sábado, 16 de dezembro de 2017

Morre compositor e cantor cearense Gilberto Milfont.








Gilberto Milfont, cantor e compositor cearense, morreu nesta quarta-feira, 13 de dezembro de 2017. Nasceu em Lavras da Mangabeira, no dia 7 de setembro de 1922.

Patrono da Cadeira Nº 18 da Academia Lavrense de Letras, e tem como acadêmico o grande violonista lavrense, Nonato Luiz, que como seu patrono engrandeceu Lavras, o Ceará e o Brasil com a música.

Milfont tinha 95 anos e viveu seu auge, como cantor e compositor, na década de 1950. Gravou mais de 500 composições e, entre elas, algumas pérolas de Haroldo Lobo, como "Um falso amor", "Batendo cabeça" e "Para seu governo".

A Academia Lavrense de Letras, a cidade de Lavras da Mangabeira, o Estado do Ceará e o Brasil perde mais um ícone da MPB.

Paz e luz ao nosso Confrade.



sexta-feira, 24 de novembro de 2017

MÃE DINDINHA - Por Jorge Emicles.



Acercar-se da casa grande do sítio Tatu, encravado no coração rural da velha Lavras da Mangabeira, à primeira vista é como chegar a uma dentre tantas centenas de milhares, de fazendas nordestinas. Tudo ali nos parece típico. Há a casa grande centenária, de paredes grossas, confeccionadas em tijolos de proporções descomunais para os padrões atuais. Há ao fundo o igualmente centenário açude, que mesmo já assoreado pela antiguidade de sua construção ainda é plenamente hábil em salvar os moradores e a criação local da medonha estiagem que ciclicamente afeta toda a região do nordeste brasileiro. Há os baixios, ao lado, que fazem brotar hoje a pastagem necessária ao sustento das criações de bovinos e ovinos, que, porém, não guardam mais os vestígios da antiga produção de cana-de-açúcar anualmente moída e transformada em rapadura no velho engenho. O engenho mesmo se identifica por um amontoado de engrenagens enferrujadas, já a descampado, porque o prédio que guarnecia a ferragem já não existe mais, destruído que foi pela quase criminosa ação do tempo, que não deixa nunca guardar a eternidade dos momentos de alegria ou enfado, quando perdidos no negrume obscuro do passado.
                   Não se guardaram, muito menos, pistas valiosas de o que se desenrolava por ali há cem anos apenas. Não fosse pelo relato oral dos descendentes, por exemplo, não seríamos capazes de reconhecer que a indústria que mais prosperou naquele pitoresco, aprazível e bucólico lugar, onde o silêncio reina soberano, convidando aos visitantes, senão a alguns momentos de contemplação diante da paisagem, por certo a um relaxante banho nas águas do velho açude, o que faria qualquer de nós absolutamente inocente da verdadeira seara que se colhia das entranhas daquela terra: a carne humana, negra e sofrida da escravidão. Era essa, afinal, a principal produção da gigantesca indústria oligárquica que se instalou na velha Lavras, maestralmente comandada inusitadamente por uma mulher. Não, contudo, por uma qualquer. Afinal, a cultura coronelista instalada no sertão não estaria nem um pouco disposta a gentilmente ceder o poder do jugo; a fortaleza do bacamarte e a autoridade do patriarcado a uma mulher, fosse esta quem fosse.
                   Para a história, esta mulher fez-se conhecer como a velha Fideralina Augusto Lima, matriarca de uma populosa família e maior de todas as expressões políticas de sua terra, sombreando inclusive vultos históricos regionais e nacionais como os de Bárbara de Alencar e Anita Garibaldi. Sua autoridade igualmente é reconhecida pela importância em relevantes passagens históricas da região sul cearense, como em face de sua íntima amizade com o Padre Cícero, de Juazeiro, sua contribuição para a atestação científica do milagre da hóstia (foi seu filho e médico Ildefonso uma das autoridades científicas que deram atestado da veracidade do acontecimento), sua indispensável participação nos fatos  que desembocaram na revolução de 1914, com a consequente derrubada do presidente do Estado, movimento que sagrou outro filho seu, Gustavo, como vice-presidente do Estado, para ciúmes e desgraça da astuta raposa que era Floro Bartolomeu. Também soube resistir, pelo prestígio ou pela bala, a todas as tentativas de destituí-la do soberano poder simbólico que sempre exerceu na região, mas igualmente em todo o Estado. Mais que em outros casos, o poder da velha matriarca era sobretudo simbólico, porque cargos públicos mesmo ela jamais os exerceu, muito embora sempre tenha tido a primazia da influência na nomeação de seus ocupantes.
