sábado, 29 de maio de 2010

AINDA SEM DESTINO - Emerson Monteiro

Neste sábado, 29 de maio de 2010, circulou pelos jornais a notícia da morte do ator norte-americano Dennis Hopper, diretor e coadjuvante de Peter Fonda e Jack Nicholson, no filme Sem destino (Easy rider), película que marcou os anos 60 e sua geração perdida.
Esse clássico enfoca, sem meias tintas, o drama daqueles finais de século, numa fusão sintomática de drogas, sexo e ânsias existenciais da juventude, busca desesperada de encontrar o promo do crescimento tecnológico impaciente e recheado de fascismo opressor, frieza inútil da macroestrutura capitalista materialista, institucional, avassaladora.
Ao lado deste, um outro filme, o inglês Depois daquele beijo (Blow-up), do diretor Michelangelo Antonioni, também refletiria com vigor o quadro sem saída que se desenhava no horizonte das eras e previa nuvens de impossibilidades reais da política, no futuro das próximas décadas mundiais.
Eram tempos de profundas divisões de águas, auge do movimento contestatório dos hippies, quando jovens de todas as classes sociais do mundo se espalhariam, a circular feitos formigas atônitas, catando possibilidades apenas imaginárias, a fim de tranquilizar a consciência das intuições que prenunciavam geopolítica infame a subjugar o âmbito das pessoas humanas.
No roteiro de Sem destino, dois fiéis representantes da contracultura viajam de motocicleta entre as cidades americanas de Los Angeles e Nova Orleans, cruzando impávidas o território estadunidense.
No longo itinerário, sentem de perto a liberdade do espírito aventureiro a lhes sacudir os longos cabelos, pelas estradas desertas, imprevisíveis, expostos e submissos às circunstâncias do acaso desafiador, porém confrontam os habitantes reacionários das povoações interioranas por demais preconceituosos.
Campo aberto para avaliações do tempo histórico totalitário da época, o filme apresenta com sucesso as marcas frias da mentalidade que dominaria logo mais os quadros planetárias posteriores à Guerra do Vietnam e, um pouco adiante, à queda do Muro de Berlim, portas atuais de outros absurdos totalitários.
Em rápido apanhado de verdadeiro profeta, ao término da narração, Dennis Hopper chocaria seus contemporâneos, que aguardavam final menos infeliz, com a explosão amarga da destruição dos dois personagens, cena de uma tocha de fogo produzida pelo disparo das armas dos seus perseguidores. Algo equivalente à incapacidade reconhecida de mudar o sistema plenipotenciário em que se reverteu o sonho das realizações ilusórias deste chão que foge ao contato dos nossos pés.
Hopper tinha 74 anos e morreu por volta das 8h15 deste dia, cercado por familiares e amigos, disse o seu amigo Alex Hitz.

