quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

QUALIDADE MUSICAL - Emerson Monteiro

Ao ler, na Folha de S. Paulo, edição on-line do dia 29 de dezembro, a relação dos 50 álbuns que formaram a identidade musical brasileiro dos anos 2000, algo me vem ao sentimento de que, parafraseando o escritor Machado de Assis, ou a música mudou ou mudei eu. Quero crer, simplesmente, que houve uma exaustão na produção e quase desapareceram por inteiro os pontos de contato que acompanharam de perto a minha ligação com a música, nas cinco décadas anteriores, desde quando me entendo de gente.
Ainda bem que, hoje, vistas as facilidades oferecidas pela Internet, podemos ouvir e gravar todo o universo das produções que ficaram para trás. Mas a relação desses 50 álbuns da Folha de S. Paulo serviu para mostrar o quanto a música popular brasileira mudou, com relação ao que se ouvia há bem pouco tempo. Na lista, aparecem cantores e ritmos variados, nos estilos axé, sertanejo, brega, revelações, samba, reggae, bahia, rap, rock, que fizeram, e talvez ainda façam, a cabeça dos apreciadores, sem, contudo, afagar no mínimo os brios de quem adota o formato tradicional ou as harmonias menos apelativas que vieram depois.
Sei, no entanto, que a música representa a trilha sonora das gerações, por isso o instinto da particularidade, o gosto só pessoal. Existem aqueles que classificam as produções musicais em dois blocos, o das músicas de que gostam e um outro, o das que não prestam. Contudo nada é bem assim, pois seria apenas preconceito, discriminação de gerações.
Num ângulo menos drástico, porém, o olfato auditivo classifica o que toca o coração e sabe por instinto distingui as peças que mais parecem barulho gravado em disco mais para tocar nos fundos de carro e nos bares zoadentos, sem o devido respeito ao gosto de quem quer paz. Ninguém possui ouvido absoluto, entretanto ruído e música se distinguem numa classificação de ritmo, harmonia, sensibilidade auditiva, efeitos ambientais, respostas coletivas. Estudos indicam até que as crianças no útero materno, as plantas e os animais respondem aos estímulos musicais.
Wladimir Lênin, dos principais comandantes da Revolução Russa de 1917, num dos seus livros, afirma que a Estética será a Ética do futuro, o que vale dizer que o belo traz regras fortes à vida, ao ponto de determinar, no gosto que reflete, a sobrevivência de valores e preservação da ordem social. As vivências do que é belo intuem no cidadão o seu código de existência, aumentando-lhe o próprio ordenamento, seja na família, nas instituições e em si próprio.
A boa qualidade artística dos tempos, em si, faz a história das sociedades e o grau de maturidade com que trata as oportunidades. Épocas e sociedades têm sua música que fala do inconsciente coletivo dos que ali vivem, portanto.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

HÁBITOS BONS - Emerson Monteiro

Andei percorrendo o juízo na busca de um tema que correspondesse aos propósitos iniciais do ano que daqui a pouco vem chegar, e trouxe algumas ideias quanto aos hábitos positivos, para exercitar nesse novo período. A mesma energia aplicada no exercício dos vícios pode ser utilizada na adoção das atitudes do crescimento social, humano, interior, na gente. Os esforços investidos no uso das bebidas alcoólicas, fumo, excessos alimentares, falar da vida alheia, dormir demais, gastar o tempo em ações inúteis, forçar os outros a engolir nossos defeitos, tudo isto poderá conter a diferença entre gastar o tempo de qualquer jeito, ou utilizá-lo na construção das alternativas de viver melhor.
Educar diz bem o que isso representa em termos de transformação individual numa pessoa. Saber pensar formas convenientes de crescimento, abrindo espaços a mudanças de mentalidade, desenvolve as chances para construir os alicerces do futuro promissor, na criança, no jovem, no adulto, e marca pontos no progresso dos países. Enquanto, sobretudo os jovens, precisam adquirir o hábito de valorizar o seu potencial através do estudo, fugindo das drogas, dos costumes nocivos, os adultos necessitam praticar o que aprenderam na existência, dando forma aos projetos de ensinar pelo exemplo todos os seus praticados.
As metas de alterar a cantiga da história em favor dos ensinos renovadores percorrem, pois, as escolhas particulares das pessoas. Desejar o que é bom, sem exercitar a prática correspondente, nada acrescenta à herança que deixaremos aqui neste chão. As grandes safras passam pelas mãos dos que possuem vontade, coragem, disposição de transformar o quadro das épocas que viveram, dotadas dos firmes propósitos de mostrar serviço naquilo em que participaram.
Quantos hábitos bons aguardam a aceitação interna dos individuais, para o fim de acrescentar paz, saúde, progresso, a este nosso mundo ainda em fase de elaboração, o qual todo dia fornece a matéria prima de projetos válidos onde há vagas para quem quiser chegar e trabalhar.
Enquanto isto, os primeiros passos pedem visão e discernimento dos operários do porvir humano. O lado que ama sempre consegue mais em termos de reverter longas esperas de desânimo. Agir com o querer da religiosidade natural, viajar dentro dos sonhos das melhores coisas e serenar a consciência e produzir valores que tragam resultados afirmativos. Deste modo, um começo de ano apresenta o sabor das sementes doces a serem plantadas nas 365 folhas brancas, abertas para preenchimento ao gosto dos autores desse outro calendário que logo mais se inicia.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

LAVRAVENSE ILUSTRE

O Violonista Francisco Araújo
Dimas Macedo

Caracteriza-se o município de Lavras da Mangabeira pelos filhos ilustres que deu ao Ceará e ao Brasil. Dali alçaram vôos meninos sonhadores e inquietos que mais tarde se projetariam nas mais diferentes atividades humanas.
Escritores de destaque, políticos influentes, magistrados de renome, cientistas e artistas plásticos de projeção internacional: eis um retrato sem retoques daquilo que é de fato e de direito a memorável terra onde nasci.
No campo da música, as contribuições de Gilberto Milfont e Nonato Luiz são irrecusáveis, especialmente porque o primeiro foi coroado com o título de maior seresteiro do Brasil e, o segundo, com o privilégio de ser um dos maiores violonistas do mundo.
O grande compositor, solista, instrumentista e arranjador brasileiro Francisco Araújo, é também filho do glorioso município de Lavras, porque ali nasceu aos 12 de abril de 1954.
Natural do sítio Caixa D’água, distrito de Quitaiús, Francisco Alexandre Araújo é descendente de uma família de músicos, sendo filho de Estevão Cipriano de Araújo e Pedrina Alexandre Oliveira e neto, pelo lado materno, de Henrique Alexandre Ferreira e Maria Gomes de Oliveira.
Seu avô paterno, Manuel Pessoa de Araújo, era natural da Paraíba e primo do ex-presidente da República Epitácio Pessoa, mas em face da sua condição de andarilho, veio a fixar residência nas margens do Riacho do Rosário. A sua condição de latifundiário, contudo, não chegou a pesar na formação de Estevão Cipriano, que incutiu nos filhos o amor pela música e pelas coisas mais belas do espírito.
Francisco estudou as primeiras letras em sua terra natal, mas a família mudou-se muito cedo para São Paulo, face à intuição visionária de Estevão Cipriano que queria um futuro promissor para os filhos, iniciando Francisco Araujo os estudos de música aos doze anos de idade.
Desde muito cedo foi influenciado pelo refinado gosto musical que lhe foi transmitido pelo pai, que era um exímio solista de violão e cavaquinho e colecionador de um seleto arquivo de gravações, tanto da música instrumental brasileira direcionada para o repertório do violão, quanto de produções musicais de outros instrumentistas, cantores e intérpretes.
Apesar de possuir um invejável domínio técnico do violão, Estevão Cipriano não tinha conhecimento de teoria musical, e quando percebeu a manifestação espontânea do talento musical do filho, decidiu procurar o professor e violonista José Alves da Silva, conhecido pelo pseudônimo de Aimoré.
Foi sob a orientação desse professor que Francisco Araújo ampliou seus conhecimentos técnicos relativos ao violão e estudou teoria musical, solfejo e harmonia aplicada ao violão, debruçando-se então sobre a literatura que remarca a teoria do violão erudito, incluindo autores como Mauro Giuliani, F. Tárrega e Agustín Bárrios, e no mais pesquisando a obra de virtuoses do violão brasileiro, da estirpe de Garoto, Laurindo de Almeida, Dilermando Reis, Baden Powell, Villa-Lôbos e Paulinho Nogueira.
A primorosa orientação do Mestre Aimoré, foi quem o levou ao Conservatório Musical de São Caetano do Sul, por onde obteve Graduação em Música, constando que após a sua formatura, estudou harmonia tradicional com Osvaldo Lacerda, composição com o maestro italiano Guido Santórsola e harmonia funcional com o musicólogo alemão J.J.Koellrreuter e com Zula de Oliveira e Marilena de Oliveira.
Em seguida, Francisco Araujo freqüentou o Vigésimo Curso de Música, realizado em Santiago de Compostela, na Espanha, em 1986, ministrado por Andrés Segovia e Antônio Iglesias, expressões máximas do teoria do violão e mestres de várias gerações de violonistas de talento.
Além da Graduação em Música, Francisco Araújo bacharelou-se em História, com habilitação em Estudos Sociais, História da Arte e História da Música Brasileira, na Universidade Ibirapuera, em 1991, mas é à música que ele presta todas as reverências, inclusive na condição de mestre e de professor da Pontifícia Universidade Católica da São Paulo.
Participou dos festivais de inverno de Campos do Jordão, nos anos de 1973 e 1974, e foi considerado pela crítica como a maior revelação violonística daqueles festivais, os quais tiveram como diretor o maestro Eleazar de Carvalho, e patrocínio da Secretária de Cultura e Turismo do Estado de São Paulo.
Em 1974 fez sua primeira turnê pelas grandes capitais do Norte e Nordeste do Brasil, na esteira do Projeto Barca da Cultura, criado pelo teatrólogo e escritor Pascoal Carlos Magno e com patrocínio do Plano de Ação Cultural do MEC. Este projeto teve a duração de três meses e tinha como objetivo divulgar o teatro, a música e as artes plásticas nas mais diversas regiões do Brasil.
O ano de 1977 foi decisivo para a carreira musical de Francisco Araújo. Foi neste ano que ele venceu o I Concurso de Composição Para Obras Violonísticas Isaías Sávio, patrocinado pela Universidade de Música Palestrina de Porto Alegre, em convênio com o MEC e a FUNARTE, com sua obra para solo de violão denominada Valsa Virtuosa Nº. 1, editada posteriormente nos Estados Unidos, pela editora Columbia Music Company, de Washington.
Suas apresentações em teatros e salas de concertos se intensificam a partir de 1977, marco inicial de sua careira de intérprete e compositor. E suas atividades docentes continuaram plenas no Conservatório Dramático e Musical Dr. Calos de Campos, em Tatuí, São Paulo, entre 1976 e 1991. Além desse respeitável Conservatório, entre 1995 e 1998 foi Professor da Academia de Música e Arte do Instituto Adventista de Ensino
Em 1998, gravou o primeiro CD, pela CPC-UMES, intitulado De Sertões e Serestas, contendo obras instrumentais para solos de violão, todas de sua autoria, sendo este CD considerado pelos críticos como sendo um divisor de águas na história do violão no Brasil. E em 2002 foi a vez do CD Deitando e Rolando, também divulgado pela CPC-UMES. E a partir de então não parou mais de crescer esse excepcional instrumentista brasileiro, sendo de 2010 o seu terceiro CD, Estilo Brasileiro.
Pesquisador incansável da história do violão e um dos maiores teóricos desse importante instrumento musical, Francisco Araújo é autor do livro Violão, Uma História Brasileira, destacando-se também como intérprete dos mais autorizados da música brasileira de formação clássica e erudita.
A sua produção musical para solos de violão é bastante extensa e diversificada, somando mais de quatrocentas obras instrumentais dos mais variados estilos, destacando-se entre elas a Coleção de Valsas Românticas, contendo 90 peças, e os 35 Estudos Técnicos Para Violão, divididos em duas séries: 10 pequenos estudos e a grande série de 25 estudos, sendo esses estudos fruto de sua formação erudita.
Já as suas Sonatas Jazzísticas, para flauta e violão, pertencem à sua produção camerística, entre todas elas merecendo destaque as seguintes: Balé Gitano, Dança Oriental, Danças Exóticas, Seis Prelúdios Apoteóticos, Sete Valsas Virtuosas, Sonata Estilizada e Suite Cigana.
Trata-se, pois, de nome que honra a cultura musical do Ceará e do Brasil e que bem alto eleva o município cearense que o viu nascer.

