quarta-feira, 6 de setembro de 2017

ENCONTRO DOS ESCRITORES FERNANDO PESSOA E DOSTOYEVSKY EM LAVRAS DA MANGABEIRA - Linda Lemos.



Aconteceu, em 21 de maio de 2011, a posse da escritora Cristina Couto e do teatrólogo Aury de Araújo Correia, conhecido pelo nome artístico de Aury Porto, na Academia Lavrense de Letras, ocupando as Cadeiras 36 e 37, respectivamente. Os pronunciamentos dos novéis acadêmicos, belos e muito contundentes, emocionaram todos os presentes.

Aury Porto trouxe para o evento um dos maiores escritores de todos os tempos, o português Fernando Pessoa. E o faz bonito. “Felicidade. Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário... Se achar que precisa voltar, volte!”  E eu voltei. Não sou poeta que “... finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”.

E depois o teatrólogo anunciou ao público: “Depois de conversa com uma pessoa que conheci ontem, Linda, reporto-me à obra O idiota, um dos mais notáveis romances do gênio russo, Dostoyevsky”Sua obra explora a psicologia humana num conturbado contexto político, social e espiritual da sociedade russa. Para os críticos, um dos maiores psicólogos da literatura mundial. E assim, chega um dos mais proeminentes escritores no século XIX, precursor do movimento filosófico existencialismo, para quem a guerra é a revolta do povo contra a idéia de que a razão orienta tudo. Fyodor Mikhaylovich Dostoyevsky  em Lavras da Mangabeira, sob a proteção de São Vicente Ferer, em noite de brisa amena, raridade sertaneja, distante do inverno russo que cobre de neve encantos, encontros e desencontros.

Por um segundo, Aury Porto e eu nos olhamos, em cumplicidade ideológica. Emocionada por tê-lo convencido a trazer tão ilustre convidado para nossa festa, em estado de êxtase pela percepção social da obra, não contive a emoção: após apresentação, corri para abraçá-lo, levando comigo afetuoso agradecimento, isto na terra onde nasceu meu pai, o médico e escritor Manoel Gonçalves de Lemos.

Compareceu também à festa o poeta Zito Lobo, com o seu livro Trovas e Poemas, declarando amor eterno à sua amada Eliete. O mensageiro desse amor, foi o seu filho, Dimas Macedo, celebridade literária contemporânea, neto do poeta de versos sociais Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso). Na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que acolheu o evento, o Príncipe dos Poetas Populares Lavrenses, José Teles da Silva  lembrou que estamos no século XXI. Vicente Paulo Lemos arrancou aplausos quando proclamou: “Em Lavras da Mangabeira/Lavram-se ricos cristais/Quem não é Padre é Doutor/Ou tem outros cabedais/Também o agricultor/Quando lavra é muito mais.”

Cristina Couto e Aury Porto receberam mensagens de boas vindas, enviadas pelo Presidente João Gonçalves de Lemos, através da Vice, Fátima Lemos, e pelas confreiras Rosa Firmo Bezerra e Lucia Macedo Maciel. A novel acadêmica discursou, comungando sentimentos com quem parte para um exílio na  Sibéria, em noite de natal, experiência que rendeu a Dostoievski a regeneração das suas convicções. Reveladora da angustia mental e dilema vividos no mundo atual, Cristina Couto fez questionamentos éticos sobre a liberdade, o livre arbítrio e o determinismo. Retratação filosófica do que acredita a sua consciência.

Sobre o amor de Cristo falou Dimas Macedo, fruto de sua capacidade criadora. O acadêmico Jeová Batista Moura, o radialista Paulo Sérgio Carvalho e tantos outros também ficaram expostos à emoções complexas, beirando os limites da razão e da lógica.

Nenhum comentário: