domingo, 26 de dezembro de 2010

VIAGEM AO RIO DA INFÂNCIA

Porque acredito que a vida é feita de movimentos incessantes, que modelam a nossa maneira de ser e de agir, proveito o tempo de lazer para viajar, às vezes para conhecer o que existe para além dos muros do Brasil.
Umas férias merecidas, sorvendo a cultura e a linguagem de velhas cidades européias, deixam no espírito, na imaginação e na memória algumas efusões que dificilmente se apagam nas nossas retinas fatigadas.
Hoje, treze de dezembro, estou de retorno da bela cidade de Le Havre, situada na região da Normandia francesa, bem no encontro do estuário do Sena com o Canal da Mancha.
A minha condição de professor convidado da Universidade de Le Havre, onde ministrei conferência sobre o processo eleitoral e os valores da democracia brasileira, me faz pensar na recompensa que a vida nos dá a cada instante.
O que quero registrar nesta crônica, contudo, é o impacto que essa importante cidade portuária exerceu sobre mim, sobre a minha visão e a minha sensibilidade de artista e de viajante.
Enfrentei uma tempestade de neve, há três dias, quando desembarquei em Paris, vindo da Alemanha, mas em Le Havre a temperatura se fez mais generosa com a minha condição de nordestino, acostumado com o calor dos trópicos e com o clima ameno que somente o Ceará sabe transmitir a seus filhos.
Em Le Havre, assim como na França e em toda a Europa, as condições de vida das pessoas são muito diferentes daquelas em que vivem os nordestinos e muitos habitantes do interior do Brasil.
A mente humana aqui foi libertada do processo de escravidão social e do processo de dependência política que vinculam muitos cearenses à manipulação dos seus representantes políticos.
Em qualquer parte do mundo aonde esteja, sempre me vem ao baile das lembranças os encantos da terra onde nasci e assim também o traço natural e a cultura do nosso querido Ceará.
Navegando sobre as águas do Sena, em Paris, ou contemplando o estuário do Sena, em Le Havre, o que me vem à mente, de plano, é o Rio Salgado e a sinuosidade das águas da infância; o que se impõe no percurso da lembrança é o retrato da velha cidade onde nasci.
Lavras está em todas as cidades pelas quais passei em todos em dias de viagem: assim em Londres, como também em Bruges, Amsterdam, Paris, Bruxelas ou Colônia.
É como se o mapa mundi fosse povoado de saudades e lembranças que se deixam gravadas no recesso do sonho. É como se o Reno, o Tâmisa e o Sena refletissem a brisa serena do Salgado, o mais doce de todos os rios que os meus olhos não se cansam de ver.

Paris, 13.12.2010

DIMAS MACEDO

Cruzeiro

Cruzeiro
“Para oceanmar há sempre um pedaço de mar.”

