DISCURSOS

Palavras na Instalação da Academia Lavrense de Letras


Linhares Filho


Agradeço intensamente a gentileza de meus pares de conceder-me a palavra nesta solenidade, quando outros mais aquinhoados de eloqüência, mais sabedores da História de nossa Terra e mais próximos dos fatos da modernidade lavrense melhor se desincumbiriam da presente tarefa. Atribuo a concessão, como outras dos meus consócios a mim, a uma gentil deferência à idade, que poucos como eu atingiram em nossa Academia, e ao amor que indiscutivelmente cantei mais que outros a Lavras.


[......] ó céu!

Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!

Entrai por mim dentro! Tornai

Minha alma a vossa sombra leve!

Depois, levando-me, passai!


Esses versos neossimbolistas, catárticos e algo obscuros de Fernando Pessoa, ouvidos agora, quando nos deparamos com a simplicidade, o bucolismo, a leveza do ambiente sertanejo de nossa Lavras, vindos que somos de um meio pesado de especulações e recursos civilizacionais, soam, de algum modo, adequados para traduzir, em sua opacidade, os nossos sentimentos, diante de certa inefabilidade destes, entre os quais está o complexo enlevo de nossa alma que, reencontrada com o chão nativo de nossa saudade, tende a levitar e, entre apóstrofes afetivas, transcender, para, depois de beijar o nosso torrão e abraçar o nosso povo, tentar livrar-se, por um instante, da ciência que nos encanta mas nos inquieta, e reviver a insciência do éden de nossa infância, quando éramos felizes e não sabíamos que o éramos.

Escreveu o poeta português, antes dos citados versos, dirigindo-se à ceifeira: “Ah, poder ser tu sendo eu! / Ter a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso!” Impossível, embora legítima, a realização desses desejos do eu lírico, por implicarem uma complexidade paradoxal, se bem que expressiva. Por isso é que ele apela para a remediadora solução do onírico poético, que se encontra no bucólico primeiro trecho citado. E, assim, Pessoa abre caminho para o milagre criativo da conciliação do saber com o não-saber, da ciência da capital, onde residimos, com a relativa inocência deste ambiente da antiga infância, a fim de conseguir-se a realização humana, a felicidade, a plenitude do Ser, as quais o espírito de nossa Academia perenemente buscará, pois queremos unir o litoral ao sertão, a metrópole ao interior, o desenvolvimento da grande urbe à simplicidade do campo e da pequena cidade, não obstante desejarmos esta sempre mais desenvolvida.

Tudo se deve à inquietação fecunda e à coragem empreendedora do poeta conterrâneo Dimas Macedo, que concebeu a idéia da Academia Lavrense de Letras, conseguiu convencer um pugilo de intelectuais da necessidade da criação desta entidade, fez a idéia transmitir-se aos demais integrantes do sodalício, e eis-nos aqui, inaugurando-o em nossa Terra, sob as bênçãos de Deus, do Padroeiro São Vicente Ferrer e sob os auspícios da Exma. Sra. Prefeita Edenilda Lopes de Oliveira Souza, da Câmara dos Vereadores do Município, e contando com o apoio de políticos influentes e conterrâneos como Eunício Oliveira e Heitor Férrer. Era preciso que uma personalidade como a do poeta, crítico literário e historiador Dimas Macedo, homem cheio de amor a esta Terra, movesse, com a sua sensibilidade, o seu idealismo e a sua ação dinâmica, os seus pares, para que esta Academia se tornasse realidade, confirmando-se, desse modo, a herança recebida da veia poética de seu pai, José Lobo de Macedo (Zito Lobo), da têmpera e do talento de seu avô, Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso) e da competência e erudição do seu tio Joaquim Lobo de Macedo (Joaryvar Macedo).

Lembremos que não só a poesia de Dimas Macedo revela o seu amoroso culto a esta gleba, mas também o livro Lavras da Mangabeira: roteiros e evocações, um verdadeiro cancioneiro de nossa cidade, acrescido de pensamentos de autores insignes sobre ela, e ainda o volume Lavrenses Ilustres, repositório histórico-biográfico, que justifica sobejamente a criação de uma Academia de Letras como esta, com patronos e membros ilustres, que fazem desta Terra uma Atenas cearense. Faça-se justiça aos ilustres nomes dos assessores diretos do Presidente, João Gonçalves de Lemos, Gilson Batista Maciel, Mário Bezerra Fernandes e Jeová Batista de Moura, integrantes da Diretoria da entidade, que contribuíram decisivamente para que ela se criasse.

Os participantes deste sodalício queremos conciliar o erudito com o popular, a teoria acadêmica com o “saber de experiência feito”, abrigando em nosso quadro de sócios tanto o graduado como o pós-graduado universitários, tanto o artista das diversas belas artes como o autodidata e o formado na escola empírica da vida. “E o pensar que a Terra formou”, conforme canto no nosso hino valorizado com a bela música do compositor Nonato Luiz, foi aventurar-se pelos meandros da civilização e ilustrar-se nos campos de Minerva (ou Palas-Atena). Esse pensar é o de todos nós, que abrigamos na pele e no sangue a luz e o calor de Apolo, colhidos nesta Terra tropical, calcinada e sofrida, mas lutadora e tenaz, para que brilhássemos longe dos nossos pagos, dos campos de cujos produtos Ceres e Diana nos alimentaram. Mas também nos banhamos com a água abençoada e fecunda do Rio Salgado, que mais parece haver nascido de uma patada do Pégaso, atualizando entre nós o feito praticado no monte Hélicon, da Beócia, para dar-nos a força do estro que nos torna criadores na Ciência, nas Letras e na Arte. Aliás, podemos também encarar o nosso rio segundo a ótica do poeta Francisco Carvalho, que escreveu:


Lavras é um mito que o Salgado banha

com seu rumor de pífaro e realejo.

