dominação, atitude criada por máquinas e vendida pelas indústrias.
No entanto, também põe sob risco a vontade das pessoas, a saúde, a moral, a integridade física, tempo e liberdade. Quando, por exemplo, o consumo desperta vício de bebidas, cigarros, chocolates, há flagrante troca desonesta da saúde na doença.
Ao oferecer revistas, filmes e jornais que fazem a apologia dos objetos do desejo, algo de irreal passa a girar na personalidade dos adolescentes, o que ocasiona consequências imprevisíveis, às vezes trágicas, de resultados ainda inavaliáveis.
Porém aquilo que merece relevância na aquisição exige critérios que transformam sorte em azar, vez que milhões perdem o que disso apenas uma minoria se beneficia, no final do processo, os empresários.
Contudo, diante da onda avassaladora que só visa lucros nos balcões da atualidade, surge um movimento defensivo, provando a importância de uma seleção prévia do que se consume por instinto comercial.
O envenenamento do corpo através do açúcar, produtos químicos, aditivos, componentes químicos inorgânicos hostis ao corpo, no uso, materiais tóxicos e de fontes duvidosas acham-se sob suspeita. A humanidade precisa do senso crítico nas aquisições dispensáveis e de pouca responsabilidade para consigo mesma, cliente principal do poder mercantilista. Por isso, a consciência do que fazer cabe em todo lugar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

OBJETOS DO DESEJO - Emerson Monteiro

Celulares, computadores, automóveis, televisores, casas, aviões, armas mortíferas, novelas e outros sonhos de consumo desta era de aço, plástico e substâncias poluentes, formam a dinâmica das horas cheias do frenesi impaciente de que quase ninguém consegue escapar, da ansiedade por novos equipamentos de uso contínuo a preços módicos, do despertar ao adormecer, viagem elétrica diária de uma antena a outra, quais voos de aranhas tontas, desencontradas. Serão máquinas incandescentes, unção dos metais com os nervos das orelhas, narinas, dos lábios, numa velocidade estonteante rumo do mesmo nada original das aventuras de antigamente.
Essa proximidade do homem com os objetos guardaria, por isso, ligação estreita do sujeito e suas vinculações junto ao mundo arredondado. Resumem os grandes filósofos tudo ser só energia em movimento, ainda que aspectos concretos imponham respeito e dúvidas, na relação com o alimento abstrato do pensamento de materialistas que querem ver ou pegar cada coisa.
A juventude, porém, questiona as cogitações simples dos filósofos. Os moços querem viver a todo custo experiências da civilização que herdaram, nos filmes, livros e máquinas reduzidas made in China. O Brasil chegou agora à marca de possuir celulares equivalentes ao tanto dos seus habitantes, em números absolutos.
Jamais a humanidade inteira atingiu tamanha capacidade física de se comunicar. No entanto o quadro preocupa o sossego e o falado progresso. Margem enorme de meios ainda representa pouco para aquietar o furor dos dramas individuais, pois as pessoas transferem às outras práticas e limitações senis do que haveremos de vencer depois, imposto do caminho da felicidade.
Nunca se fotografou tanto, se filmou tanto, gravou tanta música, quanto nesta época, e os frutos parecem não corresponder ao nível da tecnologia obtida pela raça humana.
O desejo peca na própria satisfação do enigma exigente dos consumidores, que, por mais busquem atender aos corações apaixonados, esbarram nas impossibilidades e angústias de um mundo vazio, atitudes desencontradas, guerras e traumas.
Contanto que forneçam esperanças novas, as tais maquininhas desta hora disseram muito pouco daquilo que se aguardava das matemáticas e pesquisas do homem civilizado. Há, sim, reservas maiores no desconhecido para serem aprimoradas que mostrarão o rosto de dominar os vícios e entrar na outra face da história, quando as marcas do egoísmo sumirão das telas, sombras apagadas pelas luzes da perfeição verdadeira.

domingo, 21 de novembro de 2010

ATIVIDADES DA ACADEMIA

Comemoração - Centenário de Rachel de Queiroz.
Projeto literário: elaborado e executado pela professora Adriana Moura Maia.
Local: Escola de Ensino Médio e Fundamental: Filgueiras Lima – Lavras da Mangabeira-Ceará
Data: 13 de novembro de 2010
Texto: Rosa Firmo.

Autoridades, intelectuais, grupo Gestor desta casa, professores e alunos, distinto auditório.

