sábado, 27 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

HISTÓRIA DE LAVRAS A MANGABEIRA


LOCALIZAÇÃO:
Lavras da Mangabeira é um município do Estado do Ceará, Brasil. Localiza-se na microrregião de Lavras da Mangabeira, mesorregião do Centro-Sul Cearense. O município tem cerca de 31 mil habitantes e 993 km². Foi criado em 1816.
Data da Criação: 20 de Maio de 1816.
DA COLONIZAÇÃO AO POVOADO
No século XVIII (1757), no mês de março, eram encontradas as lavras situadas nos Altos do Garrote, localizadas entre as fazendas Boqueirão de Afonso de Albuquerque, comandante da Muribeca, e a Mangabeira, do Padre Antônio Gonçalves Sobreira, morador em Paratibe. Depois de quase cinco anos de iniciadas as explorações das Minas de São José dos Cariris, foi que teve lugar o descobrimento das Lavras de São Gonçalo, das chamadas Mangabeira, provavelmente, do nome da fazenda pertencente ao Padre Sobreira, e que seus exploradores vieram atraídos pela notícia de que lá havia muito ouro. Em 1758, foi proibida a mineração na capitania, o povoado ficou em absoluta miséria com o seu desaparecimento e seus habitantes que ali permaneceram passaram a recorrer da agricultura e pecuária para se manterem.
Seu nome surgiu da mineração: Lavras; no local: Mangabeira.
Lavras da Mangabeira teve sua origem sócio-religiosa diferente de quase todas as outras. Em geral, as cidades evoluíram de aglomerados humanos, surgidos ao pé de capelas ou casas-de-oração. No caso de Lavras, houve o aglomerado humano, decorrente das Lavras ou da mineração, depois veio à ermida, como conseqüência natural.
Conta à lenda que foi encontrada uma imagem de São Vicente Férrer sob um Juazeiro, no local da atual matriz, por um vaqueiro de Xavier Ângelo (Capitão-Mor da Vila de São Vicente das Lavras e fundador do povoado). A imagem era conduzida para a casa, mas lá retornava, como a indicar que ali deveria ser construído um templo. A data de sua construção é desconhecida. Sabe-se que em 1768, a Capela de São Vicente Férrer, construída ao tempo do Padre Joaquim de Figueiredo Arnaud.
A partir 1758, do Livro III de Registros Eclesiásticos da Freguesia do Icó constam as denominações: “Sítio das Lavras da Mangabeira do Rio Salgado” e “Sítio da Mangabeira das Lavras”. Posteriormente, o lugarejo, já como povoado, foi registrado com variadas designações: Povoação das Lavras da Mangabeira, Povoação da Mangabeira, Povoação de São Vicente Férrer ou Ferreira, Povoação de São Vicente Férrer ou Ferreira das Lavras, Povoação de São Vicente Férrer ou Ferreira das Lavras da Mangabeira, Povoação das Lavras.(Extraído do Livro “Lavras da mangabeira – Um Marco Histórico” de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves; e do Livro “São Vicente das Lavras”de Joaryvar Macedo).