                   A horda de seus maiores adversários políticos é composta quase sempre por sua própria parentela. Seja oriunda da irmã de sangue conhecida em família simplesmente como Pombinha, seja proveniente de seu próprio filho Honório, é do sangue dos Augusto que ela teve as mais severas resistências. A questão chegou ao cúmulo de ela haver determinado a deposição do filho Honório da chefia do partido governista a bala, através de cabras por ela muito bem armados e comandados pelo seu sempre fiel escudeiro, o filho Gustavo Augusto Lima, depois da mãe a maior liderança política de sua terra. Fez isso, contudo, não sem uma severa advertência a seus cabras, a de que quem porventura arrancasse sangue de Torto (como chamava a velha a seu filho Honório) pagaria com a própria vida. Esse inusitado fato nos prova que antes da grande líder política, era um coração de mãe que batia no peito daquela valente mulher.
                   Um historiador que contemple a velha casa do Tatu, em seus corredores hoje vazios pressentirá por certo a velha matrona a dar ordens a seus cabras, a dirigir os trabalhos da casa e da propriedade toda, a tomar conta de seus prepostos, a articular o futuro político de sua terra, através das inúmeras e firmes alianças que sempre fez com os coronéis regionais. Também encontrará semelhanças entre a casa grande do Tatu e a fortaleza de Maria Moura, personagem principal do derradeiro romance da imortal Rachel de Queiroz, reconhecidamente inspirada na velha Fidera.
                   Para a sua descendência, como é o nosso caso, o que vemos ao chegarmos à velha propriedade são, primeiro, as lembranças de criança, quando inocentes corríamos sob os domínios da velha matriarca, sem nos darmos conta das inusitadas refregas que já se deram por ali. Sem saber, éramos descendentes das riquezas que a escravidão gerou e do convencimento que o bacamarte impôs. Tudo isso bem regado a bastante sangue, seja de forasteiros, seja dos próprios membros da família. A verdade é que a família Augusto ainda não conseguiu se libertar totalmente da herança de violência dos tiranetes. Em seguida, as novas gerações dos Augusto eram informadas da imponência histórica de sua ascendência. Apesar da quase inexistência de vestígios, aquele velho sítio Tatu já foi o centro do mundo. Mundo comandado por uma mulher, que por sua realeza se encontrava acima de todos os homens, possuía o domínio sobre todas as armas e sobre todas as vontades de tantos quanto a cercavam. Era mandona, porém, sempre maternal com sua descendência. Chegou a aparar alguns netos em seu nascimento, e por toda a parentela era carinhosamente chamada de mãe Dindinha. Não descendíamos, portanto, da “coronela” de saias Fideralina, pois quem nos guardava em nossas brincadeiras de criança sempre foi a mãe Dindinha, mulher misteriosa, de imenso poder simbólico, que havia escondido uma botija cheia de ouro, a qual geração após geração seus descendentes procuram, mas que permanece encantada. A mesma mãe Dindinha que construiu o açude para toda a descendência, cuja fé era tão inabalável, que em certa ocasião, quando uma tempestade ameaçava arruinar a parede do reservatório, passou toda uma noite orando, pegada em seu rosário, para obter a preservação de sua construção, no que foi atendida pelos céus. Conhecíamos sim, a avó zelosa, que inconformada pela injusta morte do neto, em Princesa da Paraíba, mandou invadir o lugarejo para vingar o mal feito, tendo determinado a seus cabras que de cada homem abatido lhe fosse trazida uma orelha, tendo daí começado a decantada história de seu famoso rosário de orelhas, com o qual regularmente teria proferido suas orações.
                   Para além dessas carinhosas lembranças, embebidas tantas vezes na fantasia da meninice, nas lembranças da oralidade repassada por pessoas que não mais se encontram nesse plano e pelas lendas mesmo difundidas por diversas gerações a respeito de quem teria de fato sido essa inesquecível mulher, devoramos com imensa alegria a biografia da velha matrona recentemente lançada pelo ilustre jurista, escritor, poeta e historiador Dimas Macedo. Justa reverência que a história faz à imensidão dessa grande mulher; belo e criterioso trabalho que somente poderia ter nascido da grandiloquência de uma mente como a do culto Dimas Macedo.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Para a acadêmica Nenenzinha Mangueira