Hoje esta Escola de Ensino Médio e Fundamental Filgueiras Lima celebra o centenário da escritora Rachel de Queiroz, que por todo este ano ela vem recebendo diversas homenagens em inúmeras entidades culturais, Academias de Letras, espalhada por este país, e por escritores e oradores renomados. Contudo, aqui estou na minha pequenez, em nome da ALL, a convite da professora Adriana Moura, a quem deveras agradeço a honra de participar desse evento.
Bendita seja esta Escola que trás o nome do nosso conterrâneo, o educador e poeta Filgueiras Lima. Bendita seja a professora dessa escola, Adriana Moura, pela brilhante ideia. Bendita seja o Grupo Gestor que abre espaço para os professores desenvolver trabalhos extracurriculares.
Nos tempos modernos, incertos e amargos uma escritora da estirpe de Rachel de Queiroz não pode ficar longe na mudez do mármore, no silêncio incômodo do tempo. Reporto-me a Marilena Chauí, pois ela nos ensina que, o esquecimento é produto de uma ideologia. Tem-se de ser revelado e discutido como estímulo e modelo para nossos jovens estudantes. Portanto, Adriana foi muito feliz com nessa tarefa, (conferida nessas apresentações).
Digo eu, que, Adriana poderá também resgatar e estudar com seus alunos, outros nomes de intelectuais lavrense como: Sinhá d’Amora, Clímaco Bezerra, Moreninha Augusto, entre outros que estão entre nós. Acredito que, a professora Adriana e demais integrantes desta casa compreendendo a importância da leitura da literatura, cuidadosamente estudou com os alunos desta escola a vida e obra da autora e preparou este tributo de amor à saudosa Rachel.
Não posso deixar de evocar o nosso poeta, pensador, escritor, ensaísta e crítico literário, o colhedor de algas do Salgado no campo da palavra, Dimas Macedo. No seu livro Ressonância e Alteridades (2007), faz a seguinte colocação: “Dizem que Fideralina Augusto foi inspiração de Rachel de Queiroz para o personagem” do romance “Memorial de Maria Moura”.
Quero registrar algumas curiosidades sobre a homenageada:
Rachel dizia que não era escritora por hipótese alguma.
Percebo quando um romance está pronto no momento em que fico enjoada do livro.
Ela dizia que era muito preguiçosa para escrever, mas era uma mulher super ativa. Ela dizia que não acreditava em Deus: “Eu acho que ter fé é a base de tudo, mas eu não consigo. Se eu fosse religiosa, seria um refúgio, agora que estou velha e já passei por golpes tão duros. Não sou nada ligada nessa história de transcendência.
Amar é uma aventura heróica e insuperável.
Não é preciso pressa na literatura. Um romance é como gravidez: aquilo fica dentro de você, crescendo, crescendo, incomodando, até sair.
Para finalizar afirmo que, minha presença aqui tem um grande significado, o compromisso com a educação e a cultura da nossa terra. Por isso peço aos educadores e alunos que nunca falte com o ânimo de estudar, de sonhar, pois Lavras é berço pujante de literatos, artistas, cientistas, historiadores e intelectuais. E para que surjam novas safras de homens e mulheres sensíveis e empenhados com o “ser” e o “saber,” se faz necessário esse movimento com os estudantes; debates, reflexões e encontros como este. É fazer-se farol para ir clareando a caminhada. É nesse fazer, nesse caminhar com a professora Adriana, canto, a minha terra, o meu rio:

Vale do Rosário

É lastro verde onde canta o riacho
inunda de beleza os vastos prados
por trás a montanha onde o sol em facho
ilumina com raios derramados.

O camponês despede-se do dia
Saúda o milharal que ali floresce
A cerca tremula na lama macia
O cristalino orvalho a flor umedece.

Nos verdes prados, cheiro da gameleira,
Pássaros a cantar no juazeiro
Num ritmo e compasso tal orquestra

O cavalo azulão salta a porteira,
Come o verde capim no outeiro
Lua derrama-se sobre a floresta.

