Diante de alguns desses acontecimentos recentes que chegaram aos nossos pousos em forma de matérias televisivas, perguntas se misturam com desencantos. Onde antes havia segurança técnica e bonitas paisagens, cresceram ondas de gravetos sacudindo a tranquilidade relativa de populações inteiras. Mares e chãos reverteram ordens estabelecidas no país silencioso, pondo para vagar sem destino atônitos sobreviventes.
Espécie de susto parece tomar conta dos noticiários, numa sucessão de atividades naturais imprevistas, quando as indagações tradicionais ainda nem respondiam as nuvens de inocência das mentalidades, por isso dominando o espetáculo do momento. Chuvas, marés, tremores de terra, e, para completar a bizarrice dos medos atuais, usinas atômica expelem radioatividade no céu; além de queda, coice. Tudo o que os japoneses menos queriam, depois dos dramas medievais de Hiroshima e Nagasaki, aos fins da Segunda Guerra, seria lidar, outra vez, com aquela maldade tenebrosa das chagas invisíveis que intoxicam os ares.
Outro dia, no consultório do dentista, uma professora explicava, a propósito das mudanças do clima da Terra, avaliando existirem interesses secretos na divulgação das supostas transformações da natureza, na intenção de alarmar para o uso indiscriminado dos recursos originais. Grupos dominantes reservariam a si o domínio desses recursos; o restante da humanidade ignora seus frutos e benefícios. Enquanto isto, a mídia alimenta o pacto da ignorância das massas.
Paro e penso o quando seres humanos caminhariam distantes do controle desses fenômenos naturais. A casa comum do Planeta às vezes dá sinais de exaustão e indica sérias mudanças além das previsões oficiais. Gelo derrete nos polos, rios secam abaixo das médias conhecidas, tragédias impõem custos de vidas humanas, secas, deslizamentos e inundações trocam de lugar nas colinas quando menos esperados, uma série de ocorrências exóticas no clima que sacoleja as bases do eterno, forçando apreensões e ocasionando sustos.
Filosofar numa fase destas virou exercício de conformação, reconhecimento das urgentes necessidades dos aspectos religiosos da cultura. Há milênios, as civilizações impõem as suas normas aos fatores da Terra, sem, contudo, acreditar pudessem atingir os limites da tolerância. Porém nesse turno, quando impactos chegam quase em tempo real aos restaurantes, lares, supermercados, a cores de cristal líquido, no mínimo levam arrepios a percorrer espectadores desconfiados, nas tamanhas reviravoltas impacientes, tragédias anunciadas que afundam o palco de onde muitas verdades saíram para bem longe de grandes certezas agora abandonadas.