domingo, 23 de maio de 2010

GOSTO NÃO SE DISCUTE - Emerson Monteiro

Triste do amarelo se todos gostassem do encarnado, eis frase que ouvia vezes sem conta de minha sábia mãe, contemporizando o atrito entre os filhos, falando essas coisas da sabedoria popular, segundo ela, aprendidas de seu pai, fiel apreciador dos dizeres do povo. E eu guardo com carinho algumas dessas pérolas definitivas que bem representam filosofia natural, transmitida de geração a geração pela oralidade.
Bom, quanto à questão do gosto, aos poucos a humanidade vem descobrindo o valor da diversidade nos assuntos da civilização. Vinícius de Moraes, numa de suas composições, afirma: Se todos fossem iguais a você que maravilha viver. Diz, mas já sabendo que a vida significa a contagem regressiva da morte, daí a beleza hipotética de seus versos. As dez mil coisas formam o teatro do Universo. O que seria da comédia se todos gostassem da tragédia?
Em matéria de literatura, vale lembrar que Franz Kafka em vida não chegou a publicar uma única de suas obras geniais, restando só à posteridade o raro prazer de apreciá-las. E outro expoente das letras, Jean-Paul Sartre, recusou o prêmio Nobel da Literatura vistas suas razões políticas, desmerecendo no gesto a tão ambicionada comenda dos autores mundiais.
No Brasil, quando Euclides da Cunha publicou Os sertões, trabalho de fôlego a retratar, na visão das elites brasileiras, no conflito de Canudos, retirou-se para uma fazenda no interior paulista pressentindo o fracasso da edição, e ele escolhia se distanciar para não presenciar de perto. Contudo, rápido o livro se esgotava e, ainda hoje, é reconhecido e admirado por muitos.
As diferenças formam o grande todo. Existem pessoas que preferem chã de dentro invés de músculo, e nem por essa razão todo dia se deixa de matar boi. Tem quem coma seus tecidos, independente do nome das partes ou da consistência da carne.
Isso porque há gosto para tudo. Caso as pessoas a quem decepcionamos vez em quando, as quais chegam a formar verdadeiras multidões, exigissem mais de nós ao nos conhecer, por certo facilitariam, com isto, nossa caminhada e economizariam fortunas em sofrimento para si e para outros.
Ser exigente nas escolhas, portanto, evita transtornos futuros e suprime a ilusão dos que se imaginam superiores, quando, na verdade, pecados e virtudes acham-se distribuídas em proporções equitativas no espaço da natureza, sem injustiças ou privilégios, vindo daí o segredo valioso da conformação. E maiores são os poderes de Deus.

sábado, 22 de maio de 2010

PROJETO FICHA LIMPA - Emerson Monteiro

Afinal o Congresso aprovou (dia 19 de maio de 2010) o projeto Ficha Limpa, dificultando assim o registro de candidatos às eleições brasileiras que hajam sido condenados por crimes graves após decisão colegiada da Justiça (mais de um juiz). A inelegibilidade do político será de oito anos.
Eis medida das mais prudentes, que de há muito reclamava definição, porquanto lugar de apenado é sob a guante da Lei e não a representar faceiros a coletividade, numa atualização das melhores, pois, com ênfase neste ano eleitoral.
Filtrar ao máximo vira assim palavra de ordem na política brasileira e afasta do cenário graves ameaças que circulam livres nos corredores das urnas, a cada pleito.
Sabe-se, no entanto, que a decisão final da política veem dos eleitores. As práticas carecem de urgentes mudanças no trato com o voto, sobretudo por parte dos responsáveis diretos pelo assunto, no caso os votantes.
Inexistiriam corruptos não houvesse corruptores. No caso da política, o procedimento torna-se de mão dupla. Corruptos e corruptores tendem a se confundir no decorrer da dramatização, palco eivado de vícios crônicos.
Quando candidatos inescrupulosos aliciam batalhões de eleitores para chegar e permanecer nos mandatos agem premidos pela solicitação das benesses fruto da inanição secular do mercado em que se tornou o território das madrugadas eleitoreiras.
O mesmo tanto ocorre no instante em que eleitores estendem as mãos para receber benefícios, inconscientes do poder auspicioso que tem o voto na determinação do futuro da sociedade.
Aspira-se, por isso, diante da recente decisão que os fichas limpas honrem o vigor da nova legislação e que o panorama da política nacional mereça valores proporcionais à grande carência de líderes comprometidos mais com o povo do que consigo próprios e suas camarilhas ambiciosas.

