quarta-feira, 6 de setembro de 2017

PREFÁCIO - Linda Lemos

A autora do livro “Olhando de Minha Janela”, Rosemary Amorim Gonçalves de Lemos, nascida no Rio de Janeiro, foi uma criança saudável, alegre e bonita. Jovem advogada, inteligente,  sabia cativar as pessoas. Estatura alta, postura elegante, vestia-se bem e sabia pisar ao chão com dignidade. Cabelos grandes, lisos, claros e bem hidratados, refletiam o vigor da juventude, confirmada na cor da pele levemente bronzeada.

Ao longo da vida, minha prima Rosemary recebeu amor dos pais, João Gonçalves de Lemos e Maria Ilza, irmãs, Ercília e Izabel, e muito carinho de todos os familiares.  À demonstração desse afeto  ela retribuia com o sorriso marcante e expressivo que trazia da terna infância. Olhos que riam carinhosamente  para a vida.  Rosemary nos deixa os 39 anos, quando o seu coração silencia num fim de tarde, 02 de fevereiro de 2009, em pleno carnaval.  E assim perdemos a alegria e beleza jovial,  a garota que sabia sorrir com os olhos.

Após "brigar" com Deus, por não conseguir assimilar a perda da filha, João Lemos consegue, finalmente, entender  que a sua estranheza com o mundo cotidiano é que ele é todo montado em cima da ilusão da “vida total”, plena. O mundo cotidiano que nós criamos é todo voltado para a vida como se ela não acabasse. A morte é disfuncional: quebra o encanto das mil e uma noites contemporâneas.  Após entender  que a morte é a certeza negada e o luto, o caminho para uma nova etapa de vida, o pai de Rosemary organiza os escritos da filha.  Ele já está construindo uma nova identidade, novas crenças, novos sonhos. E aqui está a prova. Esta linda obra, bela declaração de amor incondicional de um pai à sua filha. Se perder um filho é amputar a alma, arrisco dizer que João Lemos já compreende que “a vida e o amor não deixam de ser belos por serem finitos”.  E passa esta mensagem para muitas outras pessoas. Olhando da minha janela, vejo os escritos do coração de João Lemos.

Algumas coisas na vida são difíceis de entender. Uma interpretação e compreensão do mundo a sua volta nada mais é do que um ponto de vista, e portanto,  a vista de um ponto.  Oportuno, talvez, frisar o escritor Leonardo Boff, com quem Rosemary comungava idéias e ideais. Expoente da Teologia da Libertação e professor universitário em vários universidades do Brasil e do exterior, sua produção literária  é superior a 60 livros, um deles “O casamento entre o céu e a terra, publicado em 2001, composto de 30 contos indígenas e das principais contribuições deste povo à globalização. Contos simples, que falam do amor, do fogo, dos pássaros, da morte, da vitória-régia, da terra, do céu, das estrelas, da mandioca, do guaraná, do beija-flor e de tantos outros assuntos do dia a dia da gente simples.

O título da obra,  inspirada nos índios samis, da Suécia. Quando Leonardo Boff, em visita, ouve do cacique: “casar o céu com a terra significa manter junto, Deus e a natureza, o homem e a mulher, os velhos e os jovens, o trabalho e a diversão, a vida e a morte. É  combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade.”



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