Fortaleza, outubro de 2010

UMA INTERROGAÇÃO ACELERADA - Emerson Monteiro

A velocidade com que o parque industrial produz automóveis e os lança ao mercado consumidor segue deixando enorme vazio nas respostas ao problema de circulação e estacionamento que isso ocasiona a toda hora, sobretudo nos países de desenvolvimento caótico e duvidoso, semelhantes ao caso brasileiro.
Para imaginar o nível de seriedade do assunto, vale dizer que uma capital do porte de Recife, exemplo aqui perto, também no Nordeste, recebe hoje, a cada dia, o número médio de cem novos veículos, despachados ao burburinho da metrópole de si já saturada dos mais diversos desafios atuais.
Essa civilização do petróleo, grosso modo, impõe regras extremas de obediência aos mercados de sua órbita, através das cláusulas inegociáveis do poder soberano. O carro é a estrela principal da festa, pois gera divisas e paga impostos, contudo reclama longos e intermináveis caminhos asfálticos (o que, só no Brasil, significa 62 mil quilômetros de rodovias federais), além das ruas largas e avenidas de muitas pistas, exclusivo monitoramento através de pessoal técnico, enquanto as políticas oficiais ignoram construção e ampliação das estradas de ferro jogadas no ostracismo.
O tal mundo capitalista ocidental, portanto, aceita bem sobreviver sobre automóveis qual inexistisse alternativa de locomoção. E outras matrizes energéticas são pouco consideradas, a não ser o combustível ora utilizado. Espécie o sistema refreia o avanço das outras energias. As energias solar, hidráulica, elétrica arrastam passos, contidas na ausência quase absoluta de pesquisas ou financiamentos.
Há notícias de iniciativas que, logo consideradas, sumiram como por encanto, na experiência do carro a água, do carro elétrico, este que, por sua vez, só de longe parece despontar nas ilhas japonesas. Tentativas de transportes coletivos movidos à energia solar, ou elétrica, saíram das cogitações. Há estudos, inclusive, de transportes desenvolvidos à base de oxigênio, sem merecer, na obtusidade do trato industrial, maiores possibilidades, ainda em fase preliminar pouco levada a efeito, ou eliminada nos primórdios.
Durante a espera de soluções ao grave enigma de quilométricas distâncias, metrópoles e modelos econômicos, prenuncia-se temporada ativa de caça à genialidade dos tempos, com vistas inventar as respostas coerentes do confronto homem versus automóvel, embate que, até agora, dá vantagem ampla às máquinas superaquecidas.

domingo, 26 de dezembro de 2010

VIAGEM AO RIO DA INFÂNCIA

Porque acredito que a vida é feita de movimentos incessantes, que modelam a nossa maneira de ser e de agir, proveito o tempo de lazer para viajar, às vezes para conhecer o que existe para além dos muros do Brasil.
Umas férias merecidas, sorvendo a cultura e a linguagem de velhas cidades européias, deixam no espírito, na imaginação e na memória algumas efusões que dificilmente se apagam nas nossas retinas fatigadas.
Hoje, treze de dezembro, estou de retorno da bela cidade de Le Havre, situada na região da Normandia francesa, bem no encontro do estuário do Sena com o Canal da Mancha.
A minha condição de professor convidado da Universidade de Le Havre, onde ministrei conferência sobre o processo eleitoral e os valores da democracia brasileira, me faz pensar na recompensa que a vida nos dá a cada instante.
O que quero registrar nesta crônica, contudo, é o impacto que essa importante cidade portuária exerceu sobre mim, sobre a minha visão e a minha sensibilidade de artista e de viajante.
Enfrentei uma tempestade de neve, há três dias, quando desembarquei em Paris, vindo da Alemanha, mas em Le Havre a temperatura se fez mais generosa com a minha condição de nordestino, acostumado com o calor dos trópicos e com o clima ameno que somente o Ceará sabe transmitir a seus filhos.
Em Le Havre, assim como na França e em toda a Europa, as condições de vida das pessoas são muito diferentes daquelas em que vivem os nordestinos e muitos habitantes do interior do Brasil.
A mente humana aqui foi libertada do processo de escravidão social e do processo de dependência política que vinculam muitos cearenses à manipulação dos seus representantes políticos.
Em qualquer parte do mundo aonde esteja, sempre me vem ao baile das lembranças os encantos da terra onde nasci e assim também o traço natural e a cultura do nosso querido Ceará.
Navegando sobre as águas do Sena, em Paris, ou contemplando o estuário do Sena, em Le Havre, o que me vem à mente, de plano, é o Rio Salgado e a sinuosidade das águas da infância; o que se impõe no percurso da lembrança é o retrato da velha cidade onde nasci.
Lavras está em todas as cidades pelas quais passei em todos em dias de viagem: assim em Londres, como também em Bruges, Amsterdam, Paris, Bruxelas ou Colônia.
É como se o mapa mundi fosse povoado de saudades e lembranças que se deixam gravadas no recesso do sonho. É como se o Reno, o Tâmisa e o Sena refletissem a brisa serena do Salgado, o mais doce de todos os rios que os meus olhos não se cansam de ver.

Paris, 13.12.2010

DIMAS MACEDO

Cruzeiro

Cruzeiro
“Para oceanmar há sempre um pedaço de mar.”

Manhã ensolarada, malas prontas, últimos arremates na bagagem de mão para concretizar um sonho, navegar sobre os mares. A saída sem despedidas, minha irmã já tomara seu rumo para não envolver-se com minhas aventuras. Taciturna segurando meu entusiasmo me eximo de demonstrar para ela meu estado de felicidade para não entristecê-la cada vez mais. Dez horas, o Gomes aconselha-me a contactar com o grupo de amigas para o encontro no cais do porto do Mucuripe. Partimos rumo ao sonho, ele incentivando-me e fazendo algumas recomendações, exclarecendo por não compartilhar desta aventura comigo, razões óbvias, por suas tantas idas à Fernando de Noronha durante muitos anos de trabalho na Marinha do Brasil.
Cais do porto do Mucuripe, literalmente um lugar de referências, um dos maiores pólos trigueiros do país. Do saguão não se tem visibilidade para os navios atracados. Ao chegar o salão de embarque estava quaze vazio, de repente enche-se de figuras vindas de diferentes lugares, com destino ao Arquipelago de Noronha a bordo do Bleu De France, em grande estilo.
Dirijo-me ao balcão para os devidos procedimentos de embarque. Enquanto aguardava minhas amigas companheiras de aventura que também fizerem seus check ins. Lidu, Olga, Amélia, Karla Ianara, Dalila, o casal, Aristeu, Marinalva e o garoto Gabriel, o mais animado da turma.
Meio dia, chegou a hora do tão sonhado embarque. Subimos as escadas alegrementes, recepcionadas por um simpático grupo da tripulação com tratamento vip. A partir daquele momento fotografando até o último passageiro ao entrar a bordo, a escada ainda não se fecha, recebe jornalistas, secretário de turismo de Fortaleza, para almoço a bordo com oficiais e chefes de departamentos. Nós não pertenciamos a mais ninguém, nem a si mesmo, o sonho se descortinava. O anúncio pelo sistema sonoro nos convoca à recepção para dar início as instruções para realizarmos o cruzeiro. Abertura de contas e inscrições para escursões em Natal e na ilha. Na permanência do navio atracado no Mucuripe fizemos simulação de emergência com equipamentos de salva-vidas, em seguida ficamos livres para conhecer a embarcação de doze andares. Somente a praça de máquinas não poderia ser visitada. E assim procedemos, devagar, subiamos e decíamos escadas e elevador, por fim dirigímo-nos ao andar panorâmico para deliciarmos a boa gastronomia francesa. Sabe-se que, a cozinha francesa, reputada em todo o mundo pela sua excelência, caracteriza-se por uma grande variedade de pratos, vinhos e queijos, considerados como uns dos melhores do mundo. No bufet do Bleu De France estavam expostos, variados pratos franceses como os famosos baguetes, croissant, patês, outros como, molhos, pastas e queijos, até mesmo o pot-au-feu, uma espécie de cosido, que também apreciamos.
Cinco horas - o sistema sonoro anunciou a partida. Direcionamos para o solarium na polpa da embarcação para melhor apreciarmos o pôr-do-sol e a saída de Fortaleza. Expetáculo ímpar, entusiasmo, animação, nossas e de tantos outros passageiros que encontarvam-se embarcados.
O transatlântico, parte em movimentos lentos e apitos sonoros e tristes. O monstro lotado de viajantes sobre as águas azuis do oceano flutua elegantemente. Passam por ele, outras embarcações. Escureceu, o navio iluminou-se e começa a balançar, inicia-se outras atrações: banhos de picinas, spar, bibliotecas, bares, salão de beleza, jantares no bufet e no restaurante Le Flamboyant, espetáculos etc. Um dos destaques na programação de bordo é para o entretenimento infantil.
Noite, lua, céu e mares, sem solidão; uma atmosfera única, radiosa, de uma efervescência colorida, onírica, mágica. Expectativa transbordante, empolgada, vibrando, oceamando; apenas um embaraço, passei a marear. Situação desagradável, jamais poderia crer. Fico eu, na primeira noite fora das programações, não havia como participar de mais nada, mareada. A companheira de viagem Amélia, me sugeriu tomar uma medicação. Aceitei. Foi tardia, já não mais me segurava. Fui ao Flamboyant apenas para não ficar sozinha na cabine, no entanto não conseguia controlar o enjôo, a saída, recolher-me desanimada. Noite de sono pesado, não percebi mais o embalo do navio sob efeito do dramim. Chegamos em Natal:

Ó! Grandiosa embarcação
Vagarosa, toma o rio, em procissão.
Na luz incandescente matinal,
Alça a Natal querida
Sobre a escuma na costa estendida...
No oitão da estrela vesperal.
Banhistas despreocupados
Despertam extasiados
Com a brancura do navio
Num solene despertar a sorrir
Observam, inertes a entrada triunfal
Da bela embarcação no rio Potengi.

Despertei bem melhorada, preparei-me para a chegada na cidade do sol. Matar a saudade das amigas e daquele cenário lindo. Onze horas da manhã, minhas amigas, Maria do Ceo, Cíntia, Iracema e Lulu, vem ao porto recepicionar-me. Que alegria! Saímos para a praia de Areia Preta e no Farol Bar ficamos confabulando sobre diversos assuntos e saboreando a tradicional e gostosa carne de sol do Caicó. Retornamos ao navio, tarde de animação. Por volta de três horas, outra turma de amigas anunciam que estavam no porto para me ver. A Cássia, Francisca, Lúcia e Terezinha me convidam a descer para nos abraçarmos. Estas com faixas de boas vindas ficaram até a partida da embarcação. Quanta alegria, quanta emoção!
Na cabine começamos eu, Olga e Dalila, os preparativos para noite de gala. Bem produzidas, com os demais da turma, na entrada do restaurante fomos saudadas pelo comandante Augusto Neto, e fotografadas. Coisa de praxe em cruzeiros marítimos. O navio em movimentos lentos, balançava cada vez mais e deixava muita gente mariada. Reccolher-me foi a solução, tomei mais uma dose da medicação indicada pelo infermeiro do navio. Dormi a noite inteira, só acordei ao raiar do dia.
Da janela da cabine vejo a clássica Aurora, o rocsicler com seu róseo encantador na linha do horizonte, subo para o solarium. Sutilmente descortina a decisiva manhã de três de dezembro, mole de sono como pétalas orvalhadas, um up time toma conta de mim, no mirante do navio, entre nuvens, revoadas de atobás, e o assombro da natureza – o sol desperta, é a alegria da chegada no Arquipélago Fernando de Noronha. Deslumbramento, encantamento. Me eximo de descrevê-la na minha pequena condição de amadora, coisa que sempre costumo fazer em viagens, desta vez não coube a mim, estava pois, diante de uma obra fantástica da natureza. Entreguei-me a emoção e vi que cada coisa bela suscitava naguele momento de embevecimento, apenas uma merecida comtemplação, pois tinha de saborear, vivenciar cada coisa em sua plenitude.
No inclinar do dia (3) três, o céu ainda pardacento, subi sozinha ao andar panorâmico. Em comtemplação, ao longe avistei um cardume de golfinhos que parecia saldar os passageiros, uma forte emoção tomou conta de mim.
Canção ao Mar Azul
Ó mar azul
Traz-me o bálsamo
Do teu sal
Para o cerne do meu ser
Encontrar o centro.
Ó mar azul
Traz-me essa cor que me acalma
Transcende meu ser
Alimenta minha alma.
Ó mar azul
Traz-me essa fonte de energia
Renova minhas forças
Para aumentar minha alegria.
Ó mar azul
Traz-me a mansidão dos golfinhos
Para cultivar em mim a inteireza
Manter em mim a sanidade
Complementar minha natureza.
Logo depois do café iniciamos outras aventuras. A bordo de um barco, eu minhas amigas e muitos outros passageiros embarcamos rumo as praias de águas claras com uma parada na baía dos golfinhos, onde tivemos a grata satisfação de vê-los em cardumes em suas belas cambalhotas, um expetáculo maravilhoso e emocionante, provocando frison a todos. Visitamos as principais praias: Do Boldró, Baía do Sancho, Bode, Quixabinha, Meio, Cahorro, Cacimba, Padre, Conceição etc.
No dia seguinte fizemos a escursão terrestre. Visitamos de buggy parte da ilha, os principais pontos turísticos, Morro dos dois irmãos, Morro do pico Centro Histórico, Forte de N. Senhora dos Remédio, e algumas das praias paradisíacas já visitadas de barcos; fomos apreciá-las de fora por terra. Lidu com sua filmadora, registrava tudo. Fernando de Noronha, um arquipélago de paraíso ecológico e turístico brasileiro, fica localizado no oceano atlântico a leste do litoral do Rio Grande do Norte. É um distrito estadual pertencente ao estado de Pernambuco.
Nossa permanência lá durou numa faixa de trinta horas, período permitido pela admimistração da ilha. Nesse mesmo dia, (4) quatro de dezembro por volta das(14hmin) quatorze horas, deixamos a ilha de volta para Fortaleza, o transatlãntico afastou-se silêncioso, de modo que nosso companheiro de viagem o garoto Gabriel, ao perceber ficou triste, rescentido por não querer aceitar que o cruzeiro estava terminando. Outra vez subimos para o solarium para contemplarmos o pôr-do-sol. Desta vez juntamo-nos a outros companheiros que conhecemos no navio e fizemos uma corrente de oração. E quanto tempo ficamos assim, aparentemente imóveis... nessa contemplação - nesse mergulho na natureza parecíamos ser as únicas pessoas que existiam naquela embarcação sobre as ondas daquele imenso e profundo mar azul e sereno. Mas, sabíamos que, outros poderiam estar sentindo o mesmo espanto a mesma emoção que nós estavamos sentindo. A noite bordada de estrelas, surge esplendorosa, e todos são convidados pelo animador do navio para última festa no grande salon, voltamos para as cabines para uma produção especial da noite de despedida. Olga, vestiu-se a caráter, estava estilosa. O grande salon ficou repleto. A vez era do turista, do nosso grupo, a garota Dalila encantou a todos com sua bela voz.
Com o mar de vento em polpa, a embarcação flutuava tranquila, muitos passageiros recolheram-se em suas cabines, Aristeu, Marinalva, entre outros ficaram aproveitando as últimas atrações e desfrutando do bela paisaigem noturna sobre as ondas.
O tempo discorreu veloz, a noite foi ingrata, passou como um raio; ao raiar do dia (6) seis, sonolenta escutei as vozes dos carregadores de malas. Abri as cortinas, vi que estávamos chegando em Fortaleza, entre o sol que despertava e os arranhas-céus bordando a orla marítima. Via-se o rebocador cercando o transatlântico, subi para apreciar do andar panorâmico com uma certa tristeza, por deixar um ambiente atraente e sedutor. A segunda-feira fervilhava em Fortaleza, depois do navio atracar, com a alta temperatura ambiente nos obrigava a saboearmos sucos, frutas e o croissant como despedida. Assim, deixamos o Bleu De France.

Rosa Firmo

OLHOS DE VER - Emerson Monteiro

Nestes tempos libertos e comunicativos, acham-se destravadas milhões de portas ao sabor do conhecimento de dentro da humanidade e do universo, na história dos tempos idos e das possibilidades dos tempos que virão. Ninguém pode reclamar de sonegação de informações. O trabalho das eras chegou ao nível dos desejos avassaladores das oportunidades, nos diversos campos do saber, e torna o viver contemporâneo em um oceano de ofertas, no que diz respeito à quase totalidade técnica de pesquisas, emoções, religião, lugares, personalidades, artes, palco luminoso de luzes e movimentos, posse absoluta das gerações inteiras, sertão, mar, geografia, física, música, ciências.
Aos habitantes coloniais do Planeta bastam: levantar a vista, apertar uns dois ou três botões e fixar o ponto em que a empanada revelará os segredos das origens, mostrando as previsões futuristas dos cálculos infinitesimais. Verdadeira festa de proporção desconhecida limpa as carências, sem contar somas fabulosas acumuladas nos gabinetes e as próximas ações de governo, que melhorarão os recordes obtidos, tudo a favor do patrimônio da raça dos sonhos e da imaginação.
Visão objetiva indica caminhar livre dos interesses exclusivos de só alguns, fora das intenções apenas individuais. O barco pertence ao coletivo, queiram ou não queiram apostadores da grande obra, que questionavam o sentido dessas evoluções. Quando lá nos primórdios apareceram os primeiros hominídeos, antigos resquícios dos atuais seres humanos, por volta de dois a três milhões de anos, já havia na semente o projeto aqui trazido ao campo das multidões. Nada melhor do que ouvi no tempo a existência dessas provas provadas.
Cabe hoje, no entanto, aos protagonistas da cena, valorizar o patrimônio obtido, horas, ar, claridade, energia, que alimenta a condição da grande massa no seu crescimento. Letras pulam acesas na frente dos atores todo momento indicando permanência e generosidade, através das consciências, numa opção de selecionar o lado positivo das duas alternativas de viver e agir.
Longe, pois, tirar de ninguém as chances de pensar maior, desestimular a felicidade de ver as paisagens boas, ler os roteiros alegres trazidos nos braços perfeitos de Quem que nos criou para uma trajetória de benções e que conduzirá o processo justo a bom termo, mantendo o ritmo ideal do vasto espetáculo onde habitaremos para sempre. A todos um Ano Novo de plenas realizações.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A LEI DA COMPENSAÇÃO - Emerson Monteiro

Discorrer quanto às leis do mundo moral requer dose dupla de poder de expressão e clareza nos detalhes, ao menos para chegar perto da compreensão de quem escuta e informar o suficiente daquilo que se pretenda, porquanto eis aqui um tema que pede palavras novas, aspectos instigantes de convencimento e raciocínio, cores e formas excitantes, senão, nada feito, assunto encerrado, botas jogadas fora. Isso porque a realidade pressiona sem dó nem piedade, visualmente, concretamente, materialmente; realidade, aquela que circula em torno da gente feita mutuca, impõe seu respeito em quase tudo e todo tempo, independente do gosto particular das pessoas e modas.
Uns apetites querem sabores picantes, cheiros intensos das circunstâncias, reclamam alimentos pesados, esportes radicais, sons estridentes, emoções fortes. Outros, os poéticos, por sua vez aceitam ritmos e harmonias suaves, o sabor mais oriental dos pratos vegetarianos, o hálito perfumado de incensos e flores, que lhes tocam a leveza da sensibilidade e transporta aos abismos infindáveis das vastidões distantes, passageiros aceitos de viagens impossíveis.
Bom, querendo falar de uma dessas leis dos mundos morais, coisas abstratas que existem fora do mundo físico, falar da lei da Compensação, começamos relacionando-a com outra lei já por demais reconhecida, a lei da Gravidade, que nos mantém grudados ao sistema solar, sem a qual se tornaria inviável permanecer no solo, e, caso contrário, vagaríamos tontos pelo Universo, quais meteoros ou cometas, errando no vácuo. Dessa lei, também invisível, ninguém duvida. Mas existem outras que formam o campo de força onde estamos.
Uma delas, a lei da Compensação, por sua vez, nos reconforta por dentro nas crises inevitáveis, e esclarece aquilo que a vida impõe, pois obedece a regras ocultas, porém manifestas, na história de todas as pessoas.
Por pior que sejam os caprichos do Destino, em troca virá o reverso da medalha permitindo uma leitura positiva das ocorrências, revelando graça e razão de ser. Ninguém gira, portanto, ao léu fora das normas perfeitas das leis da Natureza, na Justiça exata que rege os acontecimentos desde o princípio eterno das evidências.
Em rápidas considerações, dizer que a ciência de viver implica na interpretação do que ocorre, seja de ruim, seja de bom, obedece a determinações superiores que conciliam as existências de modo justo. Ninguém nada paga sem dever, ninguém nada sofre sem merecer. Caso não atrapalhemos, todas as ações fluem por si e virá, um dia, a compensação amenizar as dores, no tempo certo, sem sombra de dúvidas. Ainda que cientes, no entanto, só poucos aceitam como regulares os tropeços da sorte, sofrendo deste modo antes e depois das tempestades, esquecidos da perfeição que determina a Lei e suas lições de conforto a todos nós.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

