terça-feira, 13 de julho de 2010

CÉDULAS ELEITORAIS - Emerson Monteiro

Em um desses programas de televisão que mostram personagens remanescentes da história, assisti a depoimento de um senhor alemão que presenciou o momento exato quando Hitler reuniu multidão, lotando o maior estádio de futebol de Berlim, para, depois de emocionado discurso, consultar a propósito da sua decisão de fazer frente ao resto do mundo e iniciar a Segunda Guerra Mundial, destruindo a paz e ceifando milhões de vidas.
Naquele momento de consulta popular através da aclamação pública, o entrevistado via se configurar iminente a séria catástrofe que atingiria a humanidade inteira, por conta do gesto tresloucado ali resolvido sem qualquer apelação. Contudo nada pôde fazer para impedir a horda que avassalaria os destinos da civilização, porquanto seu voto representou apenas minoria vencida, em meio aos gritos histéricos da massa humana que, favorável ao espírito do ditador incoerente e perverso, assinava cheque em branco entregue nas mãos de frio e sanguinolento psicopata.
Soubesse o elefante a força que tem, o leão não seria o rei dos animais, afirma provérbio indiano, para considerar a verdade indiscutível dos acontecimentos na balança das coletividades.
Avaliassem os eleitores o peso de cada um dos votos que depositam nas urnas, e as sociedades decerto haveriam de conquistar níveis superiores de aperfeiçoamento e progresso durante toda a sua caminhada evolutiva.
Certa vez, ouvi D. Violeta Arraes falar com propriedade a respeito do quanto o povo francês considera importantes os turnos eleitorais, instantes solenes das decisões do futuro. Isso por conta do que a França já sofreu nas garras de aventureiros incompetentes, que lhe submeteram aos traumas de tragédias imensas, porquanto nenhuma família francesa atravessou o século XX sem amargurar o drama da escolhas infelizes de irresponsáveis que dominaram o continente europeu, levando-o a marcas dolorosas e profundas.
Bertolt Brecht, vítima dos desmandos da guerra, define sem meios tons a importância da democracia no poema O analfabeto político, quando assim define:
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que de sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.