Manhã ensolarada, malas prontas, últimos arremates na bagagem de mão para concretizar um sonho, navegar sobre os mares. A saída sem despedidas, minha irmã já tomara seu rumo para não envolver-se com minhas aventuras. Taciturna segurando meu entusiasmo me eximo de demonstrar para ela meu estado de felicidade para não entristecê-la cada vez mais. Dez horas, o Gomes aconselha-me a contactar com o grupo de amigas para o encontro no cais do porto do Mucuripe. Partimos rumo ao sonho, ele incentivando-me e fazendo algumas recomendações, exclarecendo por não compartilhar desta aventura comigo, razões óbvias, por suas tantas idas à Fernando de Noronha durante muitos anos de trabalho na Marinha do Brasil.
Cais do porto do Mucuripe, literalmente um lugar de referências, um dos maiores pólos trigueiros do país. Do saguão não se tem visibilidade para os navios atracados. Ao chegar o salão de embarque estava quaze vazio, de repente enche-se de figuras vindas de diferentes lugares, com destino ao Arquipelago de Noronha a bordo do Bleu De France, em grande estilo.
Dirijo-me ao balcão para os devidos procedimentos de embarque. Enquanto aguardava minhas amigas companheiras de aventura que também fizerem seus check ins. Lidu, Olga, Amélia, Karla Ianara, Dalila, o casal, Aristeu, Marinalva e o garoto Gabriel, o mais animado da turma.
Meio dia, chegou a hora do tão sonhado embarque. Subimos as escadas alegrementes, recepcionadas por um simpático grupo da tripulação com tratamento vip. A partir daquele momento fotografando até o último passageiro ao entrar a bordo, a escada ainda não se fecha, recebe jornalistas, secretário de turismo de Fortaleza, para almoço a bordo com oficiais e chefes de departamentos. Nós não pertenciamos a mais ninguém, nem a si mesmo, o sonho se descortinava. O anúncio pelo sistema sonoro nos convoca à recepção para dar início as instruções para realizarmos o cruzeiro. Abertura de contas e inscrições para escursões em Natal e na ilha. Na permanência do navio atracado no Mucuripe fizemos simulação de emergência com equipamentos de salva-vidas, em seguida ficamos livres para conhecer a embarcação de doze andares. Somente a praça de máquinas não poderia ser visitada. E assim procedemos, devagar, subiamos e decíamos escadas e elevador, por fim dirigímo-nos ao andar panorâmico para deliciarmos a boa gastronomia francesa. Sabe-se que, a cozinha francesa, reputada em todo o mundo pela sua excelência, caracteriza-se por uma grande variedade de pratos, vinhos e queijos, considerados como uns dos melhores do mundo. No bufet do Bleu De France estavam expostos, variados pratos franceses como os famosos baguetes, croissant, patês, outros como, molhos, pastas e queijos, até mesmo o pot-au-feu, uma espécie de cosido, que também apreciamos.
Cinco horas - o sistema sonoro anunciou a partida. Direcionamos para o solarium na polpa da embarcação para melhor apreciarmos o pôr-do-sol e a saída de Fortaleza. Expetáculo ímpar, entusiasmo, animação, nossas e de tantos outros passageiros que encontarvam-se embarcados.
O transatlântico, parte em movimentos lentos e apitos sonoros e tristes. O monstro lotado de viajantes sobre as águas azuis do oceano flutua elegantemente. Passam por ele, outras embarcações. Escureceu, o navio iluminou-se e começa a balançar, inicia-se outras atrações: banhos de picinas, spar, bibliotecas, bares, salão de beleza, jantares no bufet e no restaurante Le Flamboyant, espetáculos etc. Um dos destaques na programação de bordo é para o entretenimento infantil.
Noite, lua, céu e mares, sem solidão; uma atmosfera única, radiosa, de uma efervescência colorida, onírica, mágica. Expectativa transbordante, empolgada, vibrando, oceamando; apenas um embaraço, passei a marear. Situação desagradável, jamais poderia crer. Fico eu, na primeira noite fora das programações, não havia como participar de mais nada, mareada. A companheira de viagem Amélia, me sugeriu tomar uma medicação. Aceitei. Foi tardia, já não mais me segurava. Fui ao Flamboyant apenas para não ficar sozinha na cabine, no entanto não conseguia controlar o enjôo, a saída, recolher-me desanimada. Noite de sono pesado, não percebi mais o embalo do navio sob efeito do dramim. Chegamos em Natal:

Ó! Grandiosa embarcação
Vagarosa, toma o rio, em procissão.
Na luz incandescente matinal,
Alça a Natal querida
Sobre a escuma na costa estendida...
No oitão da estrela vesperal.
Banhistas despreocupados
Despertam extasiados
Com a brancura do navio
Num solene despertar a sorrir
Observam, inertes a entrada triunfal
Da bela embarcação no rio Potengi.

