Ele, um desses iguais personagens advindos nas asas da ficção do Cariri, Luiz Carlos Salatiel. Surgido nesse mundo fantástico das terreiradas mágicas do chão nacional dos ancestrais, Luiz invade o salão das festas populares também para movimentar em si próprio a cena luminosa do hemisfério oriental de músicas, artes plásticas, literaturas. Arauto da alegria, sacode maracás do ritual dos caboclos desde tempos atrás, aos turnos dos festivais da canção do Parque Municipal a salões de arte e outras manifestações paralelas.
Depois, dormir ouvindo Luiz entrevistar os mestres Aldeni e Isabel, do Reisado da Vila Lobo, no programa Cariri Encantado da Rádio Educadora, fala de sonhos e viagens a universos da mística fundamental. Mergulhar às raízes da cultura nordestina, fincadas nos alpendres e solos medievais da Península Ibérica, patamares da tradição imorredoura que desfila atores altivos dos grupos de brincantes sob o comando de certos capitães alencarinos. Um tropel de cavaleiros andantes de armaduras luminosas, que percorre praças dos reinos transcendentais, defensores perpétuos de lendas e mitos, cantigas e naus catarinetas varridas ao vento de luas e castelos eternos, sombras rebrilhantes escorrendo nos prados verdes dos torneios, clarins, alazões pendoados e lanças coloridas.
Ainda que mais pretendesse contar das possibilidades impossíveis, falar das peripécias desse personagem ocuparia vasilhas enormes. Bom caráter, atípico, animador, surpreendente, cigano do inesperado, Luiz Carlos reúne vários Luiz Carlos Salatiel de Alencar num só Luiz Carlos. As paredes das programações individuais radiofônicas forçariam reservas para contê-lo num único projeto pessoal sem maiores resultados que dissessem quanto ele representa para nós em termos de artista incansável, paladino das lutas pelos valores infinitos da melhor inspiração.
Veja bem, o conteúdo criativo nesse audaz cavaleiro queima de intensidade o papel dos saltimbancos fellinianos, tipo móvel que brotou no Cariri e escreve, com seu itinerário, parábolas, pautas e andanças incríveis, códigos arcaicos nas encostas circulares da Serra. Viajou longe pela aventura da vida e aqui retornou como ninguém aos feitos da história particular das sagas prodigiosas, em versões assemelhadas às epopéias que reaviva nos roteiros das estradas de gado rompidas na lauta conquista dos sertões, pela Casa da Torre de Garcia D’Ávila.
Antes, há pouco, soube o quanto o repertório de palavras da pessoa acaba devendo para rabiscar com propriedade as contribuições de cada instrumento isolado ao conjunto harmonioso das orquestras. A pena traz dali, ajunta daqui, concentra esforços e nada. Bom, tudo isto na gravação de um comentário dos feitos notáveis de Luiz Carlos Salatiel sempre no propósito de acondicionar para o futuro os frutos culturais da nossa gente.
Data de Fundação: 01 de junho de 2008 / Presidente: Dimas Madedo/ e-mail:academialavrensedeletras@gmail.com
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
O NOVO LIVRO DE DANIEL WALKER - Emerson Monteiro
Será hoje (28 de outubro de 2010), às 20h, no Hotel Verdes Vales, em Juazeiro do Norte, o lançamento do livro História da Independência de Juazeiro, escrito por Daniel Walker, uma obra que reúne os principais elementos a propósito do marcante acontecimento de 100 anos, fator preponderante na formação do Cariri da atualidade. Composta de ilustrações fotográficas raras e valiosas, vem recheada de achados biográficos, depoimentos, citações jornalísticas e narrativas reveladoras, o que, decerto, enriquecerá sobremaneira o vasto acervo até aqui consolidado.
Daniel Walker compõe o elenco dos escritores da forte literatura caririense responsável pela preservação do acervo da história social deste lugar. Ao lado de outros quais Geraldo Menezes Barbosa, Napoleão Tavares Neves, Padre Antônio Gomes de Araújo, Raimundo Araújo, Renato Casimiro, Otacílio Anselmo, Nertan Macedo, J. de Figueiredo Filho, Armando Lopes Rafael, Raimundo de Oliveira Borges, Joaryvar Macedo e outros de inestimável valia, forma o grupo responsável pela composição da nossa historiografia, dentro dos moldes técnicos da pesquisa acadêmica, concedendo à posteridade acervo fundamental à interpretação dos fenômenos determinantes destes séculos mais recentes, as bases da nossa civilização interiorana. Pelas mãos desses autores, encetadas em suas produções criteriosas, desfilam, pois, peças imprescindíveis para a formulação da realidade histórica regional.
Nascido em Juazeiro do Norte em 06 de setembro de 1947, desde jovem Daniel se volta às lides jornalísticas e literárias, redigindo com intensidade também para o rádio e para a imprensa escrita de Fortaleza, correspondente que foi de vários jornais da capital do Estado.
Junto à Universidade Regional do Cariri exerceu o magistério, a pesquisa, e dedicou-se aos estudos da história juazeirense, publicando diversos trabalhos consagrados sobre a vida de Padre Cícero Romão Batista, além de outros de cunho didático-pedagógico e de temas da sua área de formação universitária, a biologia, graduado em História Natural pela Faculdade de Filosofia do Crato, com especialização em Ciências, pela Universidade Federal do Ceará.
Dentre as fontes analisadas por Daniel Walker para a contextualização do material que ora oferece ao público está a coleção do jornal O Rebate, órgão fundamental para a fermentação das ideias da independência do Juazeiro e para a formação institucional do município posterior. Em vista da importância do conteúdo de O Rebate, a comissão responsável pelo centenário juazeirense cuidou de resgatar toda a coleção, em edições fac-similadas.
Assim, o trabalho independente, realizado pela gráfica HB, de Juazeiro do Norte, é uma bem cuidada edição de 196 páginas, que visa homenagear o município por ocasião do centenário, porquanto, em 22 de julho de 1911, se dera a sua emancipação política, antecedida das movimentações que busca com zelo e honesta preocupação oferecer subsídios a futuras investigações.
Daniel Walker compõe o elenco dos escritores da forte literatura caririense responsável pela preservação do acervo da história social deste lugar. Ao lado de outros quais Geraldo Menezes Barbosa, Napoleão Tavares Neves, Padre Antônio Gomes de Araújo, Raimundo Araújo, Renato Casimiro, Otacílio Anselmo, Nertan Macedo, J. de Figueiredo Filho, Armando Lopes Rafael, Raimundo de Oliveira Borges, Joaryvar Macedo e outros de inestimável valia, forma o grupo responsável pela composição da nossa historiografia, dentro dos moldes técnicos da pesquisa acadêmica, concedendo à posteridade acervo fundamental à interpretação dos fenômenos determinantes destes séculos mais recentes, as bases da nossa civilização interiorana. Pelas mãos desses autores, encetadas em suas produções criteriosas, desfilam, pois, peças imprescindíveis para a formulação da realidade histórica regional.
Nascido em Juazeiro do Norte em 06 de setembro de 1947, desde jovem Daniel se volta às lides jornalísticas e literárias, redigindo com intensidade também para o rádio e para a imprensa escrita de Fortaleza, correspondente que foi de vários jornais da capital do Estado.
Junto à Universidade Regional do Cariri exerceu o magistério, a pesquisa, e dedicou-se aos estudos da história juazeirense, publicando diversos trabalhos consagrados sobre a vida de Padre Cícero Romão Batista, além de outros de cunho didático-pedagógico e de temas da sua área de formação universitária, a biologia, graduado em História Natural pela Faculdade de Filosofia do Crato, com especialização em Ciências, pela Universidade Federal do Ceará.
Dentre as fontes analisadas por Daniel Walker para a contextualização do material que ora oferece ao público está a coleção do jornal O Rebate, órgão fundamental para a fermentação das ideias da independência do Juazeiro e para a formação institucional do município posterior. Em vista da importância do conteúdo de O Rebate, a comissão responsável pelo centenário juazeirense cuidou de resgatar toda a coleção, em edições fac-similadas.
Assim, o trabalho independente, realizado pela gráfica HB, de Juazeiro do Norte, é uma bem cuidada edição de 196 páginas, que visa homenagear o município por ocasião do centenário, porquanto, em 22 de julho de 1911, se dera a sua emancipação política, antecedida das movimentações que busca com zelo e honesta preocupação oferecer subsídios a futuras investigações.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
CIDADANIA DE RESULTADO - Emerson Monteiro
Aqui vamos nós a colar os pensamentos no ato da escrita. Querer agora falar nos direitos da cidadania. Lembrar que houve tempo, de um Brasil recente, quando quase ninguém sabia disso. Apenas longos tapetes voadores circulavam o céu, caturando lugar nas praças, reclamando pista de pouso. Numa enxurrada só, em menos de um século, vieram morar no chão nacional os direitos da cidadania. Direitos civis, políticos e sociais.
Ao cidadão completo, os direitos civis significam os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. A garantia de ir e vir, de escolher trabalho, manifestar o pensamento, de se organizar, ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de só ser preso pela autoridade competente e de acordo com as leis, de só ser condenando mediante o devido processo legal. São civis os direitos que têm por base uma justiça independente, eficiente, barata e a todos acessível.
Os direitos políticos, ao seu modo, representam a participação do cidadão no governo da sociedade. A base dos direitos políticos são os partidos e um parlamento livre e representativo.
E os direitos sociais, que garantem a participação do cidadão na riqueza coletiva por meio da educação, do trabalho, do salário justo, da saúde e da aposentadoria. Permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir bem-estar mínimo. A ideia central que estrutura os direitos sociais é a justiça social.
Assim, mediante tão belas concepções filosóficas, as sociedades ocidentais letradas desenvolveram e praticaram os postulados estabelecidos no Iluminismo, e trouxeram ao poder dos estados modernos o ânimo forte das recentes constituições nacionais.
Contudo há os beneficiários da tanta luz da cidadania que, na contramão dos movimentos, estendem os braços e abrem as bocas quase só visualizando o egoísmo. Se há direitos, lhes pertencem por esperteza e dominação. Melhores estradas, melhores colégios, melhores manicômios judiciários, pistas pintadas, sinais funcionando, máquinas azeitadas e sofisticadas, repartições a todo vapor, no entanto para si e para os seus, totalitarismo de ocasião de causar náuseas e dó naqueles que ocupem a rabada nas filas, contrariedade pela ausência de cerimônia com que esses barriga cheia invadem a passarela, na intenção de comer a rifa da primeira garfada, esquecidos que sem direitos coletivos não existiria cidadania.
