sábado, 4 de dezembro de 2010

CADEIRA Nº 27

José Teles da Silva (Academico)

José Teles da Silva nasceu no sítio Várzea Redonda, município de Lavras da Mangabeira-Ceará, no dia 20 de outubro de 1938, filho de pais camponeses. Seu pai Silvério Teles da Silva, sua mãe Maria Geralda da Silva.
Ao nascer era um garoto igual aos outros, pelos menos foi a impressão que causou. Porém, ele era diferente, era um poeta. Nasceu com este dom, porque não existe curso que forme um poeta e nem analfabetismo que o impeça a sua verve.
Quando José Teles completou 5 (cinco) anos de idade, a sua família transferiu-se para o sítio Carnaúba, do mesmo município, onde viveu os folguedos da infância, a irreverência da adolescência, a inquietação da juventude e a palidez da idade adulta.
Foi no sítio Carnaúba das suas lembranças que José Teles teve contato com as primeiras letras. Estudante da Escola do professor José Maria Marinheiro, onde freqüentou até concluir a 2ª série do Ensino Fundamental (antigo primário), quando seu pai de acordo com os padrões de educação daquela época contratou a professora dona Dasdores para que lecionasse em sua casa, a seus filhos, ler, escrever e contar.
José Teles estudou com a professora Dasdores até concluir a 3ª série primária, terminando aí o seu aprendizado sistematizado por professores.
Como todo artista, o poeta não habituado ao duro, trabalhando na agricultura, o que faltou em estudo, sobrou-lhe em inteligência e em engenhosidade e quando ainda muito jovem foi convidado pelo Coronel Raimundo Augusto Lima, para trabalhar em sua fazenda em serviço técnico e burocrático.
Durante 27 anos de trabalho e dedicação, foi do Coronel um funcionário, mas também um amigo, a quem foi dada toda a confiança, gerenciamento e a contabilidade de suas fazendas.
Em 1960, casou com a senhora Maria Nunes da Silva. Desse enlace matrimonial nasceram sete filhos: Maria Gorete Teles, Eva Maria Teles e Adão Teles (este gêmeo com Eva, mas falecido); José Teles da Silva Filho; Maria do Socorro Teles; Ivo Teles da Silva e o caçula Euclides Teles Nunes.
É difícil colocar o marco definidor da iniciação poética de José Teles, pois a poesia foi brotando, frondando, florando, frutificando como os pés que não se sabe, nem quando e como surgem, mais que majestosas, belas, simples e sublimes encantando a natureza.
Por não ter cursado elevado grau de instrução, José Teles não aprendeu a técnica métrica, rítmica e erudita, mas ele não precisa das técnicas, pois nasceu com o dom para rimar, sentir, sofrer e cantar a vida. Os versos fluem naturalmente.
Desenvolveu e desenvolve sua arte de paródias, repentes, compõe músicas e poemas promovendo encontros sociais e políticos, além da vasta publicação da literatura de cordel como podem perceber na sua obra.
José Teles tornou-se o poeta popular de Lavras da Mangabeira, que durante várias décadas vem cantando sua poesia em palanques, comícios políticos, louvores ao Padroeiro São Vicente Ferrer, as tristezas da seca sertaneja, crônicas social e as belezas e bravuras lavrenses.
zeteles_poeta@hotmail.com



Cabral da Catingueira (Patrono)


Antônio Cabral de Alencar (Cabral da Catingueira), nasceu aos 23 de março de 1903, no Sítio Vitorino, no Riacho do Rosário, Município de Lavras da Mangabeira, e faleceu na mesma cidade aos 3 de novembro de 1976. A sua produção literária é imensa, valendo citar Feijão, Moça do Pezão, Poesia do Boqueirão, Assassinato de Alexandre Benício.
Quinco Limeira, bom poeta, certa ocasião estava na casa de Cabral da Catingueira e, à noite, choveu muito e ele, então disse: “quando chegar em casa vou plantar...é pena não ter feijão ligeiro, para colher mais cedo”. O amigo, então, disse: “não plante hoje não, deixe para amanhã que eu mandarei deixar um litro de feijão ligeiro pra você, pode esperar tranqüilo, ta?” Mas o poeta Cabral se esqueceu e Quinco Limeira esperou, esperou, passaram-se meses e mezes, e nada do feijão chegar...quando completou um ano, Quinco Limeira fez uma décima criticando o colega poeta:
Mote: Quem quiser fazer fartura
Dê uma semente ligeira
Peça um litro de feijão
A Cabral da Catingueira.

Eis a décima:

Ele mandou para mim
O litro de um feijão
O mesmo era pintadão
Parecia um surubim
Bom eu nunca vi assim
Para a nossa agricultura
Plantar demais é loucura
Porque se perde um bocado
Basta plantar um punhado
Quem quiser fazer fartura

Plantei num sábado a tardinha
Com seis dias estava olhando
Feijão encanivetado
Em toda rama já tinha
Além disso ele continha
Folhas como uma videira
Voltei e disse a caseira:
Mulher, já temos feijão
Causou-me admiração
De uma semente ligeira


Vizinhos ali passavam
Por onde eu tinha plantado
Depois de ter bem olhado
Admirados ficaram
E dali me perguntaram:
Limeira, isso é galanjão?
Eu não prestava atenção
Nenhum momento siquer
Quem quiser saber se é
Compre um litro de feijão

As folhas desse feijão
Me representava um brio
Como se fosse um plantio
Lá das quintas de adão
Em toda vejetação
Desta flora brasileira
Foi uma semente ligeira
No modo de produzir
Mas só se pode pedir
A Cabral da Catingueira



Cabral da Catingueira, então, responde ao colega Quinco Limeira, com algumas décimas sob o Mote seguinte: “Não arranjei portador/Que fosse sábado pra feira/Para levar o feijão/Que prometi a Limeira”.

Na sexta-feira à tardinha
Do corrente fevereiro
Selei o meu marinheiro
Fui à vizinhança minha
Pra ver se por ali tinha
Quem me fizesse um favor
De levar para um senhor
A encomenda prometida
Dei a viagem perdida
Não encontrei portador
.
Fui até o Vitorino
Branco, Pilões e Tapera,
Lugares que sempre era
Meu trecho desde menino
Lá tomei outro destino
Voltei por outra ribeira
Fui ao sitio Cajazeira,
Volta, Junco e Buxaxá
Mas não encontrei por lá
Quem fosse sábado pra feira

Era uma noite de lua
Já quase de madrugada
Encontrei um camarada
E disse a ele, se influa
Vá amanhã pra rua
Porque tenho precisão
Ele respondeu que não
Daí eu fiquei atôa
Sem achar uma pessoa
Para levar o feijão

A barra da aurora já vinha
Ao amiudar o galo
Dei rédea a meu cavalo
Voltei pra minha casinha
Andei quase a noite inteira
Na achei quem fosse à feira
Pra fazer compra ou venda
E levar a encomenda
Que prometi ao Limeira.
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