sábado, 22 de dezembro de 2012

Centenários de Quatro Lavrenses em 2013 - Dimas Macedo

1)  Almir dos Santos Pinto

Almir dos Santos nasceu Pinto em Lavras da Mangabeira, aos 15 de fevereiro de 1913. Filho de Melquíades Pinto Nogueira, antigo prefeito municipal de Lavras, e de Isabel dos Santos Pinto.
Na terra natal, fez os estudos primários, quando frequentou as aulas da Professora Amélia Braga e o Grupo Escolar local. Vindo para Fortaleza, matriculou-se no Internado São Luiz, no mesmo fazendo o curso de admissão, em 1926. Em 1929, transferiu-se para o Liceu do Ceará, terminando naquele estabelecimento de ensino o curso ginasial em seus dois últimos anos.
Em 4 de fevereiro de 1931, seguiu para Recife, ali fazendo vestibular para a Faculdade de Medicina, a 5 de abril do mesmo ano, permanecendo na capital pernambucana até o término do primeiro ano, quando seguiu para Salvador, ali graduando-se a 5 de dezembro de 1936.
Depois de formado, estabeleceu clínica em Maranguape, onde chegou a 4 de janeiro de 1937. Por ato do Governador Menezes Pimentel, em 1940 foi nomeado médico do Instituto Carneiro de Mendonça, prestando relevantes serviços à causa da delinquência juvenil. Em 1942, após estágio no Serviço de Saúde do Exército, recebeu a patente de Segundo Tenente Médico da Reserva.
Em Maranguape, tornou-se clínico conceituado e, por ato do Interventor Andrade Furtado, foi nomeado prefeito municipal, cargo que ocupou de 19 de fevereiro de 1944 a 19 de novembro de 1945, quando foi demitido por resolução do Interventor Beni de Carvalho.
 Voltou ao cargo de prefeito de Maranguape a 5 de maio de 1946, por nomeação do Governador Pedro Firmeza, mantendo-se no mesmo até 3 de janeiro de 1947, quando requereu afastamento para candidatar-se a Deputado Estadual, sendo eleito com larga maioria de votos, aos 19 de janeiro de 1947.
 Nas oportunidades em que esteve à frente da Prefeitura de Maranguape, realizou administração operosa e progressista. Ainda naquele município, foi diretor da Maternidade Olinto Oliveira e do Instituto dos Pobres e, em Fortaleza, médico da Associação dos Merceeiros, da qual recebeu homenagem especial, com a aposição do seu retrato na Galeria de Honra da entidade, aos 31 de outubro de 1979.
  Poeta bissexto e jornalista filiado à Associação Cearense de Imprensa, em 10 de maio de 1947, por nomeação do Governador interino do Ceará, Joaquim Bastos Gonçalves, foi feito Secretário de Polícia e Segurança Pública, tendo exercido igualmente os cargos de Secretário de Saúde, Secretário do Interior e Justiça e Secretário de Educação e Cultura do mesmo Estado.
Filiado ao Partido Social Democrático (PSD), foi eleito Deputado à Assembleia Legislativa do Ceará pela primeira vez em 1947, com mandato até 1950, oportunidade em que foi integrante das comissões de Saúde Pública e Assistência Social e Segurança Pública. Reeleito em 1951, ocupou nessa legislatura a primeira secretaria da Assembleia.
 De 1955 a 1978 foi eleito, sucessivamente e de forma ininterrupta, deputado estadual, consagrando-se como o parlamentar de vida mais longa na história do legislativo cearense. Em 1947 ocupou a terceira secretaria da Assembleia e, em 1959, a presidência da mesma, voltando ao posto em 1965. Vitoriosa a Revolução de março de 1964, vinculou-se à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), sendo feito de 1973 a 1974 mais uma vez presidente da Assembleia e, de 1971 a 1974, Presidente Regional da Arena.
Membro do Conselho Regional de Medicina, do qual foi presidente, em 1973 e 1974 foi escolhido pela crônica política o Melhor Deputado do Ano. Em 1978 foi feito Primeiro Suplente de Senador, sendo que, já em começos de 1979, foi empossado no cargo de Senador da República, tendo no Congresso Nacional atuação destacada.
No Senado integrou as comissões de Relações Exteriores e de Saúde e, como suplente, as comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Regionais. Na Assembleia Legislativa do Ceará foi Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Educação, bem como da CPI do Contrabando no Estado do Ceará. Na condição de Presidente da Assembleia Legislativa, assumiu o Governo do Estado em dezessete oportunidades.
Membro da Academia Brasileira de Medicina Militar, Almir Pinto esteve presente ao Seminário realizado por essa academia, sob os auspícios da Faculdade de Medicina da Universidade de OSAKA – Japão. Como Deputado Estadual participou da Delegação Brasileira aos Congressos Mundiais de Municípios, realizados em Bangkok e Washington, tendo presidido a Delegação Brasileira que participou do Seminário de Demografia e Bioestatística, realizado em San Juan Del Puerto Rico.
Entre os seus livros publicados, enumeram-se: Como Sobrevivem os Municípios Brasileiros (1979), Discursos/79(1980), Discursos/80 (1981), Pronunciamentos do Ano de 1981 (1982) e O Parlamento em Versos (1984), este último com prefácio do Senador Luiz Viana Filho, que o qualificou de “trabalho original, possivelmente sem precedentes na história dos Parlamentos, e que representa singular depoimento para a posteridade”. Faleceu em Fortaleza, aos 19 de novembro de 1991.