Isso assusta a ponto de aventarem até o pretexto de existir cidadãos de primeiras e segundas classes, absurdo de não ter tamanho. Mediante todas as conquistas da cidadania, cada cidadão preenche patamar único diante da soberania das leis. Esta grandeza representa, pois, os direitos que pertencem ao povo, livre de sobras ou contrapesos, primado de lutas e conquistas obtidas no decorrer de longos séculos.
Ao cidadão completo, os direitos civis significam os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. A garantia de ir e vir, de escolher trabalho, manifestar o pensamento, de se organizar, ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de só ser preso pela autoridade competente e de acordo com as leis, de só ser condenando mediante o devido processo legal. São civis os direitos que têm por base uma justiça independente, eficiente, barata e a todos acessível.
Os direitos políticos, ao seu modo, representam a participação do cidadão no governo da sociedade. A base dos direitos políticos são os partidos e um parlamento livre e representativo.
E os direitos sociais, que garantem a participação do cidadão na riqueza coletiva por meio da educação, do trabalho, do salário justo, da saúde e da aposentadoria. Permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir bem-estar mínimo. A ideia central que estrutura os direitos sociais é a justiça social.
Assim, mediante tão belas concepções filosóficas, as sociedades ocidentais letradas desenvolveram e praticaram os postulados estabelecidos no Iluminismo, e trouxeram ao poder dos estados modernos o ânimo forte das recentes constituições nacionais.
Contudo há os beneficiários da tanta luz da cidadania que, na contramão dos movimentos, estendem os braços e abrem as bocas quase só visualizando o egoísmo. Se há direitos, lhes pertencem por esperteza e dominação. Melhores estradas, melhores colégios, melhores manicômios judiciários, pistas pintadas, sinais funcionando, máquinas azeitadas e sofisticadas, repartições a todo vapor, no entanto para si e para os seus, totalitarismo de ocasião de causar náuseas e dó naqueles que ocupem a rabada nas filas, contrariedade pela ausência de cerimônia com que esses barriga cheia invadem a passarela, na intenção de comer a rifa da primeira garfada, esquecidos que sem direitos coletivos não existiria cidadania.
Isso assusta a ponto de aventarem até o pretexto de existir cidadãos de primeiras e segundas classes, absurdo de não ter tamanho. Mediante todas as conquistas da cidadania, cada cidadão preenche patamar único diante da soberania das leis. Esta grandeza representa, pois, os direitos que pertencem ao povo, livre de sobras ou contrapesos, primado de lutas e conquistas obtidas no decorrer de longos séculos.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
RECADO DO CONTERRÂNEO - AURY PORTO
Amigos e familiares moradores da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção,
eu e meus companheiros de cena aportaremos na Terra da Luz com nosso O IDIOTA - UMA NOVELA TEATRAL em novembro próximo.
O IDIOTA é um romance que foi publicado por Fiódor Dostoiévski em forma de folhetim, como muitos autores brasileiros o fizeram até meados do século XX. E a adaptação que eu estruturei com alguns parceiros segue esta pegada e usa no subtítulo o termo "novela" porque, é do folhetim virado rádionovela que vem esse gênero dramático tão popular entre nós hoje em dia: a telenovela, popularmente conhecido como novela.
Bem, eu transformei os cinquenta capítulos do romance em doze e daí montamos a peça que foi apresentada em São Paulo e em um festival iberoamercano em Santos em três dias consecutivos. Os doze capítulos em três partes divididas em três dias.
Em Fortaleza, O IDIOTA - UMA NOVELA TEATRAL vai ser apresentado três vezes na íntegra. Ou seja, as três partes em um só dia.
Dias 14(18:00), 15(18:00) e 17(19:00) de novembro.
Serão sete horas contando com os dois intervalos. Um mais longo de meia hora, para todos comerem e beberem e outro de quinze minutos.
A peça ocupará vários espaços do Teatro José de Alencar e o público se deslocará pelos espaços juntamente com os atores-personagens. Usaremos o jardim, o foyer, os camarins, o pátio, o palco principal, etc...
O ingresso é quase gratuito. Estamos decidindo com a direção do teatro que escambo usaremos.
Mais notícias virão aí.
Tomara que tomem coragem de viver essa aventura. A história é deliciosa! Cheia de trama, humor, beleza, sensibilidade, inteligência e tragédia.
Conselho precioso: não vão ao teatro cansados. É roubada. Tomem guaraná ou algum outro energético, se preciso for. Ou mandem alguém no seu lugar. Hahahahaha!
Vão falando pra todas as pessoas que eu con heço e que eu não tenho email, por favor. ESPALHEM!
Ah! São só 100 espectadores por sessão.
Beijos e abraços idiotas,
Aury
eu e meus companheiros de cena aportaremos na Terra da Luz com nosso O IDIOTA - UMA NOVELA TEATRAL em novembro próximo.
O IDIOTA é um romance que foi publicado por Fiódor Dostoiévski em forma de folhetim, como muitos autores brasileiros o fizeram até meados do século XX. E a adaptação que eu estruturei com alguns parceiros segue esta pegada e usa no subtítulo o termo "novela" porque, é do folhetim virado rádionovela que vem esse gênero dramático tão popular entre nós hoje em dia: a telenovela, popularmente conhecido como novela.
Bem, eu transformei os cinquenta capítulos do romance em doze e daí montamos a peça que foi apresentada em São Paulo e em um festival iberoamercano em Santos em três dias consecutivos. Os doze capítulos em três partes divididas em três dias.
Em Fortaleza, O IDIOTA - UMA NOVELA TEATRAL vai ser apresentado três vezes na íntegra. Ou seja, as três partes em um só dia.
Dias 14(18:00), 15(18:00) e 17(19:00) de novembro.
Serão sete horas contando com os dois intervalos. Um mais longo de meia hora, para todos comerem e beberem e outro de quinze minutos.
A peça ocupará vários espaços do Teatro José de Alencar e o público se deslocará pelos espaços juntamente com os atores-personagens. Usaremos o jardim, o foyer, os camarins, o pátio, o palco principal, etc...
O ingresso é quase gratuito. Estamos decidindo com a direção do teatro que escambo usaremos.
Mais notícias virão aí.
Tomara que tomem coragem de viver essa aventura. A história é deliciosa! Cheia de trama, humor, beleza, sensibilidade, inteligência e tragédia.
Conselho precioso: não vão ao teatro cansados. É roubada. Tomem guaraná ou algum outro energético, se preciso for. Ou mandem alguém no seu lugar. Hahahahaha!
Vão falando pra todas as pessoas que eu con heço e que eu não tenho email, por favor. ESPALHEM!
Ah! São só 100 espectadores por sessão.
Beijos e abraços idiotas,
Aury
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
ESSES REJEITADOS SUBURBANOS - Emerson Monteiro
Segunda-feira, 25 de outubro de 2010. As estatísticas da Grande Fortaleza dão conta da cifra de 21 homicídios durante o final de semana que passou. Algo alarmante para época de paz social. Números atípicos de um mundo injusto. Enquanto que seres humanos da mesma civilização ocidental circulam silenciosos pelas avenidas, ruas e praças, qual se nada acontecesse além dos programas sensacionalistas, próprios dos horários do almoço da classe média com isso preocupada.
Ninguém nasce marginal e a sociedade transforma seus herdeiros em monstros aterrorizadores pecaminosos, armados até os dentes, raquíticos, tatuados, esqueléticos, olhos fundos, feições agressivas, usuários e traficantes de drogas, menores infratores, protagonistas de boletins e ocorrências, algarismos arábicos, denunciados pelo sofrimento de mães desesperadas, aflitas, filhos sem pais, reconhecidos de apelidos torpes, xingados, sobejos da mídia e menores enjeitados da sorte oficial. Uma sanha grita aos quatro ventos, do alto dos morros e linhas vermelhas do desencanto, o arrepio dos poderosos que, ano após ano, se sucedem juntos de tronos bem conservados. Desempregados, subempregados, informais consumidores crônicos de crack, pixotes versados na ordem seletiva de magnatas e políticos trajando grifes cativantes, frutos podres das tecnocracias de conveniência, dentes cariados de regimes e práticas.
Vez em quando surgem idealistas que protestam de cartilhas em punho. Reclamam para esses rejeitados suburbanos das periferias sociais, assassinados, exterminados de si mesmos. Programam políticas públicas que pretendem encampar os déficits nos projetos futuros, que se arrastam nas marcas tortas da distribuição de renda.
Quando calarmos, até as pedras clamarão... Independente das providências paliativas, dos reforços de efetivos, mais armas e munições, guerra surda se instalou nos becos e terrenos vazios, nas distantes favelas e nos córregos poluídos, de zumbis à procura da lua. Tropel silencioso percorre guetos, exército surreal de nossos irmãos, sobrinhos, filhos nossos, soldados desconhecidos no orçamento, esfaqueados, fuzilados, triturados, fora dos olhos das câmeras e dos quadrantes da caridade pública, desassistidos da ganância, raça da nossa raça, ainda imberbes, sangue do nosso sangue, negros, pardos, índios, prostitutas, alcoólatras, dependentes químicos, que perderam o bonde da história desde o berço e a inocência criminal desde a primeira infância, ou ainda no útero materno, largados nos lixões da glória do mundo... Caldo grosso da mesma humanidade escore fétido de cães e muralhas, estádios e edifícios acrílicos faiscantes, abortos largados sob as marquises, nos mangues, canteiros e viadutos, bandidos da economia de escala... Enquanto isso, balas perdidas ricocheteiam criminosas pelas copas das árvores, nas calçadas da fama e veias solitárias dos aidéticos degenerados...
Quem, pois, pranteará a verdade dos tantos perdidos na mocidade em flor, atirados quentes às estatísticas mornas deste tempo sem amor?
Ninguém nasce marginal e a sociedade transforma seus herdeiros em monstros aterrorizadores pecaminosos, armados até os dentes, raquíticos, tatuados, esqueléticos, olhos fundos, feições agressivas, usuários e traficantes de drogas, menores infratores, protagonistas de boletins e ocorrências, algarismos arábicos, denunciados pelo sofrimento de mães desesperadas, aflitas, filhos sem pais, reconhecidos de apelidos torpes, xingados, sobejos da mídia e menores enjeitados da sorte oficial. Uma sanha grita aos quatro ventos, do alto dos morros e linhas vermelhas do desencanto, o arrepio dos poderosos que, ano após ano, se sucedem juntos de tronos bem conservados. Desempregados, subempregados, informais consumidores crônicos de crack, pixotes versados na ordem seletiva de magnatas e políticos trajando grifes cativantes, frutos podres das tecnocracias de conveniência, dentes cariados de regimes e práticas.
