sábado, 4 de dezembro de 2010

CADEIRA N° 18

Nonato Luiz (Academico)


“Ouso afirmar que Raimundo Nonato de Oliveira, um cearense de olhos cor dos mares cearenses, sua terra, de riso franco e aberto, é um dos maiores violonistas do mundo”. Com estas palavras o crítico Ronaldo Bôscoli abre a sua coluna “Eles & Eu”, estampada no jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, edição de 21 de fevereiro de 1983, isto para testemunhar a existência de um dos mais expressivos artistas brasileiros de todos os tempos, nascido no Distrito de Mangabeira, Município de Lavras, aos 10 de agosto de 1952, e batizado na Capela de São Sebastião do mesmo lugarejo com o nome de Raimundo Nonato de Oliveira, filho de Pedro Luiz Sobrinho e de Alcides Vitória de Oliveira. “Com apenas três anos de idade, ele ganhou um cavaquinho de brinquedo do pai e, a partir daí, seu amor pela arte, principalmente pelas cordas, dava os primeiros passos”. Com pouco mais de dez anos já se encontrava matriculado no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, sendo que dois anos depois, isto é, aos doze anos, já formava ao lado de professores da Orquestra Sinfônica de Fortaleza. Em 1975, Nonato Luiz deixou o Ceará com destino ao Rio de Janeiro e dali fez seu nome projetar-se pelo resto do mundo. Do Rio, pouco tempo depois, seguiu para São Paulo, onde participava de dois sucessivos concursos de violão, de ambos saindo vitorioso e de ambos auferindo o primeiro lugar. Com a vitória, volta a Fortaleza e aqui matricula-se e é aprovado no vestibular de música, retornando na oportunidade às aulas do conservatório, as quais havia anteriormente abandonado. Mas sente-se novamente em choque com o meio e mais uma vez ultima o seu regresso para o Rio de Janeiro, indo na oportunidade matricular-se no Instituto Villa Lobos, isto para abandonar os estudos pouco tempo depois e, de uma vez por todas, dedicar-se às suas atividades de violonista. Em 1978 participou de um novo concurso de violão, desta feita no Teatro Vanucci, do Rio de Janeiro, concurso esse que reunia cinqüenta concertistas de todo o Brasil, executando peças de Bach, Villa Lobos, Schumann e diversos outros músicos eruditos. No certame participa executando duas músicas de sua autoria e com as quais é apontado vitorioso pelo júri formado por Billy Blanco e Radamés Gnatalli, entre outros expressivos críticos de música. E, aureolado, é na oportunidade convidado por Fagner para participar do antológico “Soro”, lançado em 1979. Posteriormente, integraria o também antológico “Violão de Ouro”, composto por peças selecionadas em concurso então promovido pela TV Globo, do Rio de Janeiro. E, a partir de então, não pára mais de crescer. Em 1980 lançou o seu primeiro LP individual, intitulado Terra, que o crítico de música Ramos Tinhorão, do Jornal do Brasil, apontou como um dos melhores lançamentos musicais do ano, na oportunidade acrescentando que “o violonista cearense, estreante em disco, revela uma forma brasileira de descobrir novas sonoridades em seu instrumento, refletindo não apenas a realidade musical de sua região, o Nordeste (como nos arranjos de Mulher Rendeira e Reflexões Nordestinas), mas aproveitando ainda recursos do choro carioca e formas eruditas”. Depois de Terra, retornou à composição, produzindo então mais de duzentas músicas instrumentais, além de diversas composições populares, isto para, em 1982, depois de uma série de concertos em várias capitais do Brasil, lançar o seu segundo LP independente, intitulado Diálogo, gravado ao vivo, pela CBS, por ocasião das suas apresentações, na Sala Cecília Meireles, ao lado do conhecido violonista francês Pedro Soler, que no momento prepara a continuidade do trabalho de ambos, na Europa, devendo os dois se apresentarem ainda nos Estados Unidos, México e Argentina. E na apresentação que a CBS escreveu para este seu segundo LP, lê-se que “é importante ressaltar que uma