HISTÓRIA DA PARÓQUIA DE SÃO VICENTE FÉRRER


A criação da Freguesia de São Vicente Férrer de Lavras, foi no dia 30 de agosto de 1813, desmembrada do Icó. Era filial da Freguesia de Nossa Senhora da Expectação. O patrimônio da Freguesia é de meia légua de terra do lado do Rio Salgado, em que fica situada a Matriz, pertencendo-lhe desde o Riacho da Pendência até a Caiçara. Desmembram-se dela a Freguesia de São Raimundo Nonato de Várzea Alegre, de acordo com a Lei nº1.076, de 30 de novembro de 1863; parte da Freguesia de São Pedro do Crato, de acordo com a Lei nº 1.362, de 9 de novembro de 1870; a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Umari, conforme a Lei nº 1.686, de 2 de setembro de 1875, que somente a 18 de agosto de 1882 foi executada canonicamente. Por fim, desmembrou-se grande parte da freguesia do Menino Jesus de Aurora, instituída por Ato do Bispo D. Joaquim José Vieira, de 27 de junho de 1893. As vilas de Quitaiús e Mangabeira que pertencem ao município de Lavras constituem cada uma, paróquia independente. A primeira de Nossa Senhora do Rosário e a segunda de São Sebastião.A Freguesia teve como primeiro vigário o reverendo Padre José Joaquim Xavier Sobreira, lavrense, filho do Capitão-Mor e Comandante Geral da Vila de São Vicente Férrer das Lavras, Francisco Xavier Ângelo e sua primeira mulher, Ana Rita de São José, irmão de pai e mãe do vigário coadjutor em Lavras, Padre Cosme Francisco Xavier Sobreira e Padre Francisco Xavier Gonçalves Sobreira. De 1814 a 1823, foi vigário Colado, ajudado pelos pró-párocos Padre João Correia da Costa Sobreira, José Felipe da Cunha e Cosme Francisco Xavier Sobreira e Joaquim de Figueiredo Arnaud.De 1824 a 1830, fica a frente da Freguesia de São Vicente Férrer, o Vigário encomendado, Padre Antônio José Ribeiro.De 1830 a 1831, Padre Alexandre Francisco Cerbelon Verdeixa, Vigário encomendado (Batizou Fideralina Augusto Lima).De 1831 a 1832, Padre Manoel Joaquim Aires do Nascimento, Vigário encomendado.1832 a 1833, Padre André Joaquim Aires do Nascimento, Vigário encomendado.De 1833 a 1834, Padre Manoel da Silva e Souza, Vigário encomendado.De 1834 a 1846, Padre Antônio Marques de Castilho, Vigário Colado e Padre Bernardino Pereira da Silva Lima, pró-pároco.Em 1846, Padre Ricardo Francisco de Lemos, Vigário encomendado.De 1846 a 1863, Padre Luiz Antônio Marques da Silva Guimarães, Vigário Colado.Em 1863, Padre José Maria Freire de Brito, Vigário encomendado.De 1863 a 1871, Padre Antônio Pereira de Oliveira Alencar, Vigário Colado.Em 1872, Padre Antônio Alexandrino de Alencar, pró-pároco, no exercício do vicariato.De 1872 a 1875, Padre Vicente Férrer de Pontes Pereira.Quando Lavras passou a cidade, em 20 de agosto de 1884, era vigário Padre Meceno Clodoaldo Linhares, natural do Icó, tomou posse em 24 de janeiro de 1875 até o dia 2 de janeiro de 1924, quando faleceu.Janeiro de 1924 a 13 de agosto de 1935, Padre Raimundo Augusto Bezerra.Fevereiro de 1935 a 31 de janeiro de 1936, Padre José Fernandes Medeiros.Fevereiro a dezembro de 1936, Padre Francisco de Assis Pita.Janeiro de 1937 a abril de 1938, Padre Osvaldo Rocha, interino.Maio de 1938 a setembro 1971, Padre Alzir Sampaio.Agosto de 1971 a janeiro de 1972, Padre José Alves de Oliveira, substituto.Fevereiro de 1972, Padre José Mota Mendes, substituto.Fevereiro de 1972 a janeiro de 1975, Padre José