Vez em quando surgem idealistas que protestam de cartilhas em punho. Reclamam para esses rejeitados suburbanos das periferias sociais, assassinados, exterminados de si mesmos. Programam políticas públicas que pretendem encampar os déficits nos projetos futuros, que se arrastam nas marcas tortas da distribuição de renda.
Quando calarmos, até as pedras clamarão... Independente das providências paliativas, dos reforços de efetivos, mais armas e munições, guerra surda se instalou nos becos e terrenos vazios, nas distantes favelas e nos córregos poluídos, de zumbis à procura da lua. Tropel silencioso percorre guetos, exército surreal de nossos irmãos, sobrinhos, filhos nossos, soldados desconhecidos no orçamento, esfaqueados, fuzilados, triturados, fora dos olhos das câmeras e dos quadrantes da caridade pública, desassistidos da ganância, raça da nossa raça, ainda imberbes, sangue do nosso sangue, negros, pardos, índios, prostitutas, alcoólatras, dependentes químicos, que perderam o bonde da história desde o berço e a inocência criminal desde a primeira infância, ou ainda no útero materno, largados nos lixões da glória do mundo... Caldo grosso da mesma humanidade escore fétido de cães e muralhas, estádios e edifícios acrílicos faiscantes, abortos largados sob as marquises, nos mangues, canteiros e viadutos, bandidos da economia de escala... Enquanto isso, balas perdidas ricocheteiam criminosas pelas copas das árvores, nas calçadas da fama e veias solitárias dos aidéticos degenerados...
Quem, pois, pranteará a verdade dos tantos perdidos na mocidade em flor, atirados quentes às estatísticas mornas deste tempo sem amor?
sábado, 23 de outubro de 2010
ELEIÇÃO PEGADA - Emerson Monteiro
Afinal, nesta madrugada de 22 de outubro de 2010, veio a esperada chuva do caju, em forma de neblina grossa, que sustentará a florada dos cajueiros e mangueiras, alento bem recebido pelo mundo sertanejo. Acordar ao som das águas caindo nas biqueiras envolve os sonhos, traz alegria e alívio às temperaturas elevadas, acomoda o pó nas estradas, alimentando plantas e bichos. Estiagem desde março, tudo muda com as chuvas. A quadra seca dos últimos meses do ano costuma levantar os olhares dos caboclos às nuvens, acompanhando de perto os confortos da natureza.
Enquanto isto, a vida civil segue seu curso nas várias frentes e ações. Ano eleitoral. Será o segundo turno para presidente no País, e governador em alguns estados. Movimento por demais intenso, acrescenta calor à expectativa, sobretudo com relação ao destino das políticas públicas iniciadas no atual governo. A relativa proximidade nos números do candidato José Serra, do PSDB, com relação aos da primeira situada, Dilma Rousseff, do PT, sugere um pleito pegado até a hora da apuração.
A menos de dez dias da votação, recrudesceram os ânimos das militâncias e opiniões vêm à tona com maior intensidade. Nestas eleições, a Rede Internacional de Computadores (Internet) revelou face antes encoberta da informação, apresentando aspectos diferentes de vídeos, declarações e artigos, numa proporção maior do que nas outras eleições.
O aguçamento das paixões transborda nas atitudes escapam ao domínio tradicional das eleições anteriores, quero crer, porém os riscos da liberdade na escolha dos representantes guardam estreita relação com a verdade e o amadurecimento dos costumes. No caso brasileiro, quase ainda só percorremos o período da adolescência institucional, devido às interrupções sucessivas no curso dos acontecimentos, quase vivendo a fase da experimentação inicial das práticas necessárias. Países mais antigos contam mais de 500 anos de maturidade constitucional, e assim buscam a todo preço garantir valores por vezes ameaçados e sacudidos nos turnos eleitorais.
Querem-se melhorar as escolhas, porém, no dizer do povo, ninguém traz estrela na testa para mostrar o que fará no futuro e quais atitudes adotarão no exercício do poder. Projetos sociais merecem destaques nos programas dos candidatos, sem garantia de certezas absolutas na hora do exercício do mandato. Áreas essenciais, saúde, educação, trabalho, moradia, segurança, significam respeito pela população, paz e desenvolvimento.
Estas lições, se aprendidas e demonstradas, exigem honestidade dos governantes e manutenção das promessas, na vida comunitária. Autoridades devem agir com correção, sobretudo no uso do dinheiro do povo, bem sagrado e escasso. Um homem público se acha, portanto, sob os olhos da multidão. Ninguém vive isolado acima do bem e do mal. Este mundo contraditório reclama de coerência e sabedoria na seleção dos comandos, para a conquista real da justiça em épocas de aprimoramento.
Enquanto isto, a vida civil segue seu curso nas várias frentes e ações. Ano eleitoral. Será o segundo turno para presidente no País, e governador em alguns estados. Movimento por demais intenso, acrescenta calor à expectativa, sobretudo com relação ao destino das políticas públicas iniciadas no atual governo. A relativa proximidade nos números do candidato José Serra, do PSDB, com relação aos da primeira situada, Dilma Rousseff, do PT, sugere um pleito pegado até a hora da apuração.
A menos de dez dias da votação, recrudesceram os ânimos das militâncias e opiniões vêm à tona com maior intensidade. Nestas eleições, a Rede Internacional de Computadores (Internet) revelou face antes encoberta da informação, apresentando aspectos diferentes de vídeos, declarações e artigos, numa proporção maior do que nas outras eleições.
O aguçamento das paixões transborda nas atitudes escapam ao domínio tradicional das eleições anteriores, quero crer, porém os riscos da liberdade na escolha dos representantes guardam estreita relação com a verdade e o amadurecimento dos costumes. No caso brasileiro, quase ainda só percorremos o período da adolescência institucional, devido às interrupções sucessivas no curso dos acontecimentos, quase vivendo a fase da experimentação inicial das práticas necessárias. Países mais antigos contam mais de 500 anos de maturidade constitucional, e assim buscam a todo preço garantir valores por vezes ameaçados e sacudidos nos turnos eleitorais.
Querem-se melhorar as escolhas, porém, no dizer do povo, ninguém traz estrela na testa para mostrar o que fará no futuro e quais atitudes adotarão no exercício do poder. Projetos sociais merecem destaques nos programas dos candidatos, sem garantia de certezas absolutas na hora do exercício do mandato. Áreas essenciais, saúde, educação, trabalho, moradia, segurança, significam respeito pela população, paz e desenvolvimento.
Estas lições, se aprendidas e demonstradas, exigem honestidade dos governantes e manutenção das promessas, na vida comunitária. Autoridades devem agir com correção, sobretudo no uso do dinheiro do povo, bem sagrado e escasso. Um homem público se acha, portanto, sob os olhos da multidão. Ninguém vive isolado acima do bem e do mal. Este mundo contraditório reclama de coerência e sabedoria na seleção dos comandos, para a conquista real da justiça em épocas de aprimoramento.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
DEUSES FALSIFICADOS - Emerson Monteiro
Essa velocidade com que vêm oferecidos os produtos da indústria, do comércio e das imaginações em alta voltagem, neste tempo dagora, ocasiona reações internas esquisitas nas pessoas. O ritmo vertiginoso produz ídolos e lota altares nas mentes, transformando religiosidade natural em apego de fantasias ocasionais das épocas ilusórias.
Para onde se voltar, um fantoche aguarda com dentes amolados os espectadores desavisados da humana comédia. Postiças estatuetas de bronze enxameiam nas telas e prateleiras de um carrossel hipnótico grosseiro. Desde os cravos das ferraduras aos penteados exóticos, os pretensiosos seres da espécie deitam e rolam embriagados, nos canteiros das praças e matas dos lugares, alheios às verdades superiores que nasceriam de cada consciência sinceros fossem.
A tal idolatria corresponde aos vícios. Bebidas, refrigerantes gasosos, comprimidos, cigarros, pó e alimentos excitantes, constrangem o corpo, invadem mercantis e lojas, danificam as engrenagens originais da natureza e multiplicam os atendimentos médicos insuficientes dos postos de saúde. Apelos visuais apressados, poluição de não ter tamanho nem respeito à paisagem, que apenas resiste, coberta de sacos plásticos derramados ao vento, nos momentos mais inconvenientes das fotografias desfocadas. A mão do homem tinta de cinza o quadro maravilhoso do céu, agora de pálidos neons, lotado de painéis melados de óleo e graxa, ícones dedicados aos deuses de motores e máquinas trepidantes. Isto sem falar nas paixões enebriantes dos esportes radicais. O próprio futebol das jogadas geniais resume-se hoje em coices e pernadas violentas, afã dos times de chegar na cabeça das chaves suadas dos campeonatos, corridas estafantes e dramáticas das taças de plástico a lágrimas desencantadas. E os deuses da guerra e suas macaquices ideologias, doutrinas falsificadas ao sabor dos senhores das armas e munições. Lembrar os metais reluzentes das lanchas nesse mar de volkswagens em que se reverteram as cidades, escolas neuróticas de sobreviventes apavorados.
Ah, esses deuses artificiais de um mundo das massas... A quem rezar nossos credos? Onde depositar nossas apreensões, nos tempos da desobediência? Para seguir caminhando, eis quantos caminhos andar livres das armadilhas do vício, de ilusões dos bônus e ofertas, brindes e ardis, no passo monótono de pesados camelos arrastados nas fitas envelhecidas de corujões e madrugadas.
Seguir, no entanto, rebanhos do destino que nós somos, artífices da perfeição... Pisar com cuidado lamas e atoleiros, olhos abertos ao Deus verdadeiro que reside no certo das certezas, profetas soberanos dos endereços da Luz, autores dos astros e das existências eternas imperecíveis. Saber, no entanto, afastar o joio do trigo e desejar para sempre o melhor em tudo.