Rosa Firmo













sábado, 20 de novembro de 2010

URGÊNCIA DA REFORMA POLÍTICA - Emerson Monteiro

A constante abordagem dos assuntos pela mídia enfraquece o conteúdo de palavras utilizadas, motivando o desestímulo quanto a matérias que, por vezes, necessitam maiores considerações e aprofundamento. De tanto se falar em determinados itens, nas pautas jornalísticas, resulta na inércia da acomodação e do costume, isso automatizando o som e o significado desses conceitos, envernizando, empalidecendo suas potencialidades.
Uma ocorrência do tipo fica por conta do falar em demasia na tão sonhada e propalada reforma política brasileira, há muito presente nos discursos e nas notícias, sem, contudo, levantar a cabeça do papel e chegar às vias da realidade real. A cada ano de eleição, falam-se multidões na carência de que o Brasil evoluirá quase nada em termos institucionais caso permanece distante a tal reforma política eleitoral.
De tanto ouvir, os ouvidos acostumam e perdem o interesse nos conteúdos entre quem escuta e o que dizem as palavras, até chegar a indiferença e acomodação das intenções de quem fala conteúdos expostos e pouco absorvidos, dada a sua profundidade virar apenas repetição de superficialidades pouco esclarecidas.
Reforma política, portanto, quer significar, acima de tanta fumaça jogada sobre sua importância, o passo inicial e inevitável para a qualificação da política, no que diz respeito à prática da cidadania plena, ou seja, o ato de votar e ser votado. Será ação fundamental para o saneamento verdadeiro das formas arcaicas viciadas de fazer política nas terras nacionais.
Somente uma boa reforma política oferecerá condições eficientes para a boa administração pública no nosso País. Através dela, dar-se-á o disciplinamento das votações, com a localização territorial das lideranças no seu espaço de influência social, evitando o perverso paraquedismo de candidatos estranhos invadirem o campo e anular o potencial autêntico das populações. Ela adotara, dentre as propostas, o voto distrital ou voto distrital misto.
E outros elementos a comporão, quais sejam, no meio de outros: A eliminação dos privilégios dos caciques, na hora da escolha dos candidatos dentro dos partidos. Eleição também dos suplentes de Senador. Aumento da representatividade, com escolhas proporcionais a todas as regiões, no Congresso Nacional. Redução da força eleitoral dos presidentes de partidos. Exclusão do foro privilegiado de políticos no exercício do mandato. Ampliação dos efeitos da chamada ficha limpa. Cortar em definitivo as regalias e mordomias dos representantes, e retorná-los à vala comum de onde nunca deveriam ter saído. Adoção do financiamento público das campanhas, com peso igual nos custos a todos os candidatos independente das diferenças patrimoniais, com o extermínio, bem na fonte, da famigerada compra de voto, excrescência e prostituição da consciência de cidadãos desavisados e corrompidos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

NONATO LUIZ - Emerson Monteiro

Neste próximo dia 20 de novembro, sábado, às 20h, no Teatro Salviano Arraes, em Crato, dar-se-ão show e lançamento do cd Estudos, Peças e Arranjos, do artista cearense Nonato Luiz. Consagrado no mundo inteiro, Nonato Luiz retorna ao Cariri para reencontrar seu público em noitada musical de alto nível, como avaliaram noutros lugares os melhores críticos.
Um dos onze filhos de Pedro Luiz, agricultor, violeiro e repentista, Raimundo Nonato de Oliveira nasceu em 1953, no vilarejo de Aroeiras, município de Lavras da Mangabeira, sul do Ceará. Ainda na infância, ganharia um cavaquinho e descobriria a música através do rádio e das apresentações dos tocadores do sertão, músicos que marcariam sua vida, sanfoneiros que animavam as festas do lugar onde vivia. Aos 11 anos mudou-se com a fimília para Fortaleza. Dois anos depois, começaria estudos de violino junto ao Conservatório Alberto Nepomuceno, da Universidade Federal do Ceará, quando se desenvolveu na técnica, sendo, então, convidado pelo maestro Orlando Leite para a Orquestra Sinfônica Henrique Jorge, na qual permaneceria por dois anos. Observou, nesta fase, sua indentificação instrumental com o violão. Aprofundou conhecimentos musicais por meio dos autores clássicos, dentre eles, com destaque, Mozart e Beethoven, distinguindo sua intuição voltada também para as origens populares da nossa música, escutando Valdir Azevedo, Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Luiz Gonzaga e outros intérpretes.
- Numa fase mais madura, interessei-me pelo trabalho de Baden Powell, no campo do violão popular, e Andrés Segóvia, na área erudita.
Também foi importante meu convívio com o violonista clássico Darcy Villaverde, amigo e parceiro carioca, com quem percorri grande parte do Brasil, em inesquecível turnê – afirma Nonato Luiz.
No ano de 1977, iniciou o Curso de Licenciatura em Música, também na Universidade Federal cearense, que interrompeu dois anos depois, ao se transferir para o Rio de Janeiro e iniciar carreira profissional como violonista. Das aulas, no entanto, obteve muitas informações sobre teoria musical, harmonia, arranjos e sobre outros instrumentos. Como autodidata, estudou intensamente a obra dos compositores brasileiros.
- Assim os adaptei para o violão e executei, como o faço até hoje, as maravilhosas composições desses mestres. Ao mesmo tempo, recebi deles a influência que dá alicerce às minhas composições – assegura o artista.
Nonato Luiz é ocupante da cadeira n.º 18 da Academia Lavrense de Letras, possui mais de 500 composições musicais e de 30 discos gravados e viaja noutros países a propagar o tesouro musical brasileiro, a demonstrar a qualidade do talento por todos respeitado.
Este trabalho que lançará no Cariri neste dia 20 de novembro, Estudos, Peças e Arranjos, contém seis estudos, dois arranjos, além de outras peças autorais de variados estilos, frevo, choro, valsas, sendo quase todas inéditas e algumas composições recentes.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

