A autora do livro “Olhando de Minha Janela”,
Rosemary Amorim Gonçalves de Lemos, nascida no Rio de Janeiro, foi uma criança
saudável, alegre e bonita. Jovem advogada, inteligente, sabia cativar as pessoas. Estatura alta, postura
elegante, vestia-se bem e sabia pisar ao chão com dignidade. Cabelos grandes, lisos,
claros e bem hidratados, refletiam o vigor da juventude, confirmada na cor da pele
levemente bronzeada.
Ao longo da vida, minha prima Rosemary
recebeu amor dos pais, João Gonçalves de Lemos e Maria Ilza, irmãs, Ercília e
Izabel, e muito carinho de todos os familiares. À demonstração desse afeto ela retribuia com o sorriso marcante e
expressivo que trazia da terna infância. Olhos que riam carinhosamente para a vida.
Rosemary nos deixa os 39 anos, quando o seu coração silencia num fim de
tarde, 02 de fevereiro de 2009, em pleno carnaval. E assim perdemos a alegria e beleza jovial, a garota que sabia sorrir com os olhos.
Após "brigar" com Deus,
por não conseguir assimilar a perda da filha, João Lemos consegue, finalmente, entender
que a sua estranheza com o mundo
cotidiano é que ele é todo montado em cima da ilusão da “vida total”, plena. O
mundo cotidiano que nós criamos é todo voltado para a vida como se ela não
acabasse. A morte é disfuncional: quebra o encanto das mil e uma noites
contemporâneas. Após entender que a morte é a certeza negada e o luto, o caminho para uma nova etapa de
vida, o pai de Rosemary organiza os escritos da filha. Ele já está
construindo uma nova identidade, novas crenças, novos sonhos. E aqui está a
prova. Esta linda obra, bela declaração de amor incondicional de um pai à sua filha.
Se perder um filho é amputar a alma, arrisco dizer que João Lemos já
compreende que “a vida e o amor não deixam de ser belos por serem finitos”. E passa esta mensagem para muitas outras
pessoas. Olhando da minha janela, vejo
os escritos do coração de João Lemos.
Algumas coisas na vida são difíceis de
entender. Uma interpretação e compreensão do mundo a sua volta nada mais
é do que um ponto de
vista, e portanto, a vista de um ponto. Oportuno, talvez, frisar o escritor Leonardo Boff, com quem Rosemary comungava idéias e ideais. Expoente da Teologia da Libertação e professor
universitário em vários universidades do Brasil e do exterior, sua produção
literária é superior a 60 livros, um deles
“O casamento entre o céu e a terra, publicado em 2001, composto
de 30 contos indígenas e das principais contribuições deste povo à globalização. Contos simples,
que falam do amor, do fogo, dos pássaros, da morte, da vitória-régia, da terra,
do céu, das estrelas, da mandioca, do guaraná, do beija-flor e de tantos outros
assuntos do dia a dia da gente simples.
O título da
obra, inspirada nos índios samis, da
Suécia. Quando Leonardo Boff, em visita, ouve do cacique: “casar o céu com a
terra significa manter junto, Deus e a natureza, o homem e a mulher, os velhos
e os jovens, o trabalho e a diversão, a vida e a morte. É combinar o cotidiano com o surpreendente, a
imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na
plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a
felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade.”
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