sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ARQUITETURA DE LAVRAS DA MANGABEIRA.

Travessa São Vicente Ferrer, atualmente, Padre Alzir Sampaio. Foto feita na década de 1950.

Em nome do progresso e de produzir o moderno as cidades brasileiras vêm aos poucos perdendo seu referencial histórico. Com a mudança desenfreada na paisagem urbana, muitas vezes acarretando a destruição de referências importantes nos marcos culturais criadores de símbolos e imagens da identidade coletiva de uma época nas mais variadas formas, usos e estilos, alterando assim, os espaços de tempo, história e vivência social dos seus habitantes. Pretendemos com esse link apresentar o acervo arquitetônico de Lavras da Mangabeira e, contar um pouco da sua história, mostrando a importância que ela representou para cultura cearense. E de como a sua preservação é fundamental para as gerações futuras como testemunho vivo dos seus dias de glória. Lavras da Mangabeira foi um dos municípios cearenses que mais contribuiu para história política e econômica do Ceará. Sendo o município um dos mais antigos do Estado, hoje com 112 anos, possui um patrimônio invejável, necessitando com urgência de um projeto de tombamento e restauração. Sendo este um motivo de preocupação e inquietação daqueles que viveram Lavras da Mangabeira de outrora e assumem agora um lirismo nostálgico que é uma forma de obstinação, de resistir à rápida transformação pela qual nossa cidade vem passando, pelo desinteresse dos que lá estão em preservar a história. Por essas razões, sentimos a necessidade de apresentar e contar um pouco do nosso passado que estão impressos nos seus momumentos.




RESIDÊNCIA DE FIDERALINA AUGUSTO LIMA - SÍTIO TATU







Casa que pertenceu a matriarca Fideralina Augusto Lima, após sua morte ficou como herança para seu filho Cel. Gustavo Augusto Lima, por morte do coronel passou a pertencer a sua filha Lídia Augusto Leite, hoje pertence aos filhos de Gustavo Augusto Leite (filho de D. Lídia e bisneto de Fideralina).




CASA DO CEL. FRANCISCO CORREIA LIMA - SÍTIO OLHO D’ÁGUA


Residência do Cel. Francisco Correia Lima, filho de Dona Fideralina Augusto Lima e pai da artista plástica Sinhá D’amora. A casa fica no Sítio Olho D’água, é o único sítio que ainda possui e conserva um engenho a Carro de Boi.






CASA DE DONA MARIA GREGÓRIO
SÍTIO COQUEIROS




Casarão de Dona Maria Gregório, localizada nas margens do Rio Salgado.








CASA VERDE


Construída em 1917 para hospedar o então governador do Estado do Ceará, João Tomé de Sabóia e Silva, na inauguração da Estação Ferroviária de Lavras da Mangabeira. Por muitos anos foi a residência de Dr. Vicente Férrer Augusto Lima e hoje pertence a Raimundo Augusto Lima Filho, ambos, Filho do Cel. Raimundo Augusto Lima.







CASA DE SÃO VICENTE DE PAULA





Casa que pertenceu ao Cel. Gustavo Augusto Lima, funcionou como Câmara Municipal e na década de 1940 seus salões principais eram cedidos para festas e carnavais. Hoje é de propriedade dos Irmãos Vicentinos, sede da entidade. Foi construída em 18 de outubro de 1892.









CHALÉ DO CEL. JOÃO AUGUSTO LIMA






Chalé do Cel. João Augusto Lima e depois do seu filho Luiz Augusto Lima. Foi demolido na década de 1990, dando lugar a um casarão estilo moderno.











CASA DE FILGUEIRAS LIMA.



Localizada no sítio Coqueiros, as ruínas da casa onde nasceu Figueiras Lima, em 1909, de propriedade de Silvino Figueiras Lima. Hoje pertence à família de Augusto Tomás.






RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA FERNANDES











Casa da família de Cunegundes Fernandes, proprietário do Sítio Patos, um dos grandes fazendeiros do município, hoje a casa pertence a José Duarte, também, passou por reforma e perdeu boa parte da sua originalidade.



CADEIA PÚBLICA


Construído em 1877, a Cadeia Pública de Lavras da Mangabeira foi o primeiro prédio com dois pavimentos, permaneceu inconcluso por certo tempo, funcionando como presídio. Concluído o pavimento superior serviu de sede da Câmara Municipal e também de Fórum. O térreo continuou presídio, como ainda hoje. Passou por várias reformas perdendo sua característica original. As varandas do andar superior foram retiradas, o teto de madeira foi substituído por concreto e suas grades foram lacradas.


SAPATARIA SOUZA





Localizado na Praça Central, foi edificado por Francisco Gonçalves Ferreira (Chico Saburá), no começo do século XX, pertenceu ao comerciante Bernardo Jucá, depois a Alexandre Souza e atualmente pertence a Francisco Yale Alencar de Sousa.









ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

Fotografia de 1922.

