quinta-feira, 27 de agosto de 2009

POEMAS DA VISÃO - Por Emerson Monteiro

As oceânicas vastidões destes olhares escorrem suaves por sobre rochas adormecidas de mundos siderais em longos vôos, histórias abissais e plumas de nuvens brancas, mistérios quiçá intransponíveis na vida de todos os lugares. Belas frações de um tempo depositado no bloco de tantas agonias e incontáveis eras, cores que se revestem de cobre, na sombra granítica dos Andes altaneiros, sinal de um vigor que fala no Poder sem limites. Exatos traços de solitários pousos. Despenhadeiros. Fronteiras. Luzes. Muralhas. E, lá adiante, a Luz esplendorosa, nas asas incomuns de pássaros avermelhados em volteios constantes no espelho das águas no rumo do Sol. Figuras que falam, desenhos que silenciam, nas formas retorcidas da Terra na superfície. Em meio aos fiapos de nuvens tênues, os reflexos de uma cidade recolhida, jeito manso de ruínas, dentro de entranhas e montes. Povos e campanhas de instantes reais. Pequenos seres, criativas visões imaginárias, fiéis e laboriosas, no passo ritmado da pulsação dos corações. Terraços, vestes, tons festivos e rugas, alma de raça sobranceira. Gravação doce de luz na fotografia e nos disparos certeiros do artista, contornos resistentes de espécies a passear no jardim da transcendência – flagrante das bênçãos definitivas.
Além, bem perto, na lente, os desenhos magnânimos da civilização no traçado das ruas de cidade iluminada, pastar indiferente de exóticos animais e as pedras do reino antigo, que apenas repousa de glorioso fausto, passado distante de sorrisos infantis.
São os recortes humanos que permanecem através desse fluir de calendário, lendas e rituais, soma total de chão, homens e marcas, na busca da Infinitude. Olho que se alonga, pois, nos rios horizontais da vista. Lagos. Mares. Pedras. Muralhas. Vastidões. A Lua sempre bela. Tempo depositado nos vôos linheiros da câmera e dos pousos solitários, no instante ausente e presente dos poemas da visão. Figuras que dizem o que a alma silencia. Fiapos de nuvens. Cordilheiras. Frio intenso. Povos e campanhas. Terraços. Vestes coloridas. A doce gravação dos sentimentos no plasma fotográfico, milagre da invenção, e alternâncias, caminhos e solo dadivoso, transformações que acontecem no colo materno da santa Natureza.

sábado, 15 de agosto de 2009

TRABALHO BEM REALIZADO - Por Emerson Monteiro

Considerações a propósito do álbum “A Busca da Perfeição”, de Dihelson Mendonça.

Dizer que a vida se mostra na arte representa contar da força do artista a movimentar lá fora a paixão que lhe corre nas veias e sai intensa pelas estradas dos lugares, no prumo dos outros seres, ânsia infinita de realizar o poder esplendoroso do mais perfeito de dentro de si nas praças. Expandir o senso da luz nos outros corações. Partilhar as maravilhas do instante em gestos circunstanciosos, magnânimos. Lembrar aos demais que há vertentes puras ainda inexploradas no mistério do existir da alma de cada gente.
Vem nestas expressões o gosto da fala no trabalho posto a lume pelo artista caririense Dihelson Mendonça, seteinstrumentista que, assim, lavra mais um tento da história regional de trabalhos esmerados, nos moldes da contemporânea tecnologia de som e imagem, edição correta da Expressão Gráfica, de Fortaleza, em alto padrão, reunindo nomes festejados das comunicações, letras e artes visuais deste tempo de agora.
Trata-se de bloco de poesias declamadas por vozes conhecidas, próprias, coloquiais, seguidas ao piano por Dihelson e outros músicos, num livro ilustrado com belas fotografias e letras intercaladas, poemas de cunho intimista, de autores inspirados na propulsão dos acordes.
Qual espetáculo que agrega, em amostra saborosa, o universo dos artistas numa proposta efetiva, na boa hora de suas caminhadas em demanda do endereço da eterna Perfeição, o Santo Graal do absoluto desejo, acercando-se do trato de amigos e peças, colhidos ao sabor das situações de procura, brotadas no enorme quebra-cabeça da existência pelos páramos da invenção de letras e acordes de natureza especial.
Nisso, Dihelson contou de perto com os préstimos bem sucedidos de Reginaldo Farias, no projeto gráfico, e Pachelly Jamacaru, na elaboração fotográfica. Na trilha sonora, os instrumentistas somam talentos e estabelecem as linhas infinitas da busca, caravana que se desloca ao ritmo dessa viagem através do território mágico da criação, de cores e tons, nave a fluir na brisa dos espaços do sonho. Espécie de novidade que alegra ao chegar em cada porto.
A qualidade do produto merece destaque, vista a clareza visual, musical e literária.
Nosso mundo interiorano do sertão guarda, por tudo isso, patrimônio inestimável de cultura digno de abordagem mais justa, considerada nos trabalhos do campo acadêmico, enfoque de nomes e ocasiões que aqui nascem, crescem, manifestam seus atributos, marcando o definitivo do manancial de vitalidade que alimenta o panorama do global patrimônio comum da espécie humana. Eis disso um novo exemplo neste livro musical poético.
O patrocínio da obra coube ao Centro Cultural Banco do Nordeste, dentro de sua política de valorizar a cultura e desvendar possibilidades.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DE LUA DE MEL COM A ILUSÃO - Por Emerson Monteiro

