Nisso desaparece aquela coisa de juízo de valor, ou de meros impulsos ardilosos dos caçadores de pecado detrás das portas, nas adolescências seculares que precederam a luz elétrica, cenas que nutriam ausências apressadas de consciência em pânico, nisso de viver os sentimentos avassaladores da alma, que nos espreitavam os primeiros amores, nas dobras inevitáveis da estrada...
E quando menos se esperava, fenômenos meteorológicos de forte sofreguidão arregaçavam janelas e invadiam a sala da frente da calma e lá nos víamos escolhidos pelos cantos, em trajes menores, fastio a dominar o sentimento, frio esquisito na boca do estômago ao menor sinal da presença do invasor matreiro, atualidade e voz embargadas, quando ouvia um som tremendo dentro, nagente, sede e fome devorando as próprias entranhas, isso de assistir filmes de amor, ler romances largos, de aventuras secretas, marcas feridas no seio em brasa do coração irresponsável...
Vendaval infinito de possibilidades desses que sacolejam as bases da realidade, ritmo febricitante desnorteando passos do por si só já vacilante, redemoinhos varrendo terreiros, arrancando árvores e roupas de varais coloridos, nas telas do Cine Moderno às 4h da tarde, em sábados divinais... Claros movimentos semelhantes a tumultos planetárias de finais de era, conseqüências inimagináveis das histórias guardadas no íntimo, suadas, escondidas na inocência original.
Bom, esses espasmos imprevisíveis do misterioso sentimento sujeitam pessoas e coisas, livres das previsões, a consultar peregrinos do motivos que provocam-lhes tamanhas alterações de pulsações em tão diminutos territórios, sob o impacto ambiental de inúmeras envergaduras, a permitir perguntas insistentes, libertas e escravas e avassaladoras de circunstâncias, na audácia que se estabelecem nas praças de guerras bem defronte da porta principal – comandantes em chefe do regimentos a indicar dedo acusadores de encontro a peitos doloridos de prisioneiros, quais inquisidores nas salas de tortura, com a frases recorrentes na ponta da língua, no velho remorso embalsamado em forma de ameaça:
- Até onde chega o direito humano de amar e, em conseqüência, viver todas as contradições da paixão, contudo evitando pagar os tributos além da sobrevivência do ser na saudade?
Em poucas e noutras palavras, quais as fronteiras da emoção? Em que estação fatal depositaram os humanóides seus trastes guardados no baú das boas lembranças e que não pretendem sofrem com isso as sobretaxas do desespero, nas barreiras alfandegárias do percurso vida? Quantos laços de amabilidade caberão em um único tórax?
Resumindo, caro leitor, e, por favor, me espere só mais um pouco, responda comigo: É possível amar sem limite, ainda que se acha o benefício da dúvida, eximindo-se da culpa atroz de seguir adiante com a trilha rumo à eternidade?
Quantas normas imperam fatídicas no arcabouço dos tempos que, em certas horas, apresentam nítida confusão entre querer e poder, dentro do berro cardíaco das animosidades em luta ciumentas?... Amar com gesto simples, palavra doce e versos acetinados, gritados aos quatro ventos nas amplificadoras da mágoa dorida nos murmúrios de antigamente, inconsolados murmúrios de Maysa em letras de Dolores Duran? Quantas, meu amigo e minha amiga?... Quantas?...
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