Adauto de Alencar.Janeiro a fevereiro de 1975, Padre José Francisco de Salatiel, substituto.Agosto de 1975 a agosto de 1980, Padre Manoel Alves Feitosa.24 de agosto de 1980 a maio de 1992, Padre José Pereira de Lima.05 de junho a julho de 1992, Padre José Coringa.19 de julho de 1992 a 28 de fevereiro de 1993, Padre Clairton Alexandrino de Oliveira.21 de março de 1993 a 24 de junho de 2001, Padre Afonso Alves.25 de junho de 2001 até hoje, Padre Benedito Evaldo Alves.O dia do Padroeiro, São Vicente Férrer, é 5 de abril. A paróquia pertence a diocese do Crato.CARACTERISTICAS DA IGREJA DE SAO VICENTE FERRERFachada:Estilo Neo-clássico.- frontispício reto. (1º e 2º período)- simália reta (1º e 2º período)- elementos decorativos em toda a fachada.Torres:- duas torres- cobertas por folhas de alumínio.Altares:- presença de folhas e frutos nos entalhes.- ninchos (2º e 3º período)- presença de colunas e voluptas- elementos decorativos grandes- 3 imagens maiores, a de São Vicente Férrer, Santana e São José.- presença das cores azul, branco e dourado (pequenos detalhes).Altares Laterais:- 2 paralelo ao Altar principal, cada um, possui 3 imagens.- 2 paralelos a porta principal, possuindo uma imagem cada.- Todas as imagens são datadas do Século XIX, em papel machê.Teto:- uma pintura simples, sem técnicas, mas que expressava a inocência do povo daquela época.- no teto são pintadas nuvens e o fundo de cor clara.Piso:- mosaico (substituído por cerâmica).
VIDA DE SAO VICENTE FERRERSão Vicente Férrer nasceu em Valência, na Espanha, em 1350. Abria seus olhos para um mundo marcado por múltiplas dificuldades. A "peste negra" havia assolado a Europa e, aos 13 anos de idade, ele já assistia a morte de várias pessoas com este mal.A Espanha era habitada por judeus e muçulmanos e, entre estes, os intelectuais e nobres da época, assim como povo e escritores havia grandes diferenças de classes, de deveres, de direitos.O ambiente religioso reinante ao longo de toda a vida de São Vicente Férrer foi cheio de conflitos. Basta dizer que havia um grande Cisma na Igreja, o Papa residia fora de Roma, em Avignon (França), por mais de 40 anos. Aos olhos dos cristãos, o pontificado havia perdido a unidade, a universalidade. Um agravante desta situação foram os impostos colocados ao povo pelo pontificado. Os italianos clamavam contra a "Ímpia Babilônia" (Avignon) e a desobediência aos papas da sede romana, alegando horrores feitos em nome da Igreja. Heresias surgiam no meio do povo e entre o próprio clero, que chegava a desconfiar da verdadeira autoridade papal. Neste clima social e religioso, enegrecido pelo Cisma da Igreja desenvolveu-se a vida e pregação de São Vicente Férrer.Seu pai era Guilhermo Férrer e sua mãe se chamava Constanza Miquel. Eram ao todo 8 filhos: 3 homens e 5 mulheres. Os nomes conhecidos de seus irmãos são: Constanza, Francisca, Inês, Pedro e Bonifácio.De família tradicionalmente católica, Vicente e Bonifácio muito cedo tornaram-se sacerdotes, mais precisamente freis dominicanos. Vicente Férrer estudou em Barcelona (Espanha) e Toulouse (França), onde se especializou no conhecimento das línguas orientais e na Sagrada Escritura. Nosso dominicano pregava pelo menos 3 sermões diários. Pregou na Espanha, Itália, França e Inglaterra, andando sempre a pé e acompanhado de grande multidão. Faziam parte de suas caminhadas, homens