AS RAZÕES DO PERDÃO - Emerson Monteiro

A pequenez das individualidades humanas responde a um tanto das indignações que vivem aparecendo nas encruzilhadas deste mundo. É pisarem no pé da gente que sobe fogo de arrogância do tamanho da falta de juízo, gerando atitudes imprudentes, garras afiadas rasgando folhas de zinco e palavras agressivas de sapecar e sacudir as estruturas em volta. Riscos inesperados de causar contrariedade em nós e nos outros, nas famílias, na sociedade, destruindo esperanças e futuros brilhantes pela frente. Depois que passa o temporal, sobra grudado no céu da boca o desassossego da raiva, bicho que, alimentado no orgulho, sujeita virar ódio, com amplas repercussões negativas, de causar espanto nas páginas policiais mais avermelhadas.
Esse endurecimento de gênio vem de longe, dos tempos de menino, das famílias equivocadas e seus conselhos de vingança. Lembro bem de quando no colégio apareciam desentendimentos de alunos, o professor José do Vale buscava contornar a revolta dos mais agressivos, e dizia:
- Vocês já ouviram falar na existência de um quarteirão de valentões? - Isso ele justificava porque os valentões não duram muito, se destroem com extrema facilidade, pois, como dizem os orientais, ninguém se aguenta muito tempo na ponta dos pés.
A mansuetude, portanto, torna-se, a cada momento, uma norma de sabedoria valiosa para todos os lugares deste chão, ainda que haja competições de tudo quanto é lado. O capitalismo vive disso, da competitividade exacerbada, porém insiste em desestimular o extremo das guerras, numa contraditória hipocrisia. Essa constatação demonstra ser a do fio de equilíbrio em que se arrasta a civilização deste período da história.
Jesus, no entanto, trouxe o perdão das ofensas qual motivo da evolução aos níveis espirituais do seu Reino dos Céus. Dar a outra face quando nos baterem. Ignorar as provocações. Não ter inimigos. Uma doutrina digna e fundamental para a transformação superior que buscamos em nos mesmos, no embates da convivência pacífica. O Caminho, a Verdade e a Vida, passos da salvação dessa jornada, no campo atual das coisas materiais.
Assim, o perdão revela o lado divino dos seres humanos e que os conduzirá ao sonho da esperada felicidade, única justificativa de atravessar os desafios da existência com glória e com sucesso. Instrumento de exercitar a humildade, quem obtém o grau de praticar o perdão decerto usufrui no coração os valores da aceitação de melhores sentimentos bons, o que Jesus ensina através de suas santas palavras.
Perdoar, eis o meio eficiente de acalmar, dentro de si, as forças destruidoras da agressividade, sentimento contrário à poderosa Lei do Amor maior.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

OUVI DE LYSÂNEAS - Emerson Monteiro

Ao ler notícia publicada pelo jornal O Povo, nesta terça-feira (21/12/2010), a respeito da recusa do bispo cearense Dom Manuel Edmilson Cruz de uma comenda do Senado Federal, justificando a atitude como protesto pelo aumento dos subsídios dos parlamentares, votado pelo Congresso em dias da semana passada, lembrei de um texto que escrevi há duas ou três décadas e que agora apresento, a saber:
No ano de 1975, em Salvador, assisti inflamada palestra do então deputado federal Lysâneas Maciel, numa cruzada que empreendeu por vários estados para denunciar o clima de repressão que constrangia o povo brasileiro. Sabia-se mesmo sujeito à cassação de que seria vítima logo no ano seguinte, atingindo também outro corajoso parlamentar, o cearense Alencar Furtado.
De verbo fluente, destemido, sensibilizou com profundidade todos os presentes no auditório superlotado, a interpretar de forma contundente o momento de transição que enfrentávamos sob o clima rígido da força totalitária no comando das instituições políticas nacionais.
Dentre os recursos adotados na ocasião, bem aos moldes da melhor oratória evangélica, pastor que era, Lysâneas narrou episódio verificado com um pastor protestante, na Alemanha durante o regime nazista.
Zelava reverente pela sua comunidade religiosa, quando ocorreram as primeiras detenções do período negro que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, a prenderem primeiro os líderes comunistas. Ele pensou consigo: - Não sou comunista, portanto nada tenho com isso. E omitiu-se de reagir em face da violência cruel encetada contra seres humanos.
Os senhores da ditadura de Hitler seguiram na escalada dolorosa de terror, vindo deter também os socialistas, motivando no religioso idêntico comportamento de descompromisso. Por não ser socialista, indiferente permaneceu, aceitando as manobras policiais da Gestapo.
Depois, seriam levados os homossexuais, as prostitutas, os ciganos e outras minorias perseguidas. O raciocínio se repetia, de ficar quieto diante de tudo o que observava, sem, no mínimo, falar ou demonstrar qualquer atitude contrária, perante as pessoas de sua comunidade.
Mais adiante, também prenderiam os judeus, os católicos, enquanto nada alterava das relações com as forças do poder, pois achava fora do enquadramento nos grupos perseguidos. Nem de longe avaliava possuir qualquer responsabilidade pelas vítimas das arbitrariedades.
Até que, dias depois, bateram na porta da sua igreja para levá-lo preso, e nessa hora ninguém havia que mobilizasse forças em seu auxílio e levantasse a voz pela sua liberdade, pelos seus direitos, sua cidadania democrática.
Eis, assim, exemplo de ocasiões quando os nossos rostos vêm à mostra, por conta dessa atitude sincera e verdadeira de Dom Edmilson Cruz, oportuna e atualizada, de um valor inestimável, para que não nos acomodemos aos vícios da política desvirtuada, como não sendo conosco a crua responsabilidade que a todos compete todo tempo. Admiro, pois, a coerência de pessoas deste tipo.

CONVITE POSSE

O presidente da Academia Lavranse de Letras

João Gonçalves de Lemos



Convida para Solenidade de Posse do acadêmico Vicente de Paulo de Lemos. Como titular da Cadeira de Nº 39, que tem como patrono:

Padre Raimundo Nonato

Traje: Passeio
Local: Distrito de Mangabeira.
Hora: 19 horas
Data: 15 de janeiro de 2011.

domingo, 19 de dezembro de 2010

J. LINDEMBERG DE AQUINO - Emerson Monteiro

Queremos tecer aqui, em algumas e poucas palavras, um comentário a propósito de personalidade a quem o Cariri deve boa parte da evidência que hoje detém neste mundão imenso de Meu Deus; falar a respeito do João Lindemberg de Aquino, jornalista inteligente, possuidor de talento inquestionável já reconhecido nas letras nordestinas, e autor emérito do livro Roteiro Biográfico das Ruas do Crato, trabalho permanente para os estudos da história desta Região.
Durante décadas, anos 50, 60 e 70, pelos menos, os principais registros da movimentação social, economia e política do interior cearense da região sul ganharam notoriedade, sobretudo nas páginas dos jornais de Fortaleza, através das matérias que ele encaminhava para publicação.
Nos seus escritos, Lindemberg mostrou especial dedicação à vida social caririense, aos acontecimentos e lideranças que nortearam o progresso deste vale onde habitamos, conquanto agora mesmo apenas usufrua de uma vida recolhida e afastada deste meio que, com carinho e trabalho, ajudou a construir e onde estabeleceu numeroso círculo de amizades.
Quando, em 1953, o Instituto Cultural do Cariri encetava caminhada, dentre os seus fundadores ele ali se encontrava na função de Secretário da primeira diretoria, ao lado dos nomes expressivos de Figueiredo Filho, Irineu Pinheiro, Padre Antônio Gomes, Huberto Cabral e outros.
Desde cedo que busquei assisto de perto a trajetória intelectual deste cidadão cratense integrado ao meio, ainda de quando exercia um cargo no atendimento do INPS, em Crato, assessorava diversas administrações municipais cratenses e escrevia crônicas diárias para as Rádios Araripe e Educadora, além de testemunhar os principais acontecimentos sociais também das comunas próximas, divulgando-os na grande imprensa do Estado e do País. Nisto aplicou-se durante décadas inteiras, favorecendo o encaminhamento de temas progressista e atualizando as influências políticas e educacionais, o que marcaria bases no nosso crescimento histórico.
Dotado, pois, de paixão verdadeira pelo que realizou em termos de jornalismo sociocomunitário, Lindemberg de Aquino chamou a si a preservação da autoestima deste povo caririense, anotando para as gerações futuras efemérides e valores que eternizou com a sua pena.
Perante tais aspectos que caracterizam existência de tantos préstimos, cabe-nos reconhecer o êxito das ações que empreendeu e dedicar o melhor tributo de reconhecimento a João Lindemberg de Aquino por tudo que fez valer em prol da gente deste lugar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL - Paulo Coelho.

O pinheiro de St. Martin



Na véspera de Natal, o padre da igreja no pequeno vilarejo de St. Martin, nos Pirineus franceses, se preparava para celebrar a missa, quando começou a sentir um perfume delicioso. Era inverno, há muito as flores tinham desaparecido - mas ali estava aquele aroma agradável, como se a primavera tivesse surgido fora de tempo.



Intrigado, ele saiu da igreja para buscar a origem de tal maravilha, e foi dar com um rapaz sentado na frente da porta da escola. Ao seu lado, estava uma espécie de Árvore de Natal dourada.



- Mas que beleza de Árvore! - disse o pároco. - Ela parece ter tocado o céu, já que irradia uma essência divina! E é feita de ouro puro! Onde foi que a conseguiu?



O jovem não demonstrou muita alegria com o comentário do padre.



- Na verdade, isso que carrego comigo foi ficando cada vez mais pesado e à medida que eu andava, suas folhas ficaram duras. Mas não pode ser ouro, e estou com medo da reação de meus pais.



O rapaz contou sua história:



- Tinha saído hoje de manhã para ir até a cidade de Tarbes, com o dinheiro que minha mãe havia me dado para comprar uma bela Árvore de Natal. Acontece que, ao cruzar um povoado, vi uma senhora de idade, solitária, sem nenhuma família com quem comemorar a grande festa da Cristandade. Dei-lhe algum dinheiro para a ceia, pois estava certo que poderia conseguir um desconto na minha compra.



"Ao chegar em Tarbes, passei diante da grande prisão, e havia uma série de pessoas aguardando a hora da visita. Todas estavam tristes, já que passariam a noite longe de seus entes queridos. Escutei algumas delas comentando que sequer tinham conseguido comprar um pedaço de torta. Na mesma hora, movido pelo romantismo de gente da minha idade, decidi que iria dividir meu dinheiro com aquelas pessoas, que estavam precisando mais que eu. Guardaria apenas uma ínfima quantia para o almoço; o florista é amigo de nossa família, com certeza me daria a Árvore, e eu poderia trabalhar para ele na semana seguinte, pagando assim a minha dívida".



