sexta-feira, 29 de julho de 2011

REEDIÇÕES DE LIVROS CARIRIENSES - Emerson Monteiro


Neste primeiro semestre de 2011, foram reeditadas pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, em parceria com as Universidades Federal do Ceará e Regional do Cariri, algumas das obras do escritor cearense J. de Figueiredo Filho, emérito historiador que viveu em Crato e desenvolveu atividades intelectuais de larga repercussão pelo País inteiro, sendo um dos fundadores do Instituto Cultural do Cariri ao qual pertenço.

Avô de dois dos meus amigos, Tiago e Flamínio Araripe, conheci o Prof. Figueiredo Filho quando ele proferira notável discurso por ocasião da vinda a Crato, em 21 de junho de 1964, do Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, no Dia do Município cratense. Ao pleno sol quente das 11h no céu aberto da Praça da Sé, Figueiredo falou a imensa plateia e palanque lotado de autoridades, durante meia hora, repassando os detalhes da epopeia do Cariri. Senhor do assunto e respeitável pesquisador das nossas origens libertárias cumpriu a valer seu ofício. Isto numa fase em que o Brasil afundava nos porões da ditadura que permaneceria no poder mais de duas décadas, com sérios danos às liberdades civis e aos direitos humanos, preço pago das modernizações econômicas que varia o mundo naquele tempo para instalar a globalização dos dias atuais.

Depois, já pelos idos da década de 70, frequentei a sede do ICC, na Rua Miguel Limaverde, instalada na sala principal da residência do historiador, com quem conversava boas horas e de quem adquiri o gosto pelos estudos caririenses bem a seu modo e dedicação.

Agora recebemos sete dos seus livros, reeditados em momento oportuno, para as novas gerações, através das Edições UFC, série Memória, da Coleção Nossa Cultura. Engenhos de Rapadura do Cariri, Folguedos Infantis do Cariri, os quatro volumes de História do Cariri e Cidade do Crato (este com Irineu Pinheiro) ganharam outra publicação como parte de dez títulos que enfocam a história e os costumes do Cariri.

Além desses, também mereceram novas edições Efemérides do Cariri e O Cariri, seu descobrimento, povoamento, costumes, de Irineu Pinheiro, e Juazeiro do Padre Cícero, de Floro Bartolomeu da Costa.

São trabalhos emblemáticos da civilização caririense, motivos autênticos da preservação de nossas tradições e valores, os quais, ao lado de outros ainda adormecidos, demonstram a profundidade que caracteriza a alma desta gente que iniciaria com sucesso a colonização cearense, primeiro aqui estabelecida e só então desenvolvida junto do litoral.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O CENTENÁRIO DE JUAZEIRO DO NORTE - Emerson Monteiro


Neste ano de 2011, o dia 22 de julho assinala 100 anos desde que Juazeiro mereceu sua autonomia municipal através da Lei n.º 1.028, quando recebeu a toponímia de Joaseiro, em homenagem à árvore típica da vegetação do semi-árido, sempre verde inclusive nas épocas mais tórridas.

Suas origens remontam ao vilarejo de Tabuleiro Grande, formado nas terras que pertenceram à sesmaria concedida no ano de 1703 ao capitão-mor Manuel Rodrigues Ariosa, de origem norterriograndense, depois havidas por famílias iniciais advindas de Sergipe, até chegar no brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro e no neto, o sacerdote católico Pedro Ribeiro da Silva Monteiro. As terras se estendiam do município do Crato às cercanias da Serra de São Pedro. Nessa área da grande propriedade, no decorrer da década de 1820, o Padre Pedro Ribeiro edificaria casa grande, de taipa e telha, engenho, aviamento, senzala e capela.

Para a construção da capela dedicada à Nossa Senhora das Dores, o sacerdote e seu futuro capelão reuniria também esforços dos familiares, nela sendo celebrada missa no dia 15 de setembro de 1827 alusiva ao lançamento da pedra fundamental do templo.