letrados, confessores, mendigos, escritores que anotavam seus sermões. Mais tarde, Vicente Férrer teve uma perna machucada que lhe causou certas dificuldades em seu trabalho missionário; passou a viajar em um burrinho e levava um pequeno órgão, com o qual compunha suas músicas.Apesar de sua aparência simples, Vicente Férrer foi um dominicano muito culto e sua cidade natal o agracia, até hoje, com muitos títulos: "O Apóstolo da Paz", "O Patrono de Valência", "Apóstolo da Europa" e "Doutor da Igreja". Todos esses honrosos títulos originaram-se não só de suas pregações, conversões, milagres, mas também de seu trabalho político social que teve a oportunidade de desenvolver em toda sua vida, especialmente para pôr um fim no Grande Cisma da Igreja Ocidental.Foi chamado pelos seus conterrâneos do "Santo mais valenciano e do valenciano mais santo".Pregou o Evangelho como o "Embaixador de Cristo"; foi um grande defensor da verdadeira fé e da unidade da Igreja, um batalhador pela paz entre os povos e defensor da reforma dos costumes.MILAGRES ATRIBUIDOS A SAO VICENTE FERRERA Igreja romana, no processo de canonização de nosso padroeiro, constatou 873 milagres. Dizia Frei Luiz de Granada que São Vicente fazia milagres com a mesma facilidade com que nós levantamos o dedo. Santo Antonino atribuiu-lhe 25 ressurreições de mortos, milhares de conversões, curas de enfermos, reconciliação de inimigos, dom das línguas...Vejamos alguns milagres de nosso Santo padroeiro:Pregando sempre em seu dialeto valenciano, entendiam-no, não só os seus compatriotas, assim como os franceses, ingleses, alemães e outros povos com dialetos diferentes. Somente quem possui um dom sobrenatural conseguiria, todas às vezes, ser compreendido por estrangeiros, como foi São Vicente Férrer.Outro milagre relaciona-se com sua pregação ouvida à distância. Era feita ao ar livre, em praças imensas, em campo aberto, e ouvidas perfeitamente, por milhares de espectadores, sem contar com nenhum recurso de comunicação que temos em nossos dias. Em 1408, um monge que morava a uma distância de dez léguas do local de pregação de São Vicente conseguiu ouvi-lo e até anotar sua pregação.Foram devidamente comprovadas muitas profecias que realmente se cumpriram, pronunciadas por São Vicente.Muitos milagres relacionam-se com sua vida peregrina, inclusive uma multiplicação de víveres para sustentar uma numerosa multidão que o acompanhava.Uma passagem interessante é de uma mulher em desavenças com seu marido. São Vicente foi procurado por ela e aconselhou-a a encher sua boca de água do poço, enquanto seu marido discutia. Com o passar do tempo, o marido mudou totalmente de comportamento. Quando foi procurado sobre o valor da água do poço, São Vicente explicou: "Não é a água deste poço, nem sequer outra água qualquer; a virtude é escutar com paciência o marido irado; é o único modo de desarmá-lo e voltar a paz conjugal".São Vicente Férrer faleceu no dia 05 de abril de 1419, na cidade de Vanes (França), onde se conservam suas relíquias. Foi canonizado pelo Papa Valenciano Calixto III, Alfonso de Borja, em 1455.Bibliografia: "S. V. Férrer, Apóstolo da Paz - de Vicente Genovés - Dir. Centro de Cultura Valenciana - "Estudos sobre São Vicente Férrer - Caballeros Jurados de São Vicente Férrer - Academia de Cultura Valenciana.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

