sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

DIANTE DA VIDA - Emerson Monteiro

Tamanho das dores varia ao sabor dos infinitos. No entanto há que se vencer indiscriminadamente o que vier e ganhar na alegria outras tantas vezes quantas despontamentos aflorarem e sumirem nos instantes da dor. Que fazer, contudo? As respostas, no seio do coração, existem intensas na profusão da fé ao sabor das maiores necessidades. Livres de perder a cor, tintar o horizonte das ações renovadoras das bênçãos.

À hora do desânimo perante o caldo grosso das adversidades revelaria o Amor em seu potencial imenso guardado a sete chaves durante os longos anos da religiosidade pura. Naquelas horas tortas dos tonéis da mágoa, despontaria o valor dos créditos adquiridos na potente oração cotidiana, e confiar acima de quaisquer obstáculos. O segredo de Deus assim transcrito no coração, que distingue sua cor poderosa das outras mais, rompe barreiras das tristezas no mapa da alegria. Portas e janelas abertas aos quatro ventos.

Quantas e tantas situações transpostas sumiram nas noites tempestuosas... Desistir nunca, jamais. Segurar com fervor os cimos da Glória inominável, o transporte do valor a trazer os dias das certezas da coragem por demais vitoriosa, sabor inesquecível das verdades eternas, o prazer da felicidade transposto dos trilhos nos caminhos e tocar em frente.

Força de convicção reclama, portanto, atitudes positivas, apego aos valores inabaláveis do sentimento verdadeiro desse gosto a Quem pode, no íntimo de milhões de expectativas, conceder propósitos definitivos de sonhos bons. A potencialidade, pois, do Deus herói supremo das aventuras inúmeras, o caudal da Paz nos lares harmoniosos da alma de coisas e seres, de nós seus filhos em crescimento.

Na sequência de acontecimentos do painel das gerações desfilamos nossa construção do território coletivo e palco dos dramas e sucessos. Receber os enigmas e revelá-los em nossas faces, demonstrar firmeza e trazer definições.

Quantas vidas, quantos desejos de acertar o passo no ritmo organizado das leis superiores, alento de animais e lugares. Andar ao som da tranquilidade, senhores de si e dos céus. Sustentar a luz dos amigos a oferecer lições inesperadas, aulas e palavras só nas mãos do Eterno Pai.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O TEMPO DAS PALAVRAS - Emerson Monteiro

Quebrar as malhas do silêncio e buscar enlevo nas frases ditas ao valor simbólico daquilo que as palavras exprimem ao sabor do desejo, dá como que música com gosto de frutas verdes. Um exemplo, pois, o peso da paciência, esse passo que antecede o desespero. Frases ricas das oportunidades, encruzilhadas de fugas para dentro da paz nos depois que acumulariam as dores das humanas relações deterioradas. A mãe paciência, santa que defende os matadouros, as fornalhas da ambição, da prepotência, das guerras. Paciência, irmã da luz nos corações enternecidos.

Palavras ricas assim, grávidas de meios de conter as cordas soltas dos barcos, nos mares bravios. Paciência, reverência, controle, calma, tranquilidade, educação, simpatia, humildade, domínio, concentração, habilidade, palavras.

Bom, comecei de tal maneira a falar, sobretudo, da paciência, a força imensa das massas em conflito que contém fome de justiça, instinto da reviração dos equívocos pelo manto santificado das orações nos cantos de quartos em casas solitárias das famílias dispersas. Força descomunal do amor na paciência, que habita o cérebro estimulado das gerações desencontradas, muros que detêm a fúria das boiadas enfurecidas, portas batidas às pressas no instante da raiva, nas ruas, nos becos e subúrbios abandonados de homens ingratos.

O amargo doce das palavras que crepitam na abóbada de bocas ressequidas, amores impacientes restritos à ordem. As feras ensinadas em circos, as palavras, filhotes da prudência. Nesses aspectos, voos sombrios de aves mansas lá no céu do coração.

Viajar, por isso, nas calhas do mais íntimo denota países humanos que exigem silêncio de poucas palavras – do sim, sim ; do não – não. Querer impor condições exige as cartas maiores do jogo. Manda quem pode, obedece quem tem juízo, diz a população.