Para onde se voltar, um fantoche aguarda com dentes amolados os espectadores desavisados da humana comédia. Postiças estatuetas de bronze enxameiam nas telas e prateleiras de um carrossel hipnótico grosseiro. Desde os cravos das ferraduras aos penteados exóticos, os pretensiosos seres da espécie deitam e rolam embriagados, nos canteiros das praças e matas dos lugares, alheios às verdades superiores que nasceriam de cada consciência sinceros fossem.
A tal idolatria corresponde aos vícios. Bebidas, refrigerantes gasosos, comprimidos, cigarros, pó e alimentos excitantes, constrangem o corpo, invadem mercantis e lojas, danificam as engrenagens originais da natureza e multiplicam os atendimentos médicos insuficientes dos postos de saúde. Apelos visuais apressados, poluição de não ter tamanho nem respeito à paisagem, que apenas resiste, coberta de sacos plásticos derramados ao vento, nos momentos mais inconvenientes das fotografias desfocadas. A mão do homem tinta de cinza o quadro maravilhoso do céu, agora de pálidos neons, lotado de painéis melados de óleo e graxa, ícones dedicados aos deuses de motores e máquinas trepidantes. Isto sem falar nas paixões enebriantes dos esportes radicais. O próprio futebol das jogadas geniais resume-se hoje em coices e pernadas violentas, afã dos times de chegar na cabeça das chaves suadas dos campeonatos, corridas estafantes e dramáticas das taças de plástico a lágrimas desencantadas. E os deuses da guerra e suas macaquices ideologias, doutrinas falsificadas ao sabor dos senhores das armas e munições. Lembrar os metais reluzentes das lanchas nesse mar de volkswagens em que se reverteram as cidades, escolas neuróticas de sobreviventes apavorados.
Ah, esses deuses artificiais de um mundo das massas... A quem rezar nossos credos? Onde depositar nossas apreensões, nos tempos da desobediência? Para seguir caminhando, eis quantos caminhos andar livres das armadilhas do vício, de ilusões dos bônus e ofertas, brindes e ardis, no passo monótono de pesados camelos arrastados nas fitas envelhecidas de corujões e madrugadas.
Seguir, no entanto, rebanhos do destino que nós somos, artífices da perfeição... Pisar com cuidado lamas e atoleiros, olhos abertos ao Deus verdadeiro que reside no certo das certezas, profetas soberanos dos endereços da Luz, autores dos astros e das existências eternas imperecíveis. Saber, no entanto, afastar o joio do trigo e desejar para sempre o melhor em tudo.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
UM EXEMPLO DE MÃE - Emerson Monteiro
Vemo-nos, em determinados momentos, sob a condição inevitável de testemunhar nos gestos das outras pessoas o que significam as virtudes sonhadas que muitos reclamam uns dos outros, para uma melhor classificação dos padrões humanos da excelência. Há como que disposição comum de exigir e nivelar por baixo os comportamentos, espécie de pessimismo crônico em face das dificuldades naturais do dia-a-dia. Seriam as justificativas da acomodação, se pode até mesmo dizer. Ainda assim, casos raros de extrema qualidade, no entanto, persistirão acontecendo, mundo afora.
Eu conhecera Mirtes Cordeiro durante visita que lhe fiz em campanha política de alguns anos atrás. Amiga de Luiziane, uma das minhas irmãs, ela me recebeu com alegria nas dependências do salão de beleza de sua propriedade, no Conjunto Novo Crato. Desde logo, com ela e seu esposo, Vilemar, mantive boa amizade. Um casal preocupado sobretudo com o destino de um filho que estudava em São Luiz, no Maranhão. Noutras ocasiões em que voltei a lhes encontrar, vi que a educação do filho sempre predominava entre os assuntos de interesse.
Sei bem que Mirtes transformara o sucesso do filho no sonho principal da família, em tudo por tudo. Esforçados nas lides cratenses, os pais acompanhavam à distância o encaminhamento do jovem, que escolhera a odontologia para graduação acadêmica. De Crato, Mirtes seguia e mantinha os tais estudos graças ao empenho de todos da família, o que mais adiante produziria resultados meritórios.
Na derradeira vez em que nos vimos, rápidos instantes no centro de Crato, Mirtes relatou seus planos de mudança para a capital maranhense, narrando o quanto custara de trabalho e preocupação a feliz educação do filho, incluindo o planejamento da mudança para mais perto dele, pois pretendia auxiliá-lo no início da profissão seguindo o caminho que abraçara.
E agora (18 de outubro de 2010) recebo a notícia de que, viajando para São Luiz, numa rodovia do Piauí, Mirtes Cordeiro sofreu acidente automobilístico fatal.
Nessa hora passou-me nas trilhas da lembrança o carinho de Mirtes para com o filho, a disposição constante querendo reunir os meios de mantê-lo estudando fora, as cartas que dirigiu às autoridades encarecendo recursos para a iniciativa, o que, sem qualquer dúvida, significou ponto de honra de uma vida inteira.
Sentimento forte de admiração e nostalgia evidenciou-se na figura daquela mãe afetuosa, recordando quando escutava a respeito dos seus cuidados e projetos que estabeleceram a nova história do filho, qual se outra meta não houvesse além disso para justificar os dias que lhe restavam antes de deixar este chão.
Com isso, aqui registro em um breve comentário o que presenciei desta personalidade simples que desaparece num piscar de olhos, anônima entre tantos que transmutam no amor aos filhos a razão maior do existir, pela magnânima vontade humana das suas realizações pessoais.
Eu conhecera Mirtes Cordeiro durante visita que lhe fiz em campanha política de alguns anos atrás. Amiga de Luiziane, uma das minhas irmãs, ela me recebeu com alegria nas dependências do salão de beleza de sua propriedade, no Conjunto Novo Crato. Desde logo, com ela e seu esposo, Vilemar, mantive boa amizade. Um casal preocupado sobretudo com o destino de um filho que estudava em São Luiz, no Maranhão. Noutras ocasiões em que voltei a lhes encontrar, vi que a educação do filho sempre predominava entre os assuntos de interesse.
Sei bem que Mirtes transformara o sucesso do filho no sonho principal da família, em tudo por tudo. Esforçados nas lides cratenses, os pais acompanhavam à distância o encaminhamento do jovem, que escolhera a odontologia para graduação acadêmica. De Crato, Mirtes seguia e mantinha os tais estudos graças ao empenho de todos da família, o que mais adiante produziria resultados meritórios.
Na derradeira vez em que nos vimos, rápidos instantes no centro de Crato, Mirtes relatou seus planos de mudança para a capital maranhense, narrando o quanto custara de trabalho e preocupação a feliz educação do filho, incluindo o planejamento da mudança para mais perto dele, pois pretendia auxiliá-lo no início da profissão seguindo o caminho que abraçara.
E agora (18 de outubro de 2010) recebo a notícia de que, viajando para São Luiz, numa rodovia do Piauí, Mirtes Cordeiro sofreu acidente automobilístico fatal.
Nessa hora passou-me nas trilhas da lembrança o carinho de Mirtes para com o filho, a disposição constante querendo reunir os meios de mantê-lo estudando fora, as cartas que dirigiu às autoridades encarecendo recursos para a iniciativa, o que, sem qualquer dúvida, significou ponto de honra de uma vida inteira.
Sentimento forte de admiração e nostalgia evidenciou-se na figura daquela mãe afetuosa, recordando quando escutava a respeito dos seus cuidados e projetos que estabeleceram a nova história do filho, qual se outra meta não houvesse além disso para justificar os dias que lhe restavam antes de deixar este chão.
Com isso, aqui registro em um breve comentário o que presenciei desta personalidade simples que desaparece num piscar de olhos, anônima entre tantos que transmutam no amor aos filhos a razão maior do existir, pela magnânima vontade humana das suas realizações pessoais.
CONVITE PALESTRA
A Academia Lavrense de Letras - ALL convida V. Sa. e família para apresentação do perfil da patronesse Maria Augusto Férrer (Moreninha) pela acadêmica Maria Lúcia Maciel, cadeira 34. Na ocasião faremos uma reunião entre os membros da diretoria da ALL para os acertos da confraternização natalina.
Local: Livraria Acadêmica - Rua Costa Barros, nº. 901 - Aldeota.
Data: 23 de outubro de 2010 (sábado)
Horário: 9h30min.
sábado, 16 de outubro de 2010
CONVITE DA ALL
O acadêmico, Ivonildo Dias (Dias da Silva) convida os amigos para o lançamento do livro "DA PENA AO VENTO - IX", de sua autoria. O evento será no Lar Amigos de Jesus, na Rua Ildefonso Albano, 3052 (esquina com Soriano Albuquerque). Dia 20 de outubro de 2010, às 19h30min.
NUMA TARDE MORNA DE OUTUBRO - Emerson Monteiro
As palavras escorrem feitas longas lavas aquecidas de vulcão pelas frestas livres de pensamentos flutuantes que se deixam transcorrer, e insistem fogosas a vadiar nos campos reluzentes intensos dos blocos de sombras claras, nas folhas secas espalhadas em solos convidativos de formações superpostas, céu azul de tarde informe, infinita. Vão e vêm aos gestos matemáticos astutos dos caçadores armados até os dentes em cada esquina silenciosa do aberto firmamento que lhes invade o mistério, rasgando sem pudor a veste suave das cores mil da imaginação impaciente.
Estrelas penetram esse teto cor de rosa das antigas telhas, no sótão da casa velha, numa cidade abandonada, daí descem impávidas através das réstias fulgurantes, quais poemas alados, sentimentos impossíveis de formas e gentes, que percorrem corações, pulmões, artérias, e sacodem ao som dos acordes circunstanciais de saudades irremovíveis, sobreviventes à retina do sonâmbulo que passeia entre as pedras super aquecidas, no fulgor dos sóis ilimitados.
Quase gosto de rever a sensação da véspera, de um sonho interno consistente. Feliz amabilidade se estabelecera no interior das fibras do ser e mergulhara enervada antes/durante/depois. Força prudente de quem chega para sempre permanece agarrada nas tetas instintivas do corpo, formando grotas fundas do domínio. Luzes escorregadias, invasoras de células, revelaram o mesmo destino. Garras convergentes, açoites e fogos exóticos das supremas elevações e trens velozes riscaram nos ares faíscas e ritmos frenéticos bem perto das espirais constantes vitais.
Quantas vezes passadas aqui as perguntas redivivas e reais, blocos sólidos voando geométricos sobre feras descuidadas reunidas ao sabor das palavras de ordem espedaçadas nos poemas e amealhadas às pressas nas barracas das feiras, pregões doces desprendidos de portas arregaçadas pelo vento enovelado de chamas cinzas.
