quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Dois Homens, Dois Amores, Dois Poetas - Por Linda Lemos

Zito Lobo




 Dois homens que deixaram rastros por onde passaram. Suas histórias se confundem e são dignas de serem lembradas. Se ninguém vale pelo que sabe, mas pelo que faz com aquilo que sabe, eles são exemplos. Amantes de suas raízes cearenses, nasceram na velha Princesa do Salgado, nas terras banhadas pelas águas que correm para o Boqueirão, abraçadas com as águas do Riacho do Machado. O Sítio Calabaço foi o primeiro abrigo de José Zito de Macedo (Zito Lobo), que nasceu aos 29 de novembro de 1922, e do seu filho Dimas Macedo, que veio três décadas depois, aos 14 de setembro de 1956.

         Os dois identificam-se fortemente com a vida no campo. Tranquilos, serenos, sem ambição e destemidos. Seus valores, os compreendem os conhecedores das leis do sertão: respeito à natureza, justiça social, dignidade e muito trabalho.

Zito Lobo foi testemunho de amor, carinho, dedicação pelo povo, pelas lideranças de pastorais e movimentos por ele organizados, firmes e radicados na palavra e na fé em Deus. Ostenta trajetória de vida com participação e desejo de realização do social. Em Lavras, torna-se um dos fundadores do Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos, de cujo núcleo regional foi Presidente. Foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, sendo um dos instituidores, na gestão em que foi Tesoureiro de referido Sindicato, da Cooperativa dos Trabalhadores Rurais de Lavras da Mangabeira, que igualmente dirigiu, ostentando sempre sua liderança carismática.

            O zelo pela família está estampado na simplicidade da expressão gestual discreta e cativante, de característica marcadamente paternal e afetiva, “modelo de pai e de amigo, e de esposo fiel e generoso, sendo esteio de amparo e proteção para toda a família”. Zito Lobo e Dimas Macedo, dois amores, queridos pelos amigos. Duas vidas dedicadas à família. Não há divisão entre eles quanto ao amor dedicado a familiares e amigos.

           Quando se refere à literatura, Dimas Macedo declara sobre o poeta Zito Lobo: “Mesmo acompanhando de perto, durante algum tempo, a sua dedicação à vida literária, jamais me acorreu a ideia de que, no final dos seus dias, a sua criação viesse a assumir tamanha gravidade, e de que o seu espólio de poeta estivesse praticamente pronto para o prelo”.
             “Sabia ele, no entanto, do significado e do valor que permeavam a tessitura dos seus versos, e sabia, mais do que isso, que eu jamais me furtaria ao compromisso que um dia lhe fizera de publicar uma seleção dos seus poemas”.

            “Dessa circunstância é que nasceu a edição de Trovas e Poemas (Fortaleza, Editora Oficina, 1990; 2ª edição: Fortaleza, Edições Poetaria, 2011), volume no qual decidi reunir, de forma rigorosa, os seus poemas produzidos após a morte da minha mãe, Maria Eliete de Macedo, aos 10 de outubro de 1975”.  

               “Da emoção e do enlevo que sempre costuraram as suas atitudes, ele não se furtou de falar ao silêncio da sua escritura literária, tecendo trovas, poemas e sonetos temperados pela coloração das lembranças e das recordações; e poemas que despertaram a atenção de escritores do porte de Joaryvar Macedo (de quem era irmão unilateral) e José Alcides Pinto, que escreveram, efusivamente, sobre a sua obra literária”. Descendente dos desbravadores que construíram a civilização do Cariri, filho de Maria de Aquino Macedo e de Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), uma das legendas da poesia popular do Ceará, José Zito de Macedo (Zito Lobo) é hoje nome de Rua em Fortaleza e em sua cidade natal, num reconhecimento aos seus melhores atributos.
          