[...]

Rio que embala um pégaso na entranha

fecundada de esperma benfazejo.

A chama olímpica e apolínea que daqui levamos a meios adiantados, progressistas, para que mais luzisse em nós e iluminasse outros ambientes, aqui trazemos hoje para, transfigurada, ser alçada bem alto na pira do nosso devotamento à Terra do nosso berço. De fato ofertamos a esta o grande clarão em que se transformou aquela chama, formada em nós com o sol e a energia de Lavras, cada vez mais em nós potencializados. Por isso é que rogamos:

Ó sol de Lavras, já desde a infância

por ti queimados, nos fertilizes,

para que a força de nossa ânsia

de criar nos faça sempre felizes.

Alguns se lembram, como eu, de que os rapazes do tiro de guerra daqui e de antanho, comandados pelo Sargento Valdemar, cantavam e assoviavam, pelas ruas da cidade, no alvorecer do dia, saudando o sol nascente com estes versos: “Viva o Sol do céu de nossa Terra! / Vem surgindo por trás da linda serra!” Essa evocação mistura-se a uma outra, a das alvoradas das festas do Padroeiro, e uma e outra lembrança, surgidas de ocorrências que embalaram musicalmente o despertar do nosso sono de meninos, unem, de modo sinestésico, sons e imagens, para, neste momento em que cantamos o sol que nos encanta, se transformarem em vislumbres ensolarados de uma nova era para a Cultura e a vida desta cidade.

Se ao Rio Salgado podemos confidenciar as nossas mágoas pela paradoxal doçura de suas águas salobras, quase da mesma natureza das lágrimas, ao sol de Lavras podemos contar as nossas vitórias, por ele ser, quase constantemente, pelo seu brilho, uma apoteose.

Um comportamento solidário e ontológico é o que adotamos, inspirados na concepção cristã Ut omnes unum sint (“Para que todos sejam um”) e na categoria existencial-ontológica de Heidegger: o Mitsein (“Ser-com-alguém”; por extensão, “Ser-com-os-outros”). Por isso é que se afirma em nosso hino: “Ser um com os outros é o nosso lema.” E entrevemos a transmissão de valores dos maiores aos mais novos na tridimensionalidade do tempo, rio que se confunde com o Salgado, fluindo em nós, lavrenses, do ontem para o hoje e do hoje para o amanhã:

Se em nosso peito corre o Salgado,

é bela a herança dos que virão.

E sob as bênçãos do antepassado

há de surgir perfeita a criação.

Cada um de nós, acadêmicos, cultua o patrono de sua Cadeira, mas também, na vibração do sangue que corre em nossas veias, reverencia o ícone, o oráculo de sua família, aquele que, pelo exemplo do caráter ilibado, se apresenta como paradigma de conduta de seus descendentes. No meu caso, evoco a figura do filólogo, orador e poeta Joel de Lima Linhares, patrono de minha Cadeira, como valor intelectual; e a personalidade ímpar de meu pai, o farmacêutico Dr. José Gonçalves Linhares, antigo prefeito desta cidade, político, humanista, mas sobretudo homem de ciência, que soube distribuir aos concidadãos uma assistência responsável no exercício criterioso da profissão, e impôs-se no seio da família como um chefe honrado e cheio de virtude, por isso mantendo em meu peito uma herma de luz, que a cidade não lhe erigiu de bronze, como o merecia.

Escreveu José Saramago no seu Memorial do Convento: “Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas.” Exma. Sra. Prefeita, para que o tempo das perguntas não demore mais, a V. Exa. que conseguiu reeleger-se devido à destacada administração do seu mandato anterior, ouso inquirir: por que não se construir um balneário junto ao Boqueirão que representa todo o anseio da terra: o dar, o florescer, como concebi num poema e, “aberto inteiro ao céu” coloca-se, junto com São Vicente, junto a nós, constantemente “pregando um amor candente”? E por que não construir na cidade um hotel municipal, empreendimento que, como o balneário, iria desenvolver o turismo aqui, reafirmando a nossa vocação telúrica para a hospitalidade? Sabemos que essas sugestões, Sra. Prefeita, desde há muito se encontram no consciente ou no inconsciente de lavrenses...

Esta Academia não é uma entidade político-partidária, mas nos atribuímos o exercício de uma política construtiva de vigilância, a favor da preservação e do fomento da cultura, dos princípios humanísticos e democráticos de nossa Terra, que aqui e alhures é tão decantada pela voz dos seus poetas, imaginada e reinventada pela verve dos seus ficcionistas, documentada pela acurada pesquisa dos seus historiadores, abençoada e catequizada pela missão evangelizadora dos seus religiosos, celebrizada pelo trabalho competente dos seus homens de ciência. Por isso é que “De nossa Lavras o crivo / levamos a toda parte”, e “espalhamos uns resplendores / no litoral e pelos sertões.”

