terça-feira, 31 de maio de 2011

A DIVINA CONFORMAÇÃO - Emerson Monteiro

Na Palestina, depois que Jesus fora executado e as coisas pareciam retornar à antiga normalidade, um dos seus apóstolos, o de nome João, não se aquietava, a procurar canto, qual dizem dos que lutam e nada conseguem para aceitar as situações difíceis.

Durante semanas, sua vida era só amargura, sofrimento por cima de sofrimento. A ferida aberta com a perda do Mestre parecia crescer cada dia um pouco mais. Aonde seguisse, levava consigo a saudade imensa da presença divina, fugindo-lhe do ânimo o gosto de pelejar, e ninguém conseguia consolá-lo. Tornara-se, por isso, a maior preocupação dos amigos e familiares.

Alguém lembrou, então, de Maria de Nazaré, a quem devesse procurar, na busca de palavras de conforto, pois se revelara exemplo perfeito de resignação face à inominável tragédia que também lhe vitimara.

Destarte, João viajou ao lugar em que morava a mãe de Jesus.

Numa demorada conversação dos dois, a santa mulher indicou a João que chegasse ao Mar da Galiléia, porquanto, nas suas margens, acharia motivo suficiente de recobrar forças e firmeza de tocar adiante a vida.

João aceitou o conselho e buscou as praias daquele mar, em que permaneceu algum tempo. Relembrava os passeios felizes de vezes anteriores, absorto nos transes da dor. Certa tarde, preso à beleza das águas azuis, se deixava inundar de gratas recordações, quando avistou, deslizando em sua direção, no fino espelho das ondas, o vulto magnânimo de Jesus.

Um perfume de incenso raro, nessa hora emanava pelo ar, idêntico ao que experimentara junto da cova em que depositaram o santo corpo do Mestre, nas proximidades de Jerusalém.

Perante o inesperado fragor, quis esmorecer sob o peso das emoções ali vividas. Fechou os olhos, na mais fervorosa contrição, e ouviu nos refolhos da alma lacerada, translúcido, o falar do Verbo de Deus:

– Estimado João, jamais queira imaginar que habito longínquas paragens afastadas de quem amo. Saiba, no entanto e sempre, que quando alguém chamar com sinceridade ao seu lado estarei, na eternidade dos verdadeiros sentimentos, contra qualquer obstáculo; pois não há distância entre os que se amam.

Dali em diante, tocado pelos eflúvios da revelação inesquecível, o apóstolo se rendeu ao abençoado reencontro e entregou-se ao poder da conformação, para realizar o trabalho evangélico que viera cumprir na Terra.

ENCONTRO DOS ESCRITORES FERNANDO PESSOA E DOSTOEVSKI EM LAVRAS DA MANGABEIRA

Aconteceu, em 21 de maio de 2011, a posse da escritora Cristina Couto e do teatrólogo Aury de Araújo Correia, conhecido pelo nome artístico de Aury Porto, na Academia Lavrense de Letras, ocupando as Cadeiras 36 e 37, respectivamente. Os pronunciamentos dos novéis acadêmicos, belos e muito contundentes, emocionaram todos os presentes.

Aury Porto trouxe para o evento um dos maiores escritores de todos os tempos, o português Fernando Pessoa. E o faz bonito. “Felicidade. Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário... Se achar que precisa voltar, volte!” E eu voltei. Não sou poeta que “... finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”.

E depois o teatrólogo anunciou ao público: “Depois de conversa com uma pessoa que conheci ontem, Linda, reporto-me à obra O idiota, um dos mais notáveis romances do gênio russo, Dostoyevsky”. Sua obra explora a psicologia humana num conturbado contexto político, social e espiritual da sociedade russa. Para os críticos, um dos maiores psicólogos da literatura mundial. E assim, chega um dos mais proeminentes escritores no século XIX, precursor do movimento filosófico existencialismo, para quem a guerra é a revolta do povo contra a idéia de que a razão orienta tudo. Fyodor Mikhaylovich Dostoyevsky em Lavras da Mangabeira, sob a proteção de São Vicente Ferer, em noite de brisa amena, raridade sertaneja, distante do inverno russo que cobre de neve encantos, encontros e desencontros.

Por um segundo, Aury Porto e eu nos olhamos, em cumplicidade ideológica. Emocionada por tê-lo convencido a trazer tão ilustre convidado para nossa festa, em estado de êxtase pela percepção social da obra, não contive a emoção: após apresentação, corri para abraçá-lo, levando comigo afetuoso agradecimento, isto na terra onde nasceu meu pai, o médico e escritor Manoel Gonçalves de Lemos.