Em 09 de setembro de 1833, quando Padre Pedro Ribeiro deixaria este mundo, a futura povoação juazeirense começava a despontar no crescimento. Somava duas ruas, a Rua Grande, hoje Padre Cícero, e a Rua dos Brejos, em traçado perpendicular; a capela, uma escola e 32 prédios com tetos apenas de palha.

Ordenado em 1870, no dia 11 de abril de 1872, o Padre Cícero Romão Batista fixaria residência no pequeno arruado. Afeito aos anseios das populações simples, desempenharia funções apostólicas voltadas ao conforto das almas sertanejas, cumprindo nisso a missão religiosa católica. Tempos depois, em 06 de março de 1889, dar-se-ia o fenômeno da hóstia transformada em sangue, na ocasião de ministrar a comunhão à Beata Maria de Araújo. A propagação do acontecimento pelos interiores nordestinos intensificaria o deslocamento de milhares de pessoas ao lugarejo, que ganharia impulso surpreendente e definitivo no desenvolvimento.

Já em dias do século XX, a 16 de agosto de 1907, circulara um boletim conclamando os cidadãos juazeirenses para reunião a ocorrer no dia 18 do mesmo mês, na residência do major Joaquim Bezerra de Menezes, descendente dos primeiros proprietários do lugar, visando organizar a emancipação política do território, livrando-o da administração do município do Crato, a quem obedecia. Isso, no entanto, deixaria de gerar efeitos práticos imediatos. Só adiante, devido ações encetadas por novas lideranças, de Padre Alencar Peixoto, Floro Bartolomeu da Costa, José Marrocos e outros, nas páginas do jornal O Rebate, essas ideias ganhariam corpo, galgando efetiva concretização em 22 de julho de 1911, quando da lei estadual que estabeleceu: “Art. 1.º - A povoação de Juazeiro, da comarca do Crato, é elevada à categoria de vila e sede de município, com a mesma denominação”.

sábado, 9 de julho de 2011

UMA FESTA NO CASTELO ENCANTADO - Emerson Monteiro


Nesta quinta-feira, 07 de julho de 2011, compareci à festa de lançamento do áudio livro O mistério das treze portas no castelo encantado da ponte fantástica, de autoria do escritor cratense José Flávio Pinheiro Viera, com ilustrações de Reginaldo Farias, no Cine Teatro Salviano Arraes, antigo Cine Moderno, em Crato. Algo de beleza surpreendente pela produção entremeada dos mais diversos recursos cênicos a cargo da direção bem sucedida de Luiz Carlos Salatiel, abastecida nas performances refinadas de cantores, músicos e atores de nosso filão artístico-cultural.

A vontade que tenho seria pegar um pedaço de cada cena, junto de sons e iluminações, da animação dos presentes, do alegre clima reinante, falas, músicas, colar numa sequência imaginária e recompor o que ali vim encontrar de mágico e puro, bem nos moldes da mitologia regional de outras épocas, de quando havia sonhos soltos pelo ar. As histórias ouvidas na bagaceira do Sítio São Vicente, dos seus avós, no pé da Serra do Araripe, Zé Flávio as revive no seu primoroso trabalho, conservação fantástica dessa ponte que une o escritor e o tempo, acendendo de volta o sidério das horas fascinantes desfrutadas no passado longínquo.

Nisso, através da condução cênica de um Mateus (Cacá Araújo) e de uma Catarina (Kelvya Maia), figurantes buscados nos folguedos populares nordestinos, enquanto contracenavam suas tiradas cômicas, desempenharam o papel de mestres de cerimônia da inusitada solenidade. O auditório superlotado viajou embalado no clima mítico estabelecido e povoado pelas personagens trazidas ao palco nas letras das composições musicais interpretadas por ícones fortes da atual música cratense. Desfilaram com imensa fidelidade, a mim que conheci a maioria delas, as figuras de Maria Caboré, Canena, Tandô, Capela, Padre Verdeixa, O Rei da Serra, Vicente Finim, Noventa, Príncipe Ribamar, Zé de Matos, heróis do panteão da história popular de Crato, resgate por demais merecido e imortalizador das gentes eternas, gravadas na memória etnológica das populações caririenses.

Os intérpretes os quero denominar um a um, dada a qualidade oferecida e a integração com a proposta de tanto zelo em uma noite inolvidável. Foram Amélia Coelho, Lifanco, Ibbertson Nobre, Luiz Fidelis, Pachelly Jamacaru, Ulisses Germano, Zé Nilton Figueiredo, João do Crato, Leninha Linard, Abidoral Jamacaru e vários outros.

Por tudo o que vi nessa ocasião a causar espécie no sentimento dos agraciados com o evento, deixo aqui o meu registro do projeto teatral, musical e literário de J. Flávio Vieira, que além do próprio valor foi também vencedor do I Prêmio Rachel de Queiroz, da Secretária de Cultura do Ceará. O livro de belas feições gráficas, nas cores e nos traços de Reginaldo Farias, chega acompanhado de um CD com 15 faixas, totalizando a proposta inovadora.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

SOMOS FOLHAS EM BRANCO - Emerson Monteiro


Quem dá significado aos objetos e acontecimentos, e às outras pessoas, é a cabeça da gente, a mente da gente. Por isso, preocupações sujeitam atrapalhar o compasso de esperar os minutos seguintes. Todo penso é torto, no que diz a experiência. E peru é quem morre de véspera, noutra cogitação. Fôssemos viver de pensar, renderia quase nada, vez que significados inexistem na realidade, quando eles só representam o produto do que se pensa. A gente importa as visões e as trabalha na oficina da cabeça, ferreiro insistente, quando já se tem tanta coisa para cuidar; e ainda saímos juntando troços e fazendo fogueiras no juízo, cipoal do desassossego.

Enquanto isto, o mecanismo das pessoas possui um dispositivo interno que solucionará o drama de tais preocupações. Lá bem no centro, no meio da ciranda apressada dessas coisas em atividade, mora a paz.

A fim de chegar a esse lugar importante carece, no entanto, concentrar o esforço gasto com o pensamento, a energia gasta nos movimentos que criam os sentidos na tela da imaginação. Manusear com gosto este procedimento produzirá resultados jamais vistos. No mínimo evitar-se-á as chamadas depressões mentais, os buracos sem fundo que constrangem e reduzem o peso da alegria que temos e poucos usam com rotina. Durante os quadros escuros da caminhada, precisa esquecer o que desafina o instrumento individual. Aqui ao lado de você reside a outra possibilidade de viver com satisfação cada minuto, independente da ânsia dos resultados. Limpar as leiras da responsabilidade e germinar plantas boas.

Plantar bons frutos hoje, no momento presente, e aguardar resultados favoráveis. Catar as sementes das histórias vividas, selecionar as melhores e fincar com gosto nas terras infinitas do coração. Todo tempo é tempo de felicidade. Evitar o mal e fazer o bem, aos outros, à natureza, a cada ser, inclusive a si próprio. Encher a própria bola servirá de motivo de viver bem e com sabedoria. Certos das leis da Natureza, tratemos de corrigir o rumo da viagem e conduzir o barco às águas tranquilas das estações seguras, livres dos traumas e contradições que sumiram na fumaça dos vícios de antigamente.

Essa modalidade valiosa de aplainar estradas no horizonte iluminado de sol sempre funcionará. Largar hábitos que diminuem a satisfação de crescer representa oportunidades positivas. Expulsar os insetos do território e dormir melhor, no exercício de olhar acima das perturbações desnecessárias; quanta coerência em agir desta maneira.

Ouço dizer que o olho do furacão é de pura calma. A agitação fica no entorno em que os ventos sacolejam o espaço. Mas no miolo as correntes de ar impacientes guardam inteira harmonia. A lição desse fenômeno explica como controlar a máquina do pensamento e evitar as desordens em volta. Buscar de tal modo o ponto do equilíbrio, que ocasionará surpresas agradáveis e dias abençoados.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O CONFLITO DAS DUAS NATUREZAS - Emerson Monteiro

Vezes outras e imaginava o que aconteceria no íntimo dos que escolhem trilhar a vida religiosa. Deixar de lado o glamour desse filão do corpo e da carne, e entrar nos universos do imponderável absoluto. Largar as paixões, as imprevisões saborosas dos sentidos, os devaneios da satisfação imediata, e mergulhar, sem retorno, sob o manto desconhecido das aspirações profundas, inescrutáveis, do mistério divino.

