Esse um novo livro de Geraldo Ananias Pinheiro, autor caririense que resolveu mergulhar no espaço urbano para revolver as contradições dos tempos prenhes de matizes apocalípticos, ao estilo dos contadores de histórias. Anda nas aglomerações com a mesma fluência que caracterizou os livros recentes, de locações sertanejas, superpondo ações e personagens com a leveza de quem traz o jeito de conduzir
aonde pretende; assinala dramas interiores e dificuldades ambientais, aventureiro do inesperado e da frieza das instituições sociais, em estruturas metálicas de sítios geométricos enigmáticos.
Nas trilhas da cidade grande envoltas nas sombras, no enxameio de máquinas apressadas, coisas misteriosas acontecem, grifadas nas impressões psicológicas que remexem as almas, a suprir solidões de becos escuros, na metrópole. Sentimentos se atritam dentro das madrugadas insones, fortes amores despertam em plenos expedientes e nas mesas dos restaurantes de luxo, seres esquisitos, fantasmas petulantes.
Nisso, a atualização das expectativas pouco satisfeitas de amores, amizades, companheirismo, aos moldes do que o romance permite na sua imprevisibilidade constante. Ananias sabe disso. Contundente, machuca feridas abertas pelos gestos incompreendidos. Uma surpresa sobrevoa todo tempo as peças do jogo, num ritmo frenético. A familiaridade com que conduz seu bloco de protagonistas revela habilidade que comunica e diverte.
Na força do romance, enxerga a ótica dos autores de produzir existências através da velha ficção. Desponta horizontes onde antes nada havia; com isso, desvela mundos e abre portas. Escrever páginas das histórias guardadas nas regiões mentais obscuras funciona qual psicanálise de cada época. A fúria dos que se descobrem fazedores de romances gera meios ao dizer dessas fases das sociedades, e as páginas vão abrindo espaço às emoções, aos papéis que avolumam relacionamentos nas palavras e nos contextos.
Neste seu quarto livro, Geraldo Ananias cresceu no amadurecimento e nas interpretações do espontâneo que prende a atenção e quer usufruir dos valores vindos nas calhas da criação literária.
Quando chega ao misterioso, o que houve também no livro anterior, Levado ao vento, abre as perspectivas reencarnacionistas, solução dos inúmeros espantos humanos das afinidades, idiossincrasias, tendências, no resgate das possibilidades tantas vezes consignadas, e pouco atendidas, dos impasses e contradições da vida. Indica, sem, no entanto, coagir. Insinua, sem confrontar crenças ou conceitos estabelecidos. Pisa as páginas do futuro qual explorador cuidadoso, circunstante, abrindo frestas às visões particulares das marcas deixadas em todo coração.
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