Compareceu também à festa o poeta Zito Lobo, com o seu livro Trovas e Poemas, declarando amor eterno à sua amada Eliete. O mensageiro desse amor foi o seu filho, Dimas Macedo, celebridade literária contemporânea, neto do poeta de versos sociais Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso). Na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que acolheu o evento, o Príncipe dos Poetas Populares Lavrenses, José Teles da Silva lembrou que estamos no século XXI. E Vicente Paulo Lemos arrancou aplausos quando proclamou: “Em Lavras da Mangabeira/Lavram-se ricos cristais/Quem não é Padre é Doutor/Ou tem outros cabedais/Também o agricultor/Quando lavra é muito mais.”

Cristina Couto e Aury Porto receberam mensagens de boas vindas, enviadas pelo Presidente João Gonçalves de Lemos, através da Vice, Fátima Lemos, e pelas confreiras Rosa Firmo Bezerra e Lucia Macedo Maciel. A novel acadêmica discursou, comungando sentimentos com quem parte para um exílio na Sibéria, em noite de natal, experiência que rendeu a Dostoievski a regeneração das suas convicções. Reveladora da angustia mental e dilema vividos no mundo atual, Cristina fez questionamentos éticos sobre a liberdade, o livre arbítrio e o determinismo. Retratação filosófica do que acredita a sua consciência.

Sobre o amor de Cristo falou Dimas Macedo, fruto de sua capacidade criadora. O academico Jeová Batista Moura, o radialista Paulo Sérgio Carvalho e tantos outros também ficaram expostos a emoções complexas, beirando os limites da razão e da lógica”.
Texto: Maria Linda Lemos Bezerra é natural de Várzea Alegre, integrante da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará e Sócia efetiva da Associação Cearense de Escritores.

domingo, 29 de maio de 2011

O GENERAL INVERNO - Emerson Monteiro



Assisti recentemente ao filme Guerra e Paz (1957), superprodução do diretor americano King Vidor, com Henry Fonda, Audrey Hepburn e Mel Ferrer, dentre outros destaques, que aos dez anos vira pela primeira vez no Cine Moderno, em Crato, bem cuidada e rica montagem cinematográfica do célebre romance de Leon Tolstói, obra imorredoura da literatura universal.

Aprendemos que bom é reler; e, no caso dos filmes, rever. Atualizar a leitura de peças antes conhecidas, quando, então, desaparecerá a ansiedade em conhecer o final, e se mergulhará na interpretação dos detalhes com visão mais ampla e apurada no tempo.

Depois disso, a trama romanceada nos personagens russos das guerras napoleônicas impõe sua força ao decorrer dos acontecimentos, mostrando capacidade extrema daquele povo de resistir aos desafios de sua história. A beleza exótica de Audrey Hepburn domina o papel de Natasha, personagem ingênua, contraponto ideal para mundos em conflito, a inocência original que nutre de ânimo os vencidos. Enquanto que o senso crítico de Pierre (Henry Fonda) conduzirá testemunho do contexto em queda livre diante do inesperado, formulando meios de superar o imperfeito.

Mas o que toca na essência do drama significaria a destruição das tropas francesas em retirada convulsa, vítimas da eficiência do general Inverno, com o que não laborou Napoleão Bonaparte no ímpeto das conquistas, vendo-se em condição de fragorosa decepção, ao furor das baixas temperaturas, da fome e da neve, dizimando preciosos efetivos. Esta lição Hitler não aprenderia, lá na frente, quando jogou os alemães a circunstâncias parecidas, no mesmo território, amargurando a maior derrota das campanhas nazistas aos custos, inclusive, de rendição humilhante na Segunda Grande Guerra, mérito do bem sucedido general Inverno.

