A força de seres humanos justificarem seus desejos beira os limites do infinito. No afã de motivar suas ações, pessoas estabelecem objetivos inalcançáveis e enormes sacrifícios individuais e coletivos, a ponto de ocasionar equívocos, atrasos e destruições, invés do progresso. Nisso, os chefes transferem às massas o peso maior das responsabilidades, rápidos mergulhos nas páginas da história bem demonstram com enorme facilidade.
Não fossem os riscos grosseiros lançados às multidões, caso apenas seus autores respondessem pelas ações irrefletidas na própria pele, e seria a conta pela receita, sem queixumes ou críticas, bater a poeira e começar de novo.
Entretanto, os frutos da fome dos dominadores nunca se restringem apenas aos botões que carregam no âmbito da autoridade. Derramam pelos oceanos, confrangem populações distantes, aquecem temperaturas, danificam a saúde pública, aumentam o desconforto das famílias, invadem a paz, sacrificam até a natureza-mãe e atrasam o desenvolvimento social. Eles ocupam os lugares, erram, ou nada produzem do esperado e necessário.
Nessas experiências inúteis e aventuras vaidosas, líderes ocasionais se aboletam nos tronos e esbanjam os recursos de suor e sustento da grande população, juntados, a duras penas, de impostos e taxas.
O sistema democrático virou moeda de troca do jogo político de séculos, nível mais alto da tradição coletiva de todo mundo. Equivaleria àquela coisa que alguns dizem do casamento: ruim com ele, pior sem ele. Ruim com ela, pior sem ela. A democracia, governo do povo, pelo povo, para o povo, mantém os seus caminhos abertos e livres ao acesso de milhões. Diante de um aparato legal, partidos políticos se organizam e a cidadania prevalece.
Porém o governo ideal insiste habitar a casa do sonho. Enquanto a matéria prima humana precisar de aprimoramento, e a moral insistir morar longe da Ética, a pisada é trocar seis por meia dúzia.
Turnos eleitorais, que significariam festas da democracia, viram palcos de negociações interesseiras entre pessoas e grupos, e custam elevadas somas em termos de propaganda, favores, telhas, tijolos, sacos de cimento, dentaduras, varas de cano, bicadas de cachaça, cervejadas, churrascos, naquele império capenga da torpe demagogia, do aviltamento da dignidade e da ausência do decoro, pois viciaram as massas.
Quando, nessas datas, o drama popular ganha ruas e praças; armam-se picadeiros e palhaços sobem nas pernas de pau do marketing político para gritar frases de efeito, no circo da ilusão. Nada justificaria, contudo, fugir dos princípios democráticos. O ânimo de achar o caminho da transparência reclama, outra vez, eleitores conscientes e sempre escolha de melhores representantes e administradores públicos, em nova e rica oportunidade.