segunda-feira, 19 de julho de 2010

CADEIRA Nº 36


AURY PORTO (Acadêmico)

Aury de Araújo Correia, conhecido, no mundo artístico brasileiro, como Aury Porto, face à sua atuação como ator e produtor teatral, é natural do sítio Cantinho, município de Lavras da Mangabeira-Ceará (27/06/1964), sendo filho de João Manoel Correia e de Maria Gessy de Araújo Correia, conhecida, carinhosamente, no seio da família, pelo nome de Jessé.
Realizou seus estudos primários em Lavras da Mangabeira, Senador Pompeu e Aracoiaba, localidades para onde sua família se transferiu, mas o seu aprendizado humanístico foi realizado em Fortaleza, onde concluiu o curso de Administração de Empresas, na Universidade Estadual do Ceará, depois de incursões pelos cursos de Química Industrial e Psicologia na UFC.
Paralelamente aos estudos universitários, freqüentou o Curso Básico de Teatro, no Curso de Arte Dramática da UFC, emigrando depois para São Paulo, almejando à carreira de teatrólogo e de ator, face aos apelos da sua vocação.
Em outubro de 1987, depois de duas semanas residindo em São Paulo, estreou na peça Leonce e Lena, juntamente com outros novos atores que, assim como ele, concretizavam sua primeira experiência no campo do teatro, isto com a montagem do texto do grande dramaturgo alemão Georg Büchner.
Entre 1988 e 1990, Aury Porto foi aluno especial e ouvinte em vários cursos de graduação e pós-graduação oferecidos pelo Departamento de Teatro da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Durante a década de 1990, desenvolveu, ainda mais, a sua aptidão para o teatro, estudando diversas técnicas de dança moderna e contemporânea, e assimilando aulas de canto popular e percepção musical, na Universidade Livre de Música de São Paulo.
Todos esses estudos, associados com técnicas de meditação, compõem hoje a qualidade da interpretação e dos recursos cênicos apresentados por esse grande artista brasileiro.
Nesses mais de vinte anos de trabalho com as artes cênicas, Aury exerceu as funções de diretor, produtor, professor de teatro, dramaturgo e adaptador, tendo feito performances de teatro-dança, montagens de peças de teatro e atuações no campo do cinema e da televisão.
Entre as suas realizações como ator e teatrólogo, podemos enumerar as seguintes: participação na peça As Matronas (dirigida por Paulo Faria, em 1992) e no monólogo Preso Entre Ferragens (dirigido por Eliana Fonseca e apresentado no Teatro Ruth Escobar, em 2000).
A sua participação na peça Boca de Ouro, sob a direção de Zé Celso Martinez Corrêa e exibida no Teatro Oficina de São Paulo, em 2000/2001, lhe deu o passaporte para a sua memorável atuação na peça Os Sertões, apresentada inicialmente na Alemanha e depois em diversas cidades brasileira, contando-se entre elas Canudos, na Bahia, e Quixeramobim, no Ceará.
Ainda no campo do teatro, atuou na peça Os Bandidos, de Friedrich Schiller, dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa e apresentada em Mannheim, na Alemanha, em 2007, e no Teatro Oficina de São Paulo, em 2008.
Em 1998, roteirizou o espetáculo, na área do teatro-dança, Um Homem Comum, a partir do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa, com direção de David Schumaker e de Ary Porto; e em 2006 realizou a montagem da peça intitulada Cinzas, apresentada no Teatro Sesc - Pinheiros, a qual igualmente dirigiu, ao lado da dançarina Renée Gumiel, precursora da dança moderna no Brasil.
Durante os anos de 2008 e 2009, tendo por referência teatral a Mundana Companhia, trabalhou na adaptação e montagem do romance O Idiota, de Fiódor Dostoiévski, juntamente com a atriz Luah Guimarãez e a encenadora Cibele Forjaz, com apresentação entre março e maio de 2010, no Teatro Sesc - Pompéia, em São Paulo.
Adaptou e dirigiu, também, a novela intitulada A Queda, de Albert Camus, que foi exibida no Teatro Sesc - Consolação, em 2007, e no Teatro Oficina, em 2008, como primeira realização da Mundana Companhia, fundada por Aury, em pareceria com a atriz e diretora Luah Guimarãez.
Apesar de ser o teatro o seu campo privilegiado de atuação, participou como ator do filme de José Araújo, As Tentações do Irmão Sebastião, realizado no Ceará, em 2000, e apresentado no Cine Ceará, em 2006.
Na televisão, entre outros eventos, atuou nos seriados Carga Pesada, dirigido por Ary Coslov, e Carandiru – Outras Histórias, dirigido por Walter Carvalho, e bem assim na novela A Favorita, de João Emanuel Carneiro, todos exibidos pela Rede Globo de Televisão.
Aury, com o seu talento de ator, roteirista, produtor de teatro e diretor é um dos nomes do moderno teatro brasileiro que melhor se firmam no contexto das artes cênicas do Brasil, sendo orgulho do Ceará e das águas do Salgado e do município de Lavras que o viu nascer.( DIMAS MACEDO).