Recordo, na fleuma dos soviéticos perante a dor, sua busca pela transformação socialista que propôs e que redundaria no fracasso de 70 anos de vivências do recente século. Com a fibra heróica da civilização milenar, o sonho justo e igualitário ver-se-ia por terra, face às humanas limitações em realizar a perfeição nos grupamentos comunitários. Eles, os russos, chegaram longe nesse projeto de transformação social, contudo haverá longo percurso pela frente até a concretização plena da solidariedade e da paz em termos coletivos, porquanto, no íntimo, o egoísmo ainda impera e detém a consciência das massas. Sem o aprimoramento real dos indivíduos jamais se chegará à verdadeira fraternidade neste chão, pois.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

FALAR EM NOME DAS MATAS - Emerson Monteiro


O projeto agora anda da Câmara para o Senado, mais para espantalho do que para código florestal. Espécie de lei remendo a tudo que se perpetrou até agora nas matas brasileiras, no afã dessa febre dos industriais no campo, a agroindústria exportadora, e da produção de carne para o mercado externo, a toque de caixa. Mundo desigual de tanta fome e tanto estrago. Os vegetais não têm deputados, senadores, advogados. Têm os donos das terras que tomaram dos índios, que receberam de herança, que compraram ao preço de banana, que desmatam e fica por isso mesmo, nessa ganância de ouro fácil. Defender o que, senhor parlamentar? As furnas das onças, os buracos dos tatus, as camas das pacas? Argumentar com o quê, senhor parlamentar? Com as cantigas dos matutos abilolados na faina de puxar cobra para os pés, e apurar quase nada ao final dos invernos? Ouvir o canto dos pássaros para quê, senhores, quando as parafernálias eletrônicas ecoam de norte a sul do País, nos forrós melados desse universo troncho da ressaca nacional, frutos negros da cultura de massa? Sim, o som estridente das motosserras e dos tratores do progresso invadindo tudo que pareça verde e que, vendido a troco de muambas, virá festa, nos salões amarelados das cidades de trastes engarrafados e brilhosos. Os gritos dos capitães da grilagem, caçadores com a espingardas dos outros. Grande farra coletiva, nesses tempos de pouca solidariedade e muito lucro. Há um protesto congelado nos ares da política pragmática e mercantil. Há dores caladas nos cantos escondidos das florestas esturricadas, abandonadas à própria ganância. Ninguém pode além de nada, nos tristes trópicos acelerados para que as florestas permaneçam nacionais, invés da dominação do Império avassalador. Quem contará essa história da entrega da alma cativa aos inúteis da fragilidade, aos apáticos e indiferentes? Quantas perguntas lançadas ao vento, nas manhãs melancólicas dos finais de natureza. Apenas reservos de poucas plantas restarão emolduradas aos quintais dos ricos, enquanto na praça da apoteose crescem os pretendentes aos postos de comando e erários públicos órfãos da cidadania.
Isto porque vejo pouca chance para as leis conscientes e que contemplem a realidade verdadeira dessa humanidade insana. O Brasil, nação estratégica dos novos tempos, quando acordará a isso, sem procurar conciliar os ânimos destrutivistas do que resta de patrimônio nativo?
A propósito, minha homenagem ao casal José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher Maria do Espírito Santo da Silva, mortos a tiros na madrugada desta terça-feira (24 de maio de 2011) na área rural do município de Nova Ipixuna, sul do Pará. Eles só lutaram com autenticidade em nome da conservação da natureza!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