2)  João Clímaco Bezerra

Nasceu João Clímaco Bezerra em Lavras da Mangabeira, aos 30 de março de 1913. Filho de Raimundo Nonato Bezerra e de Maria da Costa Bezerra. As  primeiras letras aprendeu-as na terra natal e as tomou no velho Grupo Escolar com as professoras Amélia Braga e Rosária Mota.
Em Lavras, trabalhou no comércio local, para depois transferir-se para Fortaleza, onde estudou nos Colégios São João e Liceu do Ceará, do qual saiu para matricular-se, por concurso vestibular, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, bacharelando-se em 1950.
Pela Escola de Comércio Padre Champagnat, diplomou-se contador, ali iniciando a sua carreira de professor. Exerceu também o magistério no Instituto de Educação Justiniano de Serpa, na Faculdade de Filosofia, na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade Federal do Ceará, e na Escola de Administração do Ceará.
Ocupou cargos importantes na vida pública do Ceará e do Brasil, tais os de diretor técnico de educação da Secretaria de Educação do Ceará, o de chefe de relações públicas do Banco do Nordeste e o de assessor técnico da Confederação Nacional da Indústria, no Rio de Janeiro, para onde se transferiu.
 Estreou em 1948 com o romance Não Há Estrelas no Céu, bastante elogiado pela crítica e com ele incorporando-se aos escritores tidos como criadores do romance cearense, deixando nesse livro marcas indeléveis da infância.
Em 1952, apareceu o seu segundo romance – Sol Posto que, assim como o primeiro, foi publicado pela Editora José Olympio, do Rio de Janeiro. Também de 1952 é a novela Longa é a Noite, cuja terceira edição é de 2007.
  É autor de dois livros de crônicas: O Homem e Seu Cachorro (1960) e O Semeador de Ausências (1967), e para a coleção nossos clássicos da Editora AGIR, João Clímaco Bezerra escreveu os ensaios sobre Juvenal Galeno e Humberto de Campos.
 De 1980 é o romance A Vinha dos Esquecidos. Mas um dos livros de maior relevo, a longa ficção – Os Órfãos de Deus –, ainda permanece inédito, desafiando a expectativa de seus inumeráveis leitores.
 Como jornalista, João Clímaco foi por longo tempo editorialista do jornal Unitário, em que manteve diariamente uma coluna de crônicas, praticando também a crítica literária e o ensaio com muito sucesso.
Romancista consagrado pela crítica nacional. Cronista, novelista, ensaísta, foi membro da Academia Cearense de Letras, onde ocupou a cadeira nº 9, que tem como patrono Fausto Barreto, tendo falecido no Rio de Janeiro, aos 4 de fevereiro de 2006.