TRANSPORTES PÚBLICOS - Emerson Monteiro

Urgentes providências exigem os serviços públicos no Brasil, a exemplo dos transportes urbanos, que favorecem sobretudo os proprietários de automóveis, proprietários dos veículos e também das ruas todo tempo. Enquanto disparam suas bólides luxuosas e faiscantes para os lugares aconchegantes das residências e dos escritórios de lucrativas empresas, a pessoa tradicional, egressa das camadas já excluídas da grande massa humana, mofa pelas calçadas à espera dos ônibus trepidantes e morosos, na aventura pelo pão de cada dia.
Sempre falam nisso os parlamentares, no entanto as leis pouco representam dessa preocupação em termos práticos que demonstrem retorno correspondente do quanto custam os nossos legisladores dos três níveis. Notaram o drama do zé povinho dependurado, nos momentos de pico, nas portas empanturradas de gente até o gogó, sem ergueram a voz nas tribunas que traduza medidas correspondentes.
Desde que me entendo de gente vem sendo assim. O transporte público brasileiro deve séculos de respostas aos simples usuários das periferias na sua luta insana pelo sustento e pela sobrevivência, no ir e vir das cidades.
Nesse mundo a fora existem pesquisas de meios alternativos de combustíveis dos transportes, desde álcool de beterraba a energia elétrica, mesmo assim a gasolina ainda reinará por umas duas décadas. Barateando o custo de consumo por certo aparecerão chances de lembrar o operário, a faxineira, o estudante pobre, o pequeno empreendedor, no esforço de vencer distâncias.
O carro elétrico, no Japão, país limitado nas suas reservas petrolíferas, isenta de impostos os consumidores, facilitando uso e aquisição, numa possibilidade menos agressiva aos recursos naturais. A pesquisa da energia solar, outro meio alternativo, cresce todo momento, sem qualquer prejuízo ao meio ambiente, energia renovável e limpa.
Quando adotadas outras fontes energéticas, o petróleo achar-se-á liberado para novas aplicações durante a civilização tecnológica destes tempos petroquímicos.
A expectativa por isso de usar com mais racionalidade os instrumentos oferecidos pela natureza bem que pode somar elementos ao espírito dos governantes, no sentido de olhar a grande população em seu amplo aspecto. Será o que exige a democracia das ruas, livre de ver os índices populacionais qual peças de manobra e lucro das multinacionais, ausente de critérios justos no trato organização política.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