"Entretanto, ao chegar ao mercado, soube que o florista que conhecia não tinha ido trabalhar. Tentei de todas as maneiras conseguir alguém que me emprestasse dinheiro para comprar a Árvore em outro lugar, mas foi em vão".



"Convenci a mim mesmo que conseguiria pensar melhor o que fazer se estivesse com o estômago cheio. Quando me aproximei de um bar, um menino que parecia estrangeiro, perguntou se eu podia lhe dar alguma moeda, já que não comia há dois dias. Como imaginei que certa vez o menino Jesus deva ter passado fome, entreguei-lhe o pouco dinheiro que me sobrava, e voltei para casa. No caminho de volta, quebrei um galho de um pinheiro; tentei ajeitá-lo, cortá-lo, mas ele foi ficando duro como se feito de metal, e está longe de ser a Árvore de Natal que minha mãe espera".



- Meu caro - disse o padre - o perfume desta Árvore não deixa dívidas de que ela foi tocada pelos Céus. Deixe-me contar o resto desta sua história:



"Assim que você deixou a senhora, ela imediatamente pediu à Virgem Maria, uma mãe como ela, que lhe devolvesse esta benção inesperada. Os parentes dos presos se convenceram que tinham encontrado um anjo, e rezaram agradecendo aos anjos pelas tortas que foram compradas. O menino que você encontrou, agradeceu a Jesus por ter sua fome saciada".



"A Virgem, os anjos, e Jesus escutaram a prece daqueles que tinham sido ajudados. Quando você quebrou o galho do pinheiro, a Virgem colocou nele o perfume da misericórdia. À medida que você caminhava, os anjos iam tocando suas folhas, e as transformando em ouro. Finalmente, quando tudo ficou pronto, Jesus olhou o trabalho, abençoou-o, e a partir de agora, quem tocar esta Árvore de Natal, terá seus pecados perdoados e seus desejos atendidos".



E assim foi. Conta a lenda que o pinheiro sagrado ainda se encontra em St. Martin; mas sua força é tão grande que, todos aqueles que ajudam seu próximo na véspera de Natal, não importa quão longe estejam do pequeno vilarejo dos Pirineus, são abençoados por ele.



(inspirado em uma história hassádica)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

OS TESOUROS DESTE MUNDO - Emerson Monteiro

A importância dos objetos, sentimentos, ideias, guarda relação estreita com a prática das pessoas no decorrer da existência, a ponto de muitas perderem o juízo buscando satisfazer o instinto de querer mais uma coisa do que outra. Não poucas pessoas vendem a alma para atender aos desejos loucos, e atropelam os outros, gastam o que não têm, utilizam mecanismos sujos, a ponto de matar, roubar, destruir, no impulso desesperado de alimentar aquelas necessidades artificiais surgidas no afã da dominação dos objetivos planejados.
A fome doentia dos desejos errados existe na história desde que o homem é homem, pela ganância das guerras, dos saques, perseguições, negócios escusos, invejas e ambições desmedidas. Tudo pó e poeira da matéria em desintegração. O apetite avassalador do favorecimento a qualquer custo mostra a face melancólica dessa humanidade, o lado sem luz da epopéia das criaturas rumo aos afagos da ilusão, que só produzem miséria e respostas trágicas, nas caminhadas pelo mundo.
A traça e a ferrugem, no entanto, destroem, numa velocidade impressionante, tais equívocos, sob o comando de uma lei estudada sob o nome de ação e reação, tanto na física, quanto nas escolas religiosas. Nada fica impune fora dos ditames originais e eternos da natureza, que conduz os acontecimentos. Dia de muito é véspera de pouco. Dia de tudo é véspera de nada.
Quem quiser contrariar as normas desta sabedoria, guardada no decorrer dos séculos e milênios, que experimente, pois, mais cedo ou mais tarde, provará do desencanto. Há um tanto de exemplos de que o crime não compensa, em todo tempo e lugar. Mesmo assim, ainda impera o desejo ganancioso, que demonstra o atraso da raça teimosa e inconsequente, quando se sabe que o desengano da vista é furar os olhos, no dizer do povo.
No entanto, a dor ensina a gemer, e inúmeros escolhem estradas tortuosas do vício e do crime invés dos valores equilibrados e justos da paz e da coerência. Esse impasse nas decisões vale a todo minuto, conquanto vive-se decidindo qual dos dois caminhos escolher a fim de realizar os sonhos. Ouvi, certa vez, alguém afirmar que “o castigo do vício é o próprio vício; e o mérito da virtude é a própria virtude”. A consciência refletirá como praticar esta vida. O itinerário aonde nos leva ninguém desconhece. A estação final do processo vida espera a todos, equivocados ou prudentes. Portanto, o teorema traz consigo a solução do mistério de todas as intenções pessoais.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O SIMPLES VIVE DA FÉ - Emerson Monteiro

Invés de sair às cegas catando mistérios e trombando caixas vazias largadas em estradas distantes, a gente simples se alimenta na fé com um propósito superior que lhe indica os passos de seres vivos pelas entranhas dos rochedos tortuosos dessa humanidade, livre de outras perguntas inventadas, braços abertos ao trabalho e aos deveres que a vida impõe.
Houvesse outro jeito de tocar o barco, os milhões de criaturas seguiriam nessa respiração bem sua, constante, ao ritmo dos elementos, nas tiradas dos mundos inevitáveis. Santos do povo falam disso, de uma força descomunal que move e agarra com persistência o seguir das criaturas aos lugares desconhecidos do universo, única alternativa do processo vida.
Os seres anônimos, heróis desconhecidos, agem assim, movidos na ânsia de manter sua respiração sob valores trazidos brutos nas cheias do presente às margens do amanhã, máquinas históricas de uma tradição que se mexe de dentro do peito da certeza, que tem de ser desse modo, e pronto. A religiosidade monumental das pessoas cala fundo o íntimo da alma dessa multidão silenciosa, produzindo certezas a todo instante, matéria prima do futuro, no fluir sem parar das eras e tradições inesquecíveis e satisfatórias da existência comum dos dias delas.
O bater do coração alimenta essa energia original que gira as engrenagens, por cima de pedra e pau, e, com isso, permite acontecer histórias pessoais a todo o momento, dadas dimensões maravilhosas e segredos de continuar a qualquer preço bom a experiência de se conduzir em frente e estabelecer as bases dos novos continentes, nas horas de toda sobrevivência, do menorzinho ao maior de todos nós. Uma ação se soma às outras ações, linha após linha, fio condutor de nomes, pessoas e objetos, fora e dentro das aparências, peças de um xadrez de luta e parto dos momentos que se sucedem.
Caminha a sociedade dos seres humanos como formigueiro de gente e produção, necessário ao calendário e aos relógios, estômago do tempo e dos lugares, luzes nessa escuridão que clareia as famílias e os destinos, até serem felizes para sempre. Santuários de orações fervorosas, eles alimentam o desejo de seguir os passos, na convicção de que existe um sentido maior que abre as portas do amor, nas intenções de quem deseja o bem para seu valor absoluto.
Desse modo, os simples vivem da fé, de olhos voltados à mesma Eternidade que os contempla e os criou, e lhes deixa soltos no ar, perante a estrada que abraça com os pés e rasga a cada passo. Um saber mais que perfeito da melhor sabedoria os orienta, pois conhecem o tecido com que tecem o manto da Eternidade. E só isso os torna suficientes ao justo querer de Deus.

sábado, 11 de dezembro de 2010

NOTICIA ALÉM MAR


O escritor e intelectual lavrense, Dimas Macedo está na Europa curtindo aquelas paissagens. Mas, como trabalhar é assunto preferido do poeta ele dará uma palestra no Mestrado de Assuntos Internacionais da Universidade de Le Havre, uma das mais importantes da França, sobre Eleiçóes Presidenciais no Brasil. No próximo dia 13 de dezembro.

Parabéns poetinha!

O DIREITO DE SER FELIZ - Emerson Monteiro

Em meio ao fogo cruzado de depressões e medos, nas jornadas diárias que representam o espaço individual das existências, há um território valioso a ser preenchido, no interior das pessoas, o que exige uma coragem bem maior do que para vencer o grande inimigo, nas suas maiores guerras. Essa providência, contudo, requer apenas disposição de lutar diante dos obstáculos naturais de todo momento, independente daquilo que achem os outros. Na casa das ideias e das emoções, surge, sem parar num só instante, a tela cinemascope da presença da gente na gente mesmo, projeção contínua, e o projeto disso nada mais é do que a nossa vontade e seus filmes, que nascem de dentro, esta projeção que quem primeiro assiste somos nós, depois o contexto externo, formado pelas inúmeras pessoas em volta, testemunhas das nossas ações. Quem sabe do clima que vai rolar no momento seguinte somos primeiro nós.
E esse mecanismo precisa da dominação, do pulso anterior, do agente principal das cenas em movimento, autores do argumento, diretores, atores e espectadores do cinema chamado vida, nós. Há que haver pulso para viver, por isso. Ninguém deverá, de caso pensado, entregar aos outros, ou às circunstâncias, este tamanho direito de compor os quadros constantes do estado de espírito que significa a representação de mundo e das mudanças das horas, fardo constante que carregamos desde o princípio da existência.
Mais à mão, no processo pessoal dessa determinação de si para consigo, no que podemos denominar casa das máquinas ou laboratório dessa ação de elaborar a ciência dos dias, ficam os elementos com os quais se irão produzir a película única vista a cada momento, na história individual das criaturas, trabalho particular delas próprias, estrada principal da sua caminhada. Isso com que trabalhar, pois, o filme da presença pessoal das criaturas recebe o nome de vontade, ou força do querer, elemento valioso e único, insubstituível.
Na sabedoria do tempo, ouvimos dizer que “assim é, se nos parecer”, o que, noutras palavras, resume o conceito por demais conhecido de sermos os autores, ou sujeitos, das ações do mundo. Os objetos existem, porém aqueles que dão existência aos objetos, os sujeitos, somos nós. “Quem ama o feio, bonito lhe parece”, a tal coisa dita de jeito um pouco diferente.
Portanto, simples quais todos os valores originais da vasta natureza onde habitamos, a equação da sonhada felicidade apenas reclama a atitude positiva de trocar o padrão mental sob o qual desenvolvemos o ato de viver, livre das complicações e entregas a vícios e fraquezas de perder batalhas antes de entrar no campo. Levantar o ânimo e olhar com gosto bom, estas sejam as providências que farão a difereça, para melhor, qualquer ocasião. Avalie bem, e não desista de ser feliz.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

