segunda-feira, 13 de setembro de 2010

MÃE DAS DORES - Emerson Monteiro

15 de setembro, mais uma festa católica de Nossa Senhora das Dores, marcada em Juazeiro do Norte, na paróquia a ela dedicada, por fortes manifestações populares em seu louvor, com a presença de algumas centenas de milhares de fiéis daqui e provenientes de tantas outras localidades nordestinas, próximas e distantes.
O culto à santa, uma das expressões místicas da mãe de Jesus, vincula-se às tradições da gente brasileira, trazido na cultura cristã da catequese portuguesa, estabelecido nesse espírito religioso próprio das crenças ibéricas.
A Virgem prefigura, pois, os sofrimentos por que passou Maria na conta das marcas fincadas pelas agonias da paixão do Filho, assistidas no tronco da cruz, lá no alto do Gólgota.
Transpostos ao viver das populações sertanejas, tais sofrimentos indicam, na alma dessas pessoas, o espinho cotidiano das intempéries físicas do mundo de injustiças sociais e carências seculares.
Padre Cícero Romão Batista, o pároco que consagrou em Juazeiro a data, nos inícios da cidade, expressa a escolha do símbolo de mensagem transcendente da resistência aos obstáculos da vida que se vive, aqui neste chão áspero, quente, sob desigualdades, pesares, na luz da esperança em dias melhores, nos ditames de valores elevados, olhos postos nos horizontes da fé.
As condições da persistência indicam, por isso, notícias que fluem da coragem de crer e sobreviver além das limitações dos planos inferiores, bem menos reais aos fiéis do que os valores imortais de um coração religioso, resignado e temente a Deus.
A cada ano, massas humanas reúnem-se nas praças, igrejas e ruas; cantam, rezam, clamam, imploram, transpiram; alegram-se e sofrem nas despedidas; energia que circula no seio das celebrações, qual sinal infinito do amor à verdade em forma de comunhão dos que sempre voltam.
Numa transfusão suprema de bons esforços para visitar a Meca nordestina, os romeiros cumprem, há mais de século, esse itinerário que traduze seus sentimentos originais, envoltos nas dificuldades comuns. Chegam em transportes de carga, ônibus, carros menores, motocicletas, bicicletas, a pé; de todas as idades e diversos níveis. Caminham confiantes, através dos pontos históricos. Reduzem naturais obstáculos. Miscigenam culturas; fazem amizades, e por vezes ficam mais tempo, deixando expressões íntimas do mistério existencial de pessoas dignas e obstinadas, na busca dos caminhos da realização definitiva, nas estradas distantes.
Portanto, cabe aos caririenses dignificar esses lugares de que são depositários dos nordestinos que retornam sinceros para revê-los, fortes símbolos de sacralidade pura, que os alimenta no recôndito da viva imagem de Maria, também nossa Mãe das Dores.