Senhoras e senhores, falo em nome dos integrantes da Academia Lavrense de Letras. A nossa sensibilidade de filhos amorosos de Lavras, território que sintetiza para nós o Ceará e o Brasil, pressente, neste momento histórico de nossa vida, que a terra, a água, o fogo e o ar desta Natureza agreste mas por outro lado dadivosa, e que está em nós, querem falar-nos mas não acham palavras. No entanto lemos, na inefabilidade revelada pelo silêncio dos elementos naturais e de todas as coisas de nossa Terra, que ela nos acolhe, nos ama, nos perdoa e nos glorifica como mãe extremosa, que de nós só merece defesa, saudade, amor e veneração agora e para todo o sempre.


DISCURSO DE HOMENAGEM AO DR. GUSTAVO AUGUSTO LIMA PROFERIDO PELO PROF. GILSON MACIEL POR OCASIÃO DA REALIZAÇÃO DA FESTA JUNINA ‘UMA NOITE NAS LAVRAS – RELEMBRANDO O FORRÓ DOS PEREIROS’.
Fortaleza, 05 de junho de 2010.

Senhores e senhoras, filhos de Lavras da Mangabeira, senhores e senhoras, amigos de Lavras da Mangabeira, senhores e senhoras, simpatizantes de Lavras da Mangabeira, a Associação dos Filhos e Amigos de Lavras da Mangabeira - AFALAM está reunida, estamos em festa, em festa para celebrarmos as nossas tradições, para celebrarmos os nossos costumes, para celebrarmos os nossos valores, morais, éticos e culturais, para celebrarmos a memória daquele que em vida, arou, gradeou e sistematizou a terra, semeou e irrigou a semente, não se descurou dos tratos culturais, e deixou os frutos, a vasta, extensa, profunda e qualificada produção cultural e científica, para servir a inteligência humana no Brasil e além dos mares e dos sertões brasileiros.

Refiro-me, ao Dr. Gustavo Augusto Lima, símbolo da probidade e honradez, símbolo de respeito e dignidade, símbolo de coragem e altivez, símbolo de amor e equilíbrio, símbolo de paciência, de trabalho, de solidariedade, de renúncia, e fora escolhido, de forma unânime, pela Diretoria e pelo Conselho Consultivo da “AFALAM”, para ser homenageado, hoje, aos olhos e aplausos de todos.

“Uma noite nas Lavras”, celebra o nome, celebra o homem, Gustavo Augusto Lima, político competente, sensível, comprometido com seu tempo, comprometido com seu povo, com a sua gente, comprometido com a construção de sua “História”, professor catedrático dedicado e o cientista pesquisador que nos deixou a todos nós, grande legado na sua área de formação.

Dr. Gustavo Augusto Lima, filho do Cel. João Augusto Lima, e D. Marieta Leite Lima, era formado em Agronomia, pela Universidade Federal do Ceará, nasceu em Lavras da Mangabeira - Ceará, cidade situada às margens do Rio Salgado, e se destacou ao longo de sua existência, nos vários cargos que ocupou, a saber:

- servidor do Tribunal de Contas do Ceará; Sub-assistente da Secretaria de Agricultura do Ceará; Professor Catedrático de Agricultura Geral e Especial do Colégio Agrícola de Lavras de Mangabeira; Engenheiro Agrônomo do Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira, hoje denominado Colégio Agrícola Prof. Gustavo Augusto Lima, por força de Lei Estadual; Prefeito Municipal por duas vezes; Deputado Estadual e Patrono da cadeira número 8 da Academia Lavrense de Letras.

Descendente de tradicional família política, tinha como valor de referência o avô paterno, Coronel Gustavo Augusto Lima, Deputado Estadual, Presidente da Assembléia, Vice-governador do Ceará e Prefeito Municipal de Lavras, o qual, no dizer do historiador Joaryvar Macêdo “comandava e dispunha de um terço do eleitorado cearense.”

Dr. Gustavo Augusto Lima, primou por imitá-lo na conduta transparente, no respeito e na decência. Além de tudo, amava o trabalho que realizava em favor de sua terra, em favor de sua gente.

Como prefeito, revolucionou o processo administrativo, construindo e instalando as premissas de ascensão social dos seus conterrâneos, com a execução das metas a seguir:

Construção da atual Escola de Ensino Fundamental Filgueiras Lima; Construção do prédio dos Correios e Telégrafos; Criação do Posto Agropecuário, inclusive a compra do terreno; Construção da sede da Prefeitura Municipal; fundação do Colégio Agrícola, juntamente com o Dr. Raul Barbosa e o Dr. Vicente Augusto, cabendo a ele, fazer a aquisição da fazenda “Pereiros” e doá-la à União, para que se procedesse à edificação dos prédios a cargo do Dr. Valdemir Albuquerque.

Dr. Gustavo Augusto Lima, foi o primeiro diretor do Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira, cargo que exerceu por dez anos, com inteligência, zelo e sabedoria, estruturando-o, para servir não só ao Ceará, mas ao Brasil.

E não demandou muito tempo, para que o Colégio Agrícola alcançasse o mesmo nível de aprendizagem e competência curricular do Colégio Agrícola de Bananeiras, na Paraíba, do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, em Pernambuco e do Colégio Agrícola de Santa Teresa, no Espírito Santo. Estava vencido o desafio graças à implantação do sistema Escola-Fazenda, onde o aluno aprende a fazer fazendo. Posteriormente, o Colégio Agrícola passa a receber alunos do Amazonas, do Maranhão, do Piauí, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e de todas as regiões do Ceará.