Poucos dias atrás, numa folhinha de calendário li citação do jornalista e político Artur da Távola de que opção não é escolha, é renúncia. Dada tal veracidade, repito a frase, pois noto quanta renúncia existirá nas opções que se fazem no decorrer das jornadas deste chão. Ninguém trocará de lugar que não tenha de largar o sonho dos lugares antigos, pois optar implica abandonar as outras possibilidades deixadas para trás.

Ao resolver seguir o percurso da renúncia, há méritos. A prática do casamento, por exemplo, define bem tais avaliações. Ali nubentes fecham as portas das histórias individuais do que poderiam ser e abrem as portas do que acontecerá, viagem só de ida, conquanto zerem o passado a fim de começar outro presente.

Nisso, as duas naturezas, de voltar os olhos para as virtudes, que significará desistir das ilusões e dos vícios, e decidir andar certo; adeus às torturas. Eis o motivo da afirmação bíblica que ninguém servirá a dois senhores.

A alegria da carne cumpre apetites físicos fugazes, charmes da juventude, nas altas voltagens dos fliperamas das festas. Ao passo que a alegria do religioso traz o pouso das luzes suaves nas afastadas capelas, longe do burburinho de multidões infebrecidas.

Parte-se do princípio de que a virtude cruzará portas estreitas, ao tempo em que largas são as portas da perdição... Perdição face ao panorama espiritual fervoroso do outro aspecto. Duas alegrias distintas, o preço da vida física e suas emoções fantasiosas e velozes, e o custo sacrificante da imaterialidade, nos propósitos ideais da perfeição, desistência de tudo o que alimentava as saudades vencidas, escolha em si dos termos físicos rejeitados. Assunto semelhante a depositar tesouro onde a traça e a ferrugem não possam destruir, das orientações de Jesus.

A fronteira destas duas alegrias estabelece de modo particular as leis dos dois países vizinhos no campo das batalhas individuais. Padrões diferentes de práticas exigem, pois, autenticidade nos momento da grave decisão de seguir. E após o passo definitivo, a sorte resta lançada. Ainda lembro, para concluir, destas palavras: O castigo do vício é o próprio vício; o mérito da virtude é a própria virtude. Adeus às ilusões, em nome da Luz superior.

domingo, 3 de julho de 2011

A TERAPIA DO SENTIDO - Emerson Monteiro

Viver precisa de sentido, caso contrário a jornada terrena exigirá bem maior disposição e esforços, transformada quase numa desistência permanente. A esta conclusão chegou, como matéria científica, o psiquiatra austríaco Viktor E. Frankl, judeu que fora prisioneiro em três dos tantos campos de concentração nazistas durante a Segunda Grande Guerra.

Esse sentido para viver alimenta o ânimo qual nutriente de extrema necessidade. Isso que deverá vir das aspirações inúmeras. Do gosto de aguardar alguém que se ama. Adorar a Deus com os vigores da alma. Empregar a esperança na realização dos sonhos vários. A viabilização de projetos pessoais. Uma obra social. Concretização das ideias vitalizadoras do desejo de seguir em frente, ainda que perante vultosos desafios. Reencontrar entes queridos. Rever amores inesquecíveis. Criar condições de sentir a presença dessa potencialidade, mesmo enquanto permanecer sob pressões, insalubridades e limitações.

Dr. Frankl experimentou de perto tais restrições de sobrevivência, ele e os outros companheiros de campos, nas atrocidades nazistas. Em seu papel de observador perspicaz, analisava sistematicamente o comportamento manifesto dos milhares de prisioneiros, configurando a tese do sentido qual motivo justo de continuar a vida. Eram temperaturas abaixo de zero, péssimos agasalhos, fome, maus tratos, estados psicológicos deprimentes, expostos às surpresas da patologia gratuita da guerra; e resistiam desde que houvesse uma razão para isto em cada qualquer deles.

Quando alguém sabia das notícias da morte dos familiares que aguardava de novo encontrar, logo perdia as forças. O cientista notava que aquele se entregava ao desânimo. Desistia de sair para trabalhar. Permanecia estirado no alojamento em que dormia. E dentro de pouco tempo sucumbia às misérias das circunstâncias que até ali suportara.

Perante os quadros que estudou, Viktor Frankl reuniu elementos suficientes de avaliação do contexto radical extremo para a existência humana sadia, os quais lhe forneceram meios de criar a Terapia do Sentido, ou Logoterapia, conforme denominou. Logos, termo grego que significa razão, sentido.

O fruto dessas vivências de um psiquiatra em um campo de concentração durante a Segunda Guerra hoje possui ampla divulgação em muitos países do mundo, e forma escola de importante valor no tratamento das dificuldades mentais de grandes contingentes que a ele recorrem.

Há um livro de sua autoria, editado no Brasil com o título de Em busca de sentido, publicação da Editora Vozes, ora na 20ª. Edição, que permite conhecer mais de perto informações a respeito desse importante instrumento de ampla utilidade a quem pretende aprofundar o assunto.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

GILBERTO GIL EM JUAZEIRO DO NORTE - Emerson Monteiro

E outra vastidão de planícies oferece o tabuleiro das saudades vivas em forma de sinais acesos por dentro do peito. As portas do céu se abriram de par em par apresentando a cara dos milhões de pontos de luz que mergulharam as poças dos sabores. Frutos, flores, dores, tantos valores que as marcas do tempo fixaram quais riscos de tatuagem colorida no teto das cores, no vento que insistiu percorrer de frio morno os mesmos caminhos de si mesmo do compositor.

Houve novas alternativas de reviver e percorrera os caminhos andados, repetidos feitos de ardorosos cavaleiros dadivosos de amores e sonhos. Quantos amores extintos e nascidos outras vezes entre árvores de jardins eternos, paisagens fiel da solidão que sobrou.

Acordes e fiapos de bênçãos a percorrer o espaço azul do firmamento deram, pois, o tom das melodias. Enquanto desfilavam fantasiosos artistas de outras cenas por sobre a pele ressequida do eterno Cariri.

No palco, os músicos e seus acordes zoadeiros. O menestrel sacoleja as bases do público entregue às guitarradas que ele no passado trouxera à música popular brasileira. Gilberto Gil em Juazeiro do Norte na noite do dia final de junho de 2011 e seus retados baiões de Luiz Gonzaga, retorno aos cursos da história de quando o sertão sobrevivia só das esperanças de chuvas e poucos andavam aqui que não fosse à procura de inspiração às avessas. Poucas passagens desta fase do poeta cantor tropicalista vieram, no entanto. Ritmos, ritmos em profusão, com esmerados profissionais dos instrumentos. Isso bem no território dos romeiros, agora na fase dos melhoramento da parte do governo. O espetáculo aconteceu e agradou, porquanto a alegria envolveu todos. Festa mil das dimensões elevadas do som eletrônico de agora, força elétrica que preenche e sufoca sem deixar margem repouso ao silêncio intermediário, mania dos tempos atuais, cheio de tantas manias eletrônicas possantes.

Buscar no ele de hoje o Gil dos anos 60, tarefa quase impossível de obter sucesso. Aquele de antes, político, revolucionário, resistente, nem ele saberá dizer que mundos ou estrelas habita nos dias que chegaram no ido das suas 70 primaveras. Porém vital, coerente da própria maestria. Feliz de se saber cantado, lembrado das multidões que dançam fácil as suas composições de variação e riqueza criativa.

Mas, é isso, trazia pouca novidade posterior ao período em que ocupou o Ministério da Cultura, talvez até na época da adaptação profissional doutro momento.

Ícone, portanto, de um povo, Gilberto Gil canta no trecho intermediário do Norte ao Sul, neste Brasil de luminosidade sonora e praças abertas aos fulgores do artista popular consagrado.