Na avaliação entre o tempo e as palavras comporta um verso, que durante essa faixa estreita impera o instinto da fala e o motor da emoção, a quebrar pedras e forçar paredes da violência. O maestro de todo mundo, desde o pequenino ao maior, do beija-flor, bentivi..., habilidade no lidar com as palavras sem censura, no entanto saborosas no ato de amar, outro não é senão o si próprio. Criar ao dizer, trabalhar o mármore do si nas artes que elabora.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

OS VÓRTICES DA PAIXÃO HUMANA - Emerson Monteiro


E quando o tempo fecha, vinda de dentro do coração a força descomunal dos rios cheios de arrancar as pedras, arrebentar e destruir, apertar o tórax a ponto de prender a respiração, faz nascerem os surtos maravilhosos dos planos imaginários do que se chamar paixão. Sem lugar de repouso, ímpetos de querer fugir lá para longe como objeto do desejo, e esquecer, no passado, as belas construções e a família, jogar fora os valores alimentados anos a fio, essa fome do impossível trava a boca do estômago, pedido surdo de espaço no território inexplorado das ilusões, os vórtices de paixões jamais experimentadas, que já invadem com farra a paz dos inocentes. Nisso a vontade incontida do sonho ciranda acelerada, de revirar o mundo e reconstruir as intenções pela vida afora, junto de quem chegou o momento fantástico da mudança.


Saber que possui os direitos da razão, eis missão das mais ingratas. Ninguém anda nos campos do coração, nem o próprio dono, livre de machucar, vez ou outra, os frágeis pés. Ali, aqui, sopram os ventos da ansiada liberdade recém adquirida nos bancos da Natureza. Dominar, no entanto, significa talento de sabedoria, inteligência maior de personalidade, gosto do equilíbrio em andar maneiro longe das destruições arriscadas da fria irresponsabilidade.


Contudo, ainda saíram até aqui só poucos professores neste assunto, formados na escola da experiência. Alguns poetas e romancistas trabalharam o tema, porém chegaram pouco no transmitir da certeza de controlar as batidas dos corações apaixonados. O cancioneiro popular talvez olhasse mais próximo, com suas modinhas doridas, marcas rumorosas das primas e dos bordões, a vibrar as madrugadas insones das curvas idolatradas do ser amado.


Bom, em matéria de sentimentos incontidos nas quatro linhas da razão restam fora de propósito quaisquer cogitações asseguradas na luz da consciência pura. Vira de lado, corre agitado, abandona o lar, o desespero parece querer tomar conta dos protagonistas presos nas garras de aço da paixão. Eis matéria viva das contradições humanas, circunscritas ao calendário das idades. Vem silenciosa, rasga o teto da tranquilidade na história pessoal e despeja os tonéis de tempestade no peito dos solidários boêmios da esperança e parceiros iluminados.


Houvesse justificativas nas tantas circunstâncias do inesperado, poucos achariam as jóias de explicar a dor da paixão nos pobres corações humanos. Respeitar, no entanto, a febre da paixão de todos cabe descobrir qual jeito de poder mora no íntimo do amor de cada ser.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

VERSOS E CANTORIAS - Emerson Monteiro

Este final de semana, de 10 a 12 de março de 2012, corresponde à realização, em Crato, do Seminário do Verso Popular em sua terceira edição, que, desta vez, corresponde aos 21 anos de existência da Academia dos Cordelistas do Crato, e consta do programa exposições, painéis, palestras, conferências, homenagens, oficinas de xilogravura e cordéis, minicursos, feiras, mesas redondas, apresentações de trabalhos científicos, sessões de vídeos, recitais, lançamentos de cordéis, posse de novos acadêmicos, apresentações de humor e música regional, numa festa da cultura popular nordestina digna dos melhores encômios.

A coerência cultural com que se criou, no tempo certo de duas décadas passadas, a Academia dos Cordelistas do Crato ora resulta no patrimônio universal dessa literatura, circunscrevendo o âmbito das manifestações artísticas do mundo inteiro qual mérito de registro necessário.

O Nordeste brasileiro preserva suas origens medievais como nenhum outro território deste mundo, enquanto a fundação dessa instituição do verso popular aqui reúne valores exponenciais em grupo de riqueza ímpar. Autores talentosos, de oficina própria e edições que já remontam a casa dos dois milhares, atualizadas fontes da leveza das rimas e do gênero, a fonte primeira da grande literatura em juventude perene.

De particular, noticio, pois, fortes sentimentos da satisfação experimentada nestes momentos do Seminário de Verso Popular do corrente ano. Houve blocos distintos na sede da Academia, no Largo da RFFSA e no SESC - Crato. Ocorreu, concomitante, a distribuição de obras editadas pelo Projeto Livro de Graça na Praça, idealização exitosa do mineiro José Mauro da Costa, pioneiro dessa função de expandir o livro ao povo nos quatro cantos do País, também um dos conferencistas do evento, no domingo à noite. E no sábado à cantoria dos jovens expoentes da atual cantoria, Ismael Pereira e Jonas Bezerra, testemunhas autênticas do menestrel sertanejo, provas inconteste da sapiência humana por meio dessa expressão natural do verso violado.