VICENTE DE PAROCA (Patrono)


Neto do poeta Fausto Correia de Araújo Lima e da sua primeira mulher, Olímpia de Araújo Lima (Lolô), Vicente Ferrer Lima ou Vicente de Paroca, como se tornou conhecido, na sua juventude, nasceu em Lavras da Mangabeira-Ceará, aos 07 de março de 1921.
Foram seus pais: Artur Correia Lima (filho de Lolô e de Fausto) e Maria Augusto Lima (Paroca), filha de Ana de Araújo Lima (Nanu) e de Antônio Carlos Augusto, conhecido por Boboi ou Caboclo Carlos.
Contam que a sua mãe era uma mulher de religiosidade exacerbada e que muito se orgulhava dos seus antepassados, especialmente do seu avô paterno, João Carlos Augusto, antigo Deputado Provincial e fundador da oligarquia-mor do Vale do Salgado.
O avô paterno de Vicente foi um dos maiores cantadores de viola do Ceará, na segunda metade do século dezenove. Estudou com o Padre Cícero Romão de Juazeiro, no Colégio do Padre Rolim, em Cajazeiras, na Paraíba, e depois se tornou amigo e compadre desse grande taumaturgo do Nordeste.
Vicente cresceu ao abrigo dessas influências, estudou com professores públicos em sua terra, participou do cotidiano da velha Princesa do Salgado, mas a sua vocação de artista sempre falou muito alto em sua alma, levando-o inicialmente para Fortaleza, onde foi aluno do tradicional Liceu do Ceará.
Um dos seus colegas de aventura juvenil, na época, Paulo Bonavides, fala, ainda hoje, com entusiasmo, da sensibilidade cultural de Vicente, destacando os encontros em sua residência, na Rua do Imperador, a sua intuição de artista e o cuidado especial do poeta com a sua cabeleira.
A era do rádio e os eflúvios culturais do pós-guerra pegaram o destino de Vicente Lima pela mão. Começou como cantor e locutor da Rádio Iracema de Fortaleza, passou depois por João Pessoa, pela Rádio Industrial de Juiz de Fora (MG), Rádio Guarani e Rádio Capital, de Belo Horizonte, e por diversas rádios dos Diários Associados, inclusive no Rio de Janeiro.
Além de radialista, atuou Vicente Lima como teatrólogo, ator, encenador, roteirista e diretor de musicais na agitada Belo Horizonte das décadas de 1950 e 1960, onde tornou-se figura popular, recebendo, inclusive, homenagem da Câmara Municipal daquela importante capital, em 09 de maio de 1996, mercê da sua militância cultural e do seu talento de artista.
Escreveu e encenou diversas peças de teatro, entre elas Jacanã (burleta em dois atos), Retalhos do Nordeste e O Espetáculo é Assim, nas quais coloca em discussão a bravura do vaqueiro, a alvorada no Nordeste, a hilaridade do cotidiano e a força indomável das nossas raízes populares.
Vicente Ferrer Lima ou ainda Vicente de Paroca, como carinhosamente a ele se referem os seus conterrâneos, sempre se deixou envolver pelo mais puro enlevo da poesia e pelas notas musicais que arrancou da sua alma de tenor e seresteiro, de compositor e de boêmio, e de intérprete maior de Vicente Celestino.
Em 1953 a sua marchinha de carnaval, Rosalina, alcançou primeiro lugar em concorrido certame musical em Juiz de Fora, realizando Vicente, por igual, diversas apresentações como cantor, destacando-se entre elas o Festival de Vicente Lima, a temporada na Boite Acaiaca, em Belo Horizonte, e a turnê ao lado de Oswaldina Siqueira, então cognominada a Princesa do Rádio.
O seu sucesso de compositor, cantor, tenor e seresteiro invadiu a década de 1960, e o resultado desse êxito expressou-se na gravação de discos e compactos, destacando-se entre todos aquele intitulado Baú da Saudade, que foi apresentado em forma de CD.
O conjunto dos seus poemas inéditos ou publicados em jornais e revistas foram por ele reunidos no livro Sertão Diferente e Outros Poemas, e outras tantas criações de sua autoria, no campo literário, estão sendo compiladas no volume Poemas e Canções, graças à atuação dos seus filhos Vicente Ferrer Lima Júnior e Geralda Soares Lima.
Em ambos, o traço indelével do seu jeito de ser, da sua alma romântica e enlevada, do seu amor ao Nordeste, ao Ceará e ao Brasil, não faltando a marca registrada do profundo amor à sua terra.
Lavras da Mangabeira e a brisa do Salgado, o Boqueirão de Lavras e o fervor de todos os seus conterrâneos e amigos orgulham-se desse grande poeta, cantor e seresteiro, falecido aos 09 de setembro de 2001.
A Academia Lavrense Letras, ciente do seu valor no plano cultural, o elegeu patrono de uma das suas Cadeiras, e o elegeu também para brilhar, entre os lavrenses que mais distinguiram a sua terra. (
(DIMAS MACEDO). Fortaleza, 05 de março de 2010