sábado, 22 de dezembro de 2012

Centenários de Quatro Lavrenses em 2013 - Dimas Macedo

1)  Almir dos Santos Pinto

Almir dos Santos nasceu Pinto em Lavras da Mangabeira, aos 15 de fevereiro de 1913. Filho de Melquíades Pinto Nogueira, antigo prefeito municipal de Lavras, e de Isabel dos Santos Pinto.
Na terra natal, fez os estudos primários, quando frequentou as aulas da Professora Amélia Braga e o Grupo Escolar local. Vindo para Fortaleza, matriculou-se no Internado São Luiz, no mesmo fazendo o curso de admissão, em 1926. Em 1929, transferiu-se para o Liceu do Ceará, terminando naquele estabelecimento de ensino o curso ginasial em seus dois últimos anos.
Em 4 de fevereiro de 1931, seguiu para Recife, ali fazendo vestibular para a Faculdade de Medicina, a 5 de abril do mesmo ano, permanecendo na capital pernambucana até o término do primeiro ano, quando seguiu para Salvador, ali graduando-se a 5 de dezembro de 1936.
Depois de formado, estabeleceu clínica em Maranguape, onde chegou a 4 de janeiro de 1937. Por ato do Governador Menezes Pimentel, em 1940 foi nomeado médico do Instituto Carneiro de Mendonça, prestando relevantes serviços à causa da delinquência juvenil. Em 1942, após estágio no Serviço de Saúde do Exército, recebeu a patente de Segundo Tenente Médico da Reserva.
Em Maranguape, tornou-se clínico conceituado e, por ato do Interventor Andrade Furtado, foi nomeado prefeito municipal, cargo que ocupou de 19 de fevereiro de 1944 a 19 de novembro de 1945, quando foi demitido por resolução do Interventor Beni de Carvalho.
 Voltou ao cargo de prefeito de Maranguape a 5 de maio de 1946, por nomeação do Governador Pedro Firmeza, mantendo-se no mesmo até 3 de janeiro de 1947, quando requereu afastamento para candidatar-se a Deputado Estadual, sendo eleito com larga maioria de votos, aos 19 de janeiro de 1947.
 Nas oportunidades em que esteve à frente da Prefeitura de Maranguape, realizou administração operosa e progressista. Ainda naquele município, foi diretor da Maternidade Olinto Oliveira e do Instituto dos Pobres e, em Fortaleza, médico da Associação dos Merceeiros, da qual recebeu homenagem especial, com a aposição do seu retrato na Galeria de Honra da entidade, aos 31 de outubro de 1979.
  Poeta bissexto e jornalista filiado à Associação Cearense de Imprensa, em 10 de maio de 1947, por nomeação do Governador interino do Ceará, Joaquim Bastos Gonçalves, foi feito Secretário de Polícia e Segurança Pública, tendo exercido igualmente os cargos de Secretário de Saúde, Secretário do Interior e Justiça e Secretário de Educação e Cultura do mesmo Estado.
Filiado ao Partido Social Democrático (PSD), foi eleito Deputado à Assembleia Legislativa do Ceará pela primeira vez em 1947, com mandato até 1950, oportunidade em que foi integrante das comissões de Saúde Pública e Assistência Social e Segurança Pública. Reeleito em 1951, ocupou nessa legislatura a primeira secretaria da Assembleia.
 De 1955 a 1978 foi eleito, sucessivamente e de forma ininterrupta, deputado estadual, consagrando-se como o parlamentar de vida mais longa na história do legislativo cearense. Em 1947 ocupou a terceira secretaria da Assembleia e, em 1959, a presidência da mesma, voltando ao posto em 1965. Vitoriosa a Revolução de março de 1964, vinculou-se à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), sendo feito de 1973 a 1974 mais uma vez presidente da Assembleia e, de 1971 a 1974, Presidente Regional da Arena.
Membro do Conselho Regional de Medicina, do qual foi presidente, em 1973 e 1974 foi escolhido pela crônica política o Melhor Deputado do Ano. Em 1978 foi feito Primeiro Suplente de Senador, sendo que, já em começos de 1979, foi empossado no cargo de Senador da República, tendo no Congresso Nacional atuação destacada.
No Senado integrou as comissões de Relações Exteriores e de Saúde e, como suplente, as comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Regionais. Na Assembleia Legislativa do Ceará foi Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Educação, bem como da CPI do Contrabando no Estado do Ceará. Na condição de Presidente da Assembleia Legislativa, assumiu o Governo do Estado em dezessete oportunidades.
Membro da Academia Brasileira de Medicina Militar, Almir Pinto esteve presente ao Seminário realizado por essa academia, sob os auspícios da Faculdade de Medicina da Universidade de OSAKA – Japão. Como Deputado Estadual participou da Delegação Brasileira aos Congressos Mundiais de Municípios, realizados em Bangkok e Washington, tendo presidido a Delegação Brasileira que participou do Seminário de Demografia e Bioestatística, realizado em San Juan Del Puerto Rico.
Entre os seus livros publicados, enumeram-se: Como Sobrevivem os Municípios Brasileiros (1979), Discursos/79(1980), Discursos/80 (1981), Pronunciamentos do Ano de 1981 (1982) e O Parlamento em Versos (1984), este último com prefácio do Senador Luiz Viana Filho, que o qualificou de “trabalho original, possivelmente sem precedentes na história dos Parlamentos, e que representa singular depoimento para a posteridade”. Faleceu em Fortaleza, aos 19 de novembro de 1991.