3)  João Gonçalves de Souza

Filho de Joaquim Gonçalves de Souza e de Joana Duarte Passos, João Gonçalves de Souza nasceu no distrito de São José, município de Lavras da Mangabeira, aos 20 de agosto de 1913.
As primeiras, letras aprendeu-as na terra natal e prosseguiu os estudos no Ginásio do Crato. Quando ginasiano, mais por questão de sobrevivência do que de vontade, teve que abandonar os estudos por algum tempo e trabalhar como apontador de estrada de rodagem.
 Concluindo a escolaridade média com sacrifício, rumou para Salvador e de lá para o Rio de Janeiro, a bordo de um navio, com uma passagem de segunda classe, concedia pelo então Governador Bahia, Juraci Magalhães.
 Em chegando ao Rio, a primeira oportunidade de emprego que lhe apareceu foi a de sacristão, que aceitou sem relutância. Progredindo assustadoramente, em 1935 matriculava-se na Escola Nacional de Agronomia, para sair Engenheiro-Agrônomo em 1939. Paralelamente, de 1935 a 1940, cursou a Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, pela qual saiu Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
  Posteriormente, fez-se Mestre em Sociologia Rural, pela Wisconsin University, localizada em Madison, nos Estados Unidos, de 1944 a 1946, com a defesa da tese – The Regional Aproach in Exploring the North Section on Brazil. Fez também estudos de doutoramento com vistas a PHD (Sociologia Comparada, Economia Agrícola e Problemas Demográficos) na American University, em Washington (D.C.), e na Maryland University, de 1957 a 1958.
  João Gonçalves de Sousa foi Assessor Técnico do Ministério da Agricultura em problemas de economia rural, de 1940 a 1953; e, como integrante do quadro de técnicos desse Ministério, fez o estudo preliminar dos municípios sob a influência de Cachoeira de Paulo Afonso, como base para a criação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), publicando monografia sobre o assunto, em 1946.
  Secretário executivo, por cinco anos, da Comissão Nacional de Política Agrária, João Gonçalves de Sousa elaborou, no Brasil, os primeiros estudos com vistas aos problemas de terra e reforma agrária, na gestão do Ministro João Cleofas de Oliveira, de 1950 a 1954.
  Por concurso, fez-se Livre Docente de Economia e Sociologia Rural da Universidade Rural do Brasil (1957). Responsável pela criação do Serviço Social Rural, que funcionou entre 1955 e 1956, João Gonçalves de Sousa foi o primeiro presidente do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), e primeiro diretor executivo da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), ambos com sede no Rio de Janeiro e filiais em todos os Estados do Brasil.
   Foi também dirigente de vários seminários promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil Latino-Americano de Bem-Estar Social, no Rio de Janeiro, e diretor do Seminário Latino-Americano sobre Problemas da Terra, realizado em Campinas-SP.
   Representante do Brasil, por vários anos, junto ao Conselho da FAO, em Roma, e Chefe da Delegação Brasileira em diversas conferências internacionais de problemas econômicos, sociais e rurais, dentro e fora do continente americano (FAO, OIT, etc.).
   Foi delegado permanente do Brasil junto ao Comitê Intergovernamental Para as Migrações Europeias; Diretor interino do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da União Pan-Americana, de setembro de 1960 a janeiro de 1961; diretor do Departamento de Cooperação Técnica da União Pan-Americana, de 1956 a 1964; subchefe da Delegação do Brasil na II Conferência Extraordinária Latino-Americana da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Buenos Aires, em 1967.
  Em várias oportunidades, foi encarregado da Subsecretaria para Assuntos Econômicos e Sociais da Organização dos Estados Americanos, e assim também Subsecretário de Cooperação Técnica da Organização dos Estados Americanos, por nomeação de 30 de outubro de 1970, tendo sido Assessor do IV Período da Assembleia Geral da OEA, realizada em Atlanta, nos Estados Unidos, de 19 de abril a 1º de maio de 1974.
  Ocupou o cargo de Presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia Rural; foi Superintendente da SUDENE, de agosto de 1964 a junho de 1966; Ministro do Interior, de junho de 1966 a março de 1967; e Subsecretário da Organização dos Estados Americanos.
  Devotado aos problemas que sempre afligiram o Nordeste, sobre o mesmo escreveu os seguintes livros: The Regional Aproach in Exploring the Northeas Astern Section of Brazil – tese de doutoramento (Estados Unidos, 1956), Migrações Nordestinas – um Capítulo das Migrações Internas do Brasil (Rio, 1957), Algumas Experiências Extracontinentais de Reforma Agrária (Rio, 1963) e Nordeste Brasileiro: Uma Experiência de Desenvolvimento Regional (Fortaleza, Banco do Nordeste, 1979), representando este último um dos mais sérios estudos já escritos sobre a realidade nordestina.
  Vítima de aneurisma, João Gonçalves de Sousa faleceu no Rio de Janeiro, aos 16 de janeiro de 1979, sendo sepultado no Cemitério São João Batista daquela cidade. Na época, ocupava o cargo de Membro do Conselho de Administração do Banco do Nordeste, como representante dos acionistas minoritários.