Despertei bem melhorada, preparei-me para a chegada na cidade do sol. Matar a saudade das amigas e daquele cenário lindo. Onze horas da manhã, minhas amigas, Maria do Ceo, Cíntia, Iracema e Lulu, vem ao porto recepicionar-me. Que alegria! Saímos para a praia de Areia Preta e no Farol Bar ficamos confabulando sobre diversos assuntos e saboreando a tradicional e gostosa carne de sol do Caicó. Retornamos ao navio, tarde de animação. Por volta de três horas, outra turma de amigas anunciam que estavam no porto para me ver. A Cássia, Francisca, Lúcia e Terezinha me convidam a descer para nos abraçarmos. Estas com faixas de boas vindas ficaram até a partida da embarcação. Quanta alegria, quanta emoção!
Na cabine começamos eu, Olga e Dalila, os preparativos para noite de gala. Bem produzidas, com os demais da turma, na entrada do restaurante fomos saudadas pelo comandante Augusto Neto, e fotografadas. Coisa de praxe em cruzeiros marítimos. O navio em movimentos lentos, balançava cada vez mais e deixava muita gente mariada. Reccolher-me foi a solução, tomei mais uma dose da medicação indicada pelo infermeiro do navio. Dormi a noite inteira, só acordei ao raiar do dia.
Da janela da cabine vejo a clássica Aurora, o rocsicler com seu róseo encantador na linha do horizonte, subo para o solarium. Sutilmente descortina a decisiva manhã de três de dezembro, mole de sono como pétalas orvalhadas, um up time toma conta de mim, no mirante do navio, entre nuvens, revoadas de atobás, e o assombro da natureza – o sol desperta, é a alegria da chegada no Arquipélago Fernando de Noronha. Deslumbramento, encantamento. Me eximo de descrevê-la na minha pequena condição de amadora, coisa que sempre costumo fazer em viagens, desta vez não coube a mim, estava pois, diante de uma obra fantástica da natureza. Entreguei-me a emoção e vi que cada coisa bela suscitava naguele momento de embevecimento, apenas uma merecida comtemplação, pois tinha de saborear, vivenciar cada coisa em sua plenitude.
No inclinar do dia (3) três, o céu ainda pardacento, subi sozinha ao andar panorâmico. Em comtemplação, ao longe avistei um cardume de golfinhos que parecia saldar os passageiros, uma forte emoção tomou conta de mim.
Canção ao Mar Azul
Ó mar azul
Traz-me o bálsamo
Do teu sal
Para o cerne do meu ser
Encontrar o centro.
Ó mar azul
Traz-me essa cor que me acalma
Transcende meu ser
Alimenta minha alma.
Ó mar azul
Traz-me essa fonte de energia
Renova minhas forças
Para aumentar minha alegria.
Ó mar azul
Traz-me a mansidão dos golfinhos
Para cultivar em mim a inteireza
Manter em mim a sanidade
Complementar minha natureza.
Logo depois do café iniciamos outras aventuras. A bordo de um barco, eu minhas amigas e muitos outros passageiros embarcamos rumo as praias de águas claras com uma parada na baía dos golfinhos, onde tivemos a grata satisfação de vê-los em cardumes em suas belas cambalhotas, um expetáculo maravilhoso e emocionante, provocando frison a todos. Visitamos as principais praias: Do Boldró, Baía do Sancho, Bode, Quixabinha, Meio, Cahorro, Cacimba, Padre, Conceição etc.
No dia seguinte fizemos a escursão terrestre. Visitamos de buggy parte da ilha, os principais pontos turísticos, Morro dos dois irmãos, Morro do pico Centro Histórico, Forte de N. Senhora dos Remédio, e algumas das praias paradisíacas já visitadas de barcos; fomos apreciá-las de fora por terra. Lidu com sua filmadora, registrava tudo. Fernando de Noronha, um arquipélago de paraíso ecológico e turístico brasileiro, fica localizado no oceano atlântico a leste do litoral do Rio Grande do Norte. É um distrito estadual pertencente ao estado de Pernambuco.
Nossa permanência lá durou numa faixa de trinta horas, período permitido pela admimistração da ilha. Nesse mesmo dia, (4) quatro de dezembro por volta das(14hmin) quatorze horas, deixamos a ilha de volta para Fortaleza, o transatlãntico afastou-se silêncioso, de modo que nosso companheiro de viagem o garoto Gabriel, ao perceber ficou triste, rescentido por não querer aceitar que o cruzeiro estava terminando. Outra vez subimos para o solarium para contemplarmos o pôr-do-sol. Desta vez juntamo-nos a outros companheiros que conhecemos no navio e fizemos uma corrente de oração. E quanto tempo ficamos assim, aparentemente imóveis... nessa contemplação - nesse mergulho na natureza parecíamos ser as únicas pessoas que existiam naquela embarcação sobre as ondas daquele imenso e profundo mar azul e sereno. Mas, sabíamos que, outros poderiam estar sentindo o mesmo espanto a mesma emoção que nós estavamos sentindo. A noite bordada de estrelas, surge esplendorosa, e todos são convidados pelo animador do navio para última festa no grande salon, voltamos para as cabines para uma produção especial da noite de despedida. Olga, vestiu-se a caráter, estava estilosa. O grande salon ficou repleto. A vez era do turista, do nosso grupo, a garota Dalila encantou a todos com sua bela voz.
Com o mar de vento em polpa, a embarcação flutuava tranquila, muitos passageiros recolheram-se em suas cabines, Aristeu, Marinalva, entre outros ficaram aproveitando as últimas atrações e desfrutando do bela paisaigem noturna sobre as ondas.
O tempo discorreu veloz, a noite foi ingrata, passou como um raio; ao raiar do dia (6) seis, sonolenta escutei as vozes dos carregadores de malas. Abri as cortinas, vi que estávamos chegando em Fortaleza, entre o sol que despertava e os arranhas-céus bordando a orla marítima. Via-se o rebocador cercando o transatlântico, subi para apreciar do andar panorâmico com uma certa tristeza, por deixar um ambiente atraente e sedutor. A segunda-feira fervilhava em Fortaleza, depois do navio atracar, com a alta temperatura ambiente nos obrigava a saboearmos sucos, frutas e o croissant como despedida. Assim, deixamos o Bleu De France.