LIVROS SÃO ESPELHOS - Emerson Monteiro

Ao ler lemos a nós mesmos através da projeção da visão e identificação, nas páginas escritas, projeção dos nossos conteúdos pessoais, pensamentos, cultura, conhecimento recolhido no decorrer do tempo. Vem daí a importância inigualável da leitura como fonte reveladora do Ser, quando revemos o que dispomos acumulado em nosso interior, recordando coisas aprendidas, movimentando reservas em nós depositadas nas sombras do passado que existirá sempre na mágica indestrutível da consciência individual. Dessa consciência que, ela que junta de si nos outros, forma bloco único e eterno das coisas resultantes o que se revolvem no ato de ler as quais, juntas são denominadas inconsciente coletivo, nada mais sendo do que a formulação universal da Luz original imensa da natureza maior.
É uma moeda que revela seus dois lados em apenas um só lado único, pois. Inexistirá divisão nesse padrão de todas as manifestações em consonância, representadas em face única e particular, o singular do que antes se supunha uma pluralidade infinita e múltipla. Milhares de faces de todo único individual, indivisível. Tudo e todos em um só e único, mesma face da moeda solitária a percorrer o cosmos em viagem sideral através das inúmeras consciências do único formato, entre si interligado por fibras internas da primeira essência.
Ler, portanto, percorrer a face de dentro do conhecimento em elaboração no lado íntimo das individualidades, atualiza essências anteriores da mesma face em novas revelações, constatação original da vez primeira em retorno às vezes outras que se repetem no ser individual-plural, no bloco indivisível de cada ser. Ato de procurar e encontrar a um só tempo, qual ente que desloca seu foco de consciência através da mesma rede imperecível que nasce da fonte perene do ser-conhecer em ação permanente.
Quando lemos, por isso lemos a nós próprios. Atualizamos causas primeiras e consequências posteriores da elaboração de pensamentos e discernimentos, configurando, outra vez primeira, as reações secundárias do que já foram ações primárias, nas letras, palavras e sentidos das novas edições do ato único de compreender que confronta a nós próprios.
Nesse processo da comunicação, as consciências se refazem muitas infinitas vezes, pelos seus próprios atos, no mistério persistente do ser em constante vir-a-ser, resistência, continuidade suspeitada de sobrevivência dos valores da unicidade nas coisas que se sucedem pela essência primeira, na continuidade de tudo em um foco perene, manifestado nas horas diversas e em imagens fragmentadas de futuro aparente, ilusões de particularidades que resultam das imagens únicas em movimento, porém indivisíveis, da mesma e só uma consciência do momento presente em cada lugar do imenso si mesmo todo tempo, e em cada um dos indivíduos atores, através dos quais se manifesta, portanto.
Nisto desvanece o princípio arcaico da multidão de subjetividades e se desvela o conceito pleno da indivisibilidade primeira e eterna do Uno, ser causa cáusica de tudo, Ser essencial, motor dos primeiros postulados, de quem derivaram todas as pretensões anteriores do dois manifestado e também existente, face dupla do Ser criador vivendo em nós, no entanto sem divisão.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

EXERCÍCIOS FÍSICOS - Emerson Monteiro

Resolvi, desta vez, juntar alguns elementos de atividades físicas, com isto lembrando o gosto necessário pelo viver com saúde e tranquilidade, sem os remorsos da acomodação física sedentária.
Nem só de pensar vive o ser humano. As caminhadas vêm sendo consideradas ideais para pessoas inativas. Caminhar, no entanto, unido a uma alimentação saudável, que pode emagrecer, reduzir calorias e controlar o peso, pondo mais vigor nas pessoas, pois atividade oxigena o cérebro e libera substâncias tóxicas, além de aflorar a endofina, denominada hormônio do bem-estar e das sensações do prazer. Isso traz disposição e maior animação para viver.
Já as corridas cabem em todos lugar, rua, praia, esteira ou parques. Roupas próprias e calçados adequados tornam a atividade física das mais saborosas, trazendo reservas de saúde e satisfação, prevenção e resistência. Um provérbio chinês receita para a vida harmônica “Comer só pela metade, andar o dobro e rir quatro vezes o que se costuma fazer.”
Na simplicidade das caminhadas, no entanto, cabem algumas recomendações. Começar a correr após avaliação médica do estado físico através de consultas com um ortopedista e um cardiologista, revelando a intenção de praticar exercícios regulares. Ser honesto consigo mesmo e com os outros, para evitar surpresas de última hora, o que sujeita precisar de exames complementares que avaliem a disposição e o nível do corpo.
Depois, há outros utilitários da movimentação constante dos órgãos motores. O uso da bicicleta, por exemplo, eis outro esporte completo. Os efeitos de pedalar oferecem resultados positivos, evitam riscos e quase não têm contra-indicações. Os pedais oferecem a frequente queima de calorias, definem o abdômen e os músculos das pernas, panturrilhas, coxas e glúteos.
Ainda existe espaço para falar de outra prática aeróbica de importância, a natação merece classificação de um esporte completo, porquanto aciona a musculatura sem exigir impacto e movimentos bruscos na água. Indicada desde a infância, auxilia o desenvolvimento dos órgãos, aumenta a capacidade respiratória, ocasiona resistência a doenças, alergias, e acrescenta as imunidades. Os seus praticantes chegam a perder até 600 calorias por cada uma das horas trabalhadas, enriquecendo músculos, definindo a silhueta, melhorando respiração e coordenação motora.
Desta forma, o interesse nas ações físicas soma entusiasmo e saúde aos afazeres diários, neutralizando o ritmo mecânico dos tempos atuais.