 4)  Prisco Bezerra

Filho de José Alves Bezerra e Maria Augusto Bezerra, Prisco Bezerra nasceu em Lavras da Mangabeira, aos 27 de novembro de 1913, como descendente de duas das principais famílias daquele município.
Estudando as primeiras letras na terra natal, transferiu-se para Fortaleza, aqui concluindo os estudos secundários e matriculando-se na Escola de Agronomia do Ceará, por onde se graduou Engenheiro Agrônomo, em 1935, como integrante de uma turma de 14 doutorandos, da qual, além de seu nome, destacaram-se os de Torres Câmara e Natanael Cortez.
Depois de formado, integrou-se ao corpo docente da citada Escola de Agronomia, primeiramente como professor assistente do Departamento de Fitotécnia, por ato de 27 de maio de 1936, e depois como professor Catedrático da mesma disciplina, a partir de 19 de junho de 1953.
Na mesma instituição superior de ensino, foi chefe do Departamento de Botânica Agrícola, compreendendo as áreas de anatomia, fisiologia e sistemática, sendo ali professor de Fitopatologia e Microbiologia Agrícola, a partir de 1939, desempenhando, da mesma forma, as funções de professor Catedrático de Botânica Agrícola, do Departamento de Botânica.
 Exerceu, por igual, na Universidade Federal do Ceará, os cargos de Vice-Reitor de Planejamento e Finanças e Diretor da Escola de Agronomia, hoje Centro de Ciências Agrárias, este último, por mais de vinte anos, de março de 1946 a setembro de 1950 e de fevereiro de 1951 a agosto de 1967.
À Escola de Agronomia do Ceará deu notável desenvolvimento, emprestando crescimento, por igual, às ciências agrárias cearenses, quer nas lides do magistério superior, quer como cientista dos mais conceituados, sendo extensa, nessa área, a sua produção cultural e científica, espraiada em livros, opúsculos, teses acadêmicas e artigos publicados em revistas científicas, nacionais e internacionais.
  Na gestão da pesquisa científica e no trato das ciências agrárias, revelou-se um batalhador incansável. E em prol da melhoria das condições de ensino e pesquisa, deu o máximo do seu esforço, partilhando com os seus alunos a sua experiência e a sua dedicação à causa que abraçou.
  A partir de 1975, passou a ocupar o cargo de Professor Titular do Departamento de Biologia do Centro de Ciências da Saúde, continuando, entretanto, como diretor agregado da Escola de Agronomia, acumulando esses encargos com os de Professor Titular de Sistemática Vegetal e Diretor do Departamento de Virologia.
  Durante a sua carreira no magistério, realizou várias viagens ao exterior, notadamente ao México, Porto Rico e Estados Unidos, onde defendeu a maioria de suas teses acadêmicas. Como membro de várias associações e instituições científicas, nacionais e internacionais, o professor Prisco Bezerra faleceu em Fortaleza, aos 8 de janeiro de 1985.