LANÇAMENTO

Livro “A mulher sem túmulo”
Autora: Nilze Costa e Silva
A escritora cearense Nilze Costa e Silva lança no próximo dia 26, às 19h30min, no Espaço Multicultural Armazém da Cultura, o livro "A mulher sem túmulo", vida romanceada da beata Maria de Araújo, protagonista dos chamados milagres de Juazeiro do Norte, no Ceará, em 1889. Em comunhões ministradas pelo Padre Cícero, a hóstia teria virado sangue na boca da beata.O livro tem orelhas assinadas pela escritora Ana Miranda, que encarnou o papel de Maria de Araújo no filme "Padre Cícero: Os milagres de Juazeiro" (1975), de Helder Martins, e a apresentação da obra será feita pelo escritor e cineasta Rosemberg Cariry.O Espaço Multicultural Armazém da Cultura fica na Rua Jorge da Rocha, 154 – Aldeota, entre as ruas José Vilar e Silva Paulet.Mais informações: Nilze Costa e Silva, escritora - (fone: 85 8643 8887 85 8643 8887 / 3241 0201)
Fonte: Agência da Boa Notícia

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

PROGRAMAÇÃO CULTURAL DA
BIBLIOTECA PÚBLICA GOVERNADOR MENEZES PIMENTEL


24/02/10- Quarta-Feira
14h às 17h - Contação de Histórias, a grande aventura do Livro no Setor Infantil (agendamento com a Márcia pelo telefone 3101.2549)
14h às 17h - Oficina de Papel Machê (Setor Infantil – inscrição e agendamento com Márcia pelo telefone 3101.2549)
14h às 15h: Visitação guiada com o grupo Dona Zefinha ( Agendamento com Simone Freire pelo telefone 3101-2548)
15h30m: Lanche ( Salão de Eventos)
16h: Palestra: Laços afetivos de leitura ( Grupo Famílias Leitoras)

25/02/10- Quinta- Feira
14h às 17h - Teatro Mágico Para Crianças no Setor Infantil (agendamento com a Márcia pelo telefone 3101.2549)
14h: Oficina de Confecção de Livros Infantis ( Agendamento com Simone Freire pelo telefone 3101-2548)
15h: Palestra: “Degradação do Papel: causas e soluções” com Márcia Lessa Historiadora e restauradora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)(agendamentos com Juliana pelo telefone 3101.2545)
15h: Exposição dos equipamentos do Laboratório de Restauração da BPGMP- Setor de Restauração.

26/02/10- Sexta- Feira
14h às 17h - Contação de Histórias, a grande aventura do Livro no Setor Infantil (agendamentos com a Márcia pelo telefone 3101.2549)
14h às 17h - Oficina de Papel Machê (Setor Infantil – inscrição e agendamento com Márcia pelo telefone 3101.2549)
14h: Oficina de Confecção de livros Infantis ( Agendamento com Simone Freire pelo telefone 3101-2548)
09h às 17h – Campeonato de Dominó em Braille no Setor Braille ( agendamento com Veleda pelo telefone 3101-2553)

Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel
Av. Presidente Castelo Branco, 255, Centro
Fone: (85) 3101.2548 (Raquel Lima)
Informações e sugestões: bibliotecacultural@secult.ce.gov.br