domingo, 7 de novembro de 2010

A BELEZA FEMININA - Emerson Monteiro

Sou marcado pela estreita participação da presença feminina em volta de mim, isso desde que me entendo de gente. São elas pessoas agradáveis, inteligentes, espíritos fortes nas ações e nos sentimentos, dignas do meu carinho e respeito. A começar por minha santa mãe, a professora que abriu as portas do pouco que realizo e vivencio ao longo desta caminhada, e permanece conosco para alegria dos filhos. Minha esposa, que admiro pela dedicação nos encaminhamentos da família e divisão das tarefas diárias. Minhas três irmãs, amigas que Deus me permitiu e de quem preservo a amizade como um bem raro e valioso. Minhas três filhas, as luzes que orientam as estradas por vezes sombrias, inspiração preciosa dos deveres e sonhos. Todas estas pessoas que transitam ao meu lado, que vieram chegando dentro de um ritmo e no instante ideal, formando figurações que só de lembrar me emociono.
A isto somo as amizades que estabeleço sempre, nas passadas e dos anos, leito de encontros e desencontros permanentes na existência. Vejo, pois, a mulher qual ser de valor especial em face da ligação interna que mantém com a origem primeira dos elementos, linha direta para o inconsciente, intuitiva, de sexto sentido bem aflorado nos mistérios da natureza representada pelo elemento religioso de Maria Santíssima, a mãe de Jesus, importante símbolo da religião dos católicos.
Assim, sob tais considerações, quero tecer algumas linhas mais quanto à responsabilidade coletiva, nesses tempos contraditórios, em relação à soberana importância do reconhecimento do papel das representantes femininas para equilibrar com justiça o universo das atitudes humanas.
Abomino sobremodo a incapacidade comum para descobrir as medidas desse convívio, no modo primitivo de levar a brutalidade ao espaço ocupado pelas mulheres, peças-chave da sociedade, a ponto de existirem delegacias policiais só destinadas a defendê-las, quais sendo de espécie nociva, invés da matriarca dos clãs e da civilização.
Sem cogitar dos costumes bárbaros da prostituição infanto-juvenil e dos assassinatos, estilo animalesco de abordar as necessidades do afeto, impondo leis selvagens aos relacionamentos, pior do que agiriam feras e celerados dementes.
Por tudo isso, há muito para cumprir da parte desta humanidade no trato do seu aspecto feminino, déficit este vinculado de perto ao desassossego e aos dramas de que se sabe e quase nada promovemos para evitar.