Nesse momento difícil de dor e pesar da nossa confreira, Nenenzinha Mangueira, nós que compomos a Academia Lavrense de Letras nos solidarizamos com a família pela perda da sua genitora, Mariquinha Mangueira.  A saudade acompanhará para sempre suas vidas, mas as lembranças e ensinamentos eternizará o exemplo de mãe, esposa, amiga e mulher que ela foi na sua trajetória terrena. 
Sinceros pêsames.
Fortaleza, 14 de novembro de 2017.
Cristina Couto.
Presidente.


sábado, 11 de novembro de 2017

Dona Fideralina Augusto - Mito e Realidade - Discurso no ICC -Por Cristina Couto.




Há quase um século de sua morte, Dona Fideralina Augusto ressuscita o mito para tornar sua história uma realidade. Enterrada nas cinzas do tempo pelos vassalos do seu feudo, Lavras da Mangabeira, ela não sossegou e nem deixou o nosso arqueólogo lavrense, Dimas Macedo dormir em paz, foram longos trinta anos de investidas, aparições e noites mal dormidas.

Aos poucos e cuidadosamente, nosso historiador, foi catalogando documentos, gravando e apontando depoimentos, visitando parentes, visitando biblioteca e arquivos, além de solicitar a colaboração dos amigos.
Aos poucos surgiam documentos, retratos e informações que montando o quebra cabeça das muitas peças de sua longa e tumultuada existência, resultou nesta grande obra que hoje foi apresentada, aqui, pelo garimpeiro do Cariri, o nosso amigo, Heitor Feitosa.

Tenho a impressão que o vulto da velha matriarca rondava aqueles que na sua história se envolvia. Que o diga o nosso colaborador, João Tavares Calixto Júnior, que incansavelmente e gentilmente fornecia documentos relativos a essa empreitada. Do nada encontrávamos documentos que nas mãos do escritor Dimas Macedo transformava-se em informações preciosas, fechando as lacunas deixadas por historiadores anteriores que não alcançaram o mundo mágico da informação. Foi assim, com Joaryvar Macedo, o pioneiro, e com Raquel de Queiroz, a entusiasta. Eles foram os verdadeiros descobridores dos sete mares da história caririense, e voltaram suas atenções para a história de Lavras da Mangabeira. Raquel de Queiroz em uma frase exterioriza e eterniza sua afirmação, quando disse: tudo começou numa pequena e velha cidade do sul do Ceará: Lavras da Mangabeira.

Em 2009, seu bisneto Melquiades Pinto Paiva, baseado nas pesquisas de Joaryvar Macedo escreve um livro sobre a sua bisavó, intitulado: Dona Fideralina Augusto Lima – A Matriarca do Sertão, mas não foi ele a quem ela escolheu para ser seu escafandrista, o revelador da sua alma, e como uma boa estrategista que sempre foi permaneceu quieta, tranquila, inabalável, esperando o momento certo para atacar. E, sorrateiramente coloca seu plano em ação: atacou ao sossego de Dimas Macedo.

Foram muitos ataques, investidas, batalhas e resistência, finalmente, o nosso poeta se rendeu e acenou à bandeira branca, ele, através da sua caneta poderosa e certeira ressuscitou a fênix mitológica de Lavras. Agora, ela volta a reinar como sempre reinou. Sua vida foi vivida com pólvora, sangue e tragédia; e sua história foi escrita com a caneta, a sensibilidade e a genialidade do seu conterrâneo maior Dimas Macedo.

Aquela que um dia desfilou nas ruas de Lavras em sua liteira carregada por quatro fortes escravos, hoje desfila nas páginas e nas mentes dos seus admiradores que guardarão nas suas memórias a trajetória de vida dessa grande personalidade feminina. Mulher forte, valente e destemida que ressuscitou dos mortos e ficará para sempre na história.

