domingo, 15 de agosto de 2010

ZODÍACO - Emerson Monteiro

Na década de 70, Salvador fora contemplada com a agência mais luxuosa do Banco do Brasil. Construída na artéria principal do Comércio, Avenida Estados Unidos, defronte ao porto, é um prédio monumental, todo revestido de mármore branco, de nove andares, que, em 1977, abrigava em torno de 500 funcionários. No andar superior, situava-se o auditório e o restaurante, este palco do que irei agora narrar:
Escolhido para assistir o inspetor Mário Jofre, mineiro de quatro costados que inspecionava a CACEX da agência, lá um dia almoçávamos no restaurante, o que costumávamos fazer durante sua estada na Bahia.
Ele havia pedido um bife mal passado, mas um único bife, que ocuparia o prato inteiro, acostumado a comer toda vez em que presenciei.
E enquanto esperávamos as refeições, aproximou-se um colega com quem desenvolvi rápida conversação a propósito de astrologia, horóscopo, essas coisas que, houve um tempo, me interessaram.
O inspetor prestou alguma atenção ao assunto. Quando o colega se afastou, quis ele saber se eu possuía conhecimento de signos. Respondi que sim, apenas qualquer. Então veio perguntando à queima-roupa:
- Pois dia a qual signo eu pertenço? – isto na mesma ocasião chegava o garçom trazendo o prato repleto da carne que ele pedira.
- Bom, inspetor, pelo prazer que o senhor tem de comer carne quase viva, deve ser Leão – respondi no chute, sem muita demora.
Com a resposta, o homem quase esquece o alimento à sua frente, alardeando em voz alta as minhas qualidades de conhecedor de signos, etc., na maior das alegrias.
Nisso, bem naquele movimento, vem chegando Brito, o gerente adjunto responsável pelo pessoal da agência, dotado da fama de austero, executivo competente, típico das empresas grandes. Mediante a cena, o inspetor se dirigiu a ele já contando da minha capacidade em adivinhar o signo das pessoas, propagando uma fama recém adquirida.
Brito chegou calado e sentou à mesa conosco, sério, cara dura, sua característica, para, mantendo a pose, deflagrar:
- Sendo assim, diga qual o meu signo. - Imaginem a tal situação em que me vi, naquele momento, metido até o pescoço numa sinuca de bico.
Dentro de período curto, sem tergiversar, reuni os elementos que o juízo ofereceu e fui respondendo:
- Bom, deve ser Gêmeos ou Balança.
Quase no susto, vi a surpresa tomar de conta da fisionomia grave do gerente e escutei outra pergunta, agora admirada: - Por que Balança, por que Balança?
- Pelo seu jeito ponderado, equilibrado, de fazer o que faz – revidei, liberando a apreensão do imprevisto.
Nessa hora, terminava a refeição e, temendo novas indagações, cuidei de saltar fora, alegando compromissos de urgência. Vejam só, nem eu sabia dessas minhas qualidades de adivinho, demonstradas ao acaso da situação.