segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

LAVRAVENSE ILUSTRE

O Violonista Francisco Araújo
Dimas Macedo

Caracteriza-se o município de Lavras da Mangabeira pelos filhos ilustres que deu ao Ceará e ao Brasil. Dali alçaram vôos meninos sonhadores e inquietos que mais tarde se projetariam nas mais diferentes atividades humanas.
Escritores de destaque, políticos influentes, magistrados de renome, cientistas e artistas plásticos de projeção internacional: eis um retrato sem retoques daquilo que é de fato e de direito a memorável terra onde nasci.
No campo da música, as contribuições de Gilberto Milfont e Nonato Luiz são irrecusáveis, especialmente porque o primeiro foi coroado com o título de maior seresteiro do Brasil e, o segundo, com o privilégio de ser um dos maiores violonistas do mundo.
O grande compositor, solista, instrumentista e arranjador brasileiro Francisco Araújo, é também filho do glorioso município de Lavras, porque ali nasceu aos 12 de abril de 1954.
Natural do sítio Caixa D’água, distrito de Quitaiús, Francisco Alexandre Araújo é descendente de uma família de músicos, sendo filho de Estevão Cipriano de Araújo e Pedrina Alexandre Oliveira e neto, pelo lado materno, de Henrique Alexandre Ferreira e Maria Gomes de Oliveira.
Seu avô paterno, Manuel Pessoa de Araújo, era natural da Paraíba e primo do ex-presidente da República Epitácio Pessoa, mas em face da sua condição de andarilho, veio a fixar residência nas margens do Riacho do Rosário. A sua condição de latifundiário, contudo, não chegou a pesar na formação de Estevão Cipriano, que incutiu nos filhos o amor pela música e pelas coisas mais belas do espírito.
Francisco estudou as primeiras letras em sua terra natal, mas a família mudou-se muito cedo para São Paulo, face à intuição visionária de Estevão Cipriano que queria um futuro promissor para os filhos, iniciando Francisco Araujo os estudos de música aos doze anos de idade.
Desde muito cedo foi influenciado pelo refinado gosto musical que lhe foi transmitido pelo pai, que era um exímio solista de violão e cavaquinho e colecionador de um seleto arquivo de gravações, tanto da música instrumental brasileira direcionada para o repertório do violão, quanto de produções musicais de outros instrumentistas, cantores e intérpretes.
Apesar de possuir um invejável domínio técnico do violão, Estevão Cipriano não tinha conhecimento de teoria musical, e quando percebeu a manifestação espontânea do talento musical do filho, decidiu procurar o professor e violonista José Alves da Silva, conhecido pelo pseudônimo de Aimoré.
Foi sob a orientação desse professor que Francisco Araújo ampliou seus conhecimentos técnicos relativos ao violão e estudou teoria musical, solfejo e harmonia aplicada ao violão, debruçando-se então sobre a literatura que remarca a teoria do violão erudito, incluindo autores como Mauro Giuliani, F. Tárrega e Agustín Bárrios, e no mais pesquisando a obra de virtuoses do violão brasileiro, da estirpe de Garoto, Laurindo de Almeida, Dilermando Reis, Baden Powell, Villa-Lôbos e Paulinho Nogueira.
A primorosa orientação do Mestre Aimoré, foi quem o levou ao Conservatório Musical de São Caetano do Sul, por onde obteve Graduação em Música, constando que após a sua formatura, estudou harmonia tradicional com Osvaldo Lacerda, composição com o maestro italiano Guido Santórsola e harmonia funcional com o musicólogo alemão J.J.Koellrreuter e com Zula de Oliveira e Marilena de Oliveira.
Em seguida, Francisco Araujo freqüentou o Vigésimo Curso de Música, realizado em Santiago de Compostela, na Espanha, em 1986, ministrado por Andrés Segovia e Antônio Iglesias, expressões máximas do teoria do violão e mestres de várias gerações de violonistas de talento.
Além da Graduação em Música, Francisco Araújo bacharelou-se em História, com habilitação em Estudos Sociais, História da Arte e História da Música Brasileira, na Universidade Ibirapuera, em 1991, mas é à música que ele presta todas as reverências, inclusive na condição de mestre e de professor da Pontifícia Universidade Católica da São Paulo.
Participou dos festivais de inverno de Campos do Jordão, nos anos de 1973 e 1974, e foi considerado pela crítica como a maior revelação violonística daqueles festivais, os quais tiveram como diretor o maestro Eleazar de Carvalho, e patrocínio da Secretária de Cultura e Turismo do Estado de São Paulo.
Em 1974 fez sua primeira turnê pelas grandes capitais do Norte e Nordeste do Brasil, na esteira do Projeto Barca da Cultura, criado pelo teatrólogo e escritor Pascoal Carlos Magno e com patrocínio do Plano de Ação Cultural do MEC. Este projeto teve a duração de três meses e tinha como objetivo divulgar o teatro, a música e as artes plásticas nas mais diversas regiões do Brasil.
O ano de 1977 foi decisivo para a carreira musical de Francisco Araújo. Foi neste ano que ele venceu o I Concurso de Composição Para Obras Violonísticas Isaías Sávio, patrocinado pela Universidade de Música Palestrina de Porto Alegre, em convênio com o MEC e a FUNARTE, com sua obra para solo de violão denominada Valsa Virtuosa Nº. 1, editada posteriormente nos Estados Unidos, pela editora Columbia Music Company, de Washington.
Suas apresentações em teatros e salas de concertos se intensificam a partir de 1977, marco inicial de sua careira de intérprete e compositor. E suas atividades docentes continuaram plenas no Conservatório Dramático e Musical Dr. Calos de Campos, em Tatuí, São Paulo, entre 1976 e 1991. Além desse respeitável Conservatório, entre 1995 e 1998 foi Professor da Academia de Música e Arte do Instituto Adventista de Ensino
Em 1998, gravou o primeiro CD, pela CPC-UMES, intitulado De Sertões e Serestas, contendo obras instrumentais para solos de violão, todas de sua autoria, sendo este CD considerado pelos críticos como sendo um divisor de águas na história do violão no Brasil. E em 2002 foi a vez do CD Deitando e Rolando, também divulgado pela CPC-UMES. E a partir de então não parou mais de crescer esse excepcional instrumentista brasileiro, sendo de 2010 o seu terceiro CD, Estilo Brasileiro.
Pesquisador incansável da história do violão e um dos maiores teóricos desse importante instrumento musical, Francisco Araújo é autor do livro Violão, Uma História Brasileira, destacando-se também como intérprete dos mais autorizados da música brasileira de formação clássica e erudita.
A sua produção musical para solos de violão é bastante extensa e diversificada, somando mais de quatrocentas obras instrumentais dos mais variados estilos, destacando-se entre elas a Coleção de Valsas Românticas, contendo 90 peças, e os 35 Estudos Técnicos Para Violão, divididos em duas séries: 10 pequenos estudos e a grande série de 25 estudos, sendo esses estudos fruto de sua formação erudita.
Já as suas Sonatas Jazzísticas, para flauta e violão, pertencem à sua produção camerística, entre todas elas merecendo destaque as seguintes: Balé Gitano, Dança Oriental, Danças Exóticas, Seis Prelúdios Apoteóticos, Sete Valsas Virtuosas, Sonata Estilizada e Suite Cigana.
Trata-se, pois, de nome que honra a cultura musical do Ceará e do Brasil e que bem alto eleva o município cearense que o viu nascer.

