O escritor cearense Gustavo Barroso, que conheci no início da década de 60, em Crato, conta num apólogo, gênero literário de animais e coisas ganhar personalidade e se manifestar como seres falantes, que viajavam três cavalos por longa travessia de região desconhecida; um cavalo velho e dois potros fogosos.
Andaram que andaram até chegar a uma bifurcação de estrada que lhes deixou na dúvida quanto a que rumo tomar para seguir até o lugar que procuravam.
Perante a dúvida, sem atinar no mínimo sobre o palpite ideal, os potros começaram discussão demorada em torno da melhor alternativa. Cada um indicava a opção contrária do outro, estabelecendo-se acalorada divergência. Os ânimos esquentaram e nenhuma conciliação parecia solucionar o impasse.
Enquanto isso, o cavalo velho, silencioso, apenas observava o desenrolar dos acontecimentos, sem tomar qualquer partido. Após analisar as razões dos dois camaradas, aceitou, no entanto, de ambos a certeza, e, dirigindo-se a um deles, asseverou:
- Já que acha certo o caminho da direita, siga nele. Quanto ao senhor, - falou ao outro, que tem a certeza de que o caminho da esquerda levará aonde queremos, siga nessa direção.
E ainda ponderou: - Quanto a mim, dotado de menos reservas físicas para aventuras, permanecerei à espera do que seguiu o lado errado, porquanto haverá de passar de novo aqui neste lugar.
Assim se verificou. Depois de horas, aguardando deitado à sombra de algumas árvores, o cavalo velho assistiu voltar um dos animais, o que tomara o caminho perdido. Vinha trôpego, esgotado; suava em bicas, latanhado de espinhos e coberto de poeira.
- É verdade, aquele potro estava certo, - falou desconfiado e ofegante. – O caminho que seguiu por certo levará aonde pretendemos, uma vez que provei não ser certo o que escolhi.
Nessa hora, experiente e descansado, o cavalo velho sentenciou: - Bom, agora sabemos com clareza qual nossa orientação. Enquanto isto, o senhor aproveitará para descansar um pouco, que logo retomaremos a caminhada.
Gustavo Barroso, por seu turno, concluiu a narrativa resumindo que os que erram ensinam mais do que os que acertam, porquanto sempre voltam para reiniciar as tarefas equivocadas, a demonstrar seus equívocos. Os que acertam estes quase nunca retornam para contar das suas vitórias, levados que são para longe, nas asas imensas do sucesso.