Inúteis pinceladas riscam, pois, sortilégios nos muros enegrecidos, garagens inesperadas e pontes. Letras e outros sinais entregaram suas asas indiferentes ao sopro da brisa, na espera das redes que cativem e conduzam, no burburinho dos versos. Bichos de goma arábica, marfim e flandres, móbiles tilintando ao suspiro das garças divertidas chilreando voos em gargalhadas juvenis propagadas no espelho das águas lá longe, ponto de fuga extenso do quadro vespertino.
Que mais querer senão emoldurar as notas cristalinas do espetáculo translúcido da tarde em forma de olhares para dentro e ver dentro ainda mais...
Estrelas penetram esse teto cor de rosa das antigas telhas, no sótão da casa velha, numa cidade abandonada, daí descem impávidas através das réstias fulgurantes, quais poemas alados, sentimentos impossíveis de formas e gentes, que percorrem corações, pulmões, artérias, e sacodem ao som dos acordes circunstanciais de saudades irremovíveis, sobreviventes à retina do sonâmbulo que passeia entre as pedras super aquecidas, no fulgor dos sóis ilimitados.
Quase gosto de rever a sensação da véspera, de um sonho interno consistente. Feliz amabilidade se estabelecera no interior das fibras do ser e mergulhara enervada antes/durante/depois. Força prudente de quem chega para sempre permanece agarrada nas tetas instintivas do corpo, formando grotas fundas do domínio. Luzes escorregadias, invasoras de células, revelaram o mesmo destino. Garras convergentes, açoites e fogos exóticos das supremas elevações e trens velozes riscaram nos ares faíscas e ritmos frenéticos bem perto das espirais constantes vitais.
Quantas vezes passadas aqui as perguntas redivivas e reais, blocos sólidos voando geométricos sobre feras descuidadas reunidas ao sabor das palavras de ordem espedaçadas nos poemas e amealhadas às pressas nas barracas das feiras, pregões doces desprendidos de portas arregaçadas pelo vento enovelado de chamas cinzas.
Inúteis pinceladas riscam, pois, sortilégios nos muros enegrecidos, garagens inesperadas e pontes. Letras e outros sinais entregaram suas asas indiferentes ao sopro da brisa, na espera das redes que cativem e conduzam, no burburinho dos versos. Bichos de goma arábica, marfim e flandres, móbiles tilintando ao suspiro das garças divertidas chilreando voos em gargalhadas juvenis propagadas no espelho das águas lá longe, ponto de fuga extenso do quadro vespertino.
Que mais querer senão emoldurar as notas cristalinas do espetáculo translúcido da tarde em forma de olhares para dentro e ver dentro ainda mais...
O FUTURO DOS FILHOS - Emerson Monteiro
Desde cedo que a atenção dos pais se volta para o encaminhamento dos seus filhos. Pouco importa a condição da família, o sonho do sucesso futuro dos filhos ocupa sempre espaço de prioridade número um, isto em todas as épocas e todos os lugares. O amor acendrado pelos descendentes significa a razão da humanidade prosseguir, apesar das imensas contradições e deficiências nos outros campos da atividade coletiva.
Desde cedo que um movimento natural dos genitores encaminha o filho, sobretudo naquilo que diz respeito aos meios de sobreviver. Neste processo por vezes angustiante e incerto, os que já desenvolveram uma profissão buscam repassá-la aos que demonstram interesse em seguir, quando outros recursos melhores estejam fora de cogitação.
O seguimento das raças dá notícias da criação das primeiras escolas bem nos inícios da organização de vida na Terra. Estabeleceram os aparelhos de formação das novas gerações através da educação formal. Nos liceus de artes e ofícios da Idade Média, a preparação dos jovens atendia necessidades sociais e conduzia aos passos iniciais, sementes das futuras instituições universitárias que agora dominam a ciência e a técnica. Na atualidade, tempos de muitas formas dessa fase industrial-tecnológica, a complexidade toma conta dos mercados e as profissões cresceram quase ao infinito. E nesse quadro misterioso deságuam as apreensões dos pais em relação ao engajamento de seus filhos no universo do trabalho. No entanto as limitações da pirâmide social selecionam só pequena margem de eleitos e restringem os demais, tornando a escola o funil discriminatório da ordem oficial.
Fórmulas prontas não existem para a educação, dizem os especialistas do assunto. Cada caso é um caso. Métodos funcionam ou deixam de funcionar, ao sabor do talento e das pessoas. A exigência de sensibilidade e vocação dos professores e responsáveis responde pela condução dessa valiosa arte de educar.
Além disso, existem as armadilhas onde os maus instintos sujeitam os jovens a prejuízos descomunais, quando fatores negativos invadem a cena. Influências perversas dos desvios sociais nascem da violência, da droga, da desonestidade, maus exemplos, baixa escolaridade, ensino público sucateado, alimentação deficiente, distâncias, e outras atrapalhações mais.
No que pesem os governos haverem notado o valor da formação profissional desde o ensino médio, a grande população ainda passa longe de receber as benesses da nova política. Dentro disso tudo, o fator interesse do filho representa parcela fundamental no seu futuro, investindo tempo e saúde no querer para si os frutos dos seus esforços e tendências, auxílio precioso ao que podem fazer os governantes e pais para a sua felicidade.
Desde cedo que um movimento natural dos genitores encaminha o filho, sobretudo naquilo que diz respeito aos meios de sobreviver. Neste processo por vezes angustiante e incerto, os que já desenvolveram uma profissão buscam repassá-la aos que demonstram interesse em seguir, quando outros recursos melhores estejam fora de cogitação.
O seguimento das raças dá notícias da criação das primeiras escolas bem nos inícios da organização de vida na Terra. Estabeleceram os aparelhos de formação das novas gerações através da educação formal. Nos liceus de artes e ofícios da Idade Média, a preparação dos jovens atendia necessidades sociais e conduzia aos passos iniciais, sementes das futuras instituições universitárias que agora dominam a ciência e a técnica. Na atualidade, tempos de muitas formas dessa fase industrial-tecnológica, a complexidade toma conta dos mercados e as profissões cresceram quase ao infinito. E nesse quadro misterioso deságuam as apreensões dos pais em relação ao engajamento de seus filhos no universo do trabalho. No entanto as limitações da pirâmide social selecionam só pequena margem de eleitos e restringem os demais, tornando a escola o funil discriminatório da ordem oficial.
Fórmulas prontas não existem para a educação, dizem os especialistas do assunto. Cada caso é um caso. Métodos funcionam ou deixam de funcionar, ao sabor do talento e das pessoas. A exigência de sensibilidade e vocação dos professores e responsáveis responde pela condução dessa valiosa arte de educar.
Além disso, existem as armadilhas onde os maus instintos sujeitam os jovens a prejuízos descomunais, quando fatores negativos invadem a cena. Influências perversas dos desvios sociais nascem da violência, da droga, da desonestidade, maus exemplos, baixa escolaridade, ensino público sucateado, alimentação deficiente, distâncias, e outras atrapalhações mais.
No que pesem os governos haverem notado o valor da formação profissional desde o ensino médio, a grande população ainda passa longe de receber as benesses da nova política. Dentro disso tudo, o fator interesse do filho representa parcela fundamental no seu futuro, investindo tempo e saúde no querer para si os frutos dos seus esforços e tendências, auxílio precioso ao que podem fazer os governantes e pais para a sua felicidade.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
RAÍZES DA VIOLÊNCIA - Emerson Monteiro
Vive-se período extremo de criminalidade violenta, isso em todo o mundo, com ênfase nos países mais atrasados, dentre eles o Brasil e toda a América Latina. Antes, o motivo alegado se voltava para as revoluções, na época da chamada Guerra Fria.
Hoje, qualquer motivo preenche as justificativas das convulsões sociais, desde a delinquência juvenil ao tráfico de drogas, passando pelos bolsões de pobreza e guerras tribais, lutas raciais, onde o padrão da cultura indica descompasso, perversidade e miséria.
Houve tempo quando era mais fácil encontrar as razões da insegurança. O atraso das mentalidades, as conquistas coloniais, disputas imperialistas, domínio das terras, fanatismo religioso. Tudo servia de pretexto, no decantado anseio do homem lobo do próprio homem. Ou de querer a paz e se preparar para a guerra.
Acham as autoridades que o problema se revolverá mediante a ampliação dos órgãos de segurança, aquisição de armamentos, modernização e ampliação das penitenciárias, maior remuneração dos efetivos policiais, etc., etc.
Contudo a questão possui raízes mais profundas. Suas causas merecem detalhamento, porquanto procedem das origens, que acumulam estudos e pouquíssimo tratamento.
Conceitos de que falta educação ao povo e que a tradição nacional dos degredados, escravos e índios, sem amadurecimento suficiente, formaram país aleijado, por si não justificam a violência das ruas, o clima tenso em que se transformou o sonho urbano.
De suas causas mais evidentes cabe citar o desemprego, sem esperança de redução para a juventude, que, todo dia, chega ao mercado de trabalho. A excessiva concentração da riqueza nas mãos de poucos, há séculos donos de bens. E a pobreza infinita das massas alienadas pela educação burguesa.
Enquanto sofre a nacionalidade esse atraso crônico na moralidade e competência dos dirigentes responsáveis pela administração pública, em todos os segmentos eles jamais se comprometem com mudanças substanciais e inadiáveis.
Como se não bastassem ditas origens, persiste, na estrutura mundial, um conceito voltado aos interesses das nações ricas, que investem pesado na manutenção do poder através dos sistemas de exploração financeira. Gastam fortunas para técnicas de preservação dos territórios da ordem injusta.
Portanto, para neutralizar o clima superlativo desse drama, cabem atitudes aos que precisam se livrar das nuvens escuras dessa história reacionária, com criatividade, maior comprometimento e participação coletiva dos grupos prejudicados, união das classes exploradas e conscientização política.
Abrir o olho e enxergar que só a educação trará mudanças significativas, após os esforços da sociedade, que será instrumento da democracia através do voto consciente que fala alto neste assunto, desde que assim pretendam os eleitores, bola da vez na decisão de cada eleição.
Hoje, qualquer motivo preenche as justificativas das convulsões sociais, desde a delinquência juvenil ao tráfico de drogas, passando pelos bolsões de pobreza e guerras tribais, lutas raciais, onde o padrão da cultura indica descompasso, perversidade e miséria.