sábado, 6 de novembro de 2010

O FLAGELO DAS DROGAS - Emerson Monteiro

Há poucos dias, ouvi algumas palavras de uma amiga que sofre o calvário de ter um filho viciado em crack, essa droga de consequências danosas para o futuro do usuário, formada a partir da mistura de cocaína e bicarbonato de sódio. Em depoimento dos mais sinceros, narrou o transtorno gerado na família por conta de hábito que vitima expressiva margem da juventude nos dias atuais. A agressividade e o instinto liberados na abstinência do produto ocasionam cenas de profundo sofrimento a todos, dentro de casa, reações impetuosas apenas contidas na reutilização da substância, causando nisso gastos imprevistos e situações de desânimo e infelicidade.
O testemunho presenciado faz coro com as centenas, milhares, de outras histórias espalhadas no mundo inteiro. A faixa dos atingidos pelo mal se prende às classes de menor poder aquisitivo e que provem de outros grupos de dependência do álcool e outras drogas, desajustados sociais, moradores de rua e ex-sentenciados.
Nota trágica dos tempos industrializados e cidades massificadas, a droga invade o âmbito por vezes despreparado de órgãos responsáveis pela saúde pública em graus jamais previstos, neste modelo de civilização hoje adotado. Calamidade perversa, destrói a autoestima de populações inteiras do exército de reposição da mão-de-obra do sistema, ocasionando surpresa e impossibilidades.
Por causa dos estalidos que as pedras provocam quando acesas, parecido com coisa sendo fragmentada, recebeu o nome de crack, que significa quebrar, em inglês. A fumaça desprendida pela queima atinge o sistema nervoso central em dez segundos, absorvida pelos pulmões, para gerar efeito de três a dez minutos de duração. Forte euforia, seguida de profunda depressão, condiciona quem dele se utiliza a repetir o processo, querendo, com isso, neutralizar, a duras penas, o desgaste orgânico, daí a rigorosa dependência que constrange suas vítimas escravizadas. De comum, gera também alucinações e ilusões de perseguição, ou paranóia, conforme diz a ciência.
Desenvolvido nos Estados Unidos, nas classes menos favorecidas, o crack apresenta o menor índice de recuperação de viciados entre todos os entorpecentes, enquanto que o usuário é considerado enfermo de uma doença adquirida. Além disso, em geral os familiares não possuem condições financeiras de custear tratamentos mais sofisticados em clínicas particulares, e os países ainda se debatem sob o despreparo no atendimento oficial daqueles que se submetem à química destruidora.
A propósito dessa mãe com que conversei sobre o assunto, em face da dor que no momento lhe constrange, ela recorre à força poderosa da religiosidade para encontrar conforto em meio do martírio. Isso fez com que eu apenas silenciasse, em respeito ao mistério que a isso tudo envolve nesta vida.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A SOLIDÃO VIVE NO INTERIOR - Emerson Monteiro

Encontrar o jeito de viver chega às raias da impertinência, por causa da agitação de carros e multidões que lotam as capitais e cidades maiores, trazendo essa alternativa de permanecer no interior um jeito novo de organizar o mundo e encontrar a forma de sobreviver nos matos do sertão.
A década de 50 do século que passou existia no modelo econômico brasileiro que representava maior quantia habitando a zona rural. Depois, com a urbanização e a industrialização galopantes das duas décadas posteriores, 60 e 70, o bucolismo do interior para muitos perdeu o charme e o pêndulo trocou de lado, enchendo de gente as metrópoles que agora lutam sobrecarregadas e gritam por socorro a qualquer custo.
Os moradores dos lugares maiores, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador, rezam pelas saídas honrosas de não largar a história de suas famílias e seus portos de fixação, sabendo, no entanto, que iniciar noutros cantos significaria espécie de exílio territorial.
Há um surto de apreensão nesse sentido. Os governos penam ocupados diante dos graves problemas das megalópoles, cercados de argumentos do quanto o enigma urbanos supera a capacidade imediata das soluções. O trânsito reduziu-se a níveis aterrorizadores de velocidade, com horas e horas de retenção nas filas intermináveis de automóveis, observados pelos marginalizados do sistema e seus olhos de lince, com a segurança e os vícios pecaminosos além da monotonia das paisagens fumarentas e mórbidas. Quando há praias, os finais de semana ainda alimentam o sonho do infinito, na linha do horizonte e sóis monumentais, a falar esperança nos dias melhores que virão nas abas da natureza. Poetas de plantão, sonhadores, mergulham nas telas incendiadas dos televisores, da mídia e fnos computadores maternais, nas horas domésticas enclausuradas.
O interior dispõe, quem sabe até quando?, do sossego entre descampado e paredes, porém parecidos nos termos humanos e suas limitações de qualidade, ainda diante dos fluxos migratórios que despejam cultura industrial nos cérebros assustados.
Quer-se, no entanto, contar da solidão silenciosa possível quando inexistem vizinhos neuróticos e sons malucos a toda altura, nos bares, fundos de carros abertos, porres medievais das tardes vazias, impaciência das ruas que invade as horas nos becos escuros da velha saudade social.
Falar nisso enquanto é tempo, dos outros modelos permitidos pela criatividade. Espécies de retorno ao campo, vez que antenas existirão mesmo assim nos distantes lugares, telefones, transportes, escolas, energia elétrica, saúde. Estudar meios diferentes de fugir das cidades sem precisar viver os pesadelos de fora, nisso acham-se os caminhos administrativos da saída, já que se experimentaram os dois lados da moeda e sabe o peso de cada um.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