das grandes satisfações de Nonato é nunca ter precisado sair do Brasil para ser reconhecido como um dos maiores violonistas do mundo, conseguindo ser popular sem prejuízo de suas características de músico de formação erudita”. Nonato Luiz já realizou concertos pelo Brasil inteiro, desde o modesto cinema de Brejo Santo, interior do Ceará, até às maiores e mais especializadas salas do País, tais como Museu de Arte de São Paulo, Teatro Municipal de São Paulo, Sala Cecília Meireles, Teatro Santa Isabel, de Recife, Sala Sidney Miller, da Funarte, e Teatro Villa Lobos, do Rio de Janeiro, sempre ao lado dos mais expressivos nomes da música erudita nacional e internacional. É ele, segundo o jornal Diário do Nordeste, edição de 25 de março de 1983, “o maior violonista do Brasil”. Um violonista plural, um músico que, segundo a crítica, sabe muito bem evidenciar a força da musicalidade erudita-popular em toda a sua plenitude. Dizer simplesmente que Nonato Luiz é o maior violonista do Brasil e um dos maiores violonistas do mundo, creio que isto já seria suficiente para qualificá-lo como um dos mais expressivos cearenses da sua geração, senão um dos instrumentalistas latino-americanos mais importante da atualidade. Sobre Nonato Luiz, esclarecedor é o texto de Rogaciano Leite Filho, intitulado “O Sonho de Nonato Luiz” e estampado em O Povo, edição de 06 de janeiro de 1983, o qual, pela lucidez que representa para a compreensão da criação musical desse admirável instrumentalista, aparece aqui parcialmente transcrito. Ei-lo: “Quando Nonato Luiz está no palco, todo o clima da platéia costuma influenciar a sua apresentação. Dependendo da atenção, dos fluidos percebidos logo na primeira música, pode dar-se por inteiro, improvisando e acrescentando em cada nota uma maior clareza, uma nova emoção. Daí então tudo passa a girar em torno de sua desenvoltura, com o som crescendo, evoluindo e exprimindo o domínio e a sua técnica adquirida do violão no decorrer da vida. O teatro torna-se neste instante uma espécie de templo em que a concentração da música é desencadeada do coração. Um ritual de beleza revitalizada na expressão verdadeira de um artista consciente do seu ofício. Enquanto o instrumento se pronuncia através de cada compasso, Nonato Luiz persiste ainda mais na busca do som mais perfeito. O contato diário com o violão proporciona a calma desejada também aos seus momentos mais íntimos, ajudando a enfrentar o cotidiano do mundo acumulado de violência ou angústia. É como se a execução de uma música servisse para preencher algum vazio no corpo ou na mente, acrescentando uma maior força para continuar o caminho nesta louca melodia que é a vida. Para Nonato Luiz, o violão é um instrumento infinito, repleto de possibilidades múltiplas. Surpreende-se quase sempre com a variedade de acordes e harmonias que consegue produzir. Por esta razão, cada momento de compor se torna um desafio renovado para este artista que se relaciona com a criação como algo vivo, emergente, pronto para acompanhá-lo aos mais impossíveis sonhos. No violão reside a fonte para Nonato inovar a sua técnica musical desenvolvida desde os primeiros anos de criança. Foi através do violino, bandolim e cavaquinho que se iniciou na aprendizagem do som. E bem cedo, quando da apresentação dos mais renomados cantores em Fortaleza, a sua presença já era indispensável, conseguindo neste tempo ganhar os melhores aplausos”. É no violão, pois, que inquestionavelmente, se concentra toda a criação e toda a impetuosidade de Nonato Luiz. Aliás, foi ele próprio quem afirmou que a sua força é a música concentrada no instrumento que assumiu como forma de materializar as suas potencialidades musicais. Eu diria mais: a sensibilidade musical de Nonato Luiz é constelação. É um novo clarão a brilhar no contexto da arte brasileira atual.
Fonte: MACEDO, Dimas. Lavrenses Ilustres. p. 217.
http://www.nonatoluiz.com.br/