Houve tempo quando era mais fácil encontrar as razões da insegurança. O atraso das mentalidades, as conquistas coloniais, disputas imperialistas, domínio das terras, fanatismo religioso. Tudo servia de pretexto, no decantado anseio do homem lobo do próprio homem. Ou de querer a paz e se preparar para a guerra.
Acham as autoridades que o problema se revolverá mediante a ampliação dos órgãos de segurança, aquisição de armamentos, modernização e ampliação das penitenciárias, maior remuneração dos efetivos policiais, etc., etc.
Contudo a questão possui raízes mais profundas. Suas causas merecem detalhamento, porquanto procedem das origens, que acumulam estudos e pouquíssimo tratamento.
Conceitos de que falta educação ao povo e que a tradição nacional dos degredados, escravos e índios, sem amadurecimento suficiente, formaram país aleijado, por si não justificam a violência das ruas, o clima tenso em que se transformou o sonho urbano.
De suas causas mais evidentes cabe citar o desemprego, sem esperança de redução para a juventude, que, todo dia, chega ao mercado de trabalho. A excessiva concentração da riqueza nas mãos de poucos, há séculos donos de bens. E a pobreza infinita das massas alienadas pela educação burguesa.
Enquanto sofre a nacionalidade esse atraso crônico na moralidade e competência dos dirigentes responsáveis pela administração pública, em todos os segmentos eles jamais se comprometem com mudanças substanciais e inadiáveis.
Como se não bastassem ditas origens, persiste, na estrutura mundial, um conceito voltado aos interesses das nações ricas, que investem pesado na manutenção do poder através dos sistemas de exploração financeira. Gastam fortunas para técnicas de preservação dos territórios da ordem injusta.
Portanto, para neutralizar o clima superlativo desse drama, cabem atitudes aos que precisam se livrar das nuvens escuras dessa história reacionária, com criatividade, maior comprometimento e participação coletiva dos grupos prejudicados, união das classes exploradas e conscientização política.
Abrir o olho e enxergar que só a educação trará mudanças significativas, após os esforços da sociedade, que será instrumento da democracia através do voto consciente que fala alto neste assunto, desde que assim pretendam os eleitores, bola da vez na decisão de cada eleição.
MATÉRIA DO DIÁRIO DO NORDESTE
Batista de Lima
12/10/2010
Histórias para contar
A universalidade desta história ocorre no momento em que Genivaldo não é resgatado sozinho, pois nossa mente de leitor expande suas peripécias a todos aqueles que como ele foram vítimas do êxodo rural e retirantes se tornaram
Histórias para contar e poemas de meu viver é o título deste livro de Fátima Lemos. Vou ficar com as histórias, visto que os poemas são de circunstância, dirigidos a pessoas do seu afeto, o que os torna particulares, afastando-os da característica de universalidade poética. Assim, poderíamos ter dois livros, um de prosa e outro de versos. Afinal, Fátima Lemos é narradora. Mesmo contando histórias de personalidades que lhe são próximas, ela alcança esse patamar de universalidade que é fundamental em literatura.
No começo do livro ela afirma: "o presente livro é fruto das ligações que mantenho com a minha terra e com o meu povo. Não tive a pretensão de abordar todos os aspectos históricos e psicológicos a respeito dos personagens". Ora, aí já está a importância de seus escritos, por primeiro cantar o seu entorno para depois cantar o mundo. Mas cantar o seu quintal é guindá-lo para cavalgar as distâncias e atingir os mais diversos leitores. Isso ela consegue ao colocar no mapa mundi seu sítio de nascença, a Carnaubinha. Isso ocorre ao narrar a saga de Genivaldo da Franca Crispim. Genivaldo não seria ninguém, universalmente falando, se não existisse o texto de Fátima Lemos, simplesmente para narrar seus passos de figura picaresca, feito um Quixote tupiniquim, circulando por este Brasil de mãe Chica e Pai João, sem saber quem é nem para onde vai.
A história de Genivaldo é pungente e passaria em branco para nós outros, não fosse a perspicácia de Fátima em escrevê-la. De uma página branca, sua heroica história passa para a página escrita e ele é resgatado das florestas amazônicas e do esquecimento, para habitar majestoso e santificado na nossa memória leitora. Genivaldo resgatado não vem só, pois traz consigo uma infinidade de nordestinos que também foram engolidos pelo mesmo destino seu, mas que não tiveram a sorte de ter uma escritora que lhes acompanhasse os passos. A universalidade desta história ocorre no momento em que Genivaldo não é resgatado sozinho, pois nossa mente de leitor expande suas peripécias a todos aqueles que como ele foram vítimas do êxodo rural e retirantes se tornaram.
Essa história é mais um grito de alerta para esse esvair-se de arigós, paus-de-arara, candangos que produzimos nesta terra lacerada, nordestinada e massacrada pela desigualdade social, pelo latifúndio improdutivo e pela politicagem corrupta. Como leitor, jamais vou esquecer essa figura martirizada que foi Genivaldo da Franca Crispim.
A segunda história, contrária à primeira, é curiosa pelo fato de que é uma mulher valente, rica e poderosa que domina um município inteiro e impõe respeito em toda a região caririense e no alto do Salgado. Fideralina Augusto Lima é um exemplo para as mulheres e uma lição para os homens. Fez e desfez em sua Lavras da Mangabeira. Deixou seu nome na história cearense. Virou até folclore através de suas posições fortes, seu mandonismo, seu bacamarte e os cabras a seu serviço. Fátima Lemos levou-nos mais uma vez ao sítio Tatu e nos impôs a condição de pedir vênia para adentrar o casarão de Fidera, debaixo de muito respeito a essa prima dona do coronelismo cearense.
Outra Fideralina, abordada pela escritora, é Sinhá D´Amora. Isso porque seu nome de batismo é Fideralina Corrêa Amora Maciel, neta da matriarca homônima. Essa, como sua avó, não ficou no Tatu, se impondo pela força do trabuco. Sua arma foi o pincel, seu bacamarte pincelou as mais belas imagens que a levaram às galerias mais distantes e hoje enriquecem museus daqui e d´alhures. Fátima Lemos nos fez admirar cada vez mais essa artista plástica que Lavras da Mangabeira emprestou ao mundo.
Em seguida, a autora conta a trajetória de seu tio e professor Paulo Crispim de Sousa. Narra o heroísmo desse mangabeirense que vindo de origem humilde, galgou as glórias do magistério e serviu de exemplo, como educador, para toda uma geração de conterrâneos que lhe seguiram os passos. Até politicamente Paulo Crispim foi exemplo e como orador deixou um estilo a ser seguido.
Finalmente, Fátima Lemos faz um levantamento genealógico da família Pereira de Sousa. Nesse momento ela se empenha em dinamizar a pacata vida de seus ancestrais, do mais antigo ao seu pai querido. Nessa trajetória ela imprime uma ternura particular ao se referir àquele clã que construiu sua história, lavrando a terra, temendo a Deus, e amando os circunstantes. Essa família tipicamente nordestina ao ser retratada leva consigo para o universo do leitor um retrato de todas as famílias desta nossa região. É, pois, esse poder de universalizar suas histórias, que faz de Fátima Lemos uma narradora que nos arrasta para a leitura de seus escritos e nos coloca como personagem cada vez mais ativo dessa sofrida nação nordestina.
12/10/2010
Histórias para contar
A universalidade desta história ocorre no momento em que Genivaldo não é resgatado sozinho, pois nossa mente de leitor expande suas peripécias a todos aqueles que como ele foram vítimas do êxodo rural e retirantes se tornaram
Histórias para contar e poemas de meu viver é o título deste livro de Fátima Lemos. Vou ficar com as histórias, visto que os poemas são de circunstância, dirigidos a pessoas do seu afeto, o que os torna particulares, afastando-os da característica de universalidade poética. Assim, poderíamos ter dois livros, um de prosa e outro de versos. Afinal, Fátima Lemos é narradora. Mesmo contando histórias de personalidades que lhe são próximas, ela alcança esse patamar de universalidade que é fundamental em literatura.
No começo do livro ela afirma: "o presente livro é fruto das ligações que mantenho com a minha terra e com o meu povo. Não tive a pretensão de abordar todos os aspectos históricos e psicológicos a respeito dos personagens". Ora, aí já está a importância de seus escritos, por primeiro cantar o seu entorno para depois cantar o mundo. Mas cantar o seu quintal é guindá-lo para cavalgar as distâncias e atingir os mais diversos leitores. Isso ela consegue ao colocar no mapa mundi seu sítio de nascença, a Carnaubinha. Isso ocorre ao narrar a saga de Genivaldo da Franca Crispim. Genivaldo não seria ninguém, universalmente falando, se não existisse o texto de Fátima Lemos, simplesmente para narrar seus passos de figura picaresca, feito um Quixote tupiniquim, circulando por este Brasil de mãe Chica e Pai João, sem saber quem é nem para onde vai.
A história de Genivaldo é pungente e passaria em branco para nós outros, não fosse a perspicácia de Fátima em escrevê-la. De uma página branca, sua heroica história passa para a página escrita e ele é resgatado das florestas amazônicas e do esquecimento, para habitar majestoso e santificado na nossa memória leitora. Genivaldo resgatado não vem só, pois traz consigo uma infinidade de nordestinos que também foram engolidos pelo mesmo destino seu, mas que não tiveram a sorte de ter uma escritora que lhes acompanhasse os passos. A universalidade desta história ocorre no momento em que Genivaldo não é resgatado sozinho, pois nossa mente de leitor expande suas peripécias a todos aqueles que como ele foram vítimas do êxodo rural e retirantes se tornaram.
Essa história é mais um grito de alerta para esse esvair-se de arigós, paus-de-arara, candangos que produzimos nesta terra lacerada, nordestinada e massacrada pela desigualdade social, pelo latifúndio improdutivo e pela politicagem corrupta. Como leitor, jamais vou esquecer essa figura martirizada que foi Genivaldo da Franca Crispim.
A segunda história, contrária à primeira, é curiosa pelo fato de que é uma mulher valente, rica e poderosa que domina um município inteiro e impõe respeito em toda a região caririense e no alto do Salgado. Fideralina Augusto Lima é um exemplo para as mulheres e uma lição para os homens. Fez e desfez em sua Lavras da Mangabeira. Deixou seu nome na história cearense. Virou até folclore através de suas posições fortes, seu mandonismo, seu bacamarte e os cabras a seu serviço. Fátima Lemos levou-nos mais uma vez ao sítio Tatu e nos impôs a condição de pedir vênia para adentrar o casarão de Fidera, debaixo de muito respeito a essa prima dona do coronelismo cearense.