Rede de Viação Cearense (1917-1975)
RFFSA (1975-1997)
Linha-tronco - km 491,036 (1960) Inauguração: 01/12/1917

A estação de Lavras, hoje Lavras da Mangabeira, foi inaugurada em 01/12/1917. Ela foi a terminal da linha da E. F. Baturité até 1920, quando a linha foi prolongada até Aurora. Antes, porém, seus habitantes tinham de ir até Iguatu, mais ao norte, para embarcarem. O prolongamento até Lavras ocorreu por influência política, depois dos 7 anos de espera em Iguatu: "Em 1914 (dona Fideralina Augusto Lima) reuniu cabras, armas e munições, e enviou, aos cuidados do filho Cel. Gustavo, como ajuda a seus partidários, numa tentativa de retomar o poder, apoiando a 'Revolução de 14'. O episódio, vitorioso, chamado pelos rebelistas 'A Cedição de Juazeiro', devolveu o poder às oligarquias antigas, dele alijadas após o movimento popular ocorrido por volta de 1911. Essa participação foi imortalizada em folheto de cordel. 'Nós íamos relando o chão/Temendo a bala ferina/Mas quando ele conheceu/Que lá havia ruína/Correu com medo dos cabras/Da dona Fideralina'. Dois anos antes de morrer, a sua grande influência fez chegar a Lavras a via férrea que tornaria mais fáceis e menos lentas as viagens à capital. No dia da inauguração da estação, a velha mostrava-se alegre, forte; com seu vasto corpo jogado numa cadeira de balanço conversava em altos brados. Sempre gritou. Na primeira vez em que baixou a voz, teve-se a certeza de que realmente chegara a doença que a levaria à morte, aos 87 anos. Em agosto de 1919 termina a história de Federalina. (Matriarcas do Ceará - D. Fideralina de Lavras, de Rachel de Queiroz e Heloisa Buarque de Hollanda)
Nos anos que se seguiram o trem em Lavras armazenou e transportou toda a produção de algodão que a cidade produzia. É um dos maiores prédios do Ceará, pois toda a produção de algodão era armazenada lá e depois seguia para outros estados.
Durante muitos anos foi o transporte de passageiro mais utilizado pela população, tanto pros que tinham como destino Fortaleza, como os que viajavam semanalmente pro Cariri.
Nas décadas de 40, 50 e 60, os lavrenses que estudavam em outras cidades, embarcavam de trem, uns para Crato, Barbalha e Juazeiro e outros para Fortaleza. E nas férias o retorno a cidade natal era sempre motivo de grande alegria.
A estrada de ferro teve grande participação na vida socioeconômica de Lavras da Mangabeira, ligando fronteiras, trazendo e levando, não só a produção agrícola da terra, mas transportando seus filhos num grande intercâmbio cultural.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

HOMENAGEM DA ACADEMIA LAVRENSE DE LETRAS A MACHADO DE ASSIS - Texto do escritor lavrense João Gonçalves de Lemos.

Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS nasceu no Rio de Janeiro (RJ) aos 21 de junho de 1839 e faleceu na mesma cidade em 29 de setembro de 1908. Portanto, neste ano de 2008 e neste mês de setembro, completa cem anos de seu falecimento cuja oração fúnebre Rui Barbosa a proferiu.
Era de origem simples, filho de Francisco José de Assis, operário, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, doméstica. Casado com D. Carolina, mulher culta que lhe deu bastante apoio, inclusive na sua atividade intelectual.
O seu empenho em aprender foi extraordinário, pois não tinha acesso a cursos regulares e, tendo conhecido uma senhora francesa que mantinha negócio de padaria em São Cristóvão, recebeu do forneiro as primeiras lições da língua francesa e também foi fundamental a proteção que recebera da Senhora Maria José Mendonça Barroso, viúva do Senador do Império Bento Barroso Pereira.
Para quem era tão modesto em sua origem, Machado de Assis começa cedo sua atividade literária, aos 16 anos de idade publica o “Poema Ela” e, aos 17 anos de idade vai trabalhar como tipógrafo na Imprensa Nacional, onde conheceu o Escritor Manoel Antônio de Almeida, seu Diretor, que lhe deu proteção. Assumiu outros empregos, entre os quais o de Oficial da Secretaria do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, sendo seu meio de subsistência por toda a sua vida.
Teve um casamento feliz, durante 35 anos, mas o falecimento de Carolina em 1904 causa-lhe grande tristeza. Ela, sem dúvida, foi a grande companheira que lhe ajudou na sua obra, tornando-se um gigante da literatura nacional, escritor que dominou variados gêneros como cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, critico e ensaísta.
Um soneto de Machado de Assis tocou-me o coração, lembrou-me particularidade minha semelhante, não na arte das letras, composição poética que ele dedicara a Carolina, em 1904, quando do falecimento da esposa culta e dedicada, uma companheira num casamento feliz que só teve lugar para o amor. Eis na integra:

À Carolina, de Machado de Assis:

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos,
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Na Academia Brasileira de Letras Machado de Assis é fundador da Cadeira 23 cujo Patrono é o seu grande amigo José de Alencar, escolha sua. E, pela importância do escritor, a ABL tornou-se conhecida como Casa de Machado de Assis.
Recentemente a Academia Cearense de Letras, numa extensa programação, entre 10 de junho e 11 de julho, promoveu debates sobre Machado de Assis, com a participação dos conferencistas: Pedro Paulo Montenegro (o critico literário, o cronista, o memorialista); José Murilo Martins (Machado na Academia Brasileira de Letras); Fernanda Coutinho, (o cronista); Linhares Filho (Machado de Assis: latência sensual consciente); Ângela Gutierrez (Alencar por Machado); Vera Lúcia Albuquerque de Moraes, (dialogo entre Alencar e Machado: Encarnação e Ressurreição); Sânzio Azevedo (o poeta); e Lúcio Alcântara (aspectos médicos na obra de Machado de Assis).
Este registro sobre o centenário de morte de Machado de Assis (1908-2008), sem comentário sobre sua obra, constitui-se numa sugestão aos colegas acadêmicos para que comentem sobre o grande autor, sobre suas obras e fases de sua produção literária e também sobre sua personalidade complexa.
João Gonçalves de Lemos, Acadêmico, Cadeira 11 na ALL