Há poucos dias, ouvi algumas palavras de uma amiga que sofre o calvário de ter um filho viciado em crack, essa droga de consequências danosas para o futuro do usuário, formada a partir da mistura de cocaína e bicarbonato de sódio. Em depoimento dos mais sinceros, narrou o transtorno gerado na família por conta de hábito que vitima expressiva margem da juventude nos dias atuais. A agressividade e o instinto liberados na abstinência do produto ocasionam cenas de profundo sofrimento a todos, dentro de casa, reações impetuosas apenas contidas na reutilização da substância, causando nisso gastos imprevistos e situações de desânimo e infelicidade.
O testemunho presenciado faz coro com as centenas, milhares, de outras histórias espalhadas no mundo inteiro. A faixa dos atingidos pelo mal se prende às classes de menor poder aquisitivo e que provem de outros grupos de dependência do álcool e outras drogas, desajustados sociais, moradores de rua e ex-sentenciados.
Nota trágica dos tempos industrializados e cidades massificadas, a droga invade o âmbito por vezes despreparado de órgãos responsáveis pela saúde pública em graus jamais previstos, neste modelo de civilização hoje adotado. Calamidade perversa, destrói a autoestima de populações inteiras do exército de reposição da mão-de-obra do sistema, ocasionando surpresa e impossibilidades.
Por causa dos estalidos que as pedras provocam quando acesas, parecido com coisa sendo fragmentada, recebeu o nome de crack, que significa quebrar, em inglês. A fumaça desprendida pela queima atinge o sistema nervoso central em dez segundos, absorvida pelos pulmões, para gerar efeito de três a dez minutos de duração. Forte euforia, seguida de profunda depressão, condiciona quem dele se utiliza a repetir o processo, querendo, com isso, neutralizar, a duras penas, o desgaste orgânico, daí a rigorosa dependência que constrange suas vítimas escravizadas. De comum, gera também alucinações e ilusões de perseguição, ou paranóia, conforme diz a ciência.
Desenvolvido nos Estados Unidos, nas classes menos favorecidas, o crack apresenta o menor índice de recuperação de viciados entre todos os entorpecentes, enquanto que o usuário é considerado enfermo de uma doença adquirida. Além disso, em geral os familiares não possuem condições financeiras de custear tratamentos mais sofisticados em clínicas particulares, e os países ainda se debatem sob o despreparo no atendimento oficial daqueles que se submetem à química destruidora.
A propósito dessa mãe com que conversei sobre o assunto, em face da dor que no momento lhe constrange, ela recorre à força poderosa da religiosidade para encontrar conforto em meio do martírio. Isso fez com que eu apenas silenciasse, em respeito ao mistério que a isso tudo envolve nesta vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário