Li no Jornal Diário do
Nordeste, Caderno 3, de 27 de dezembro de 2011, um rosário de inversões do que
deveria ser um evento educacional - 110
Congresso Internacional de Educação sobre a Formação de Professores, 100 Congresso
Nacional sobre Dificuldades de Aprendizagem e do Ensino, 20
Seminário de Gestão em Educação, 10 Congresso Internacional de
Educação Profissional e Tecnológico do Ceará - sediado em Fortaleza.
Ressente-se o conceituado Professor Universitário Batista de Lima, da
ausência de educadores cearenses na
equipe de 22 estrelas, vindas de outras terras.
No nosso entendimento, a educação brasileira espelha a síntese dos acertos
e desacertos de sua caminhada histórica. A história da educação no Brasil tem períodos muito curtos de avanços em
detrimento dos longos períodos de retrocessos e/ou de estagnação. Vejamos alguns fatos.
.
Primeiramente, na época do Brasil Colônia, o modelo
educativo dos jesuítas, Ratio Studiorum1,
baseado na cultura européia. Nascido
da Contra-Reforma2, 1534, determinava que os livros postos ao
alcance dos alunos se limitassem à suma teológica de São Tomás de Aquino e à
obra filosófica de Aristóteles. Propunha um processo de ensino e aprendizagem
baseado na repetição e memorização dos conteúdos estudados, com ênfase na
concentração, atenção e silêncio dos alunos.
Em seguida, o Brasil Império,1882, concorre para mudar
o cenário educacional, mas ainda permanece a lógica de dominação, desta feita entre as oligarquias rurais e a emergente
aristocracia urbana. Apesar dos esforços feitos, incluindo Rui Barbosa, se vê
poucas mudanças efetivas. Permanece a supervalorização de métodos e técnicas
estrangeiros e desvalorização do professor.
Com a Proclamação da República,1889, tem-se uma
escola mais eficiente, porém, continua objetivando a seleção e formação das
elites. No geral o processo escolar e
educacional continua insignificante. No início do século XX, a esperada
revolução de 1930, seguida do golpe do estado novo, a redemocratização
nacional, golpe de estado de 1964 e, por fim, a transição democrática, nos faz
ver que o projeto social e educativo, historicamente dominante no Brasil, se
mantém no poder, e dá continuidade à diretriz econômica de expansão do
capitalismo. Sinceramente, pouco mudou no Brasil, em termos educacionais, desde
a declaração de independência política de Portugal.
Conclui-se, portanto, que a escola sempre cumpriu
um papel determinado a atender a classe dominante e continuará a fazê-lo, a não
ser que o processo em que se está mergulhado seja revertido. A reflexão que faz
o Professor Batista de Lima representa um passo nesta direção, quando recusa-se
a aceitar a lógica educacional aí posta, e sonha com um lugar para o seu Ceará
no mapa-mundi da educação. São muitos os desafios a serem superados, em
especial, no que se refere à educação para todos, à formação docente, à
construção de currículo, metodologias e avaliação adequados ao real desenvolvimento
humano. Solidarizo-me, respeitosamente, com o Professor cearense.
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1Ratio Studiorum: espécie de regimento da educação, composto de
normas e estratégias pedagógicas da ordem jesuística. Durou de 1549 a 1759 (210
anos) quando os religiosos foram expulsos do Brasil no Governo do Marquês de
Pombal.
2Contra-Reforma: conjunto de medidas instauradas na Igreja Católica
Apostólica Romana, para enfrentar as críticas reformistas lideradas pelo monge
alemão Martim Lutero, que escreveu teses denunciando os erros e abusos
cometidos pela alta hierarquia da Igreja Católica e propondo
profundas mudanças na sua estrutura, que culminou com uma nova religião cristã,
o Luteranismo ou protestantismo.
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