DIÁRIO DO NORDESTE

COLUNA (26/1/2010)
Batista de Lima


Glória de vida longa. Uma pessoa com cento e dois anos é uma pepita que se encontra no meio desse garimpo humano padronizado e sarado em academias. No meu caso, no entanto, não foi preciso ir muito longe para encontrar essa raridade, tendo em vista que ela era familiar e com a qual mantive contato desde a minha mais tenra idade. Trata-se de Glória Pereira de Lima, ou Glorinha. (...) Mulher com esse nome é fadada à vida longa. É como se "ficasse para semente".Uma estatística do IBGE, divulgada há pouco, apontava para pouco mais de quinze mil pessoas, em todo o Brasil, com mais de cem anos. Esse número despencava pela metade ou mais, quando se tratava daquelas com mais de cento e um, e muito mais diminuía, quando se referia às pessoas com mais de cento e dois anos. Segundo se afirma, menos de cinco mil estão com essa idade. Cada uma dessas pessoas é uma joia rara que se encontra no meio de um mundo hoje todo de jovens, onde toda a indústria cultural, todos os holofotes da mídia estão voltados para a juventude.Uma pessoa com cento e dois anos é uma pepita que se encontra no meio desse garimpo humano padronizado e sarado em academias. No meu caso, no entanto, não foi preciso ir muito longe para encontrar essa raridade, tendo em vista que ela era familiar e com a qual mantive contato desde a minha mais tenra idade. Trata-se de Glória Pereira de Lima, ou Glorinha. Daí se concretiza a pregação, também do clã, de que nome ideal para se colocar numa criança do sexo feminino é de Glória ou Vitória. Mulher com esse nome é fadada à vida longa. É como se "ficasse para semente".O caso de Glorinha é curioso. Nasceu a 17 de dezembro de 1907, em um sítio chamado Baixio Verde, em Lavras da Mangabeira. Ainda garota mudou-se para outro sítio próximo, chamado Bom Lugar, e quando casou-se em 1929 foi morar em outro sítio chamado Barra. Esteve grávida 18 vezes e hoje há dez de seus filhos vivos, tendo o mais velho já a idade de 80 anos. Passou 73 anos casada com Raimundo Nonato Costa, e é porque Nonato é do Latim "nonatus", não nascido. Imagine-se se fosse apenas Raimundo Nato da Costa.Descendente de cristãos novos, o casal sempre manteve uma prática religiosa devotada a São Sebastião, padroeiro do distrito de Mangabeira, São Raimundo Nonato, padroeiro de Várzea Alegre e São Vicente Ferrer, padroeiro de Lavras. É tanto que ao se falar em sua biografia, os familiares retornam no tempo para dizer que o casal quando nasceu, numa diferença de alguns dias, o papa era Pio X, o bispo do Ceará era Dom José Joaquim Vieira, o vigário de Lavras era Monsenhor Miceno Clodoaldo Linhares.O mundo político da época se apresentava com Afonso Pena como Presidente da República, Nogueira Acióli como Governador do Ceará e Gustavo Augusto de Lima como Prefeito de Lavras da Mangabeira. Essa situação histórica é para esclarecer que Glorinha nasceu na República Velha, passou pelo Estado Novo, entrou na República Nova, cruzou a ditadura e chegou à era Lula. Testemunhou o sofrimento dos nordestinos em secas como as de 1915, 1919, 1932, 1942 e 1958. Mas também assistiu a grandes enchentes, como a de 1916, quando uma verdadeira tromba d´água despencou sobre o sítio Baixio Verde, arrombou o grande açude que seus ancestrais construíram e que mesmo arrombado, ainda sangrou três dias, como reza a lenda.Esses fatos narrados demonstraram que uma pessoa que passou por todos esses momentos é um monumento da memória oral. Sua vivência no tempo do cangaço, do fanatismo de Juazeiro, com sua crença no Padre Cícero, esteve viva na lembrança. Todo esse patrimônio adquirido é um livro aberto para a memória.Essa longevidade de Glorinha é algo contagiante e hereditário. Outra Glória sua prima também passou dos cem anos. Uma outra contraparente sua e que ajudou na criação de seus filhos, e que tem por nome Raimunda Oliveira, hoje reside em Santa Helena, Goiás, e já ultrapassou os 104 anos. Todas essas senhoras fazem parte de uma estirpe de mulheres determinadas, vocacionadas para matriarcas, fortes diante das intempéries do meio em que vivem. Conviveram com um mundo de penitentes, profetas, miçangueiros, violeiros, rabequeiros, curadores e vaqueiros.Toda a região onde nasceu ainda guarda recordações dos grupos de penitentes de Joaquim Mergulhão, Arlindo Geraldo e de Chiquinho de Manu, e parece ainda ouvirem o tilintar das disciplinas e o canto lamurioso nas noites da Semana Santa. Os vendedores que se hospedavam em sua casa eram seu Rufino, Manuel das cordas, Zé Alves e Seu Zacarias. Eram ambulantes que traziam mercadorias de Juazeiro e vendiam pelas ribeiras. Eram andarilhos que traziam também notícias frescas e às vezes até pediam paga por alvíssaras.Essa longevidade desperta a curiosidade de quem a conheceu. Por isso vem logo a pergunta: qual a receita para se viver tanto? Entre as suas muitas práticas estão: a alegria constante, a hospitalidade, o amor às plantas e às flores, a decoração, a vivacidade e a arte de conversar. Conversar muito com muitas pessoas, bem à vontade. Tornar o ambiente em que vive muito alegre e descontraído, e principalmente ter esperança. Depois crer em Deus, em Nossa Senhora e em todos os santos. Participar de novenas, leilões, quermeces, renovações, coroações, desobrigas, casamentos, batizados, crismas e festas juninas.Personagens como Glorinha escrevem nossa história sem assinar embaixo. Constroem casas viradas para o nascente, produzem filhos, que produzem netos, que produzem... Votam, rezam, sonham, cantam, choram quando é preciso, suam, sangram, creem em Deus e nos homens, amam a pátria, lavram a terra, cultivam a honestidade e vão passando sem registro na história oficial, que só tem olhos para aqueles que tudo fazem para tirar algum proveito de tudo isso.No último dia 17, com cento e dois anos e um mês de vida, Glorinha foi convocada para outra dimensão, para, com sua experiência de vida, contribuir na proteção desse mundo tão conturbado, e em especial por nós nordestinos, filhos deste Brasil de caboclo, de mãe Chica e pai João.