VIDA A DOIS - Emerson Monteiro

Das estatísticas recentes, e estatísticas viraram instrumentos que norteiam muitas ações desses tempos complexos, alguns números sacolejam as sólidas bases de qualquer cidadão pacato e desinformado, a exemplo do que ouvi na semana que passou, que, minuto a minuto, quatro senhoras casadas são espancadas por seus esposos em um dos lares deste País continental. Isto é, de 15 em 15 segundos se comente um delito, agressões brutais, estúpidas e inconcebíveis em qualquer mundo dito civilizado.
Ainda se ouvia, de épocas românticas, que em mulher não se bate nem com uma flor, para, noutras palavras, dizer que ninguém é saco de pancada, muito menos as representantes do belo sexo, quando, de supetão, rasgaram-se as empanadas da hipocrisia machista e a realidade fria dos números explodiu qual ferida interna de um corpo doente, desse mundo social cheio de aleijões e atrasos.
O desrespeito para com os semelhantes caracteriza fases lastimáveis da vida em grupo, impondo atitudes agressivas e a repressão do próprio sistema, contudo tratar os sintomas sem curar as origens do mal apenas mascara os conflitos, escondendo causas e multiplicando riscos posteriores.
Por isso, há mesmo que se buscar, no íntimo das pessoas, as razões virulentas de tanta perversidade, que constrangem os padrões da normalidade. Não dá mais para fingir que o problema pertence aos outros. Os pactos ora existentes reclamam doses maiores de sinceridade e mudança nas práticas contínuas que parecem longe de acabar.
As ausências de comunicação entre os que se casam demonstram quase nenhum compromisso de amizade e companheirismo, talvez, quem sabe?, só interesse material, sexual; daí, carências de religiosidade e vulgarização da maldade sujeitam a levar ao seio da família, porto seguro das tradições culturais e educativas dos filhos, durante todo tempo. Viver em comunidade começa no âmbito familiar, célula-mãe das sociedades, conceito repetido e pouco exercitado.
Quando um homem e uma mulher resolvem firmar os laços puros do matrimônio, deve haver responsabilidade, existir valores mínimos para formar o lar, sonhos de paz, apoio mútuo, trabalho, satisfação pessoal, experiências profissionais somadas, união de princípios; fora disso inexistiriam justas condições de constituir um casal no sentido pleno.
Assim, face aos acontecimentos desta hora crítica, apenas persistirá a esperança de transformar este chão comum onde vivemos e trazer de volta paz aos lares, mediante o carinho autêntico e valioso de quem acredita nas bênçãos que nascem dos laços sagrados da justa felicidade entre os casais.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A INTELIGÊNCIA ALIMENTAR - Emerson Monteiro

Nós humanos buscamos um jeito bom para equilibrar os elementos da natureza, para achar nisso as fórmulas ideais de viver em harmonia, no mínimo face ao mundo que nos rodeia. Arrumamos defesas que facilitem passar os dias longe dos conflitos que engolem as pessoas. Aqueles mais sabidos rompem obstáculos intransponíveis, exercitando a capacidade que possuem de cruzar as situações e abrir margens e alternativas. E os alimentos que ingerimos também se enquadram nessa ginástica, nestes tempos industriais que desafiam pela propaganda, marcas oferecidas em cada esquina, por meios ardilosos de pouco critério. A luta é fugir das regras químicas de comer o que aparece na nossa tela sem qualquer chance de pensar de outro modo.
O resultado desse totalitarismo alimentar em que se transformaram as ofertas do que sobrou para comer implica, agora, numa aventura radical de saúde fragilizada, corredor lotado nas entradas de um sistema único de saúde assoberbado e filas intermináveis à porta dos consultórios médicos.
Há países de seculares tradições que mantêm a rigidez dos hábitos de alimentação como quem cultiva verdadeiras religiões de sobrevivência. São povos educados nas linhas rígidas e familiares impostas pelos ancestrais e pela comunidade. Veem os costumes quais peças-chave de preservação da natureza a partir da criança e do jovem, impondo respeito às leis das origens milenares, na intenção de uma medicina preventiva. Acreditam serem doenças os sintomas do desequilíbrio imposto ao sistema orgânico através de hábitos errados, guardando, com isso, a conservação da ordem química do corpo à medida que evitam cair em transformações equivocadas e fora de fundamentos conhecidos, inteligentes.
Na fase ocidental dos modos industriais, no entanto, o lucro prevalece acima de tudo, a todo custo, comer casca e nó, levando de eito o que surgir pela frente. As florestas que o digam, após a febre destruidora das reservas a pretexto de exercitar práticas de mercado da madeira e produção de carne, depois seguida dos agronegócios, da soja que domina a colonização amazônica.
Comer e beber hoje se tornam, a cada ano, em atividades de risco jamais imaginado pelos pessimistas. A mesa virou campo de prova de sobrevivência; os pratos, bombas-relógios de que não conhecemos os termos de finais para na saúde. Nossos avôs, às refeições, adotavam a expressão “peixe é que morre pela boca”. No entanto a humanidade parece haver se transformado num rumoroso cardume de variados peixes expostos aos caprichos das bolsas de mercadorias, vagando tontos na maré dos acontecimentos imprevisíveis da civilização.

sábado, 4 de dezembro de 2010

CADEIRA Nº 40

Vicente Bezerra Neto (Patrono)

Filho de Raimundo Nonato Bezerra (Bidu) e de Maria da Costa Bezerra (Mariquinha), nasceu Vicente Bezerra Neto em Lavras da Mangabeira, aos 12 de setembro de 1910. Ali iniciou os estudos primários, prosseguindo-os em Fortaleza, para onde se transferiu, aqui ingressando na Faculdade de Direito do Ceará, por onde saiu Bacharel em Ciência Jurídicas e Sociais em 1935.
Em Fortaleza, ainda como estudante, revelou-se um dos maiores jornalistas do nosso meio, fazendo àquela época, quase que sozinho, o Correio do Ceará. Quando formado, depois de breve estada no Rio de Janeiro, onde igualmente desempenhou as funções de jornalista, a convite do então Senador Felinto Müller, que via no moço taciturno e solidário grandes perspectivas de progresso, transferiu-se para o Estado do Mato Grosso, onde fixou residência definitiva.
Ali continuou as atividades jornalísticas e, por concurso, ingressou na carreira de Promotor Público, servindo a várias comarcas do interior daquele Estado. O contato com o povo através da militância na imprensa e da promotoria, levou-o a ingressar na carreira política, de que foi uma das maiores expressões, tanto no plano estadual, quanto no plano federal, onde representou o Estado, inclusive como Senador da República.
Em Mato Grosso, em duas legislaturas, desempenhou as funções de Deputado Estadual, tendo sido também Deputado Federal, vice-governador e governador interino daquele importante Estado do Federação.
Filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e registrado pela legenda Aliança Democrática Social Trabalhista, em 07 de setembro de 1962, com 69.396 votos, foi eleito Senador da República, para o exercício no período de 01 de fevereiro de 1963 a 31 de janeiro de 1971.
No Senado Federal, como integrante da bancada do PTB, foi escolhido Vice-líder da Maioria, tendo ali integrado, como titular, as comissões de Transporte, Comunicações e Obras Públicas, Constituição e Justiça e Economia e Saúde, e, como suplente, as comissões do Direito Federal, Indústria e Comércio e Relações Exteriores.
Em junho de 1963 foi indicado pelo PTB para representar o Senado na Delegação do Brasil à Conferência Internacional do Trabalho, realizada em Genebra, Suíça, sob o patrocínio da Organização Internacional do Trabalho. Em outubro de 1966, integrou a Missão Diplomática à República Argentina, Chile, Bolívia e Uruguai. Da mesma forma, representou o Brasil na Conferência Interparlamentar da Haia.
Jurista notável e escritor de grandes recursos, é autor, entre outros, dos seguintes livros: Missão em Nova Dhel (1968), O Estrangeiro nas Leis do Brasil (1971 e A Política no Brasil. Faleceu em Cuiabá, aos 25 de maio de 1999.
Fonte: (DIMAS MACEDO)

Rembrandt de Matos Esmeraldo (Primeiro Acadêmico)

Nasceu em 1951. Na cidade de Senador Pompeu. Viveu parte da infância em Pedra Branca. Formou-se pela Faculdade de Direito da UFC. Foi professor de diversos cursinhos e colégios em Fortaleza. Figura proeminente do Clube dos Poetas Cearenses, destacou-se como poeta pela publicação do seu livro Pedras em Branco. Poeta de vanguarda. Ativista e militante político de esquerda. Teve atuação destacada na luta contra a Ditadura Militar e, após a abertura política, foi eleito suplente de Deputado Estadual pela esquerda democrática. Atuou em Fortaleza e no interior do Ceará como Advogado criminal, sempre em defesa dos mais necessitados. Ser humano, líder político e advogado destemido. Conhecido pela sua erudição, ingressou no Ministério Público como Promotor de Justiça, destacando-se na sua classe pela correção e a coragem das suas decisões. Poeta e jurista respeitado. Além do livro de poema referido, deixou poemas publicados em diversos jornais e revistas cearense. Escreveu e publicou diversos ensaios de natureza jurídica e seus arrazoados forenses tornaram-se bastantes conhecidos. Publicou livros, opúsculos e folhetos versando temas da sua especialidade, destacando-se, entre eles, O Crime de Chico Pinheiro e o Dicionário Poético dos Cornos Brasileiros. Foi maçom e figura de proa da Maçonaria no Ceará. Ocupante da Cadeira de Nº 40, era o vice-presidente da ALL, eleito em 20 de maio de 2016. Faleceu em Lavras da Mangabeira, aos 21 de março de 2017 e foi sepultado em Fortaleza.
Fonte: Dimas Macedo.


João Tavares Calixto Júnior (Acadêmico atual).

Nasceu em Aurora








CADEIRA Nº 39

Vicente Paulo Lemos (Acadêmico)

Vicente Paulo Lemos nasceu aos 12 de outubro de 1951, no Sitio Taquari, distrito de Mangabeira, município de Lavras, sendo filho de Joaquim Gonçalves Neto e Cândida Gonçalves de Lemos.


Foram seus avós paternos: Agostinho Félix Vieira e Inácia Maria da Conceição, e maternos: Manoel de Oliveira Lemos e Maria Cândida Amorim de Souza.

Aprendeu as primeiras letras em sua terra natal, com as professoras Maria Luiza Oliveira e Maria Socorro Oliveira, entre 1964 a 1966, realizando o quarto ano primário e admissão ao ginásio no Seminário Salesiano de Jaboatão (Pernambuco), entre 1967 e 1968.

Prosseguiu os seus estudos na Congregação Salesiana de Carpina, no mesmo Estado, onde cursou a primeira e a segunda series ginasiais, entre 1969 e 1970, concluindo o ginásio em 1972, na Escola Industrial de Pernambuco, localizada nas cidades de Escada e Serra Talhada.

No final de 1972, mudou-se definitivamente para Fortaleza, aqui realizando o curso científico, no Liceu do Ceará, entre 1973 e 1975. Ainda em Fortaleza, cursou o terceiro e o quarto pedagógicos no Colégio João Pontes (1991) e no Instituto de Educação do Ceará (1993).

Graduou-se em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em 2002, e realizou a sua pós-graduação em Administração Escolar, na mesma Universidade, nos anos de 2003/2004.

Fez diversos cursos de formação profissional na área do turismo, tais o de Guia de Turismo Regional, no SENAC de Fortaleza, em 1997, e Guia de Turismo Nacional, na Escola de Turismo do Ceará, em 2003.

Co-fundador das seguintes centros ensino: Centro de Educação Juvenil Eça de Queirós, Centro de Educação Juvenil Maria Auxiliadora, Centro de Educação Juvenil Dom Bosco e Colégio São Domingos Sávio, tendo, por conta dessas atividades, se dedicado às atividades de educação fundamental, entre 1975 e 2003.