INTERCESSÃO VALIOSA - Emerson Monteiro

Das inúmeras ocorrências verificadas no decurso da Confederação do Equador, no Ceará, idos de 1824, episódio impressionante ficou registrado por Esperidião de Queiroz Lima, no livro Tempos Heróicos, que narramos aos que ainda não leram a referida publicação.
Trata-se da execução de um dos sentenciados pelo tribunal militar conhecido por Comissão Matuta, no mês de outubro daquele ano, instalado para punir as hostes rebeldes. Depois de julgados e condenados, cinco líderes republicanos seriam fuzilados no pátio da Cadeia Pública de Icó. Um desses, Antônio de Oliveira Pluma, autodenominado Pau Brasil, conforme sua assinatura no manifesto do movimento, insatisfeito com o resultado a que se via submetido, reagiu em altos brados, protestando misericórdia de quem ali se achava.
Recusara mesmo permanecer de pé, mas, sendo assim, forçaram-no em cordas a se sentar numa cadeira, onde, com olhos vendados, ainda pedia que o deixassem viver.
De nada lhe valeram as rogativas, pois logo em seguida o pelotão recebeu a ordem de preparação:
- Apontar!
E, ante os disparos iminentes, o pânico pareceu querer tomar a alma do condenado em face da morte inevitável, sob o monto de todo o idealismo que até ali dominara os atos de sua razão da existência. Outra vez, um gesto cresceu de sua voz, explodindo mais alto em reclamações de amparo, lançadas aos planos superiores:
- Valei-me, Senhor do Bonfim!
Nisto foi secundado pelo toque de comando: - Fogo!
Cessada a fumaceira, as balas achavam-se cravadas no muro onde o revolucionário permanecera incólume, sacudindo de espanto os presentes. Seguiu-se nova carga de munição. Restabeleceu-se a ordem preparatória, e se fez no ar outro grito de socorro:
- Valei-me, Senhor do Bonfim!
- Fogo! - foi a ordem marcial.
Resultado: o alvo manteve-se intacto. Os tiros voltaram a ferir tão só e apenas o muro, para desânimo da escolta. Em meio do inesperado, tonto, pálido, o comandante reclamava prática melhor de tiro a seus homens, visando manter os praças no cumprimento do dever, tratando de retomar as determinações da próxima tentativa, que foi precedida pelo mesmo grito do condenado, tão pungente quando sincero:
- Valei-me, Senhor do Bonfim!
Os disparos se deram, de acordo com a obediência. Desta vez Pluma fora atingido por algumas balas, mas continuava vivo, segundo narra em seu livro Queiroz Lima.
Os soldados de pronto se movimentavam para um quarto fogo. Nesse instante, a população presente, tocada de simpatia pelo confederado, se ergueu coesa e exigiu o direito do réu ser libertado, qual merecesse o valimento dos céus. Em seguida, essas pessoas levaram-no consigo, alheado e preso à cadeira do martírio, até à Igreja do Senhor do Bonfim, distante cerca de 200m do ponto onde a cena ocorrera, entre preces e benditos fervorosos.
Há registros do ano de 184l que dão conta de que o sobrevivente veio a ser titular da Promotoria Pública da comarca de Baturité, no Ceará, o que bem comprova sua resistência aos ferimentos naquele dia recebidos, na tentativa de execução de que fora objeto e sobrevivera, no município de Icó, 17 anos passados.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Posse das Cadeiras 36 e 37.

Eu e Aury Porto na entrada do evento.
















Eu recebendo de Dimas Macedo o Diploma da ALL.



Linda Lemos, Paulo Sérgio, Aury Porto, Cristina Couto, Fátima Lemos, Dimas Macedo Zé Teles e Jeová Batista.



Paulo Sérgio, Aury Porto, Eu, Fátima Lemos, Dimas Macedo, Zé Teles e Jeová Batista.


MENSAGEM PARA AURY

Conterrâneo Aury Porto,

A Academia Lavrense de Letras, no dia 21 de maio de 2011, celebra um dos seus grandes dias: recebe para integrar sua plêiade de acadêmicos, o ator e produtor teatral, Aury Porto.
Saudamos com muito calor humano o novo companheiro, recebendo-o com os braços aberto de quem acolhe e os corações transbordando de alegria e solidariedade.
Seja bem vindo Auri, entre de forma altiva nesse Sodalício, integrado por homens e mulheres nascidos no município de Lavras da Mangabeira, e que obtiveram destaque no desenvolvimento de suas atividades profissionais, bem como por cidadãos não filhos do município mas que, no desenvolvimento do seu mister, ofereceram contribuições valorosas e incontestáveis para o desenvolvimento da nossa cidade mãe.
Nossos sinceros parabéns!

Um abraço fraterno!

Lúcia Macêdo Maciel

MENSAGEM PARA CRISTINA

Cara Cristina,

Como não será possível, por razões de ordem estritamente particular e pessoal, comparecermos à solenidade de posse na Academia Lavrense de Letras, da nobre conterrânea: jornalista, publicitária, escritora, bem como defensora ferrenha da preservação do patrimônio histórico e cultural de nosso município, apresentamos-lhe as nossas sinceras congratulações.
Companheira Cristina, nós lavrenses nos orgulhamos de você!

Um abraço fraterno!

Lúcia Macêdo Maciel

terça-feira, 17 de maio de 2011

MENSAGEM DE UMA ROSA

Minha Cara Cristina,

Sempre digo que estes últimos anos as mulheres vem conquistando cada vez mais seu espaço no Brasil e no mundo. A Academia Lavrense de Letras assim como as diversas Academias de Letras no país estimulam e incentivam por meio de sua tradição que novos escritores, pensadores e estudiosos da nossa língua despontem a cada dia O exemplo de uma Academia de Letras ajuda a que crianças, jovens e adultos tenham um referencial de inteligência e talentos de seu país e Estado.