O Colégio Agrícola, transforma-se em uma Instituição de Ensino além fronteiras, por conta de sua proposta técnica, administrativa e pedagógica, posta a serviço da formação profissional dos alunos, como Agentes de Produção e agentes de serviço, sem preterir, contudo, a continuidade de seus estudos na universidade, e isso, só foi possível, graças ao olhar inteligente e comprometido do Dr. Gustavo Augusto Lima.

Dr. Gustavo Augusto Lima, motivado pela inteligência e pelo sentimento de servir, engalfinhou-se no estudo, na leitura especializada, na observação permanente, na pesquisa científica, na maturação dos experimentos e produziu para a sociedade estudiosa brasileira, os livros a seguir:

Cultura do Arroz; Cultura do Milho; Cultura do Feijão-de-Corda; Cultura da Cana de Açúcar, todos publicados, ficando ainda para ser publicado, Cultura do Algodão e as pesquisas sobre a “Cultura do Fumo e Frutos Silvestres”, não concluídas.

Estava posta à luz, toda uma produção literária especializada, à disposição do ensino agrícola brasileiro, das Faculdades de Agronomia, das Instituições Agronômicas, das Cooperativas de Produção, enfim, do mundo do estudo, da Ciência, da reflexão e da tecnologia.

Isto, posto, vieram as manifestações críticas, e o primeiro a fazê-las foi o Dr. Guimarães Duque:

“Ele escreveu um livro completo, em linguagem simples, para estudantes e agricultores, com a sua longa experiência de técnico, para as condições do Ceará. Ele tentou ser útil na disseminação de conhecimento para os interessados aumentarem a produção e conseguiu o objetivo na comunicação.” E acrescenta: “Gustavo Augusto Lima é da geração seguidora dos Mestres Pioneiros, Humberto de Andrade, Esmerino Parente, Aristóbulo de Castro e outros, incluindo Renato Braga. Gustavo é da geração madura no estudo das questões agrícolas e o seu cabedal de saber deve ser mui aproveitado para o proveito de nossa gente.”

O Dr. Manuel Eduardo Pinheiro Campos, então Secretário de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, afirmou: “É um cuidadoso trabalho técnico de um profundo conhecedor dos assuntos da agricultura do Ceará”. O Prof. Paulo Elpídio, então reitor da Universidade Federal do Ceará, destacou: ‘é obra de grande valia para os estudantes e pesquisadores do assunto, bem como para professores e alunos dos cursos de Agronomia”.

A Associação de Engenheiros Agrônomos do Ceará manifestou-se: “publicação didática de valor técnico e cultural que bem demonstra o esforço, a tenacidade e dedicação com que o ilustre colega e professor vem pautando a sua vida profissional.”

A produção literária e científica do Dr. Gustavo Augusto Lima ganhou lugar nas bibliotecas das Escolas Agrotécnicas Federais, hoje, Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, das Universidades Brasileiras, do Instituto do Açúcar e do Álcool do Rio de Janeiro, do Instituto Agronômico, em Campinas – SP, do Instituto Riograndense do Arroz; da Embrapa, em Pelotas e na Bahia.

Essa mesma produção literária e científica tem lugar nas bibliotecas de outros países, como o Instituto Nacional de Investigações Agrárias – Madrid; a Organização Meteorológica Mundial – Genebra, a Federación Nacional de Arroceros – Bogotá/Colômbia, o Instituto Internacional de Investigações Arrozeiras – Los Bañnos/Filipinas, o Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas – OEA, Furrialba – Costa Rica e Faculdade de Agronomia da Universidade do Chile –Santiago do Chile.

D. Laura, Dr. Tavim, Dr. João Augusto, Dr. Franklin, Dra. Rejane, Dra. Cibele, Dra. Cheila, genros, noras, familiares, estamos reunidos, estamos em festa, estamos homenageando Dr. Gustavo Augusto Lima, o nome, o homem, o professor catedrático, o cientista pesquisador, o esposo, o pai, o companheiro, o irmão, o amigo.

Fazer isso, D. Laura, é celebrar a vida, é celebrar a história, é celebrar o amor, é celebrar a virtude, é celebrar a gratidão, é celebrar o trabalho, é celebrar a memória e a paz.

E eu, D. Laura, sinto-me profundamente emocionado e como eu, tantos outros que aqui se encontram, fomos alunos do Dr. Gustavo Augusto Lima, fazendo-nos absorver o bálsamo do primeiro passo, da caminhada, do trabalho e da vida, o conhecimento.

Finalmente, diante do seu trabalho de pesquisa e extensão científica, não é difícil reconhecer, Gustavo Augusto Lima, como o filho mais ilustre do seu tempo, nascido em Lavras da Mangabeira.

Muito obrigado!
Gilson Batista Maciel.



Cidadão de Fortaleza
(Discurso do poeta lavrense Dimas Macedo na Câmara Municipal de Fortaleza quando recebeu o título de cidadão fortalezense)

Dimas Macedo
Crônica

Fortaleza de noite:

eis todo um argumento

para viver a vida

plena de sentimento.



Deslizo pelas ruas

sorvendo antiga brisa.

No rio do asfalto

a noite se eterniza.



Fortaleza tem corpo

e atração fatal

que sangra nossos olhos

com lâmina de punhal.



Sou todo fortaleza,

penumbra e nostalgia.

Existo enquanto sonho

sua geografia.
Em noites de insônia

Fortaleza é assim:

é casa do espírito,

é princípio e é fim.