Fortaleza, outubro de 2010

UMA INTERROGAÇÃO ACELERADA - Emerson Monteiro

A velocidade com que o parque industrial produz automóveis e os lança ao mercado consumidor segue deixando enorme vazio nas respostas ao problema de circulação e estacionamento que isso ocasiona a toda hora, sobretudo nos países de desenvolvimento caótico e duvidoso, semelhantes ao caso brasileiro.
Para imaginar o nível de seriedade do assunto, vale dizer que uma capital do porte de Recife, exemplo aqui perto, também no Nordeste, recebe hoje, a cada dia, o número médio de cem novos veículos, despachados ao burburinho da metrópole de si já saturada dos mais diversos desafios atuais.
Essa civilização do petróleo, grosso modo, impõe regras extremas de obediência aos mercados de sua órbita, através das cláusulas inegociáveis do poder soberano. O carro é a estrela principal da festa, pois gera divisas e paga impostos, contudo reclama longos e intermináveis caminhos asfálticos (o que, só no Brasil, significa 62 mil quilômetros de rodovias federais), além das ruas largas e avenidas de muitas pistas, exclusivo monitoramento através de pessoal técnico, enquanto as políticas oficiais ignoram construção e ampliação das estradas de ferro jogadas no ostracismo.
O tal mundo capitalista ocidental, portanto, aceita bem sobreviver sobre automóveis qual inexistisse alternativa de locomoção. E outras matrizes energéticas são pouco consideradas, a não ser o combustível ora utilizado. Espécie o sistema refreia o avanço das outras energias. As energias solar, hidráulica, elétrica arrastam passos, contidas na ausência quase absoluta de pesquisas ou financiamentos.
Há notícias de iniciativas que, logo consideradas, sumiram como por encanto, na experiência do carro a água, do carro elétrico, este que, por sua vez, só de longe parece despontar nas ilhas japonesas. Tentativas de transportes coletivos movidos à energia solar, ou elétrica, saíram das cogitações. Há estudos, inclusive, de transportes desenvolvidos à base de oxigênio, sem merecer, na obtusidade do trato industrial, maiores possibilidades, ainda em fase preliminar pouco levada a efeito, ou eliminada nos primórdios.
Durante a espera de soluções ao grave enigma de quilométricas distâncias, metrópoles e modelos econômicos, prenuncia-se temporada ativa de caça à genialidade dos tempos, com vistas inventar as respostas coerentes do confronto homem versus automóvel, embate que, até agora, dá vantagem ampla às máquinas superaquecidas.