sábado, 15 de maio de 2010

PADARIAS ESPIRITUAIS - Emerson Monteiro

Elmano Pinheiro Rodrigues, cearense de Farias Brito, supervisor editorial da Universidade Nacional de Brasília, desenvolve projeto cultural de semear a boa leitura pelo Brasil. Quando de férias no Cariri, em janeiro deste ano, ele aproveito a ocasião para dar início a mais 40 pontos de bibliotecas nas cidades do Sul do Ceará.
A proposta de Elmano é incentivar a preservação da memória das personalidades locais nas comunidades onde elas viveram e prestaram serviço, as quais, com o passar do tempo, ficariam esquecidas na memória social, adotando seus nomes para as novas bibliotecas fundadas por ele. Um dos exemplos que apresenta: Abelardo Arrais, líder no distrito de Quincuncá, em Farias Brito, o qual, para resgatar memória e obra do líder, realizou na localidade a instalação do que considerar uma “padaria espiritual”, referência ao movimento literário cearense do final do século XIX, em Fortaleza, capitaneado por vários intelectuais, dentre os quais o escritor Antônio Sales. Tinham preocupação idêntica de fomentar o gosto pela leitura no seio da grande população, através de constantes atividades de divulgação das obras literárias.
No seu ofício profissional, Elmano Rodrigues se movimenta com desenvoltura junto às editoras e autoridades, tanto na Capital Federal quanto no Sudeste do Brasil, reunindo por doação livros e conseguindo o transporte destes aos lugares mais distantes que sejam do território brasileiro.
Os livros são adquiridos junto a ministérios, editoras, universidades e secretarias, sobretudo no Distrito Federal.
Para iniciar uma padaria espiritual, ele oferece a primeira cota de 500 livros, aos quais depois virá reunir novas publicações, a depender do interesse de quem se dispuser a levar em frente o trabalho inicial.
Afinal, o livro define bem o que representa um bom amigo. Sempre do nosso lado, observa silencioso nossos passos e traz o apoio nas horas de solidão e dificuldade, além de nos alegras nas horas de lazer. Houve alguém que, com propriedade, afirmou que “uma casa sem livros é uma casa sem alma”.
O livro segue sendo a maior invenção de toda a humanidade, pois se acha na origem das demais iniciativas humanas, somando experiências e transmitindo as novas práticas, de geração a geração.
Quem ainda não despertou para a riqueza da leitura dos livros deve tomar a feliz iniciativa e começar o hábito da leitura o quanto antes, só então irá reconhecer o que tantos vêm dizendo a séculos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

DIMAS MACEDO RECEBE TÍTULO DE CIDADÃO FORTALEZENSE

Dimas Macedo com o Título de Cidadão de Fortaleza em mãos.

Ontem, 13 de maio, o escritor lavrense, poeta, critico literário, Procurador do Estado do Ceará e membro desta Academia - Cadeira Nº 26, Dimas Macedo, recebeu em Sessão Solene o Título de Cidadão Fortalezense, no Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza. Estiveram presentes ao evento autoridades, intelectuais, familiares e conterrâneos lavrenses. Todos orgulhosos e gratificados por tão merecida homenagem.

