segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Naquela Noite - Rosa Firmo



A vetusta Lavras, Princesa do Salgado com seu charme, posta no alto-jaguaribe, porta de entrada do Cariri. Fica a muitas léguas de sertão neste imenso Ceará adentro, onde tudo seria um sonho se não fossem as distâncias e as dificuldades do povo. Contudo, até esses empecilhos soluciona-se: porque as distâncias não importam a quem não quer sair de onde está; e as dificuldades, o sertanejo acostumou-se conviver com elas. Segundo Guimarães Rosa “o sertão está em toda parte”. Lavras é, pois um oásis cultural no sertão.
Ali, naquela cidade, naquela noite, naquele jantar, celebrou-se o mais inusitado dos acontecimentos histórico-cultural, o grande legado, tudo que Dimas Macedo sonhou e planejou juntamente com outros lavrenses. A noite estava encantadora, a lua postada num ângulo tão próximo, refletida nas águas do Salgado, aventurando-se enfeitiçar os poetas. A Câmara Municipal engalanada de luzes, cores e tenda de livros para receber os acadêmicos, autoridades políticas, estudantes, representantes de diversas escolas entre outros convidados.
Lavras, pois, nesse misto de antiguidade, cultura, beleza, e acirramento político, naquela noite, no seu apogeu foi agraciada com a relevante comenda, para seu engrandecimento, a Academia Lavrense de Letras. Momento ímpar, indescritível, um acontecimento sui generis, portanto o maior de todos os tempos. Um dos objetivos desse projeto: realçar a memória de seus filhos ilustre como, Almir Pinto, Afonso Banhos, Antônio Augusto, Cabral da Catingueira, Francisco Francílio Dourado, Francisco Bezerra Sampaio, Irmã Ferrer, Idelfonso Correia, Filgueiras Lima, João Climaco Bezerra, João Gonçalves, Joaryvar Macedo, Josafá de Lima, Joel de Lima, José Linhares, Padre José Joaquim Xavier Sobreira, Lobo Manso, Julieta Filgueiras, Gustavo Augusto, Gilberto Milfont, Gustavo Augusto Lima, Maria Oliveira Dias, Madre Bezerra, Manoel Gonçalves de Lemos, Moreira Campos, Prisco Bezerra, Tota Bezerra, Pery Augusto, Stela Sampaio, Sinhar D’ Amora, Vicente Augusto, Zito Lobo e José Joaquim Xavier Sobreira.
A equipe do Dimas Macedo foi bastante generosa, não deixou fora da Academia nenhum dos lavrenses que contribuíram e contribuem para seu desenvolvimento cultural; seja erudito ou popular envolvendo as diversas áreas do conhecimento.
E assim Dimas Macedo, homem de grande sensibilidade e espiritualidade instalou a Academia Lavrense de Letras para orgulho da nação Lavras da Mangabeira. Agora nas rochas do Boqueirão não somente escorrem águas do Salgado e sim o líquido transparente da intelectualidade lavrense.
Muito acertada foi a idéia do Dimas Macedo, pois, a repercussão já suscita o interesse do seu povo em querer compreender as funções dos acadêmicos e da própria Academia. Uma pergunta instigante e inteligente da adolescente Rayla Pires Bezerra Morais, durante o jantar. “E agora tia, o que vocês irão fazer com essa Academia?”. Cabe a cada um de nós darmos uma resposta condizente aos anseios da juventude lavrense com ações: profícua, pontual e contínua.


Natal , 16/12/2008





Na noite de Natal

Emerson Monteiro

Às vésperas do Natal, me vem ao pensamento uma história que li certa vez, de autoria do escritor russo Leon Tolstoi, a qual pretendo narrar em seguida.
Próximo de estrada deserta, em região russa com poucos habitantes, morava um solitário casal de anciãos. Era a época natalina. Nesse ano o inverno chegara com intensidade poucas vezes presenciada, de frio excessivo e neve acumulada, isolando ainda mais os moradores daquela área.
Determinada noite, o velhinho sonhou com Jesus a chegar em sua residência e lhe dizer que viria comemorar junto deles o seu aniversário. Podiam aguardar que, de certeza, chegaria para cearem na noite de Natal.
Ao despertar, o homem contou o sonho à mulher, que ficou feliz pela notícia recebida. Nessa hora, trataram de planejar a festa incomparável que se prenunciava. Organizariam as coisas de modo a transformar o pouco de que dispunham num laudo banquete, acrescentado de zelo e amor para com Deus.
Desse jeito se organizaram até que chegou a data prevista. Nesse dia, trabalharam um tanto mais. Casa limpa, tudo brilhando de asseio, lareira esperta e mesa pronta. Transcorreram manhã, tarde, início de noite. Os dois não se cabiam de alegres, vista oportunidade rara com a qual se deparariam.
O tempo lhes aproximava do grande momento, quando ouviram batidas na porta. Rápidos movimentos. Fustigado pela nevasca que cobria a noite de escuridão, humilde viajante, abatido de longa jornada, vinha ali pedir arrancho. Caminhara muito sob difíceis condições. As suas forças exauridas reclamavam urgente repouso.
Os dois velhinhos acolheram de bom grado o visitante. Das mínimas reservas que possuíam ofereceram ao necessitado, servindo, sem outra alternativa, o próprio alimento que haviam preparado à espera do Mestre Divino, motivo principal daquela data.
Nisso as horas se passaram e ninguém mais chegou. Tarde da noite, comeram juntos do que sobrara, indo depois se recolher. No entanto, sensação de surda interrogação permaneceu entre eles: Qual a razão do sonho auspicioso? Deus nunca falta, mas prometera lhes visitar... Ainda assim, deixaram de falar no assunto e seguiram a rotina dos dias.
Menos de uma semana depois, o ancião volta a sonhar. No sonho, de novo se avista com Jesus, vislumbrando boa ocasião de perguntar o que se verificara para não cumprir a promessa do de Natal, ouvindo dele essas afirmações inesquecíveis:
- Lembra do viajante a quem receberam na noite de Natal? - indagou o Mestre, e acrescentou: - Pois sou eu aquela pessoa tão bem recebida pelo carinho dos seus corações. Desse jeito, quando qualquer um fizer o que fizer ao menor dos pequeninos deste mundo, a mim o faz. Saiba disso quem quer crescer no caminho da Eterna Felicidade.