Mudanças




Um sopro novo percorre Fortaleza

e fere o coração e os olhos de Iracema

e se derrama dos bolsos

e se amplia pelos calçadões

e pelas praças e ruas e avenidas

e contagia a gente que trabalha

e as mulheres maduras que passeiam

e fazem compras

e entre as compras trazem

o novo espaço urbano refletido

no caos do trânsito

e points onde se bebem

contradições a leste e a oeste

de uma cidade sangrada e dividida

que de beleza e de sol está gravada

e a papéis informais submetida

pois no oceano da coca e das mudanças

no contrabando das dívidas já vencidas

as sonegações são preços que se pagam

para manter-se a cidade repartida.

Estes poemas que cabei de recitar, extraídos do meu livro Liturgia do Caos (Brasília, Editora Códice, 1996), refletem, com certeza, parte do amor que dedico a Fortaleza, e em parte constituem os fervores da minha consciência política, pois não saberia viver numa cidade sem que pudesse interagir com a plenitude das suas tentações e com os seus desafios de ordem política e social.

A mais bela cidade do mundo, Lavras da Mangabeira, situa-se na margem esquerda do Rio Salgado, no Centro Sul do Ceará. Pertenço a todos os traços e sinais que constituem a sua geografia e a sua memória ancestral e mitológica, mas é certo que Fortaleza passou a ser também a minha casa.

Fortaleza, repito, e o seu potencial lírico e amoroso incrustaram-se no meu coração de poeta e na minha alma de cidadão e militante político como se fossem, respectivamente, uma carta de navegação e uma tatuagem que sempre nos deixam a sotavento do sonho.

Falo da cidade, que agora me acolhe, oficialmente, como cidadão, para rememorar a sua geografia estética e a sua história, para viajar pela sua memória e pelo seu imaginário fabuloso, porque em Fortaleza o que menos falta é a expressão de um espaço em que as relações se tecem com os fios do mais puro linho e com o sopro dos ventos que a envolvem recitando a sua sinfonia.

Amar uma cidade é se perder pelas suas ruas, é abraçar a sua dimensão urbanística, é sentir a pulsação e a dinâmica das suas artérias, é sonhar com a sua humanização, se projetando na sua expansão virtual e no seu futuro, é sorver as resinas e os sais, a cal e o cimento, os suores e as pedras que se alojaram na sua construção.

Fortaleza, a capital dos ventos, a cidade-luz que viu a saga da libertação em primeiro lugar no Brasil, é por igual “a loira desposada do Sol”, que o gênio literário e artístico de Paula Ney transformou em símbolo de intenso amor e de paixão, vendo as suas “ruas alinhadas como os versos de um soneto”, porque a escansão poemática da cidade se faz, por igual, a partir do “Rosto Hermoso” de Vicente Pinzon, o espanhol que descobriu o Brasil em Fortaleza, antes da aventura de Cabral.

Porque do Mucuripe, senhoras e senhores, se fazem sonoros os sinos todos da cidade, a partir de poemas tecidos de sol e maresia, e de letras de sal e de neon que se gravam no céu de Fortaleza, e no dorso das suas jangadas trepidantes, que navegam por entre ventos plurais que nos vestem o corpo e o espírito, e que nos fazem livres para a grande festa do desejo.

É um prazer imenso falar de Fortaleza, essa grande civilização do semi-árido, uma cidade que aponta para o futuro com a sua indiscutível vocação internacional, e que agora, mais do que nunca, exige do seu aparelho institucional e político e dos seus dirigentes virtuais uma compreensão plural e humana dos seus problemas estruturais e dos seus espaços de convivência e de lazer.

Amo Fortaleza e por isto mesmo nela me encontro e me perco em peregrinações sucessivas, flanando pelas suas ruas e pelas suas noites, mormente pelas suas praias, por onde viajei e viajo ouvindo o marulho e o balanço das ondas, que se agitam entre a foz do Rio Ceará e a do Cocó, emitindo os sinais e os signos de uma cidade em que a água e o sal são talvez os seus elementos antropológicos distintivos.

E quando me refiro a Fortaleza, vivos estão na imaginação os seus bairros elegantes e a sua mal tratada periferia, por onde a sua população se derrama, comprimida em favelas não urbanizadas e em conjuntos habitacionais maltrapilhos. Esse lagamar periférico contrasta em muito com a imponência da cidade dos ricos, recortada por avenidas bem iluminadas e praças de pedras portuguesas.

É impossível sentir a sedução de viver em Fortaleza sem esquadrinhar, na alma, a sua geografia e a sua paisagem fascinante, porque me apraz, de primeiro, lembrar o glamour sentimental da Piedade, a atmosfera cultural do Benfica, a elegância da Praça do Ferreira, o charme incomparável da Praia de Iracema, os palácios residenciais da Aldeota, os bangalôs e sobrados do Jacarecanga, o pólo gastronômico da Varjota, a maresia que navega solta na Praia do Futuro, as velas e as vozes tingidas de sol e de libido que se agitam em toda a extensão Beira-Mar, points que constituem um retrato quase fiel de Fortaleza e da paixão dos que sabem sentir os seus mistérios.

Mas a Fortaleza com que sonho é por certo uma cidade utópica e necessária, livre da apartação social, aberta para a humanização e a dignidade, transparente na sua instância pública oficial, menos predatória em sua atuação legislativa, civilizada e democrática como todo aglomerado urbano que se preza.