Crato, 03 de novembro de 2017.


sábado, 7 de outubro de 2017

Dona Fideralina Augusto - Mito e Realidade - De Dimas Macedo - Por Cristina Couto


O efeito mágico que as águas do Rio Salgado têm feito na vida dos lavrenses sempre foi um verdadeiro prodígio. Seu poder de fertilização edificou na mente dos seus filhos a capacidade de poetizar e de buscar a fundo suas origens. 
Em Lavras da Mangabeira (CE) e na região do Cariri ninguém reinou tanto como Dona Fideralina Augusto Lima, mulher forte, que viveu à frente do seu tempo, numa época comandada pelos homens. Ela foi senhora da sua vontade e da vontade de muitos. Nada nem ninguém ousou desobedecer a essa velha matrona. Na sua terra natal, tudo parece que virou folclore, como nos contos mitológicos das grandes civilizações, especialmente porque aquele Município viveu todas as suas fases, tais como o nascimento, apogeu e declínio, nos permitindo, agora, uma volta ao seu passado glorioso.
 
Dimas Macedo é, hoje, o maior historiador lavrense. Com a sua memória fotográfica e o seu poder de percepção aguçada, capta as histórias perdidas e as informações escondidas. Sua sensibilidade de poeta e sua genialidade intelectual ultrapassam as fronteiras do tempo. 

Ao escrever Dona Fideralina Augusto - Mito e Realidade (Fortaleza: Armazém da Cultura, 2017), Dimas faz justiça com as próprias mãos e com o brilho da sua palavra, contestando as muitas inverdades sobre a velha matrona lavrense. Neste livro, o autor busca resgatar a história como ela é, e não como as pessoas gostariam que ela fosse. 

Com a leitura deste livro, o que acabamos descobrindo é que a fênix lendária de Lavras da Mangabeira – Dona Fideralina Augusto Lima –, renasce das cinzas em que muitos dos seus opositores teimaram em enterrar a sua memória. Nele, Dona Fideralina Augusto ressurge magnífica, imperiosa e poderosa como sempre foi, e sua história, que outrora fora escrita com estilhaços de pólvora do seu bacamarte, agora acha-se reescrita com a caneta do seu admirador maior e arqueólogo da cultura lavrense, Dimas Macedo.


Cristina Couto

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

PREFÁCIO - Linda Lemos

A autora do livro “Olhando de Minha Janela”, Rosemary Amorim Gonçalves de Lemos, nascida no Rio de Janeiro, foi uma criança saudável, alegre e bonita. Jovem advogada, inteligente,  sabia cativar as pessoas. Estatura alta, postura elegante, vestia-se bem e sabia pisar ao chão com dignidade. Cabelos grandes, lisos, claros e bem hidratados, refletiam o vigor da juventude, confirmada na cor da pele levemente bronzeada.

Ao longo da vida, minha prima Rosemary recebeu amor dos pais, João Gonçalves de Lemos e Maria Ilza, irmãs, Ercília e Izabel, e muito carinho de todos os familiares.  À demonstração desse afeto  ela retribuia com o sorriso marcante e expressivo que trazia da terna infância. Olhos que riam carinhosamente  para a vida.  Rosemary nos deixa os 39 anos, quando o seu coração silencia num fim de tarde, 02 de fevereiro de 2009, em pleno carnaval.  E assim perdemos a alegria e beleza jovial,  a garota que sabia sorrir com os olhos.

Após "brigar" com Deus, por não conseguir assimilar a perda da filha, João Lemos consegue, finalmente, entender  que a sua estranheza com o mundo cotidiano é que ele é todo montado em cima da ilusão da “vida total”, plena. O mundo cotidiano que nós criamos é todo voltado para a vida como se ela não acabasse. A morte é disfuncional: quebra o encanto das mil e uma noites contemporâneas.  Após entender  que a morte é a certeza negada e o luto, o caminho para uma nova etapa de vida, o pai de Rosemary organiza os escritos da filha.  Ele já está construindo uma nova identidade, novas crenças, novos sonhos. E aqui está a prova. Esta linda obra, bela declaração de amor incondicional de um pai à sua filha. Se perder um filho é amputar a alma, arrisco dizer que João Lemos já compreende que “a vida e o amor não deixam de ser belos por serem finitos”.  E passa esta mensagem para muitas outras pessoas. Olhando da minha janela, vejo os escritos do coração de João Lemos.