Os ditos populares economizam um tanto de fosfato às cabeças pensantes, no correr das literaturas, trazendo em linha reta o que, por vezes, acostaria largas demandas ao querer expressar a sabedoria das palavras. Lembra a propósito o brocardo de que “depois das tempestades vem a bonança”. Tempestades que também dão-se longas, em alto mar, de sete, nove dias; de anos secos; anos de guerras, angústia; ditaduras, exceção, qual no caso brasileiro dos anos de chumbo, duas décadas e meia de astenia e nevoeiro, de onde saíram os líderes atuais, ferrenhos defensores dos seus feudos e donatários ambiciosos dos parlamentos e palácios, ilegítimos dominadores do peso do ouro e da impunidade nacional.
Em épocas escuras da história, momentos de lapsos cruéis, guerras mundiais, depressões, desastres, estados de sítio, guerras civis, idade média, revoluções, êxodos, guerras frias, exílios, imperou o ânimo de que tudo passaria num piscar de olhos, e dias melhores se instalariam, para nunca mais retornar o tempo do negrume, tangido pelos clarões de novos sonhos.
Isso marcou sobremaneira o século XX. Exemplos clássicos são enumerados com fartura, uns maiores, outros menores, que sobejam nos compêndios. Grandes guerras mundiais. Depressão de 29. Guerra Civil Espanhola. Guerra da Coréia. Do Vietnam. Seis Dias. Golfo. Afeganistão. Iraque. Etc. Cicatrizes vincam fundo a geopolítica, no tropel da civilização, desde os remotos antecedentes das cavernas, dose certa de interpretar o organismo afetado na mesma proporção dos haustos de progressos e conquistas das oportunidades sociais da raça lutadora.
Quando se afigurou que o pêndulo permaneceria sem grandes balanços após a queda do Muro de Berlim, no julgar do Ocidente vitorioso, o povo árabe chegava trazendo a conta do desconforto imposto na divisão da Palestina perante o retorno do povo judeu, dali ausente desde a última diáspora.
Tais movimentos de tropas, canhões, navios, aviões, sacudiriam Europa, Ásia, Oceania, deixando de fora pontos particulares de outras áreas, nesses cem anos de aventura. O continente africano, saco de pancadas dos brancos, quase nunca escapou dos desmandos tempestuosos e seus imperialismos sucessivos. As Américas ensaiaram os episódios armados de Cuba, Granada, Panamá, Malvinas, Nicarágua, Haiti e Colômbia, além de algumas escaramuças entre Peru e Equador e os focos revolucionários na Bolívia, e a Guerrilha do Araguaia, no Brasil, anos 70. Já em dias atuais, nota-se o agravamento de ações táticas na Colômbia, repudiadas pelos países vizinhos, o que põe nos lábios travos de apreensão, conquanto relativa calma ainda existe nesse mundo de cá, mantido abaixo da linha do subdesenvolvimento emergencial, próximo dos Estados Unidos, ricos e poderosos.
Houve, por isso, um tempo em que se pensou andar livre das outras indagações ácidas do restante do universo mundial, onde o fator da guerra restringir-se-ia ao quadro asséptico televisivo e que a paz reinaria altaneira nessa zona de puder, fruto da bonança que viera. Há que trabalhar, entretanto, os homens antes de julgar-se isento de risco, invés de adormecer bem cedo nos cálidos braços da ilusão.