segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A LANTERNA DA CONSCIÊNCIA - Emerson Monteiro



Dia desses, num comentário dos que gosto de rascunhar, A dor para Buda, afirmava que guarda o pensamento estreita relação com o sofrimento humano. Do pensar vem o desejo e da não realização do desejo advém a dor. Porém se sabe que o pensamento, segundo os místicos, representa atributo essencial do espírito. Contudo há que ser dominado, burilado, invés de deixá-lo só solto, de bobeira, a dominar, dar as cartas à sua maneira.

Através do pensamento o eu exerce o discernimento na escolha, fator fundamental para exercício da liberdade. Enquanto a consciência, esta trabalha na terra de ninguém faixa de fronteira entre o finito e o infinito, bem onde vivemos nós, a todo tempo, síntese da existência individual.

Pelo pensamento livre encaminhamos a vontade na seleção das duas escolhas entre o possível e o necessário. Pensamento lúcido, fator de ponderação e conhecimento. 

Sem querer mergulhar mais ainda nas entranhas do existencialismo moderno, o resumo disso que falei significa o exercício da mais pura liberdade. Somos o que fazemos de nossa liberdade por meio da vontade, pois. 

No objetivo de responder ao enigma da existência, drama milenar dos seres racionais, permanente a cada fração de instante, conduzimos as escolhas nos praticados, o primado da vontade, porquanto o eu é a liberdade feita prática de vida, concretização da verdade pessoal.

Na realidade, aquilo denominado existência permite, desta forma, a crise de viver para escolher, ação possível antes de acontecer; e definitiva logo no momento seguinte depois de concretizada a escolha. Tal aflição recebe nomes diversos, quais angústia, desespero, absurdo. Quanto a esse gesto de lançar mão da oportunidade no exercício da liberdade, ele requer a missão do pensamento, o farol clareador dos caminhos da consciência em ação.

Conquanto espelhe a vontade na ação da prática da liberdade, nisso aprender a pensar denota corpo valioso de instrumento poderoso. Refletir, portanto, na tomada das decisões (antessalas das escolhas) alimenta o sistema da consciência e produz melhores e compatíveis resultados de valor ideal com o direito da liberdade.

O MISTÉRIO DA FÉ - Emerson Monteiro



Hoje pela manhã em pleno sol das 10h, avistei no coreto da Praça Siqueira Campos, em Crato, um pregador do Evangelho a cumprir missão de transmitir os versos bíblicos. Munido de microfone e caixa de som, repercutia no céu aberto as palavras da leitura que fazia; de chapéu e óculos, atualizava nas cabeças dos presentes, sentados, ou de pé, distantes à sobra das poucas árvores, o exercício dos conceitos cristãos, e gravei o que falava a propósito da esperança.

Longe de demonstrar dificuldade, ou timidez, o pregador exercia de pleno direito a função religiosa que lhe atende ao desejo de trazer adiante os princípios da sua convicção, ato público adequado aos tempos heróicos das tradições seculares. Fosse alguém questionar o exercício democrático e nem se daria ao gesto de levar em conta as opiniões contrárias.

Tantos e quantos ora vivem da fé autêntica, espalhados pelo mundo. Isto em época de mercantilização de valores e virtudes, safra desembalada dos falsos cristos e falsos profetas noticiados pelos livros sagrados, quando multidão padece da ausência angustiante das verdades sinceras.

Há criaturas movidos pela certeza interior das convicções que saem aos povos, munidos dessa sinceridade, e testemunham realidades sólidas a gritar dentro da alma. Estes superam barreiras de comodismo, respeito humano, inibição, e rompem nas vilas, campos e cidades, exercitando o poder supremo da Palavra, acima das limitações territoriais e dilemas pessoais. Cumprem ao pé da letra o ensino avassalador dos mestres santos, na busca de tocar corações com as luzes essenciais desse Amor sem dono, sem pátria, sem mistificação.

Algo me falou naquele momento, no aberto da praça ao sol da manhã fervente do verão sertanejo, do fogo abrasador do Espírito Santo a tocar raros seres pela dinâmica inevitável do mistério que é a fé suficiente a transportar montanhas e lançar oradores solitários na semeadura do Bem através dos viventes deste chão, solo da salvação. Experimentei nisso a paixão incontrolável dos missionários clamando no deserto das ingratidões e pedindo clemência, em reinos indiferentes, prenhes dos pecados bestiais de tronos vendidos e inúteis.

Viajantes raros insistem, portanto, na peleja de salvar a nossa Humanidade pelas suas ações em manhãs ensolaradas, disto sei, pois sinais seguem visíveis na alma santa dos simples, o que significa alimento nutritivo do sonho de paz vivo para sempre na beleza dessa gente.