sábado, 8 de maio de 2010

NO CORAÇÃO DA GENTE - Emerson Monteiro

Passadas se foram situações emocionais e, por vezes, permanecem no âmago do peito, bem no crivo do coração, retardatárias, incoerentes, as mesmas impressões de intenso fervor indefinido nas palavras silenciosas que gritam. Há pouco, impactos vividos no mais profundo da alma pediam gritantes explicações sem resposta, pois dependiam do outros, que duraram dias, meses, existências.
Quais zumbis de qualidade e cores estridentes, tons maiores de ansiedade e desprezo, tais formações nodulosas, invadem a serenidade apenas aparente do cotidiano, filhos diletos das paixões universais, no palco interior desse peito, se arriscam percorrer, por tempo descomunal, os intermináveis corredores dos recônditos lugares do corpo, entra na trilha dos pensamentos através de excursões permanentes de retorno intermitente.
Nisto, bestas solitários portadoras de saudades sombrias, arrastam consigo bolsas pesadas de dúvidas impermeáveis, mágoas fragorosas, culpas sepulcrais, exigências endurecidas, vastas penumbras recorrentes, e, contra a vontade, nos transportam a dimensões reservadas de cavernas escuras, quais guerreiros de dramas ancestrais, postigos de chapéus empoeirados nas jornadas sórdidas da experiência, largados ao abandono diante do monturo supérfluo de horas mortas.
Restos das refeições felizes ali se mexem encarquilhadas, larvas da série da gente nos instantes saboreados quase sempre ao lado de criaturas humanas bonitas, charmosas, fragmentos fantasmas de espelhos desbotados que amareleceram, pétalas secas de livros atirados nas gavetas esquecidas; eles a nos esfregar a cara de palpites pegajosos, reclamos de outras margens impossíveis, erros aflitivos de lances duvidosos, digamos em resumo.
Nalguns momentos, funcionam, sem quaisquer cerimônias, de inimigos da paz interna das tréguas, a chutar contra o patrimônio pessoal. Noutros, agem parecido com micro e dolorosos incidentes suspensos no horizonte do tórax; convergem nuvens de chumbo que teimam em não chover jamais; máscaras de azia, bolos estomacais, cólicas, coceiras...
Só raramente advérbio de modo providencial, menos denso, chega-nos desconfiado em socorro, trazendo notícias de jardins ensolarados, alentos ainda tardios, nervosos, a nutrir de reparo às frustrações lancinantes, marcas vermelhas na vastidão das ilhas abandonadas, testemunhos inconvenientes de perdidos sonhos, amores equivocados, inúteis paisagens das insônias, constelações do universo distante, nos mundos inconscientes; esperanças, talvez, de acasos fortuitos, portais reencarnatórios das soluções futuras, tropel harmonioso dos degraus da verdade eterna.
São os vultos sorrateiros de si próprio, matéria vigorosa da individualidade prepotente, sentimentos, digamos assim, elaborados na ausência da ternura, na busca de termos melhor categorizados.
Bom, nisso de identificar os tais estilhaços flutuantes da corrente sanguínea do ser abstrato e sua dor de existir, império talentoso dos casos clínicos particulares das criaturas atuais, invade-se o tempo da eternidade, nos seis pontos cardeais do intrépido infinito; se chora sozinho, se chora pelos cantos; elaboram-se cantilenas melodiosas, versos quadrados, modernos, perpassados de litanias fragorosas, vendavais insubmissos de súplica que varrem impiedosos as superfícies emolduradas nos eufemismos culturais de letras maiúsculas, decentes, dos valores imortais. Elaborações filosóficas exemplares trabalham as lufadas de tempestade, transformando-as em brisas suaves de manhãs inesquecíveis, conceito civilizado da persistência, feras descomunais extintas se nos mudam mais mansos animais de estimação; quadros fortes de museus; livros encadernados e suas lombadas brilhantes, dose certa depositada nas prateleiras das academias públicas, pedaços conservados nos sarcófagos das gerações futuras; fogueiras apagadas viram rescaldos mornos, a encher de lágrimas doces olhos ardentes...
E cada um rompe o hímen da cena seguinte, com as faces das corujas atormentadas, porém calmas no esquecimento de quem vive com pressão cardíaca nas raias da normalidade, medidas ideais do expediente, destemor na ponta da língua afiada, épicos do espetáculo revivido, máquinas da permanência, seres eficientes do inesgotável destino, altivos palatinos da utopia, páginas de velhos almanaques, último lançamento de grife, etc. Sentimento, generosidade, coração. Expressão, animação, vida. A alma perpétua deste mundo. Veemência de sentimento; entusiasmo, arrebatamento. Pessoa, indivíduo... Arre, quanta letra em espaço tão pequeno só para dizer que dói viver, e angustia sentir paixão não correspondida...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

CONVITE

O Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza,
Vereador Salmito Filho.
Convida para Sessão Solene de entrega do
Título de Cidadão de Fortaleza
ao escritor Dimas Macedo.
Projeto de Decreto Legislativo de autoria do
Vereador Paulo Facó.
A realiza-se às 19h30min
do dia 13 de maio de 2010,
No Plenário Fausto Aguiar Arruda.
Traje: Passeio Completo
Endereço: Rua Thompson Bulcão, 830 - Luciano Cavalcante.