No decorrer das manifestações, as presenças de Josenir Lacerda, Tranquilino Ripuxado, João do Crato, Mana do Romualdo, Dalinha Catunda, Pedro Costa, Eugênio Dantas, João Nicodemos, Miguel Teles, Abidoral Jamacaru, Jorge Carvalho, Pedro Bandeira, Bastinha, Poeta Nascimento, Maércio Lopes, Ginevaldo, Pedro Ernesto, Luciano Carneiro, Arievaldo, Gildemar, Willian Brito, Anilda Figueiredo, Wiliana, Carlos Henrique, Sandra Alvino, Chico Pedrosa, Maria do Rosário, Higino, Moreira de Acopiara, Ulisses Germano, Seu Zezé, Alexandre Lucas,Vicente, Vandinho Pereira, Aldemá de Morais, Zé Joel, Raul Poeta, Nizete, Manuel Patrício, dentre outros da intelectualidade caririense, razões do sucesso das ações desenvolvidas. Para formar juízo claro da importância do acontecimento, veio dele participar o autor Gonçalo Ferreira da Silva, atual Presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CARETAS - Emerson Monteiro

Algumas réstias de passado por vezes aparecem na memória e preenchem as épocas da infância em que, não fossem elas, sobraria exclusiva a impressão de haver esperado no vazio o momento de começar a viver vida crescida. Nessas minhas lembranças remotas persistem as movimentações sertanejas para comemorar os dias da Semana Santa, no universo rural em que vivi os primeiros acontecimentos que consigo recordar.

Em meio aos atos sacros da pequena capela da fazenda, sob a responsabilidade de minha avó e suas assistentes, outras pessoas se movimentavam para compor a cena alusiva aos sacrifícios de Jesus em sua paixão. Homens feitos se vestiam de gibões de vaqueiro, feitos de couro curtido, com caretas de gado a lhes cobrir o rosto, chocalhos pendurados nos ombros e armados de chiqueiradores. Com isso, passavam a montar guarda permanente em volta do território escolhido para o Sítio do Judas. Ali ficavam, fixados ao solo da bagaceira, galhos de árvores arranjados com frutas, rapaduras, bananeiras e outras prendas. Próximos à beira do caminho usual, as pessoas que circulavam nas imediações se viam na condição de se livrar da agressividade desses feitores, donos postiços daquele pedaço de chão.

As máscaras escondiam a identidade verdadeira dos que desempenhavam o papel de vilão, cobertos pela impunidade, a causar temor à criançada e aos adultos que se aventurassem a roubar o sítio como parte da trama.

Chegada a noite, os folguedos prosseguiam, envolvendo ações típicas daquele povo rude. Outro aspecto também me ficou retido nas malhas dessas recordações, quando conheci o jogo que implicava na prática de enterrarem um galo no centro de grande círculo, deixando de fora tão só a cabeça da ave. Os participantes, de olhos vendados, depois de girados sucessivas vezes, recebiam uma longa vara e com ela passavam a bater a esmo, procurando executar o bicho indefeso. Quem acertasse o alvo, ganhava prêmios e ovação dos espectadores postados em volta, numa algazarra que invadia a noite e contagiava a escuridão.

Da idade entre três e quatro anos, me conformei pouco tempo presenciando aquilo tudo. Em pânico, sobrou-me de único caminho retornar para casa acompanhado de pessoa adulta nem um pouco satisfeita de perder a festa, dado se tratar de coisa rara naquele afastado mundo.

Deitado, insone, acompanhava de ouvido fixos, bem longe, as pancadas tétricas contra o solo, sob os gritos desesperados do galo, entremeados da farra alucinada dos circunstantes, barulho intenso a se manter até tarde da noite, trazendo clima sombrio a envolver o meu espírito. Afloravam diversas interrogações quanto à razão daquilo, o por quê do sacrifício. Uma dose qualquer de crueza marcava-me o sentido desses costumes primitivos, refletida nos modos comunitários que, mesmo agora, meio século depois, inquietam nas entranhas perguntas vagas a propósito de nossa natureza humana, afeita a gestos vulgares da mais fria violência adotada na forma de instrumento de poder.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

FIDERALINA AUGUSTO LIMA - Emerson Monteiro

Eu nasci 30 anos depois que ela desapareceu, e no mesmo pouso de onde comandara o seu clã, o Sítio Tatu, em Lavras. Desde cedo ouvi falar em minha trisavó, Fideralina Augusto Lima, avó de meu avô Amâncio e de minha avó Lídia, primos e naturais do tronco familiar.