terça-feira, 11 de dezembro de 2012

VENDA GRANDE D'AURORA - Emerson Monteiro


Sob esse título, João Tavares Calixto Junior reúne em livro dos mais significativos o propósito de enfocar o município cearense de Aurora, encravado no Vale do Cariri. Obra para consulta e aprofundamento da sua história, seus costumes, etnologia, personalidades e perspectivas, eis uma edição de 300 páginas a ser lançada no próximo dia 22 de dezembro de 2012 (sábado), às 19h, no Arco Íris Magia, situado na Vila Paulo Gonçalves, daquele município.

Ganha nisto o mundo literário caririense, com produção de fôlego e estruturada nos valores da historiografia científica, totalizando trabalho que enriquecerá as letras interioranas, conduzido no nível da formação acadêmica do autor, professor aurorense vinculado profissionalmente à Secretaria de Saúde do Ceará, área da graduação do escritor.

O empenho dos autores resulta bem sucedido ao vir a lume. Nisso, horas de produção chegam a público e preenche buscas talvez improdutivas se levadas através das fontes insuficientes. Os escritores pesquisadores oferecem, destarte, meios necessários aos leitores para atender ao conteúdo e à forma. João Calixto propicia, no que tangem suas origens, a feliz concretização da presente obra, vinda a leitura e sabedoria o privilégio de poucos, de um jovem de texto acessível e pródigo.

Sou entusiasta das produções cultas do Sertão, responsáveis pela civilização do lado silencioso desta Nação. Desde as primeiras presenças humanas, esse grau de maturação cultural reserva surpresas tais esta que ora comentamos nesse momento das letras caririenses.

Qual resposta ao que andava em aberto naquilo de ler o que conta a gente, Venda Grande D’Aurora vem referenciando conteúdos úteis ao povo do lugar e ao dos demais lugares, que propõe palmilhar os territórios da Fazenda Logradouro e chegar aos páramos interpretativos logo em breve nas nossas mãos.

De novo de parabéns o universo intelectual do Sul do Ceará com este próximo lançamento.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

IR MAIS ALÉM - Emerson Monteiro



O que é isto de ir mais além? Sim, ir mais além do igualismo que envolve as rotinas deste mundo ronceiro, pesado... Significa o querer avançar nas vastidões continentais das respostas maiores aos problemas cotidianos crônicos e repetitivos... Abraçar o desconhecido das possibilidades qual instrumento da revelação de valores elevados, acima da média, essa febre diária dos só ganhos materiais, motivo de muitos viverem a existência deitados na preguiçosa de nem querer saber o que escondem os dias que nascem esplendorosos e as suas oferendas, que recebemos na sequência original das mudanças constantes, impagáveis de riqueza e promessas infinitas.

Ir mais além será, por isso, evoluir neste processo de elaborar o destino sem a mera conformação que sujeita as multidões acomodadas ficar na flor da água, restritas aos trechos iniciais do caminho longo das histórias pessoais. Essa timidez que produz mediocridade e fastio, roteiro imprudente, desestimulante, restrito a cantos escuros de servidão das massas ignaras aos senhores da guerra e da miséria dos becos.

Às vezes, uma criança quer crescer, porém o projeto familiar dos pais exige condições de repouso, banalidade e planos menos abrangentes ao grau da inteligência prodigiosa com que vem. Os próprios meios de comunicação adotam ideologias prontas para atender apenas aos limites das gerações montados nos blocos de pressão de escolas, instrumentos de poder em mãos egoístas e despreparadas. A educação nivela por baixo as aspirações que pedalam nos roteiros elaborados em gabinetes ineficientes de uma sociedade que se arrasta na lama do faz de conta.

Dar salto de qualidade no instinto de transformar a cena futura pede coragem de ânimo e impulso de transpor as barreiras opressoras de quem ativa tais mecanismos repressores da criatividade inovadora.