Blog do Márcio Santiago: Lançamento de livro

Blog do Márcio Santiago: Lançamento de livro

http://www.academia.org.br/

Feliz pelo teu sucesso. Parabéns pela participação do livro

Rosa Firmo

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AS PORTAS DO DIA - Por Emerson Monteiro

Às notas suaves de uma canção francesa que invadem o espectro grandioso da manhã seguem-se-lhes cantos de pássaros nas mais altas árvores próximas, enquanto os primeiros caminhantes deslizam a sonolência da véspera na faixa estreita que habita o trecho entre a imaginação e o colostro do alvorecer. Orvalho tímido reflete nos seus espelhos côncavos os primeiros raios do sol em forma de arvoredo, nas bordas laterais dos caminhos. Cedo rangem as tábuas das largas portas do dia. Quais pensamentos irrequietos, as borboletas brincam no rendado verde das encostas, quais lampejos experimentais de um pintor imaginário a sacudir de seus pincéis embebidos na tinta o azul bem terno do céu.
Nuvens em fiapos escorregam junto dos bichos que apeiam das árvores para somar no meio das coisas do chão
Uma história que preenche o vazio de tudo escrito nas folhas da mata, no trinado de insetos e latidos de enlanguescidos cães.
Os detalhes sincopados aos poucos surgem dos sonhos e formam a cena. A saudade das estrelas que dormiram há instantes, os retalhos do escuro que esclareceu de ruídos acordados a fimbria avermelhada do horizonte, animais friorentos, umedecidos nas gotas de chuva da véspera, flores minúsculas, filão adocicado nos lábios de amores enigmáticos, quase feitiço de casebres distantes, de cujas chaminés escapam os algodões das mesmas nuvens esfiapadas nos arames das cercas aveludadas de melão de são caetano.
Interrogações aprofundadas na pele dos gibões de couro no lombo dos velhos burros de carga em rumo das ruas da feira. Trilhas corridas, marcas de cicatrizes na melodia dos boleros guardados no coração dos personagens, no drama da vida.
Quadro pousado no resumo da paisagem durante o intervalo das cartas atiradas ao vento, realejo sofisticado, turmas barulhentas de pequenos exemplares de novas espécies inexistentes, ondas turvas e filamentos de nervos rasgados no róseo nascente aparecido de surpresa.
Nisso, lembrança forte do encontro guardado de corpos nas águas do riacho risonho no declive erótico da serra. Lábios carnívoros ferozes e cristalinos a saborearem os nacos apetitosos do prazer maravilhoso de melhores espetáculos possíveis entre dois seres.
Quantas impressões da viagem resistiram ao tempo do sobrevôo ao silêncio do coração de cada um, dosagens inesperadas no encaminhamento das páginas; lua transparente no rabisco da colina, calma estonteante das pautas musicais que escalonam o espaço e invadem a ramagem em volta.
Ímpeto de querer achar o ritmo da sinfonia das horas ao abrir intenso das folhas do palácio da natureza, de manhã cedo, saltos de pulsares e murmúrios de vontade no fio que tece a história de todos nos bilros do mistério persistente.