Outra Fideralina, abordada pela escritora, é Sinhá D´Amora. Isso porque seu nome de batismo é Fideralina Corrêa Amora Maciel, neta da matriarca homônima. Essa, como sua avó, não ficou no Tatu, se impondo pela força do trabuco. Sua arma foi o pincel, seu bacamarte pincelou as mais belas imagens que a levaram às galerias mais distantes e hoje enriquecem museus daqui e d´alhures. Fátima Lemos nos fez admirar cada vez mais essa artista plástica que Lavras da Mangabeira emprestou ao mundo.
Em seguida, a autora conta a trajetória de seu tio e professor Paulo Crispim de Sousa. Narra o heroísmo desse mangabeirense que vindo de origem humilde, galgou as glórias do magistério e serviu de exemplo, como educador, para toda uma geração de conterrâneos que lhe seguiram os passos. Até politicamente Paulo Crispim foi exemplo e como orador deixou um estilo a ser seguido.
Finalmente, Fátima Lemos faz um levantamento genealógico da família Pereira de Sousa. Nesse momento ela se empenha em dinamizar a pacata vida de seus ancestrais, do mais antigo ao seu pai querido. Nessa trajetória ela imprime uma ternura particular ao se referir àquele clã que construiu sua história, lavrando a terra, temendo a Deus, e amando os circunstantes. Essa família tipicamente nordestina ao ser retratada leva consigo para o universo do leitor um retrato de todas as famílias desta nossa região. É, pois, esse poder de universalizar suas histórias, que faz de Fátima Lemos uma narradora que nos arrasta para a leitura de seus escritos e nos coloca como personagem cada vez mais ativo dessa sofrida nação nordestina.
domingo, 10 de outubro de 2010
A IMPORTÂNCIA DE UM AMIGO - Emerson Monteiro
Ninguém é sozinho. Por mais que se escute dizer, custam séculos reconhecer e integrar à personalidade os valores definitivos desta sabedoria. As facilidades de pular fora, pensar outros conceitos, permitem que mudemos de afirmação quase a cada novo pensamento, pela corrida frouxa das pessoas viverem saltando de galho em galho, como quem troca de roupa, e querer renovar o estoque das filosofias que alimentam a superficialidade. Enchem a barriga das euforias e voam.
Contudo mergulham nas palavras e deixam de lado as vezes reais para estabelecer um caráter maduro, definitivo, de juntar as peças dos quebra-cabeças nos ensinos deste mundo.
Ninguém, por si só, seria suficiente toda hora, nas ações da sobrevivência, pois a natureza impõe participação coletiva no caldeirão social. Daí o espírito de aproximação que orienta a constante busca, nos movimentos humanos para a coletividade.
Por mais independente queira ser, há ocasiões quando o tempo fecha e tudo parece afastar toda segurança, que desaparece qual fumaça no vento. Nessas horas, trabalham os elementos, quebrando o prazer do egoísmo vaidoso, pois homem alguém é uma ilha, comprovou um poeta e descobriram as gerações.
No auge da dificuldade, vai abaixo a máscara do isolamento e as mãos sobem na direção dos outros, ou dos céus. Despidas alternativas de encontrar respostas, as crises e os impedimentos naturais da imensa jornada batem na cara o metal da desilusão. Convencidos nas facilidades aparentes, os poderosos dobram os joelhos e rezam aflitos.
Um amigo, uma amiga, vale seu peso em ouro. Quem duvidar que descubra a certeza desta cogitação. Os que fogem acomodados imaginam meios de morar sozinho feito jabuti, esquecidos, porém, dos riscos da floresta, onde domina o imponderável, no minuto seguinte, conquanto o futuro a Deus pertence.
Nessa riqueza da comunicação, eis aqui, portanto, a lembrança de quanto vale o amigo. Gosto de afirmar aos meus filhos que os dedos de uma mão são suficientes para contar o número dos amigos que se conquista na curta jornada desta vida. E saber que toda pessoa representa uma porta aberta a novas amizades... Quanta grandeza conquistar novos amigos e descobrir o infinito dessas inúmeras oportunidades.
Contudo mergulham nas palavras e deixam de lado as vezes reais para estabelecer um caráter maduro, definitivo, de juntar as peças dos quebra-cabeças nos ensinos deste mundo.
Ninguém, por si só, seria suficiente toda hora, nas ações da sobrevivência, pois a natureza impõe participação coletiva no caldeirão social. Daí o espírito de aproximação que orienta a constante busca, nos movimentos humanos para a coletividade.
Por mais independente queira ser, há ocasiões quando o tempo fecha e tudo parece afastar toda segurança, que desaparece qual fumaça no vento. Nessas horas, trabalham os elementos, quebrando o prazer do egoísmo vaidoso, pois homem alguém é uma ilha, comprovou um poeta e descobriram as gerações.
No auge da dificuldade, vai abaixo a máscara do isolamento e as mãos sobem na direção dos outros, ou dos céus. Despidas alternativas de encontrar respostas, as crises e os impedimentos naturais da imensa jornada batem na cara o metal da desilusão. Convencidos nas facilidades aparentes, os poderosos dobram os joelhos e rezam aflitos.
Um amigo, uma amiga, vale seu peso em ouro. Quem duvidar que descubra a certeza desta cogitação. Os que fogem acomodados imaginam meios de morar sozinho feito jabuti, esquecidos, porém, dos riscos da floresta, onde domina o imponderável, no minuto seguinte, conquanto o futuro a Deus pertence.
Nessa riqueza da comunicação, eis aqui, portanto, a lembrança de quanto vale o amigo. Gosto de afirmar aos meus filhos que os dedos de uma mão são suficientes para contar o número dos amigos que se conquista na curta jornada desta vida. E saber que toda pessoa representa uma porta aberta a novas amizades... Quanta grandeza conquistar novos amigos e descobrir o infinito dessas inúmeras oportunidades.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
O CRIME DO ABORTO - Emerson Monteiro
O saber natural em sua ação persistente criou as condições de gerar filhos e os seres humanos em sua ignorância os expelem a sangue frio natimortos, quais eliminassem animais desnecessários, seus próprios semelhantes.
Houvesse leis pela preservação da vida em soberbas características de contenção dos desmandos praticados em redor do mundo e, decerto, a história mostraria inegáveis oportunidades de felicidade a esses tontos mortais esfomeados de prazer imediato.
Jamais, senão agora, demonstrações de ausência de lucidez parecerem crescer no horizonte esfumaçado da destruição na flor da idade, em meio aos escombros da barbárie que toma conta dos séculos. Símbolos de paz viraram motivos de ausência de critério, nas promoções desencontradas de minorias vencidas.
Mas falávamos da covardia do aborto... Que pouca honestidade para com os semelhantes a nascer essa atitude dos legisladores lusitanos... Nem de longe se deve imaginar uma coisa dessas para o Brasil, povo originário dos avôs do outro lado das marés, que desta vez desistem de querer renovar a espécie. Exemplos melhores já nos deram, com certeza... Lições práticas de vida, a língua, o sentimento latino, o fervor, a musicalidade. Agora, contudo, quebraram a cara e nós nos negamos a segui-los.
Tirar a vida, como querer? Não sabemos repor o viver de quem morre, por isso não se devem eliminar os seres humanos que aguardam as mesmas chances de brotar, crescer e conhecer.
A morte dos inocentes em gestação clama consciência, portanto. Falar na esperança dessas vidinhas em sumidouro, desejos de viver na lama dos ausentes, dói e requer disposição de ânimo aos que lutam pela paz. Aquilo que seria a festa das famílias, chegar de novos filhos, torna-se chama apagada no vento abusivo de vazias palavras soltas, derramadas.
E falar em amor exige coerência a uma civilização bandida, revirada nos laços das armadilhas, caminhos tortuosos, vilã matreira de poucas luzes. Gritos de promessas, entretanto, rasgam o espaço de sombra. A força de sobreviver, falando alto nas entranhas das gentes, indica o valor carinhoso de novos sonhos.
Quisessem reverter os quadros fantasmagóricos da indigência e praticassem hábitos justos e alegres de salvar os que, mais que antes, precisam nascer...
Houvesse leis pela preservação da vida em soberbas características de contenção dos desmandos praticados em redor do mundo e, decerto, a história mostraria inegáveis oportunidades de felicidade a esses tontos mortais esfomeados de prazer imediato.
Jamais, senão agora, demonstrações de ausência de lucidez parecerem crescer no horizonte esfumaçado da destruição na flor da idade, em meio aos escombros da barbárie que toma conta dos séculos. Símbolos de paz viraram motivos de ausência de critério, nas promoções desencontradas de minorias vencidas.
Mas falávamos da covardia do aborto... Que pouca honestidade para com os semelhantes a nascer essa atitude dos legisladores lusitanos... Nem de longe se deve imaginar uma coisa dessas para o Brasil, povo originário dos avôs do outro lado das marés, que desta vez desistem de querer renovar a espécie. Exemplos melhores já nos deram, com certeza... Lições práticas de vida, a língua, o sentimento latino, o fervor, a musicalidade. Agora, contudo, quebraram a cara e nós nos negamos a segui-los.
Tirar a vida, como querer? Não sabemos repor o viver de quem morre, por isso não se devem eliminar os seres humanos que aguardam as mesmas chances de brotar, crescer e conhecer.
A morte dos inocentes em gestação clama consciência, portanto. Falar na esperança dessas vidinhas em sumidouro, desejos de viver na lama dos ausentes, dói e requer disposição de ânimo aos que lutam pela paz. Aquilo que seria a festa das famílias, chegar de novos filhos, torna-se chama apagada no vento abusivo de vazias palavras soltas, derramadas.
E falar em amor exige coerência a uma civilização bandida, revirada nos laços das armadilhas, caminhos tortuosos, vilã matreira de poucas luzes. Gritos de promessas, entretanto, rasgam o espaço de sombra. A força de sobreviver, falando alto nas entranhas das gentes, indica o valor carinhoso de novos sonhos.
Quisessem reverter os quadros fantasmagóricos da indigência e praticassem hábitos justos e alegres de salvar os que, mais que antes, precisam nascer...