              Ressalte-se que, quando se trata de literatura, Dimas Macedo torna-se grande. Iniciou os estudos em sua terra natal, até chegar a Fortaleza, onde bacharelou-se em Direito, no ano de 1981. Exerceu, na juventude, as funções de jornalista, optando, posteriormente, pela carreira de escritor e de jurista. É crítico literário, poeta, ensaísta e historiador, Professor da Universidade Federal do Ceará,  membro das Academias Cearense, Lavrense, Letras e Artes do Nordeste. Dimas é um dos escritores cearenses de maior produção literária.

Se é para falar de poesia, não se pode negar evidências. Os dois poetas se confundem em suas ideias. Semelhanças essenciais entre sensibilidade e inteligência aproximam Zito Lobo e Dimas Macedo. Eles fazem lembrar Fernando Pessoa e Luís de Camões, naquilo que se refere à consciência do valor da poesia. É comum a Pessoa e a Camões a afirmação do valor supremo da poesia. Camões sabe que só o canto dos poetas transforma os homens em seres imortais (só o poeta nos liberta da Lei do Esquecimento). Pessoa sabe que só a criação de mitos (tarefa do poeta) assegura a vitalidade da Pátria, porque a poesia é o Império vivo. E nesse sentido, Lavras da Mangabeira e Portugal se confundem quando falamos de poesia.

           Zito Lobo transferiu-se para Fortaleza em 1975, fixou residência no Bairro da Piedade, onde se tornou figura popular. Com sua religiosidade em evidência, atuou como Cooperador Salesiano junto à Paróquia da Piedade, ali integrando a Associação do Sagrado Coração e a Associação de Nossa Senhora Auxiliadora, desempenhando funções de direção junto à Associação dos Merceeiros do Ceará e ao Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos – núcleo regional do Bairro da Piedade.

            A religiosidade e o misticismo são características marcantes, comprovadas no amor que pai e filho devotam ao Criador. “Sou um homem fascinado por Deus e vocacionado para Deus. Não tenho receio algum em proclamar o meu amor a Deus e viver a minha vida para Deus. A minha primeira essência é a mística. A poesia vem em segundo. E a filosofia em terceiro. Mas a literatura é o linho e a linha que me foram dados para interpretar o mundo e para viver no limite de todas as coisas”, registra Dimas Macedo. Ambos conseguem realizar, sem necessariamente fazer parte do grupo dos "mestres da suspeita", alvo de intensa crítica nos seus ideais, nas suas esperanças e nas suas grandes realizações históricas.

             Na língua portuguesa, pai, proveniente do latim pater, também interpretado como pátre, patris, possui vínculos com a palavra padre, tendo ramos e origens semelhantes, a partir do costume de se chamar o clérigo de pai. Comumente, o termo patre assume um cunho religioso, proveniente da igreja cristã e da judaica, sendo um dos epítetos de Deus. Também é a primeira pessoa da Santíssima Trindade, paixão desmedida entre pai e filho.

               Felizes, cheios de planos, ideais, sonhos, pai e filho caminham em direção à felicidade, à esperança e à alegria que fazem parte dos sentimentos multiplicados. Juntos, felizes e cheios de vida. Um só coração. Uma só alma. Um dia, o primeiro deles resolveu pegar um atalho e, no atalho, a vida nunca mais foi a mesma. Algo se quebrou no tempo e a esperança se foi, permanecendo apenas o amor que não se cansa da solidão entre duas vidas.


          Todos os anos, em pelo menos treze países, é celebrado o Dia dos Pais. A comemoração teve origem nos Estados Unidos, em 1910, e partiu da ideia de Sonora Louise Smart Dodd. A data foi oficializada pelo presidente Richard Nixon, em 1972, como sendo no terceiro domingo de junho. A data, porém, varia de país para país, tendo a maioria adotado o mês de junho. No Brasil, o mês é agosto. Dimas escolheu os noventa anos de Zito para celebrar o dia dos pais, o dia do pai venerado, falecido em Fortaleza, aos 24 de março de 1987. 

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