Rosa Firmo

OLHOS DE VER - Emerson Monteiro

Nestes tempos libertos e comunicativos, acham-se destravadas milhões de portas ao sabor do conhecimento de dentro da humanidade e do universo, na história dos tempos idos e das possibilidades dos tempos que virão. Ninguém pode reclamar de sonegação de informações. O trabalho das eras chegou ao nível dos desejos avassaladores das oportunidades, nos diversos campos do saber, e torna o viver contemporâneo em um oceano de ofertas, no que diz respeito à quase totalidade técnica de pesquisas, emoções, religião, lugares, personalidades, artes, palco luminoso de luzes e movimentos, posse absoluta das gerações inteiras, sertão, mar, geografia, física, música, ciências.
Aos habitantes coloniais do Planeta bastam: levantar a vista, apertar uns dois ou três botões e fixar o ponto em que a empanada revelará os segredos das origens, mostrando as previsões futuristas dos cálculos infinitesimais. Verdadeira festa de proporção desconhecida limpa as carências, sem contar somas fabulosas acumuladas nos gabinetes e as próximas ações de governo, que melhorarão os recordes obtidos, tudo a favor do patrimônio da raça dos sonhos e da imaginação.
Visão objetiva indica caminhar livre dos interesses exclusivos de só alguns, fora das intenções apenas individuais. O barco pertence ao coletivo, queiram ou não queiram apostadores da grande obra, que questionavam o sentido dessas evoluções. Quando lá nos primórdios apareceram os primeiros hominídeos, antigos resquícios dos atuais seres humanos, por volta de dois a três milhões de anos, já havia na semente o projeto aqui trazido ao campo das multidões. Nada melhor do que ouvi no tempo a existência dessas provas provadas.
Cabe hoje, no entanto, aos protagonistas da cena, valorizar o patrimônio obtido, horas, ar, claridade, energia, que alimenta a condição da grande massa no seu crescimento. Letras pulam acesas na frente dos atores todo momento indicando permanência e generosidade, através das consciências, numa opção de selecionar o lado positivo das duas alternativas de viver e agir.
Longe, pois, tirar de ninguém as chances de pensar maior, desestimular a felicidade de ver as paisagens boas, ler os roteiros alegres trazidos nos braços perfeitos de Quem que nos criou para uma trajetória de benções e que conduzirá o processo justo a bom termo, mantendo o ritmo ideal do vasto espetáculo onde habitaremos para sempre. A todos um Ano Novo de plenas realizações.