Gilberto Milfont (Patrono)

João Rodrigues Milfont é cantor, compositor, seresteiro e poeta. Nasceu João Milfont Rodrigues em Lavras da Mangabeira, aos 7 de setembro de 1922. Filho de José Fonseca Rodrigues (Primo Rodrigues), antigo tabelião público em Lavras, e de Maria Milfont Rodrigues. Com pouco mais de um ano de idade transferiu-se para Fortaleza, onde passou a infância e adolescência, com seus avós, e se iniciou na música como cantor e compositor. Em 1943, transferindo-se para o Maranhão, fez temporada na Rádio Timbira de São Luiz, de onde saiu para a Rádio Tabajara de Natal, em 1944. Fez temporada, também, na Rádio Clube de Recife e, em 1945, na Rádio Sociedade da Bahia. Aos 2 de janeiro de 1946, já no Rio de Janeiro, inicia temporada na Rádio Mayrink Veiga, passando desta para a Rádio Tupi, desta última para a Globo, para fixar-se, já como profissional, na Rádio Nacional, e isto por mais de 30 anos, de 1948 a 1978, quando ingressa na TV Educativa do Rio de Janeiro. Autor de mais de 300 composições musicais, com participação em mais de 12 LPs, já em 1947 aparece seu primeiro sucesso de carnaval, “Meu Prazer”, da autoria de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. No ano seguinte, como também em 1949 e 1950, ganha sucessivamente três carnavais cariocas, com as músicas “Um Falso Amor”, “Batendo Cabeça” e “Pra Seu Governo”, todas da autoria de Haroldo Lobo. Aplaudido nos melhores palcos brasileiros, Gilberto Milfont já gravou pela RGE, RCA, CHANTECLER, CONTINENTAL, fez a série Cem Anos de Música Popular Brasileira e no final dos anos 60, num concurso de âmbito nacional, foi sagrado o melhor seresteiro brasileiro. Entre seus sucessos gravados vale destacar: “Pra Seu Governo”, “Senhora”, “Gereboabo”, “Batendo Cabeça”, “Maringá”, “As Aparências Enganam”, “Castigo” e “Timidez”. E a sua melhor composição musical, “Reverso”, já foi gravada, entre outros, por Sílvio Caldas, Orlando Silva, Dalva de Andrade, Chico Alves, Tito Madi e Trio Los Panches (do México). Alto funcionário da TV Educativa do Rio de Janeiro, com atuação no Projeto Minerva, membro da Comissão de Assuntos Culturais do MEC, para onde foi aprovado, aliás, em 1º lugar, pertencente à geração dos melhores nomes da Música Popular Brasileira, como Sílvio Caldas, Orlando Silva, Dalva de Andrade, Chico Alves, Carlos Galhardo, Altamiro Carrilho, Nélson Gonçalves, e outros mais, é Gilberto Milfont o maior representante cearense da MPB e um dos maiores seresteiros de sua geração. Em 1978 foi escolhido para integrar o Projeto Pixinguinha que percorreu o Brasil de Sul a Norte, divulgando a MPB. À sua carreira de artista já foram dedicados, exclusivos, dois programas do Mobral-Projeto Minerva e as glórias e conquistas de sua vida artística já mereceram reportagem especial no jornal O Povo, de Fortaleza, além de inúmeras outras homenagens que se lhe têm sido prestadas, aqui e em outros Estados. Tornou-se nacionalmente conhecido com o pseudônimo de Gilberto Milfont.
Fonte: MACEDO, Dimas. Lavrenses Ilustres. p. 165.

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