O desafio de amar Fortaleza é o de sentir o aceleramento do seu descompasso ambiental e da sua mal resolvida política de transportes públicos; é o de pensar o seu zoneamento e a sua ocupação urbana, feitos por instrumentos normativos que, às vezes, não se conciliam com a Lei e a Constituição.

Mas não me cabe, senhoras e senhores, dissertar sobre a Fortaleza que é ou ainda sobre a Fortaleza que será, pois o ritual me pede tão-só que eu agradeça o título de cidadania que nesta Casa acabei de conquistar.

E o titulo que acabei de conquistar é o tributo com o qual se reconhece a dignidade de fazer literatura e de fazer a profissão de fé na alquimia da palavra ritmada, na magia da palavra fundadora do belo e no poder sagrado da palavra que reparte o sonho com aqueles que perderam o direito de sonhar.

O titulo que recebo nesta noite de glamour e festa não cabe nos recessos do meu contentamento. Pulveriza-se antes de pelos espaços urbanos da cidade, desliza pelas suas casas de pasto e pelos seus pólos de prazer e convivência, por onde espicho os meus olhos de ver e de sentir, porque sei de Fortaleza as suas avenidas, as suas seduções e o seu jeito de deitar, porque me embalo nas redes da cidade como se Fortaleza fosse os meus lençóis, como se as suas ruas fossem as minhas estações, como se o seu corpo de mulher dengosa e envolvente estivesse sorrindo para mim.

Sei que existem várias Fortalezas a quem me compete agradecer: a Fortaleza que já se fez um traço memorável da política, a Fortaleza que chora e que reclama a dilapidação do seu patrimônio cultural, a Fortaleza que dormita embriagada pela ressaca corrosiva da Praia de Iracema, a Fortaleza que lamenta a ausência de Augusto Pontes e de Cláudio Pereira, mas que se reconstrói pela irreverência do Clube do Bode, e pelos noturnos todos que se fizerem densos de embriaguez e de poesia, e que afaguei com a emoção e o afeto, ouvindo as repúblicas utópicas que ajudei a levantar no Estoril e na Academia do Sonho, na Sociedade dos Amigos do Sábado, na Confraria dos Puros e nos nichos de poder da Esquerda Democrática, no Clube dos Gatos e na Sociedade dos Poetas Vivos.

Sim, porque não podemos mensurar em Fortaleza espaços que eu não tenha palmilhado, ruas e mansardas que eu não tenha percorrido, vinhos e sabores que eu não tenha degustado, línguas e desejos que eu não tenha decifrado, e projetos de amor a Fortaleza que eu não tenha planejado, ou idiomas da sua arquitetura que eu não tenha abraçado no meu sonho.

Assim, senhores e senhores, agradeço o que fez Paulo Facó pela poesia, nomeando a mim como o representante dos poetas que essa Câmara de Vereadores achou por bem pautar e distinguir, porque aqui, de primeiro, se premia o escritor, porque aqui, de segundo, se distingue também o cidadão, porque aqui, senhoras e senhores, o espaço público da cidade também se coloca em discussão.

Digo que o meu jeito de agradecer se faz em extensão a todos os Vereadores desta Casa, e aos cuidados com que Sérgio Novaes tomou em suas mãos a grande liturgia desta noite, fazendo-a muito mais festiva e elegante, porque Paulo Facó é sereno, porque sua a sua palavra sincera e ritmada me tocou de forma profunda a emoção, e porque sempre lutamos com afinco, desde quando éramos sonhadores e estávamos proibidos de cantar.

Mas os meus olhos de ver e de sentir esta cidade são os olhos que ouvem igualmente com desvelo os sinos inquietos do meu coração, pois é com a alma em chamas e com a sensibilidade dos que amam a sua liberdade e o seu sei jeito de ser em profusão que aqui compareço para dizer de público e de tribuna que me sinto nesta noite totalmente feliz.

Feliz porque aqui me encontro como cidadão honorário da cidade que me acolheu e que me ensinou a arte de viver em comunhão, a arte de viver a minha liberdade política e a cidadania cultural que nunca deixei de praticar, a arte de intervir nas assembléias, de aprender os sentidos e os valores da democracia, e os desafios também de sustentar em público as minhas convicções e as minhas discordâncias.

Feliz porque Deus e a minha sensibilidade de poeta me ensinaram a grande lição de ouvir, a disposição irrenunciável de servir e de buscar o senso de justiça onde o senso de justiça se perdeu, de clamar pela lógica do Direito aonde somente os privilégios e a vontade cega dos agentes deixaram a iniqüidade reinar.

Fortaleza, portanto, recebe em suas hostes um cidadão irresignado e inquieto, pobre de espírito para os valores do mundo enquanto mundo, mas rico de desvelo para com o sonho, para com arte, para com a vida que escorre lenta por entre os nichos de insensibilidade e de loucura que dominam a sociedade atual.

Senhores Vereadores de Fortaleza, meus queridos amigos e conterrâneos que aqui se encontram, autoridades que aqui vieram para celebrar comigo a festa do civismo, eu lhes afirmo que a minha cidade é aqui, e que honrarei com palavras e estrelas a dignidade com que fui distinguido, o título com que fui graduado, a honraria que ficará na alma, gravada com o fogo do incenso e com os fios da cidadania, que é porta de entrada na política, e que é a porta também de realização dos grandes anseios coletivos.
Fortaleza, 13.05.2010



Discurso de lançamento do livro "AS CIDADES DE CHICO BUARQUE" - no auditório da Câmara Municipal de Fortaleza. Autora: Cristina Couto.



             Conhecido e reconhecido como um compositor capaz de colocar em cada sentença, em cada frase e em cada contexto a palavra certa, Chico Buarque de Hollanda foi considerado um verdadeiro líder, coube a ele a utilização da palavra como instrumento de luta e de protesto num período onde a Censura ceifava e queimava nas fogueiras dos atos institucionais o espírito critico de toda uma geração. Apesar das perseguições Chico manteve acessa a chama da consciência e da dignidade humana.
            Em meados do século XX, as cidades brasileiras entraram numa nova fase histórica, sendo palco das transformações ocorridas pelos efeitos produzidos na industrialização, na internacionalização da cultura e do capital, cujos núcleos estruturais foram justamente os grandes centros. O duplo movimento da cidade despertou em Chico Buarque o observador, o flâneur, o homem da multidão que passeia pelas ruas a observar a paisagem urbana. Por um lado, é nos grandes centros que se concentram as funções mais avançadas do capitalismo descrita nos versos da canção “As Vitrines”, onde o mundo do fetiche e do consumo se funde ao medo e a insegurança que passaram a dominar a vida urbana na pós-modernidade. Por outro, as cidades tornam-se objetos de intensos fluxos de população e de uma profunda redistribuição de renda: seja nos bairros nobres, com uma formação de uma elite global móvel e altamente profissionalizada, seja nos bairros populares, com a ampliação dos cinturões periféricos que hoje as circundam, onde se junta uma grande quantidade de população deserdada. Em resumo, a cidade socialdemocrata que se afirmou no pós-guerra torna-se ameaçada em suas fundações, pois o tecido social é submetido a intensas pressões que produzem uma verticalização crescente: onde os ricos tendem a se tornar ainda mais ricos, desfrutando as oportunidades disponibilizadas pela ampliação dos mercados, enquanto os mais pobres afundam na miséria, destituídas de sistemas de proteção social, da ausência de políticas públicas e da falta de compromisso dos seus governantes.
               O efeito desse duplo movimento é presente na vida cotidiana dos moradores das cidades contemporâneas: os bairros centrais são valorizados e tornam-se objetos de grandes investimentos urbanísticos, já outras áreas são corroídas pela degradação e tornam-se marginais, locais estes versados na canção “Geni e o Zepellin”, onde Chico Buarque discutiu a pobreza, a diversidade sexual, o preconceito, os poderes ali dominantes e de como tudo cai por terra quando o medo e o interesse falam mais altos.
Em decorrência da dinâmica estrutural a que estão sujeitas as cidades, não surpreende que alguns explorem o medo, transformando-o na base de uma política de controle e repressão. A curto prazo, o jogo parece funcionar: a ação repressora e as reivindicações comunitárias servem apenas para tornar tolerável uma transformação que se processa fora de qualquer controle. Para que possamos reconstruir equilíbrios socialmente aceitáveis, precisamos de tempo, paciência, empenho da sociedade e competência e vontade dos governos.
                Fortaleza hoje é uma cidade global, embora não pareça se dar conta disso. Inserida nas grandes rotas turísticas, nossa cidade é um dos centros mais importantes do Brasil e constitui um núcleo estratégico com inúmeras áreas de atividade: desde do simples passeio turístico pelas suas belas praias a mais avançada inovação da alta costura.
               Tradicionalmente, Fortaleza é uma daquelas cidades que possui um grau relativamente alto de integração social. Não lhes faltam problemas. Nos últimos anos os índices de pobreza aumentaram consideravelmente e com isso algumas áreas periféricas começaram a sofrer um processo evidente de degradação. Da mesma forma, sabemos que crescem os processos de marginalização dos mais pobres: os desempregados por longos períodos, psicologicamente fragilizados, a prostituição e os sem tetos. Cidadãos tratados como empecilho, como estorvo pratica comum nas grandes cidades. E Fortaleza não foge a regra.
             Uma das qualidades das reflexões que Chico Buarque oferece nos versos de suas canções é a capacidade de jamais fechar o discurso, deixando sempre aberto o campo das possibilidades para longos e proveitosos debates. E nesse sentido Chico é um compositor efetivamente urbano que mostra dentro da sua arquitetura poética todas as faces da cidade sem se intimidar de incomodar os poderosos e o sistema dominante. “É um poeta moderno que arrasta a tradição” no imenso bloco carnavalesco que ele mesmo denominou de “Sanatório Geral”, dando vida a personagens fictícios tão vivos, tão reais, como: Juca o cidadão relapso do Brás, o operário Pedro Pedreiro, a prostituta Ana de Amsterdã, a lésbica Bárbara, o homossexual Geni e a senhorita da janela Carolina. Todos envolvidos e levados pela grande festa, pela folia e a euforia do carnaval, deixando suas marcas e suas histórias registradas nos paralelepípedos das velhas cidades e na memória coletiva do povo brasileiro.
Afinal: tudo vai passar....
Muito obrigada!!!


DISCURSO DE GERALDA LIMA - LANÇAMENTO DO LIVRO "SERTÃO DIFERENTE E OUTROS POEMAS" DO PATRONO VICENTE DE PAROCA - CADEIRA Nº36

Caríssimos acadêmicos, primos ,primas e demais presentes.


É com muito orgulho e satisfação que dirijo algumas palavras em nome de meu pai Vicente Ferrer Lima (Vicente de Paroca).