2)  João Clímaco Bezerra

Nasceu João Clímaco Bezerra em Lavras da Mangabeira, aos 30 de março de 1913. Filho de Raimundo Nonato Bezerra e de Maria da Costa Bezerra. As  primeiras letras aprendeu-as na terra natal e as tomou no velho Grupo Escolar com as professoras Amélia Braga e Rosária Mota.
Em Lavras, trabalhou no comércio local, para depois transferir-se para Fortaleza, onde estudou nos Colégios São João e Liceu do Ceará, do qual saiu para matricular-se, por concurso vestibular, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, bacharelando-se em 1950.
Pela Escola de Comércio Padre Champagnat, diplomou-se contador, ali iniciando a sua carreira de professor. Exerceu também o magistério no Instituto de Educação Justiniano de Serpa, na Faculdade de Filosofia, na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade Federal do Ceará, e na Escola de Administração do Ceará.
Ocupou cargos importantes na vida pública do Ceará e do Brasil, tais os de diretor técnico de educação da Secretaria de Educação do Ceará, o de chefe de relações públicas do Banco do Nordeste e o de assessor técnico da Confederação Nacional da Indústria, no Rio de Janeiro, para onde se transferiu.
 Estreou em 1948 com o romance Não Há Estrelas no Céu, bastante elogiado pela crítica e com ele incorporando-se aos escritores tidos como criadores do romance cearense, deixando nesse livro marcas indeléveis da infância.
Em 1952, apareceu o seu segundo romance – Sol Posto que, assim como o primeiro, foi publicado pela Editora José Olympio, do Rio de Janeiro. Também de 1952 é a novela Longa é a Noite, cuja terceira edição é de 2007.
  É autor de dois livros de crônicas: O Homem e Seu Cachorro (1960) e O Semeador de Ausências (1967), e para a coleção nossos clássicos da Editora AGIR, João Clímaco Bezerra escreveu os ensaios sobre Juvenal Galeno e Humberto de Campos.
 De 1980 é o romance A Vinha dos Esquecidos. Mas um dos livros de maior relevo, a longa ficção – Os Órfãos de Deus –, ainda permanece inédito, desafiando a expectativa de seus inumeráveis leitores.
 Como jornalista, João Clímaco foi por longo tempo editorialista do jornal Unitário, em que manteve diariamente uma coluna de crônicas, praticando também a crítica literária e o ensaio com muito sucesso.
Romancista consagrado pela crítica nacional. Cronista, novelista, ensaísta, foi membro da Academia Cearense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 9, que tem como patrono Fausto Barreto, tendo falecido no Rio de Janeiro, aos 4 de fevereiro de 2006.