Poucos ou raros exercitam os mecanismos de resposta ideal que rompa com o cinturão da miséria coletiva. São os inconformados diante dos falsos valores impostos pelo velho sistema dominante. Eles existem, no entanto, graças aos quais nada se perderá jamais, porquanto força maior impõe o progresso e a correlação das energias na evolução, resultando noutras alternativas de salvação e saúde universais.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O SILÊNCIO DOS IDOSOS - Emerson Monteiro



Se há qualquer característica especial nas pessoas idosas, que sacode essa convicção irreverente que os jovens carregam de peito aberto, feita medalha de vitória colada ao peito, se trata do silêncio contundente, grave, que adorna esses senhores, essas senhoras, quietos pelos cantos à espera do farnel da derradeira viagem. 

Parados, de olhares vazios presos nas extensões infinitas do espaço, eles mergulham na distância quais enxergassem de longe as portas do Reino, o porteiro e sua chave crepuscular. Às vezes, sorriem consigo, cúmplices das saudades que, presunçosas, amaciam as bordas das camas, a alvura dos lençóis e os braços gastos das poltronas puídas, nos abrigos transitórios. 

Quando outros chegam, e quebram o clima sério dessas virtudes solitárias, de leve abrem o pano dos olhos baços e desprendem simpatia marota, como quem sabe para além dos saberes daqui de fora. E largam restos de sociabilidade nas poucas interrogações que lhes perseguem, atentos aos anos posteriores que ainda restam.

Pois bem, a solene presença desses avozinhos, campeões da longevidade, contempla netos e bisnetos, suas últimas relíquias preciosas. Passeiam pelo ar já rarefeito as ilusões que sumiram nas esquinas do passado, dança de cadeiras das gerações que saem bem devagar à coxia do teatro. Nisso, umas nesgas de alegria ainda persistem a escorrer da ponta dos dedos aos cabelos macios dos inocentes, atitude instintiva, débeis carícias abandonadas aos que tanto ensinaram a amar.

De outras feitas, contudo, ali, assim, fecham o semblante e demonstram lances pessoais de uma luta interna que lhes joga poeira às redondezas do rosto. Quais testemunhas isoladas nas primeiras sessões dos tribunais que defrontarão no campo da Eternidade, envoltos na eloquência desses julgamentos de consciência, crescem ao sabor da chama das réplicas os olhos murchos de lágrimas secas. 

Postos de face com a face do destino, o drama secular das irrealizações humanas chora, quase grita. Por isso, angustia com força quem andar por perto deles, nos respingos da tempestade, no mar imenso dos sentimentos e ações antigas. Sofrer, com eles, esses tais silêncios incontidos das crises terminais dos sonhos significa, também, sofrer dentro da gente o alerta de que se aproxima a transição das certezas. Pernas parecem quase não cumprir os trechos finais da estrada de volta para casa. Olho, contudo, assustado essa indiferença dos nossos heróis que, agora, desfazem gavetas e arrumam as malas. Aquela gravidade carrancuda virará o rosto nessa hora da verdade, impondo maior respeito. Monumentos de outrora, erguerão a riste o indicador e reclamarão coragem aos que permanecerem, quando vestirem o manto da despedida. Nessa hora, vencerão a batalha das quimeras morais e dores físicas, e repousarão, em paz, nos braços aconchegantes da ausência inevitável.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A LANTERNA DA CONSCIÊNCIA - Emerson Monteiro



Dia desses, num comentário dos que gosto de rascunhar, A dor para Buda, afirmava que guarda o pensamento estreita relação com o sofrimento humano. Do pensar vem o desejo e da não realização do desejo advém a dor. Porém se sabe que o pensamento, segundo os místicos, representa atributo essencial do espírito. Contudo há que ser dominado, burilado, invés de deixá-lo só solto, de bobeira, a dominar, dar as cartas à sua maneira.

Através do pensamento o eu exerce o discernimento na escolha, fator fundamental para exercício da liberdade. Enquanto a consciência, esta trabalha na terra de ninguém faixa de fronteira entre o finito e o infinito, bem onde vivemos nós, a todo tempo, síntese da existência individual.