Desde menina, acompanhei meu pai em sua perseverança ao perseguir seu ideal de ser artista. Com muita garra e com talento peculiar conseguiu seu intento: Cantor, ator,compositor, radialista e escritor.

Ás vezes tomava conhecimento de seus escritos, outras vezes não, pois, ele se reservava em escrever para si. Aos poucos fui tomando ciência do que ele realmente fazia. O que me recordo mais é o fato de vê-lo sempre mais envolvido em suas habilidades, ora escrevendo, ora pintando, ora gravando programas de rádio, ora ensaiando peças de teatro, em nossa própria residência ou em teatro, muitas das quais de sua autoria, e eu sempre acompanhava atenta.

Tenho certeza que ele está neste momento assistindo a esta solenidade e muito feliz, e agradecido pelo carinho que todos aqui presentes estão dispensando a ele.

Este momento é muito importante, não somente para ele, mas para mim e toda minha família: minha maẽ Neucila, meu irmão Vicente Junior e sua esposa Leni, meu esposo Otávio Sepulveda, meus sobrinhos Luiz Eduardo e sua esposa Fernanda, Ana Maria, Daniel, Rafael e o sobrinho neto Luiz Felipe.

Agradeço principalmente à Cristina Couto e ao Dimas Macedo pelo carinho ao indicarem o nome de meu pai para cadeira de número 36 desta ilustre academia.

Parabenizo ao Aury Porto pela sua brilhante carreira e estou muito orgulhosa de tê-lo nesta respectiva cadeira. Parabéns acadêmicos.

Em nome de meu pai agradeço a todos.



Geralda Soares Lima


DISCURSO DE POSSE DA ACADÊMICA CRISTINA COUTO - CADEIRA Nº 37 - EM 21 DE MAIO DE 2011 - EM LAVRAS DA MANGABEIRA.



Senhora e senhora, boa noite!




Embora não pareça, ou seja, do desconhecimento da maioria do nosso povo, Lavras da Mangabeira foi uma das cidades mais importantes do Estado do Ceará. Com grande influência na economia, política e cultura cearense. Não é a toa que somos conhecidos como o maior exportador de intelectual do nosso Estado. O que somos devemos a esta terra, mas o que temos devemos a terras estrangeiras, aqui não existe e nem se dá oportunidade aos seus, precisamos mostrar nosso talento e nossa imensa capacidade em outras terras.

Tenho dificuldade em visitar Lavras, a cidade parece inadequada ou perdeu o gume, “sinto-me estrangeira, forasteira do que vejo e ouço” , como disse Fernando Pessoa. Tudo mudou ou foi brutalmente descaracterizado, é como se nesse local a História tivesse sido apagada. Há alguns metros daqui, até ano passado, existiu, a casa onde nasceu e viveu um dos mais respeitados educadores do Ceará, Filgueiras Lima. Permaneceu ali por décadas, sem nenhuma placa indicativa, até ser totalmente demolida. No centro, os prédios que não foram demolidos foram descaracterizados, não sei se de propósito, ou em nome do capital, a impressão que me passa é que passaram uma borracha na memória da cidade e do nosso povo. Lavras hoje é destituída de qualquer sistema de proteção social, de políticas públicas, de compromisso do seu povo e dos governantes. Há um desinteresse, uma inércia coletiva. Para que se possa reconstruir nossa cidade é necessário que se abra mão do individualismo imposto pela vida moderna e que renasça nos lavrenses aquele antigo sentimento de coletividade, precisamos do empenho do nosso povo, competência e vontade dos governos.

Outro dia conversando com um amigo, afirmei que faço parte de uma geração perdida, que teve em Dimas Macedo, Linhares Filho, Joarivar Macedo e Batista de Lima seus expoentes, tornaram-se uma identidade, uma referência para os jovens, artistas e intelectuais do Ceará e, principalmente, de Lavras. Afirmo que somos perdidos porque os valores que herdamos já não têm nenhuma relevância numa cidade como Lavras da Mangabeira, que julgo hoje, corroída pelo provincianismo, pelo materialismo, onde o ter passou a valer mais que o ser, e anda desprovida de emoções autênticas que outrora aprendi aqui.

Agradeço a minha família, aqui presente, a minha mãe, a minha tia, ao meu irmão e ao meu filho que veio para prestigiar não só a mim, mas a cidade que ele também aprendeu a amar. Agradeço também aos familiares que não estão fisicamente presentes, em especial, ao meu pai que nos deu exemplo de coragem, firmeza e determinação, sem se intimidar de incomodar os poderosos, lutando pela igualdade social, bandeira defendida hoje pelos mais diversos segmentos.

Precisamos agora agradecer e reconhecer o valor daqueles que indiretamente fizeram a história de Lavras da Mangabeira. Pessoas tão próximas, tão queridas, trabalhadores que nem se deram conta da sua importância para o crescimento e desenvolvimento da nossa terra, nem tão pouco que eram protagonistas da história da cidade.

Agradeço e dedico este momento ao povo lavrense, ao meu pai, aos meus familiares, aos amigos, e em especial, a Dimas Macedo, a quem devo esta solenidade e a minha ascenção intelectual e profissional. Um dos maiores nomes da intelectualidade brasileira apostou e acreditou em mim. Amo vc Dimas. Obrigada!

RECITANDO FERNANDO PESSOA AURY PORTO TOMA POSSE NA ALL - EM 21 DE MAIO DE 2011 - EM LAVRAS DA MANGABEIRA.


Quando vier a Primavera, (7-11-1915)
            Alberto Caeiro.





Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.