3)  João Gonçalves de Souza

Filho de Joaquim Gonçalves de Souza e de Joana Duarte Passos, João Gonçalves de Souza nasceu no distrito de São José, município de Lavras da Mangabeira, aos 20 de agosto de 1913.
As primeiras, letras aprendeu-as na terra natal e prosseguiu os estudos no Ginásio do Crato. Quando ginasiano, mais por questão de sobrevivência do que de vontade, teve que abandonar os estudos por algum tempo e trabalhar como apontador de estrada de rodagem.
 Concluindo a escolaridade média com sacrifício, rumou para Salvador e de lá para o Rio de Janeiro, a bordo de um navio, com uma passagem de segunda classe, concedia pelo então Governador Bahia, Juraci Magalhães.
 Em chegando ao Rio, a primeira oportunidade de emprego que lhe apareceu foi a de sacristão, que aceitou sem relutância. Progredindo assustadoramente, em 1935 matriculava-se na Escola Nacional de Agronomia, para sair Engenheiro-Agrônomo em 1939. Paralelamente, de 1935 a 1940, cursou a Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, pela qual saiu Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
  Posteriormente, fez-se Mestre em Sociologia Rural, pela Wisconsin University, localizada em Madison, nos Estados Unidos, de 1944 a 1946, com a defesa da tese – The Regional Aproach in Exploring the North Section on Brazil. Fez também estudos de doutoramento com vistas a PHD (Sociologia Comparada, Economia Agrícola e Problemas Demográficos) na American University, em Washington (D.C.), e na Maryland University, de 1957 a 1958.
  João Gonçalves de Sousa foi Assessor Técnico do Ministério da Agricultura em problemas de economia rural, de 1940 a 1953; e, como integrante do quadro de técnicos desse Ministério, fez o estudo preliminar dos municípios sob a influência de Cachoeira de Paulo Afonso, como base para a criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), publicando monografia sobre o assunto, em 1946.
  Secretário executivo, por cinco anos, da Comissão Nacional de Política Agrária, João Gonçalves de Sousa elaborou, no Brasil, os primeiros estudos com vistas aos problemas de terra e reforma agrária, na gestão do Ministro João Cleofas de Oliveira, de 1950 a 1954.
  Por concurso, fez-se Livre Docente de Economia e Sociologia Rural da Universidade Rural do Brasil (1957). Responsável pela criação do Serviço Social Rural, que funcionou entre 1955 e 1956, João Gonçalves de Sousa foi o primeiro presidente do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), e primeiro diretor executivo da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), ambos com sede no Rio de Janeiro e filiais em todos os Estados do Brasil.
   Foi também dirigente de vários seminários promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil Latino-Americano de Bem-Estar Social, no Rio de Janeiro, e diretor do Seminário Latino-Americano sobre Problemas da Terra, realizado em Campinas-SP.
   Representante do Brasil, por vários anos, junto ao Conselho da FAO, em Roma, e Chefe da Delegação Brasileira em diversas conferências internacionais de problemas econômicos, sociais e rurais, dentro e fora do continente americano (FAO, OIT, etc.).
   Foi delegado permanente do Brasil junto ao Comitê Intergovernamental Para as Migrações Europeias; Diretor interino do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da União Pan-Americana, de setembro de 1960 a janeiro de 1961; diretor do Departamento de Cooperação Técnica da União Pan-Americana, de 1956 a 1964; subchefe da Delegação do Brasil na II Conferência Extraordinária Latino-Americana da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Buenos Aires, em 1967.
  Em várias oportunidades, foi encarregado da Subsecretaria para Assuntos Econômicos e Sociais da Organização dos Estados Americanos, e assim também Subsecretário de Cooperação Técnica da Organização dos Estados Americanos, por nomeação de 30 de outubro de 1970, tendo sido Assessor do IV Período da Assembleia Geral da OEA, realizada em Atlanta, nos Estados Unidos, de 19 de abril a 1º de maio de 1974.
  Ocupou o cargo de Presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia Rural; foi Superintendente da SUDENE, de agosto de 1964 a junho de 1966; Ministro do Interior, de junho de 1966 a março de 1967; e Subsecretário da Organização dos Estados Americanos.
  Devotado aos problemas que sempre afligiram o Nordeste, sobre o mesmo escreveu os seguintes livros: The Regional Aproach in Exploring the Northeas Astern Section of Brazil – tese de doutoramento (Estados Unidos, 1956), Migrações Nordestinas – um Capítulo das Migrações Internas do Brasil (Rio, 1957), Algumas Experiências Extracontinentais de Reforma Agrária (Rio, 1963) e Nordeste Brasileiro: Uma Experiência de Desenvolvimento Regional (Fortaleza, Banco do Nordeste, 1979), representando este último um dos mais sérios estudos já escritos sobre a realidade nordestina.
  Vítima de aneurisma, João Gonçalves de Sousa faleceu no Rio de Janeiro, aos 16 de janeiro de 1979, sendo sepultado no Cemitério São João Batista daquela cidade. Na época, ocupava o cargo de Membro do Conselho de Administração do Banco do Nordeste, como representante dos acionistas minoritários.