INTUIÇÃO DO DIREITO - Emerson Monteiro

No próximo dia 11 de novembro, às 20h, no Auditório da RFFSA, em Crato, dar-se-á o lançamento do livro Intuição do Direito, de autoria de Jorge Emicles Pinheiro Paes Barreto, advogado que milita com êxito na região do Cariri.
Trabalho elaborado com dedicação, traz conteúdo voltado à filosofia do direito sob o prisma da origem das suas primeiras instituições, com ênfase para o espírito da conformação das pessoas ao mundo social em que vivem e ampliam as normas e suas aplicações.
Sabe-se que o direito advém dos costumes, da jurisprudência, da lei, dos atos jurídicos, dentre outras fontes primárias, porém antes de tais fatores existe a pessoa humana e suas manifestações internas, fonte originária da consciência subjetiva dos acontecimentos e negócios. Com o propósito de avaliar esta área das causas antecedentes do direito, Jorge Emicles produziu uma obra digna dos melhores tratadistas, posto a público neste universo regional palco do lançamento deste seu primeiro trabalho editorial, publicado pela BSG Bureau de Serviços Gráficos.
Capítulo a capítulo, acercando-se das representações essenciais e inseparáveis do pensamento jurídico, em cada momento da epopéia investigativa do direito, o autor firma bases estruturadas de encaminhamento das suas ideias, em sólidas passadas investigativas. Revela consistência nos traços que soma ao quadro do pensamento contemporâneo, em linguagem fluente e dinâmica. Seguro na faina a que se propõe, considera as instituições, os valores, a norma, conceitos, métodos de produção, interpretações, sempre de olhos postos no desenvolvimento da doutrina que abraça e converte numa atitude digna dos mais experientes escritores, sem ficar a dever no gesto inovador.
Seu dizer por si só cativa, sobretudo comparado ao dos compêndios vistos nas ocasiões áridas de escritórios e gabinetes, no ritual fechado da linguagem técnica. Bom estilista, cuidadoso e econômico no uso da terminologia desses redutos fechados, se joga de corpo inteiro na seara dadivosa que lhe afeiçoou e onde instala seus novos predicados.
Numa feliz demonstração do quanto a comunidade acadêmica regional possui de valores e potencialidades, este o livro é ponto inicial para deflagrar o surgimento de novos autores e atualizar estudos profundos do direito, pródigo em avanços e aberto às revelações do saber universal, com amplas possibilidades para aproveitamento da matéria-prima de que dispõe.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A EMOÇÃO DA ARTE - Emerson Monteiro

Visitei o Salão de Outubro do Crato em sua sexta edição, ora sob a coordenação da artista plástica Edilma Rocha, que lidera equipe de pessoas identificadas com a iniciativa, gerando resultados de sucesso.
Numa grata surpresa em termos da qualidade das obras expostas de autores inclusive de outros estados brasileiros, vivi de perto a emoção da boa arte que toca o sentimento e transcende as coisas só físicas e materiais. Nos trabalhos oferecidos aos olhos dos visitantes, pinturas a óleo, aquarelas, técnicas mistas, esculturas, há um passeio pelo mundo da eloquência visual, nestes tempos de tanta tecnologia e indústria, grafismo e mercado de produtos e consumo, velocidades, rumores, vídeos. O clima ocasionado pela arte clássica de telas e objetos trazidos à mostra propicia viagem aos campos das galerias e dos museus que consolidaram o vigor da história da Arte.
Na galeria da RFFSA, em espaço organizado com esmero, senti a força que tem Edilma e seus sonhos das artes plásticas, frutos do talento e da herança familiar que, no Crato, garantiu lugar de destaque na pintura e na fotografia, legenda reconhecida noutras terras, legado de algumas gerações iniciado com o avô Júlio Saraiva, e prosseguiu através dos seus genitores, Edílson Rocha e Telma Saraiva.
Cabe a mim isto de reconhecer aqui o carinho e a dedicação ao VI Salão de Outubro demonstrados por quem este ano o conduziu. Em duas edições da mesma mostra, nos anos de 1977 e 1978, participei de sua organização, juntamente com Luiz Karimai e outros artistas, com exposições situadas no então Parque Municipal, hoje Praça Alexandre Arraes.
O Salão de Outubro deste ano corresponde, pois, em tudo por tudo, ao bom nível das mostras anteriores, reforçando, nesta fase de revitalização depois de algumas décadas, o ímpeto artístico da comunidade cratense dentro do universo rico de criatividade e das produções culturais da Região caririense.