Pelo pensamento livre encaminhamos a vontade na seleção das duas escolhas entre o possível e o necessário. Pensamento lúcido, fator de ponderação e conhecimento. 

Sem querer mergulhar mais ainda nas entranhas do existencialismo moderno, o resumo disso que falei significa o exercício da mais pura liberdade. Somos o que fazemos de nossa liberdade por meio da vontade, pois. 

No objetivo de responder ao enigma da existência, drama milenar dos seres racionais, permanente a cada fração de instante, conduzimos as escolhas nos praticados, o primado da vontade, porquanto o eu é a liberdade feita prática de vida, concretização da verdade pessoal.

Na realidade, aquilo denominado existência permite, desta forma, a crise de viver para escolher, ação possível antes de acontecer; e definitiva logo no momento seguinte depois de concretizada a escolha. Tal aflição recebe nomes diversos, quais angústia, desespero, absurdo. Quanto a esse gesto de lançar mão da oportunidade no exercício da liberdade, ele requer a missão do pensamento, o farol clareador dos caminhos da consciência em ação.

Conquanto espelhe a vontade na ação da prática da liberdade, nisso aprender a pensar denota corpo valioso de instrumento poderoso. Refletir, portanto, na tomada das decisões (antessalas das escolhas) alimenta o sistema da consciência e produz melhores e compatíveis resultados de valor ideal com o direito da liberdade.

O MISTÉRIO DA FÉ - Emerson Monteiro



Hoje pela manhã em pleno sol das 10h, avistei no coreto da Praça Siqueira Campos, em Crato, um pregador do Evangelho a cumprir missão de transmitir os versos bíblicos. Munido de microfone e caixa de som, repercutia no céu aberto as palavras da leitura que fazia; de chapéu e óculos, atualizava nas cabeças dos presentes, sentados, ou de pé, distantes à sobra das poucas árvores, o exercício dos conceitos cristãos, e gravei o que falava a propósito da esperança.

Longe de demonstrar dificuldade, ou timidez, o pregador exercia de pleno direito a função religiosa que lhe atende ao desejo de trazer adiante os princípios da sua convicção, ato público adequado aos tempos heróicos das tradições seculares. Fosse alguém questionar o exercício democrático e nem se daria ao gesto de levar em conta as opiniões contrárias.

Tantos e quantos ora vivem da fé autêntica, espalhados pelo mundo. Isto em época de mercantilização de valores e virtudes, safra desembalada dos falsos cristos e falsos profetas noticiados pelos livros sagrados, quando multidão padece da ausência angustiante das verdades sinceras.

Há criaturas movidos pela certeza interior das convicções que saem aos povos, munidos dessa sinceridade, e testemunham realidades sólidas a gritar dentro da alma. Estes superam barreiras de comodismo, respeito humano, inibição, e rompem nas vilas, campos e cidades, exercitando o poder supremo da Palavra, acima das limitações territoriais e dilemas pessoais. Cumprem ao pé da letra o ensino avassalador dos mestres santos, na busca de tocar corações com as luzes essenciais desse Amor sem dono, sem pátria, sem mistificação.

Algo me falou naquele momento, no aberto da praça ao sol da manhã fervente do verão sertanejo, do fogo abrasador do Espírito Santo a tocar raros seres pela dinâmica inevitável do mistério que é a fé suficiente a transportar montanhas e lançar oradores solitários na semeadura do Bem através dos viventes deste chão, solo da salvação. Experimentei nisso a paixão incontrolável dos missionários clamando no deserto das ingratidões e pedindo clemência, em reinos indiferentes, prenhes dos pecados bestiais de tronos vendidos e inúteis.

Viajantes raros insistem, portanto, na peleja de salvar a nossa Humanidade pelas suas ações em manhãs ensolaradas, disto sei, pois sinais seguem visíveis na alma santa dos simples, o que significa alimento nutritivo do sonho de paz vivo para sempre na beleza dessa gente.