Algumas coisas na vida são difíceis de entender. Uma interpretação e compreensão do mundo a sua volta nada mais é do que um ponto de vista, e portanto,  a vista de um ponto.  Oportuno, talvez, frisar o escritor Leonardo Boff, com quem Rosemary comungava idéias e ideais. Expoente da Teologia da Libertação e professor universitário em vários universidades do Brasil e do exterior, sua produção literária  é superior a 60 livros, um deles “O casamento entre o céu e a terra, publicado em 2001, composto de 30 contos indígenas e das principais contribuições deste povo à globalização. Contos simples, que falam do amor, do fogo, dos pássaros, da morte, da vitória-régia, da terra, do céu, das estrelas, da mandioca, do guaraná, do beija-flor e de tantos outros assuntos do dia a dia da gente simples.

O título da obra,  inspirada nos índios samis, da Suécia. Quando Leonardo Boff, em visita, ouve do cacique: “casar o céu com a terra significa manter junto, Deus e a natureza, o homem e a mulher, os velhos e os jovens, o trabalho e a diversão, a vida e a morte. É  combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade.”



O CEARÁ FORA DO MAPA-MUNDI DA EDUCAÇÃO - Linda Lemos



Li no Jornal Diário do Nordeste, Caderno 3, de 27 de dezembro de 2011, um rosário de inversões do que deveria ser um evento educacional - 110 Congresso Internacional de Educação sobre a Formação de Professores, 100 Congresso Nacional sobre Dificuldades de Aprendizagem e do Ensino, 20 Seminário de Gestão em Educação, 10 Congresso Internacional de Educação Profissional e Tecnológico do Ceará - sediado em Fortaleza. Ressente-se o conceituado Professor Universitário Batista de Lima, da ausência  de educadores cearenses na equipe de 22 estrelas, vindas de outras terras.


No nosso entendimento, a educação brasileira espelha a síntese dos acertos e desacertos de sua caminhada histórica. A história da educação no Brasil tem períodos muito curtos de avanços em detrimento dos longos períodos de retrocessos e/ou de estagnação. Vejamos alguns fatos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
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Primeiramente, na época do Brasil Colônia, o modelo educativo dos jesuítas, Ratio Studiorum1,  baseado na cultura européia. Nascido da Contra-Reforma2, 1534, determinava que os livros postos ao alcance dos alunos se limitassem à suma teológica de São Tomás de Aquino e à obra filosófica de Aristóteles. Propunha um processo de ensino e aprendizagem baseado na repetição e memorização dos conteúdos estudados, com ênfase na concentração, atenção e silêncio dos alunos.

Em seguida, o Brasil Império,1882, concorre para mudar o cenário educacional, mas ainda permanece a lógica de dominação, desta feita  entre as oligarquias rurais e a emergente aristocracia urbana. Apesar dos esforços feitos, incluindo Rui Barbosa, se vê poucas mudanças efetivas. Permanece a supervalorização de métodos e técnicas estrangeiros e desvalorização do professor.

Com a Proclamação da República,1889, tem-se uma escola mais eficiente, porém, continua objetivando a seleção e formação das elites.  No geral o processo escolar e educacional continua insignificante. No início do século XX, a esperada revolução de 1930, seguida do golpe do estado novo, a redemocratização nacional, golpe de estado de 1964 e, por fim, a transição democrática, nos faz ver que o projeto social e educativo, historicamente dominante no Brasil, se mantém no poder, e dá continuidade à diretriz econômica de expansão do capitalismo. Sinceramente, pouco mudou no Brasil, em termos educacionais, desde a declaração de independência política de Portugal.

Conclui-se, portanto, que a escola sempre cumpriu um papel determinado a atender a classe dominante e continuará a fazê-lo, a não ser que o processo em que se está mergulhado seja revertido. A reflexão que faz o Professor Batista de Lima representa um passo nesta direção, quando recusa-se a aceitar a lógica educacional aí posta, e sonha com um lugar para o seu Ceará no mapa-mundi da educação. São muitos os desafios a serem superados, em especial, no que se refere à educação para todos, à formação docente, à construção de currículo, metodologias e avaliação adequados ao real desenvolvimento humano. Solidarizo-me, respeitosamente, com o Professor cearense.   
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1Ratio Studiorum: espécie de regimento da educação, composto de normas e estratégias pedagógicas da ordem jesuística. Durou de 1549 a 1759 (210 anos) quando os religiosos foram expulsos do Brasil no Governo do Marquês de Pombal.