Em 1996, fundou a Agência Terra da Luz Turismo e Consultoria Educacional, através da qual presta serviços a Escolas públicas e particulares, organizando e executando aulas de campo e pesquisa com alunos de diversas escolas cearenses.

Poeta popular e cordelista, pertence à Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel, sediada en Salvador, e ao Centro Cultural dos Cordelistas do Ceará, sendo, em setembro de 2010, eleito para a cadeira número 38 da Academia Lavrense de Letras.

É autor, entre outros, dos seguintes folhetos de cordel: Irmã Dulce – Sua Vida e Morte em Versos, Chegada de Irmã Dulce ao Céu, Retrato do Sertão, Brasil Menor – A Realidade da Criança Brasileira, Um Grito Contra a Miséria, Apologias Políticas, Jubileu de Ouro do Padre Manoel Lemos de Amorim e Jubileu de Ouro da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. (DIMAS MACEDO).



Raimundo Nonato Dias (Patrono)

Filho de Maria José de Lima e de Cândido Salvador Dias, nasceu Raimundo Nonato Dias no Sítio Sapé, distrito de Mangabeira, município de Lavras, aos 25 de dezembro de 1910, sendo batizados aos 11 de janeiro de 1911 pelo Padre Joaquim Manoel de Sampaio.
Aprendeu as primeiras letras na Vila de Mangabeira com a professora Vicência Mota e com o Mestre-escola Paulo Moreira. Posteriormente, na cidade de Lavras, freqüentou as aulas do professor João Augusto Banhos, um dos luminares da educação do município.
Em 06 de fevereiro de 1929, ingressou no Seminário São José do Crato, então dirigido pelo Monsenhor Joviniano Barreto, e no mesmo permaneceu até 1934. Em fevereiro de 1935, ingressou no Seminário Arquidiocesano de Fortaleza, onde realizou seus estudos teológicos, ordenando-se sacerdote a 01 de dezembro de 1940.
Cantou a primeira missa no adro da Capela de São Sebastião do antigo distrito de São José, hoje Mangabeira, sua terra natal, aos 13 de dezembro do mesmo ano da ordenação sacerdotal, solenidade a que se fizeram presentes as bandas de música das cidades de Várzea Alegre e Lavras da Mangabeira, além de grande ajuntamento de pessoas do povo, autoridades e mais de uma dezena de sacerdotes da região.
Paroquiou Bom Jesus de Quixelô de 17 de junho de 1941 a 22 de fevereiro de 1945. Posteriormente, foi Lente do Seminário do Crato, ali lecionando história sagrada, português e geografia. Em seguida, foi nomeado vigário de Araripe onde esteve nos anos de 1946 a 1947, quando foi designado coadjutor de Missão Velha, ali permanecendo por um período de oito meses.
Desde 1948, e por um espaço de 11 anos, funcionou como Pró-pároco de Santo Antônio de Quixará, depois Farias Brito, oportunidade em que foi coadjutor do Padre Agio Moreira.
Em 31 de dezembro de 1959 transferiu-se para Fortaleza. Sem provisão, funcionou avulso até ser designado vigário cooperador da Paróquia de Santa Luzia, regida esta pelo Monsenhor Francisco de Assis Pita.
Retornando ao Cariri, a chamado de Dom Vicente de Araújo Matos, foi nomeado então coadjutor de Campos Sales, na época paroquiada pelo Padre Baldomiro Rodrigues de Sousa. Ao deixar aquela cidade, conseguiu junto ao Bispo da Diocese de Crato a criação da paróquia de São Sebastião de Mangabeira, da qual foi nomeado seu primeiro vigário e a qual regeu por um período de aproximadamente dois anos.
Transportando-se finalmente para a capital cearense, foi primeiramente coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora das Graças do Pirambu e, por último, tem sido vigário cooperador da Paróquia de São Gerardo, que tem à frente dos seus destinos o Monsenhor Abelardo Farias Lima.
Como sacerdote, tem devotado seu sacrifício existencial ao mais fiel desempenho do seu apostolado, colocando-se sempre ao lado dos necessitados e em franca oposição ao domínio dos prepotentes. Em verdade, tem elevado vida dedicada à pobreza e à despreocupação com as coisas terrenas, não obstante irônico diante das provações da existência.
Nas suas andanças, sertão adentro, realizou peripécias memoráveis, descendo das suas alturas de pastor da Igreja para viver a aventura dos humildes, satirizando sempre que possível os piores e os melhores momentos que lhe têm sido dado experimentar, inclusive as ironias vividas pelo próprio clero.
Ademais, foi o Padre Raimundo Nonato Dias cronista de O Povo e do jornal O Nordeste. Como poeta popular conduziu o folheto A Chegada do Papa ao Castelão. Cronologicamente, foi o primeiro mangabeirense a ordenar-se sacerdote e o segundo a graduar-se em curso superior.
ºSobre esta controvertida figura do clero cearense, veja-se o poema “As Proezas do Padre Nonato”, da autoria de Patativa do Assaré, bem como o seu retrato biográfico pintado por Dias da Silva no livro Um Padre e Muitas Proezas, trabalho no qual estão fotografadas as melhores e mais vibrantes passagens da sua existência de homem e de sacerdote Faleceu em Fortaleza, a 1º de fevereiro de 1988. (DIMAS MACEDO

CADEIRA Nº 38

Ernandes Pereira (Acadêmico)


Ernandes Pereira é o nome de um excelente cordelista, poeta popular e cantador de viola cearense. A sua erudição de poeta sertanejo e o seu amor à cultura popular do Nordeste são os atributos maiores que fazem de Ernandes um homem imprescindível.
Não pertence ao extrato da elite, nem à classe média, nem à burguesia lavrense de outrora, mas é certo que nasceu na Fazenda Cachoeira, muito próxima da cidade de Lavras, a 14 de outubro de 1944, sendo filho da professora Maria Ribeiro da Silva e do feirante Deoclécio Pereira da Silva, conhecido popularmente por Seu Deoclécio.
O seu genitor, que tanto encantou a minha infância com a textura e o cheiro das suas frutas saborosas, era um dos bons amigos do meu pai e a sua retidão transcendia e era propalada como se fosse um bem muito precioso.
Ernandes, desde cedo, revelou sua inquietação de andarilho e de poeta, atravessou o sertão do Ceará, mas quando o veneno do amor se infiltrou na sua alma, rendeu-se aos encantos de Francisca Pereira Sales e se estabeleceu em Camocim, onde se fez radialista e cantador, jornalista e poeta de bancada e quiçá o cordelista maior da zona norte do Estado.
Nunca teve paciência para seguir a escolaridade de curso regular, mas é certo que muito cedo ainda diplomou-se na universidade da poesia, na escola do gorjeio dos pássaros e no conservatório de música do cordel, com incursões, também, pela métrica do repente.
Do seu não-casamento com uma noiva que o abandonou, ou que ele teria abandonado em troca da poesia, nasceu sua primeira filha: Irla Nunes Pereira. E da sua união com Francisca Pereira Sales, em 1977, nasceu o outro mimo do seu coração: Petrília Paulinni Pereira Sales.
Mas o que conta mesmo na trajetória de Ernandes Pereira, é a sua condição de poeta popular, autor que é de uma obra literária quilométrica, composta de folhetos de cordel e de CDs e de composições musicais e de poemas que atraem de plano a atenção.
Nunca se desvinculou das suas raízes lavrenses, nunca renegou a sua infância de menino pobre, vivida nas margens do Salgado, e nunca fez do seu bacamarte literário uma linha de fuga para fora do seu universo pessoal.
A sua fidelidade à poesia de gosto popular e o seu amor às águas do Salgado e à brisa sem par do Boqueirão constituem um dado auspicioso da sua integridade humana e da sua alma sombria e enlevada, de quem vive e nasceu para sonhar.
Consta, na sua rica biografia, que iniciou seus estudos com a sua mãe, professora da rede pública municipal. E que, ainda menino, a família passou a residir definitivamente na cidade de Lavras, onde Ernandes prosseguiu a sua faina, dedicando-se à prestação de pequenos serviços, inclusive na área da agricultura.
Mas sabe-se, por igual, que sentindo vocação para a comunicação radiofônica e bem cedo percebendo-se poeta, iniciou-se como repentista, considerando que essa condição lhe permitiria, com mais facilidade, o ingresso na carreira de radialista.
Após realizar alguns cursos práticos no campo da radiofonia, passou a trabalhar como redator de notícias e, posteriormente, como locutor, a partir de 1968, profissionalizando-se na primeira metade da década de1970.
Sempre nutriu grande amor pelo repente e, como repentista, participou de dezenas de festivais do gênero, em quase todos os estados do Nordeste, recebendo, pelas suas vitórias, mais de 60 troféus, sendo 41 deles atribuídos a classificações em primeiro lugar.
Amante incondicional da insônia, como todo poeta que se preza, sempre aproveitou a ausência de ecos e dos zumbidos noturnos para ler e escrever poemas, sonetos e as mais diversas modalidades da poesia popular, o que lhe rendeu parceria com Dideus Sales, em cinco livros publicados por esse grande poeta cearense.
São suas as composições e todas as obras autorais constantes do LP Universo dos Versos e do CD Roteiros da Vida, nos quais Zé Eufrázio é companheiro de gravação e arquiteto de som.
Autor de mais de trezentos poemas populares, alguns venerados pela crítica e outros consagrados pelo público, porque transformados em folhetos de cordel, Ernandes divulgou também, para os seus leitores e ouvintes, dezenas de canções amorosas, boa parte delas já gravadas por diversos músicos e intérpretes.
No rádio, sempre trabalhou no jornalismo, gerenciando, há três anos, a Rádio Sant’Ana de Tianguá, pertencente à Diocese daquela região, onde desfruta de popularidade e reconhecimento, honrando, desta forma, e mercê do seu talento de poeta, o município que o viu nascer. (Dimas Macedo)




Antônio Fiúza de Pontes (Patrono)

Em Lavras da Mangabeira nasceu Antônio Fiúza de Pontes, aos 14 de junho de 1876. Filho do Coronel Antônio de Pontes Fiúza Lima e D. Umbelina de Carvalho Pontes.
Na cidade de Aracati fez os estudos primários com o Padre João Francisco Pinheiro, sendo que em 1892 transferiu-se para Fortaleza, aqui ingressando no Instituto de Humanidades, dirigido pelo Monsenhor Vicente Salazar da Cunha, concluindo o referido curso no Liceu do Ceará, onde iniciou os preparatórios, terminado-os em Recife, no Curso Anexo, em 1898, quando ingressou na Faculdade de Direito, para sair bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, aos 7 de dezembro de 1902.
Depois de formado, foi nomeado Promotor de Justiça de Monte Alegre, no Pará e, em 1903, promovido a Juiz Municipal Substituto da Comarca de São Miguel do Guará, no mesmo Estado.
Criada a Faculdade Livre de Direito do Ceará, em 1903, para a mesma foi nomeado Secretário, por ato de 14 de março de 1904, passando, a 14 de agosto de 1906, a ocupar o cargo de lente substituto de Direito Penal, sobressaindo-se como professor emérito e competente. Em 2 de abril de 1907, ainda integrando o corpo docente da Faculdade, recebeu do diretor da Instituição o grau de Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais e no mesmo ano escreveu Memória Histórica da Faculdade Livre de Direito do Ceará e dirigiu o curso complementar de praxe forense.
Envolvendo-se com as idéias políticas da época, foi feito Deputado à Assembléia Legislativa do Ceará, nas legislaturas de 1905 a 1908 e de 1909 a 1912.
Contudo, foi na literatura que Antônio Fiúza de Pontes veio a se consagrar. Participou ativamente dos movimentos literários de vanguarda de sua época. Pertenceu ao Centro Literário, fundado em Fortaleza aos 27 de setembro de 1894, em cujas sessões leu os versos do seu livro Myosotis, que não chegou a publicar. Contado entre os criadores do grupo literário Plêiade, fundado na capital cearense aos 15 de setembro de 1908, do qual foi presidente.
Poeta de elevada inspiração, “foi um perfeito temperamento de artista e um dos nossos melhores líricos”, na opinião abalizada de Mário Linhares. Publicou poesias esparsas na imprensa daqui e de outros Estados, especialmente no jornal A Repúbliuca e na revista Iracema, esta última, órgão do Centro Literário. Seu nome continua presença obrigatória em quase todos, senão em todos os compêndios que até agora tem focalizado a nossa evolução literária.
Além de Myosotis, deixou mais dois livros inéditos: Flores e Dos Tempos Idos, tendo falecido na capital alencarina aos 19 de fevereiro de 1909. Entre as homenagens que lhe foram prestadas, é hoje nome de rua em Fortaleza.(DIMAS MACEDO).