Ela nascera na Vila de São Vicente Ferrer das Lavras, no dia 24 de agosto de 1832, filha de Isabel Rita de São José e do Major João Carlos Augusto.Pelo lado materno, era bisneta de Francisco Xavier Ângelo, Capitão-Mor e Comandante-Geral da Vila de São Vicente Ferrer das Lavras. Filha mais velha dentre onze irmãos, casara com o Major Ildefonso Correia Lima, Capitão da 1.ª Companhia do Batalhão n.º 28 e Major Fiscal da Guarda Nacional de Lavras. O casal teve 12 filhos. Proprietária rural em Lavras, possuía também prédios residenciais na sede da Vila e em Fortaleza, gado e negros que lhe serviam como escravos.

Viúva ainda cedo, sozinha educaria os filhos através de rígido sistema, nos moldes da época. Gostava dos trabalhos de fiar e rendar varandas de rede, nas horas quando livre das fainas rurais. Era católica, dedicada ao Ofício de Nossa Senhora. Construíra no Tatu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

Fideralina participou ativamente da vida política do Ceará, elevando alguns de seus filhos a postos importantes, no município de Lavras e no Estado. Dentre esses, Gustavo Augusto Lima, o meu bisavô, chegaria à Presidência da Assembleia Legislativa, cargo que desempenhava quando foi assassinado, no ano de 1923, na Praça do Ferreira, em Fortaleza, por conta de retaliação a morte ocorrida em luta da qual participaram membros da família no ano anterior.

Vítima de febre, Fideralina Augusto Lima faleceria no dia 16 de janeiro de 1919, no Sítio Tatu, em Lavras da Mangabeira CE.

Vistas as ações austeras e intempestivas que empreendera, deixou na história a legenda de matriarca carrancista que as tradições familiares e dos conterrâneos insistem preservar, herança rude dos tempos áridos que cruzou com dignidade, ora inspiração a livros e poemas consagrados pelo Sertão nordestino.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

ONDA DE FRIO NA EUROPA - Emerson Monteiro

O clima da Terra mudou a olhos vistos. Fenômenos já surpreendem populações inteiras nos mais diversos lugares, no entanto, com explicações plausíveis para tamanhas transformações nos acontecimentos, verdadeiras ameaças à sobrevivência e bem estar das espécies. Em 2010, por exemplo, houve mais terremotos na face do Planeta do que em todos os anos anteriores, causando apreensão e prejuízos, abrindo espaço às preocupações humanas com relação ao que sujeita ocorrer nas próximas décadas.

Em dias recentes deste princípio de ano (2012), a Europa atravessa grave crise climática diante das excessivas temperaturas verificadas, ocasionando, pelo menos, duas centenas de mortes em países de baixas temperaturas. Além das vidas em perigo, devido o abastecimento de gás natural e outras energias sofrerem drástica redução entre os mercados, gerando ainda mais deficiência nos instrumentos de reversão do quadro verificado.

Fortes indícios dos males de uma selvageria predatória longe de controle apontam, pois, à irregularidade racional de uso dos meios existentes para viver. Regiões reconhecidas pelo regime de chuvas regulares e fartas agora defrontam estiagens e secas de causa dó, fora mesmo das previsões, motivo de perdas sucessivas nas safras.

As razões das consequências, no entanto, crescem nas principais causas, dentre essas o desperdício dos recursos naturais a pontos jamais imaginados, pela ganância agressiva e perversa, em detrimento da Humanidade como um todo. Fome agressiva do domínio gratuito de bens preciosos a tudo justifica, febre doentia de esbanjamento e supérfluos que parece ilimitada, sobretudo das nações ricas, fora dos escrúpulos necessários à sustentação, imposição da própria miséria ética desse tempo do salve-se quem puder.

E nisso claudica o sistema da produção mundial, aberto à livre competição dos acúmulos desmedidos. O interesse dos grupos de poder predomina sob a justiça coletiva, peso comprometedor que e a quase ninguém sensibiliza para respostas proporcionais ao problema.

Milênios de desmatamento, guerras, testes nucleares, exploração incontrolada e poluição em massa só de longe cobram o preço impagável de tudo o que o amadorismo apocalíptico ora transforma em alertas extremos da Natureza mãe, em gritos de atenção surdos e valiosos.