domingo, 25 de julho de 2010

NUMA LUA QUASE CHEIA DE JULHO - Emerson Monteiro

Sob os efeitos recentes da tempestade de emoções vividas por ocasião do lançamento do livro Cariricaturas em verso e prosa, acontecido na noite de 24 de julho de 2010, nas dependências do Crato Tênis Clube, resolvo escrever algumas palavras neste assunto.
Junto dessa vontade, me veio ao pensamento uma polêmica verificada no auge do jornal O Pasquim, arauto brasileiro da contracultura na década de 60, quando o escritor Luiz Carlos Maciel escrevia artigos analisando o conteúdo existencial das letras de Noel Rosa e, sem intenção deliberada, feriu o espírito realista do célebre Millôr Fernandes. Assim, sem querer, provocou cisão irreparável no grupo de artistas e intelectuais do semanário, abrindo brecha intransponível para a sua continuidade. Tudo por conta do modo romântico de olhar a vida sem meias tintas, com fartura de emoções, aos moldes da avaliação literária.
Na tempestade que invadiu o espaço do tradicional recanto da sociedade cratense, nessa noite de autógrafos repleta de escritores, convidados, falas e música, causou espécie a farta emocionalidade do instante. Cercado de amigos que se reencontravam, vindos alguns de lugares distantes, público feliz desfrutou ocasião pródiga e espontânea. Viu-se de perto o Crato criativo, resistente e culto redimido em ocasião típica dos seus melhores dias de antes experimentados.
A festa produzida por Socorro Moreira, Claude Bloc e Edilma Rocha, animada por Hugo Linard e banda, reavivou bons sentimentos do auge de épocas bem especiais guardadas na memória. O mistério dessa intensidade, desse fulgor, lembra a frase de Saint Exupéry que diz: Quando o mistério é muito impressionante não cabe desobedecer.
Em meio ao sucesso das atividades em movimento, busquei agir como quem anda nos corredores internos de uma loja de porcelanas e vidros finos. Tantas valiosas personalidades vistas de perto, ao gosto por literatura, cultura, arte; figuras marcantes todo tempo, nos vários estágios dos caminhos desse rincão forte do Cariri, formaram painel verdadeiro de histórias e ocasiões, no encontro ao natural. Uma grande nave de cumplicidades circunscreveu sonhos pelo ar, feito o clima imponderável dos filmes geniais de Federico Fellini, decerto.
Daí soube as razões internas da vez em que Luiz Carlos Maciel analisou as letras dos sambas de Noel Rosa com a lente dos sentimentos. Porquanto há dimensões que apenas pelo lado de dentro se pode tocar, independentes dos caprichos horizontais da razão fria, das matemáticas.
Nesse aspecto, foi o professor José Newton Alves de Sousa quem, ao agradecer as homenagens recebidas, melhor definiu a voltagem da festa.
Fez menção a outro discurso e consignou mudança radical que, então, vivenciara na fisiologia de seu corpo, pois diante daquilo todo ele se transformava apenas em um coração.