 4)  Prisco Bezerra

Filho de José Alves Bezerra e Maria Augusto Bezerra, Prisco Bezerra nasceu em Lavras da Mangabeira, aos 27 de novembro de 1913, como descendente de duas das principais famílias daquele município.
Estudando as primeiras letras na terra natal, transferiu-se para Fortaleza, aqui concluindo os estudos secundários e matriculando-se na Escola de Agronomia do Ceará, por onde se graduou Engenheiro Agrônomo, em 1935, como integrante de uma turma de 14 doutorandos, da qual, além de seu nome, destacaram-se os de Torres Câmara e Natanael Cortez.
Depois de formado, integrou-se ao corpo docente da citada Escola de Agronomia, primeiramente como professor assistente do Departamento de Fitotécnia, por ato de 27 de maio de 1936, e depois como professor Catedrático da mesma disciplina, a partir de 19 de junho de 1953.
Na mesma instituição superior de ensino, foi chefe do Departamento de Botânica Agrícola, compreendendo as áreas de anatomia, fisiologia e sistemática, sendo ali professor de Fitopatologia e Microbiologia Agrícola, a partir de 1939, desempenhando, da mesma forma, as funções de professor Catedrático de Botânica Agrícola, do Departamento de Botânica.
 Exerceu, por igual, na Universidade Federal do Ceará, os cargos de Vice-Reitor de Planejamento e Finanças e Diretor da Escola de Agronomia, hoje Centro de Ciências Agrárias, este último, por mais de vinte anos, de março de 1946 a setembro de 1950 e de fevereiro de 1951 a agosto de 1967.
À Escola de Agronomia do Ceará deu notável desenvolvimento, emprestando crescimento, por igual, às ciências agrárias cearenses, quer nas lides do magistério superior, quer como cientista dos mais conceituados, sendo extensa, nessa área, a sua produção cultural e científica, espraiada em livros, opúsculos, teses acadêmicas e artigos publicados em revistas científicas, nacionais e internacionais.
  Na gestão da pesquisa científica e no trato das ciências agrárias, revelou-se um batalhador incansável. E em prol da melhoria das condições de ensino e pesquisa, deu o máximo do seu esforço, partilhando com os seus alunos a sua experiência e a sua dedicação à causa que abraçou.
  A partir de 1975, passou a ocupar o cargo de Professor Titular do Departamento de Biologia do Centro de Ciências da Saúde, continuando, entretanto, como diretor agregado da Escola de Agronomia, acumulando esses encargos com os de Professor Titular de Sistemática Vegetal e Diretor do Departamento de Virologia.
  Durante a sua carreira no magistério, realizou várias viagens ao exterior, notadamente ao México, Porto Rico e Estados Unidos, onde defendeu a maioria de suas teses acadêmicas. Como membro de várias associações e instituições científicas, nacionais e internacionais, o professor Prisco Bezerra faleceu em Fortaleza, aos 8 de janeiro de 1985.