sábado, 28 de fevereiro de 2009

Quem Somos?

O Brasil não tem problemas,
Só soluções adiadas

Câmara Cascudo.




O Brasil foi o último país do mundo a libertar os escravos, e, 13 de maio de 1888, retirando das fétidas senzalas e lançando nas periféricas favelas quase um milhão de afrodescendentes.
Assim, depois de Gana, floresceu a segunda maior nação negra do globo, amalgamada no cadinho da miscigenação racial, enfeixando negros, brancos, indígenas, conformando o que denominamos de raça brasileira, falando uma língua – o brasileiro.
Quem somos? Quantos somos? Quantos éramos? Negros, escravos, arrancados da África, vilipendiados por aqueles que falavam a LÍNGUA PORTUGUESA, sob a égide de um homem que falava aramaico.
Estimam em doze milhões de negros e falavam português! Todavia, 25% desta cifra, mortos nos tumbeiros, repousam nas profundezas atlânticas.
Genocídio? A cruz e o poder bélico sempre andaram entrelaçado.
Quantos foram os negros escravizados é uma indagação que nasce e morre em 1890!
Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda, em 1890, baixou polêmico ato, que muitos consideram verdadeira supressão da história escravista brasileira.
Decreto de 14 de dezembro de 1890, regulado pela Circular nº 29, de 13.05.1891:

“Rui Barbosa, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e Presidente do tribunal do Tesouro Nacional: considerando que a nação brasileira, pelo mais sublime lance da sua evolução histórica, eliminou do solo da pátria a escravidão – a instituição funestíssima que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da sociedade, inficionou-lhe a atmosfera moral;
Considerando que a República está obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria, e em homenagem aos nossos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que pela abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira;
Resolve:
1º - Serão requisitados de todas as tesourarias da fazenda todos os papéis, livros e documentos existentes nas repartições do Ministério da Fazenda, relativos ao elemento servil, matrícula dos escravos, dos ingênuos, filhos livres de mulher escrava e libertos sexagenários, que deveram ser sem demora remetidos a esta capital e reunidos em lugar apropriado da Recebedoria.
2º - Uma comissão composta do senhor João Fernandes Clapp, Presidente da Confederação Abolicionista, e do administrador da Recebedoria desta capital, dirigirá a arrecadação dos referidos livros e papéis e procederá a queima e destruição imediata, que se fará na casa da máquina da Alfândega desta capital, pelo modo que mais conveniente à comissão.”

Registros de um genocídio, que devastou a população do continente africano, foram incinerados nos fornos do Império.
Quem somos hoje?
Hoje, somos um país de vastidão continental com imensas dificuldades, pós-colonialistas, recuperando níveis educacionais, culturais, econômicos, atingindo cerca de 200.000.000 habitantes, procurando-se resgatar os seculares prejuízos ocasionados pela infâmia da escravidão negra e indígena. Quase meio milênio de exploração sistemática, recebendo a escória européia!
As gerações atuais estão desenvolvendo um país do futuro com linguajar próprio, participativo no contexto desta Aldeia Global, único no entrelaçamento racial, capaz de encontrar permanente equilíbrio vivencial.
E que idioma falamos?
As línguas dos países sofrem permanentes mutações e muitas delas desaparecem no curso do processo civilizatório com a queda dos impérios.
Analisaremos algumas realidades:

PAÍS POPULAÇÃO ÁREA/Km
Brasil 200.000.000 8.530.000
Moçambique 19.000.000 800.000
Angola 13.000.000 1.246.700
Portugal 10.000.000 92.000
Guiné-Bissau 1.300.000 36.000
Timor Leste 750.000 14.000
Macau 445.000 25,4
São Tomé e Príncipe 181.000 1.000


Vejamos, que somos cerca de 200 milhões de almas, falando e escrevendo o brasileiro com seus modismo e idiossincrasias.
Estamos construindo nossa modernidade, reunindo valores extraídos dessa miscelânea de povos e gentes, que estratificam esta Torre de Babel, que se chama Brasil.
Lusofonia é uma palavra restritiva, que concerne exclusivamente a Portugal, ao contrário da Commonwealth, que se projeta além Inglaterra, relembrando-se a tentativa da França com sua Francofonia, se debruçando nas ex-colônias.
Vislumbra-se que Portugal procura ligar-se as ex-colônias pelos laços da portuguesa saudade, da história e de um Passado, que passou!
Se Pombal vivesse hoje e quisesse impor uma unidade lingüística, via clero, abraçando o latim, suprimindo as línguas nativas, seria um personagem quixotesco da comunicação globalizante.
O português é a resultante do latim vulgar, outrora falado na Lusitânia durante a ocupação romana, revigorante no interregno de oito séculos da dominação árabe.
O Brasil não é uma elite branca!
É um universo negro, mestiço, mameluco, indigena, cafuso, jogado nos sertões ínvios da pobreza e alienados nas favelas, realidade que nós temos que resgatar, convidando-os a mesa de cidadania.
Não basta fazer intransponíveis acordos e desacordos ortográficos, que se circunscrevem a retórica das vaidades!
O Chile detém dois prêmios Nobel de Literatura – Gabriela Mistral e Pablo Neruda, que desenvolveram suas obras na unidade da língua hispânica.
O que será da Língua Portuguesa se não nos reunirmos em torno da realidade, examinando-a sob o foco da dialética da diferença?

Fortaleza, 15 de abril de 2008.

Dr. José Carlos Gentili.
Presidente da Academia de Letras de Brasília.

PARABÉNS AO NOSSO PRESIDENTE DE HONRA

Hoje, 28 de fevereiro, a Academia Lavrense de Letras teve a honra de comemorar o aniversário do acadêmico mais ilustre e querido por todos. O grande poeta e mestre Linhares Filho. O evento foi uma iniciativa do presidente da Academia Dimas Macedo. A comemoração teve como palco o Pianos Bar do Ideal Clube e contou com a presença de grande parte da ALL, do presidente da Academia Cearense de Letras, os familiares do aniversariante e alguns intelectuias cearense. Queremos parabenizar o nosso conterrâneo, desejando-lhe muitos anos de vida com muita saúde e muita lucidez.