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
NOS DELITOS DE CIRCULAÇÃO - Emerson Monteiro
Necessidade urgente do crescimento humano, a paciência, hoje mais do que nunca, se torna em instrumento social a toda prova. Com isso, vimos compreender o valor estimável das palavras de Jesus quando indica o perdão e a resignação diante dos obstáculos da jornada. Quando te bateram numa face oferece a outra, ensina o Evangelho.
No mundo de estradas e ruas, nos dias presentes, aquilo que antes figurava apenas pessoas em movimento, no volume individual que ocupava o espaço relativo dos corpos físicos, com a introdução da massa dos carros, o um se multiplicou por vários. O automóvel passou a lotar o chão dos pedestres, e agora os ameaça pela velocidade e transtornos diversos. Cada carro preenche território de oito a dez, doze, pessoas. Banheiras enormes em deslocamento, expulsam para zonas de periferia e campos habitantes de lugares, invade áreas e ameaça a paz de muitos.
O drama desse enxame nas cidades impõe atenção redobrada, sobretudo pelas surpresas que acarretam cruzar as avenidas, atravessar preferenciais e acessar vias expressas. Ninguém mais se sente em absoluta segurança no confronto das bólides luminosas dos tais veículos acelerados.
Os atores do drama, condutores ao modo de salve-se que puder, buscam responder ao desafio desta hora. Cursam autoescolas, prestam exames, desenvolvem habilidades e cumprem as regras do jogo agitado, nessa epopéia de sair para trabalhar, estudar e fazer compras que a aventura representa. Restritos pelos cintos de segurança, apuram a vista e a concentração essenciais à sobrevivência.
Um fator, no entanto, aponta o imprevisível dos volantes. No furor das batalhas, seres humanos de carne e osso, submetidos aos impasses e às falhas do inesperado, se sujeitam a reações nervosas, e gelam. O temperamento psicológico de todo motorista atinge as barreiras do controle, algumas vezes raiando a impulsos bárbaros e criminais.
Aquele pai de família exemplar, cidadão modelo, religioso abnegado, de um momento a outro muda sua costumeira tranquilidade e a calma ocasional, demonstrando comportamentos jamais considerados em iguais situações. De quem agressividade não se esperava, partem gestos e xingamentos dos menos civilizados. O doutor respeitado e educado corre, nessas condições, o risco de responder a homicídios e lesões fora de quaisquer propósitos normais. São os delitos de circulação no trânsito, praga que expoõe os urbanóides modernos.
Praticar ao máximo o domínio de si a humildade, eis só o que guarnece os heróicos paladinos dessa pressa e dos metais. Erguer pensamentos aos céus, no meio da ciranda agressiva e lembrar do amor ao semelhante, que, ali do lado, numa outra nave, também exercita conter a fera solta na arena do asfalto, dentro e fora das couraças brilhantes dessa atualidade inevitável.
No mundo de estradas e ruas, nos dias presentes, aquilo que antes figurava apenas pessoas em movimento, no volume individual que ocupava o espaço relativo dos corpos físicos, com a introdução da massa dos carros, o um se multiplicou por vários. O automóvel passou a lotar o chão dos pedestres, e agora os ameaça pela velocidade e transtornos diversos. Cada carro preenche território de oito a dez, doze, pessoas. Banheiras enormes em deslocamento, expulsam para zonas de periferia e campos habitantes de lugares, invade áreas e ameaça a paz de muitos.
O drama desse enxame nas cidades impõe atenção redobrada, sobretudo pelas surpresas que acarretam cruzar as avenidas, atravessar preferenciais e acessar vias expressas. Ninguém mais se sente em absoluta segurança no confronto das bólides luminosas dos tais veículos acelerados.
Os atores do drama, condutores ao modo de salve-se que puder, buscam responder ao desafio desta hora. Cursam autoescolas, prestam exames, desenvolvem habilidades e cumprem as regras do jogo agitado, nessa epopéia de sair para trabalhar, estudar e fazer compras que a aventura representa. Restritos pelos cintos de segurança, apuram a vista e a concentração essenciais à sobrevivência.
Um fator, no entanto, aponta o imprevisível dos volantes. No furor das batalhas, seres humanos de carne e osso, submetidos aos impasses e às falhas do inesperado, se sujeitam a reações nervosas, e gelam. O temperamento psicológico de todo motorista atinge as barreiras do controle, algumas vezes raiando a impulsos bárbaros e criminais.
Aquele pai de família exemplar, cidadão modelo, religioso abnegado, de um momento a outro muda sua costumeira tranquilidade e a calma ocasional, demonstrando comportamentos jamais considerados em iguais situações. De quem agressividade não se esperava, partem gestos e xingamentos dos menos civilizados. O doutor respeitado e educado corre, nessas condições, o risco de responder a homicídios e lesões fora de quaisquer propósitos normais. São os delitos de circulação no trânsito, praga que expoõe os urbanóides modernos.
Praticar ao máximo o domínio de si a humildade, eis só o que guarnece os heróicos paladinos dessa pressa e dos metais. Erguer pensamentos aos céus, no meio da ciranda agressiva e lembrar do amor ao semelhante, que, ali do lado, numa outra nave, também exercita conter a fera solta na arena do asfalto, dentro e fora das couraças brilhantes dessa atualidade inevitável.
sábado, 2 de outubro de 2010
ERA DA INOCÊNCIA - Emerson Monteiro
Inícios da década de 70. Sempre que possível, buscava ouvir a Rádio Sociedade da Bahia, nos fins de tarde começo de noite, aspirando aos ares de Salvador, para onde seguiria logo mais, transferido no Banco do Brasil para a Agência Centro daquela capital. O gosto pelas coisas baianas fincara pés dentro de mim desde 1959, quando meu pai viajara a negócios à Boa Terra e pretendera me levar consigo, sem, no entanto, realizar a sua disposição, o que me deixara com água na boca para conhecer de perto as novidades que nos trouxera de lá apenas em palavras e poucos artesanatos do Mercado Modelo.
Depois, vim lendo Jorge Amado e seus livros inolvidáveis, apegos de um tempo. Gabriela, cravo e canela. Os pastores da noite. Mar morto. Os velhos marinheiros. E, no movimento tropicalista, o impacto de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Tomzé, à frente da vanguarda artística nacional. Além de tudo, a beleza da tradição histórica da primeira capital, sua arquitetura e belas paisagens litorâneas estonteantes.
Bom, num desses programas de fim de tarde, na Sociedade da Bahia, ainda em Brejo Santo, ouvira algumas músicas do disco Raulzito e seus Panteras, nada menos do que o primeiro trabalho de Raul Seixas, mito da música brasileira durante décadas, ídolo psicodélico que fora nesta parte do mundo.
O grande Raul começava uma carreira de sucesso que marcaria o universo cultural de nossa gente. Era seu primeiro disco, gravado com os Panteras, grupo que liderava nas noites de Salvador. Jovem principiante, sem grilos ou mergulhos pelo mundo traiçoeiro das drogas pesadas, que adiante o levariam ao desaparecimento. Não só a ele, mas a outros valores principais das artes, tanto no País, quanto no exterior, cicatrizando de cruzes a beira das estradas de um tempo e ferindo de dor os corações aquecidos de nossa dourada mocidade.
John Lennon já gritava bem alto que o sonho acabara. Algo buscávamos nas entocas e não mais acharíamos o charme dos primeiros amores. Haviam se recolhido as pontes dos castelos de cartas. Das brisas suaves das doces melodias ouvíramos, depois, tão só o rugido fantasmagórico de harpias e dragões trovejando os ares amarelecidos das mudanças severas que garrotearam o clima platinado de antigamente. Os sons exatos e penetrantes de Jimi Hendrix enovelaram a cólica da resseca no brado agudo sensual de Janis Joplin, Elis Regina. Enquanto isso, líderes foram assassinados diante das câmeras em plena luz do dia (Robert Kennedy, Malcom X, Che Guevara, Luther King, o próprio John Lennon).
Então, hostilidade exacerbada, cruenta, carcomeu o casco do navio em chamas. As portas abertas se fecharam de vez e os hippies sairiam tontos pelo mundo, à procura do nascer do sol, de que ainda esperam o furo da luminosidade.
Depois, vim lendo Jorge Amado e seus livros inolvidáveis, apegos de um tempo. Gabriela, cravo e canela. Os pastores da noite. Mar morto. Os velhos marinheiros. E, no movimento tropicalista, o impacto de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Tomzé, à frente da vanguarda artística nacional. Além de tudo, a beleza da tradição histórica da primeira capital, sua arquitetura e belas paisagens litorâneas estonteantes.
Bom, num desses programas de fim de tarde, na Sociedade da Bahia, ainda em Brejo Santo, ouvira algumas músicas do disco Raulzito e seus Panteras, nada menos do que o primeiro trabalho de Raul Seixas, mito da música brasileira durante décadas, ídolo psicodélico que fora nesta parte do mundo.
O grande Raul começava uma carreira de sucesso que marcaria o universo cultural de nossa gente. Era seu primeiro disco, gravado com os Panteras, grupo que liderava nas noites de Salvador. Jovem principiante, sem grilos ou mergulhos pelo mundo traiçoeiro das drogas pesadas, que adiante o levariam ao desaparecimento. Não só a ele, mas a outros valores principais das artes, tanto no País, quanto no exterior, cicatrizando de cruzes a beira das estradas de um tempo e ferindo de dor os corações aquecidos de nossa dourada mocidade.
John Lennon já gritava bem alto que o sonho acabara. Algo buscávamos nas entocas e não mais acharíamos o charme dos primeiros amores. Haviam se recolhido as pontes dos castelos de cartas. Das brisas suaves das doces melodias ouvíramos, depois, tão só o rugido fantasmagórico de harpias e dragões trovejando os ares amarelecidos das mudanças severas que garrotearam o clima platinado de antigamente. Os sons exatos e penetrantes de Jimi Hendrix enovelaram a cólica da resseca no brado agudo sensual de Janis Joplin, Elis Regina. Enquanto isso, líderes foram assassinados diante das câmeras em plena luz do dia (Robert Kennedy, Malcom X, Che Guevara, Luther King, o próprio John Lennon).
Então, hostilidade exacerbada, cruenta, carcomeu o casco do navio em chamas. As portas abertas se fecharam de vez e os hippies sairiam tontos pelo mundo, à procura do nascer do sol, de que ainda esperam o furo da luminosidade.
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