2Contra-Reforma: conjunto de medidas instauradas na Igreja Católica Apostólica Romana, para enfrentar as críticas reformistas lideradas pelo monge alemão Martim Lutero, que escreveu teses denunciando os erros e abusos cometidos pela alta hierarquia da Igreja Católica e propondo profundas mudanças na sua estrutura, que culminou com uma nova religião cristã, o Luteranismo ou protestantismo.

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ENCONTRO DOS ESCRITORES FERNANDO PESSOA E DOSTOYEVSKY EM LAVRAS DA MANGABEIRA - Linda Lemos.



Aconteceu, em 21 de maio de 2011, a posse da escritora Cristina Couto e do teatrólogo Aury de Araújo Correia, conhecido pelo nome artístico de Aury Porto, na Academia Lavrense de Letras, ocupando as Cadeiras 36 e 37, respectivamente. Os pronunciamentos dos novéis acadêmicos, belos e muito contundentes, emocionaram todos os presentes.

Aury Porto trouxe para o evento um dos maiores escritores de todos os tempos, o português Fernando Pessoa. E o faz bonito. “Felicidade. Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário... Se achar que precisa voltar, volte!”  E eu voltei. Não sou poeta que “... finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”.

E depois o teatrólogo anunciou ao público: “Depois de conversa com uma pessoa que conheci ontem, Linda, reporto-me à obra O idiota, um dos mais notáveis romances do gênio russo, Dostoyevsky”Sua obra explora a psicologia humana num conturbado contexto político, social e espiritual da sociedade russa. Para os críticos, um dos maiores psicólogos da literatura mundial. E assim, chega um dos mais proeminentes escritores no século XIX, precursor do movimento filosófico existencialismo, para quem a guerra é a revolta do povo contra a idéia de que a razão orienta tudo. Fyodor Mikhaylovich Dostoyevsky  em Lavras da Mangabeira, sob a proteção de São Vicente Ferer, em noite de brisa amena, raridade sertaneja, distante do inverno russo que cobre de neve encantos, encontros e desencontros.

Por um segundo, Aury Porto e eu nos olhamos, em cumplicidade ideológica. Emocionada por tê-lo convencido a trazer tão ilustre convidado para nossa festa, em estado de êxtase pela percepção social da obra, não contive a emoção: após apresentação, corri para abraçá-lo, levando comigo afetuoso agradecimento, isto na terra onde nasceu meu pai, o médico e escritor Manoel Gonçalves de Lemos.

Compareceu também à festa o poeta Zito Lobo, com o seu livro Trovas e Poemas, declarando amor eterno à sua amada Eliete. O mensageiro desse amor, foi o seu filho, Dimas Macedo, celebridade literária contemporânea, neto do poeta de versos sociais Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso). Na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que acolheu o evento, o Príncipe dos Poetas Populares Lavrenses, José Teles da Silva  lembrou que estamos no século XXI. Vicente Paulo Lemos arrancou aplausos quando proclamou: “Em Lavras da Mangabeira/Lavram-se ricos cristais/Quem não é Padre é Doutor/Ou tem outros cabedais/Também o agricultor/Quando lavra é muito mais.”

Cristina Couto e Aury Porto receberam mensagens de boas vindas, enviadas pelo Presidente João Gonçalves de Lemos, através da Vice, Fátima Lemos, e pelas confreiras Rosa Firmo Bezerra e Lucia Macedo Maciel. A novel acadêmica discursou, comungando sentimentos com quem parte para um exílio na  Sibéria, em noite de natal, experiência que rendeu a Dostoievski a regeneração das suas convicções. Reveladora da angustia mental e dilema vividos no mundo atual, Cristina Couto fez questionamentos éticos sobre a liberdade, o livre arbítrio e o determinismo. Retratação filosófica do que acredita a sua consciência.

Sobre o amor de Cristo falou Dimas Macedo, fruto de sua capacidade criadora. O acadêmico Jeová Batista Moura, o radialista Paulo Sérgio Carvalho e tantos outros também ficaram expostos à emoções complexas, beirando os limites da razão e da lógica.