CADEIRA Nº 37

Cristina Maria de Almeida Couto (Acadêmica)

É natural de Lavras da Mangabeira – CE., Jornalista, Publicitária, Pós-graduada em Marketing Político, Assessoria de Comunicação e Metodologia do Ensino Superior. É Assessora Parlamentar na Câmara de Vereadores de Fortaleza, professora titular da Disciplina Realidade Socioeconômica e Política Brasileira na Faculdade Evolutivo, diretor de marketing da Academia Lavrense de Letras, interlocutora do Consulado de Portugal em Fortaleza e promotora dos Colóquios Lusófonos no Ceará. Publicou em agosto de 2010, o livro de ensaio sobre Chico Buarque de Hollanda, intitulado – As Cidades de Chico Buarque. Obra que hoje faz parte do "Acervo da Memoria Nacional", da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; da Fundação Casa de Rui Barbosa e Real Gabinete Português de Leitura. Ainda pela mesma publicação recebeu "voto de congratulação" da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, Requerimento de  autoria do deputado estadual Heitor Férrer e, da Câmara Municipal de Fortaleza, Requerimento de autoria do vereador Marcelo Mendes. Idealizadora, fundadora da Associação dos Filhos e Amigos de Lavras da Mangabeira – AFALAM - Ocupando os seguintes Cargos: 1ª Secretária,Presidente,Diretora de Cultura, Vice-presidente, 2ª Secretária, Membro do Conselho Consultivo. Membro efetivo do Conselho Fiscal do Centro Cívico e Educacional de Messejana. Representante da Paróquia de São José e da AFALAM na 1ª Coferência Nacional de Segurança Pública – ETAPA MUNICIPAL. Delegada pela sociedade civil e representante da Paróquia de São José e da AFALAM - 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública – ETAPA ESTADUAL; Representante da Paróquia de São José no Fórum de Debates Elos e Ecos dos Conflitos Socio-ambientais do Ceará; Coordenadora, organizadora e executora da Assembléia de Segurança Pública da Paróquia de São José; Conselheira  do Cariri Cangaço; Mestranda da UFC em Educação Brasileira e atual presidente da Academia; Secretária de Cultura de Lavras da Mangabeira - 2-13/2016; Construção e Manutenção das Páginas na INTERNET:  
http://paroquiadesaovicenteferrer.blogspot.com/
http://familiaaugusto.blogspot.com/
http://lavrasdamangabeirace.blospot.com/
Elaborou e Coordenou a Semana da Consciência Negra de Fortaleza/2006 - Prefeitura Municipal de Fortaleza, SEPPIR, FUNDAÇÃO PALMARES, PNUD.
Elaboração e Coordenação do Projeto “Ceará Quilombola – O Ceará que ninguém ver” - Vice-Prefeitura de Fortaleza/2006.
Fonte: Dimas Macedo






Balbina Lidia Viana Arrais (Patrono)

“Dona de uma beleza helênica, alta, esbelta e fisicamente perfeita”, segundo o historiador Otacílio Anselmo, Balbina Lídia Viana Arraes nasceu na Vila de São Ferrer das Lavras, aos 05 de dezembro de 1862, sendo filha de João Casemiro Viana Arraes e Mariana Infante Lima.
Ainda para o mesmo historiador, “é possível que tenha feito os seus primeiros estudos no próprio lar, tendo como professores seus pais, pois à época não havia estabelecimentos públicos e nem particular de ensino”, o que deve ser tomado como um grande equívoco, pois a partir de 1856 já existia, na Vila de Lavras, segundo a historiadora Rejane Augusto, uma cadeira pública de ensino para o sexo feminino, regida pela professora Generoza Cândida de Albuquerque.
É possível, sim, que a menina Balbina Lídia tenha sido aluna da professora Francisca de Mendonça Albuquerque Moraes, e deve ter tido uma juventude fulgurante, porque efetivamente bela e amplamente culta e erudita foi essa ilustre lavrense nascida no século dezenove.
Em 1884, aos 22 anos, foi levada a Fortaleza, onde submeteu-se a concurso para o Magistério Público, no antigo Liceu do Ceará, sendo aprovada com altivez. No ano seguinte, mais precisamente a 16 de janeiro de 1985, ingressou como professora da Instrução Pública do Estado, por nomeação do Presidente da Província, Honório Benedito Ottoni, o mesmo que elevou a sua terra natal à categoria de cidade, aos 20 de agosto de 1884.
Na qualidade de uma das primeiras professoras públicas do Ceará, Balbina começou sua carreira no magistério público cearense com bastante ânimo e determinação, primeiramente em Caririaçu, dali iniciando uma verdadeira maratona pelas vilas e cidades da região sul do Ceará.
Em 21 de novembro de 1887, foi transferida para a vila de Várzea Alegre, onde casou-se com Lydio Dias Pedroso, farmacêutico, natural do Crato e cidadão cujas convicções políticas eram opostas à situação dominante. Esse acontecimento mudou a vida da professora Balbina, pois determinou as sucessivas remoções da mesma para localidades as mais variadas.
Em 04 de setembro de 1890, no governo de Luiz Antônio Ferraz, foi designada professora pública da sua terra natal, segundo Otacílio Anselmo, mas para Rejane Augusto ela teria entrado no exercício do cargo a 16 de janeiro de 1888, ali permanecendo até 17 de março de 1892.
Com efeito, nesta última data, na gestão Benjamim Liberato Barroso, foi removida para Barbalha. E dessa cidade, em 09 de setembro de 1893, foi transferida para o ensino misto da cidade de Iguatu, onde se demorou menos de um ano, pois a 27 de junho de 1894, pelo mesmo governante acima referido, foi deslocada para Várzea Alegre.
Finalmente, a dia 25 de junho de 1898, foi transferida para a vila de Brejo Santo, pelo presidente Antônio Pinto Nogueira Acióli. Mas com o falecimento do seu esposo, a 20 de agosto de 1898, a vida nômade de Dona Balbina chegou a um fim, iniciando-se aí a sua fase de maturidade como civilizadora social maior de Brejo Santo.
A primeira escola pública daquele município, dirigida por Dona Balbina, foi instalada na Rua da Taboqueira, numa sala de propriedade do Coronel Basílio Gomes da Silva, chefe do executivo municipal entre 1893 e 1909, sendo depois transferida para o centro da cidade.
Após o falecimento do seu esposo, que lhe deixou apenas uma filha, Balbina Lídia passou a ter a companhia do seu irmão, o Padre João Casimiro Viana Arrais, que chegou a Brejo Santo, como vigário, em 1903, impulsionado por uma ânsia de progresso e desenvolvimento que ainda chama a atenção dos historiadores daquele município.
A 20 de abril de 1911, no entanto, dá-se a morte do Padre João Casemiro, com a idade de apenas 36 anos, e Dona Balbina Arrais, ainda que sozinha, resolve levar adiante a sua bandeira de lutas e de ações nos campos da vida social, educacional e religiosa daquele lugarejo, não parando mais de trabalhar, mesmo diante da sua aposentadoria, ocorrida a 16 de setembro de 1919.
No posto de professora pública de Brejo Santo foi sucedida pela sua própria filha, Balbina Pedrosa Viana Arrais (Dona Pedrosinha), diplomada também em Fortaleza e que fez fortuna na educação daquele município.
Jamais se aposentando da sua condição de Mestra e viveu até os últimos anos da sua proveitosa existência sempre rodeada de alunos, especialmente de crianças, que buscavam extrair dela as suas histórias e lições e o seu fulgor educacional.
No plano da vida religiosa, fez-se igualmente notória a sua atuação. Foi presidente do Apostolado da Oração, desde a sua criação pelo Padre Viana até o seu falecimento, dirigindo também naquela localidade a Confraria de Nossa Senhora do Carmo, fundada pelo Padre Monteiro.
Não se conformando, contudo, com a religiosidade do povo de Brejo Santo, afixou, em um dos cerros que ladeiam a cidade, um majestoso Cruzeiro, que ainda hoje ainda hoje ali permanece, e que se transformou, com o tempo, em símbolo de fé e de peregrinação.
Faleceu Dona Balbina Lídia aos 28 de fevereiro de 1951, aos oitenta e nove anos de idade, na mesma residência que edificou juntamente com o seu irmão, o Padre João Casemiro Viana Arraes, e que passou para a história do Cariri como o nome de Solar dos Arrais, uma das mais belas edificações do Ceará.
Era uma criatura de raríssimo valor. Caráter sem jaça e espírito cristão por excelência, possuía um equilíbrio moral a toda prova, era portadora de uma social impressionante e a todos cativava com a sua postura de senhora altiva e sempre decidida diante das coisas do saber.
Conhecendo o resplendor da sua trajetória e a sua luta persistente em favor da causa da cultura e da educação, em 2010 propus o seu nome para a condição de Patrona da cadeira nº 36 da Academia Lavrense de Letras, destacando, por igual, no meu livro Literatura Lavrense – Notas Para a Sua História (Fortaleza, Edições Poetaria, 2010), que Balbina Lídia foi “a mais ilustrada e erudita lavrense nascida no século dezenove, com ressonância em todo o Ceará”.
Recortes da sua biografia edificante foram tracejados por Otacílio Anselmo em dois excelentes artigos estampados na revista Itaytera, do Instituto Cultural do Cariri, e outros depoimentos sobre a sua vida e a sua obra de educadora podem ser consultados em vários sites da internet.
Dona Balbina Lídia, de forma induvidosa, é um dos orgulhos do município de Lavras, ao lado do seu irmão, João Casimiro Viana Arrais, que se encontra biografado no meu livro Lavrenses Ilustres, e que foi um dos grandes intelectuais do Cariri, no início do século precedente.
Fortaleza, março de 2011
Dimas Macedo