Comemoramos a chegada de mais uma mulher no templo dos intelectuais e talentos das letras, (ALL), a acadêmica Cristina Maria de Almeida Couto. A Academia Lavrense de Letras e a cidade de Lavras da Mangabeira com o ingresso de uma nova integrante em seu quadro como você Cristina, figura jovem, alegre e inteligente, com certeza faz-se mais fortalecida. Faço aqui minha homenagem a esta mulher Jornalista, Publicitária que toma posse na cadeira de número 37, cuja patronesse é a educadora e poeta Balbina Lídia Arrais Viana.

Parabéns! Ilustre e nova imortal!

Rosa Firmo
Secretária Geral

MENSAGEM AO NOSSO ATOR

Meu caro Aury,


Novel acadêmico da Academia Lavrense de Letras:

Seja bem-vindo ao templo dos intelectuais e talentos das Letras!

Desejei muito estar presente a esse momento tão importante na sua vida. Uma viagem cultural ao solo europeu veio coincidir com a data de sua posse impedindo assim meu comparecimento.

É com muita alegria que tenho visto você galgar, passo a passo, um lindo e longo caminho na vida artística. Qual não foi a minha satisfação então, ao ver seu valor reconhecido pela Academia Lavrense de Letras. Você essa criatura humana que faz arte de forma dignificante e humana. Hoje agraciado e reconhecido merecidamente com o ingresso na Academia Lavrense de Letras através do nobre colega Dimas Macedo. Então todos ganham com este fato. Meu sentimento é de alegria e orgulho por fazer parte desse sodalício. Faço minha homenagem a este ator e produtor teatral que toma posse na cadeira 36, cujo patrono é o teatrólogo e radialista Vicente Férrer Lima (Vicente de Paroca).

Parabéns! Ilustre e novo imortal!

Meus Aplausos!

Rosa Firmo
Secretária Geral.

domingo, 15 de maio de 2011

UNS ANIMAIS ELETRÔNICOS - Emerson Monteiro


Bem ali detrás há poucos instantes de meros segundos, essenciais, no entanto, fora tomado daquela mesma sensação esquisita que agora volta a se repetir, a querer, todo custo, se projetar, sair pela ponta dos dedos, na emoção frívola de palavras vivas, indo diretas desde a corrente sanguínea ao papel, esguicho contínuo de uma sensação solitária, a formar definições e falas, bichos vivos, fugitivos. Na mão, fechado, quente, o pulsar heróico do coração do bicho feito pequeno pássaro animado, impaciente, aqui prisioneiro, no meio dos dedos e da palma, à pressão relativa sobre o celular que o retém preenchendo esse âmbito dos sentidos, já dominando a força aquecida no bloco inteiro das percepções vitais da pessoa instalada no comando central dos acontecimentos.
Nisso, a energia sincopa em toda casa. Dá um, dois picos intermitentes, saltos de dentro da madrugada para o dia surgindo nas luzes do nascente, que sorrateiras penetravam pelos quadrados de vidro laterais da porta, como quem quer rever os escuros da noite na sombra que começava, lentamente, a despertar para as novas claridades. Foram eles, os dois pulos de intensidade na energia, e todos receberam o jato de paralisação das funções, sinais suspensos na sobrevivência do ser gente e máquina em que humanos se transformaram.
Aquele espectro sideral de moléculas atadas à condição material na força das circunstâncias obtusas do firmamento, presas no alto do espaço, apenas estagnara em forma de protagonistas vazios da ausência de movimento aparente. Por dentro, no entanto, espasmo cataléptico misturava o sabor do tremer do telefone preso na mão, pássaro contido nas dobras das falanges ao longo do corpo da máquina comprimida.
Imagem paralisada no alvorecer que cessara de vez no cessar da energia da rede silenciada, a virar borrão afixado na inércia que deslizava durante o rio das coisas, sem conter mais no bojo de si o elemento estarrecido em pleno voo, nesse abismo que divide escuro e de iluminação. Parado ficara, permanecera, cartaz preso às margens da longa estrada do tempo.
Lá adiante nas horas, contudo, ainda que avisado durante algumas chamadas perdidas, pelo mecanismo estreitado nos dedos e na palma, acordaria atônito, aos sopapos secos da geladeira refeita no retorno da corrente aos músculos. Isso horas depois, Sol alto no céu, antes do pino do meio-dia, fora das cogitações possíveis e quase vítima do desespero, ouvindo o estalo das coisas descongelando abafadas no interior da fria composição.
Esfregava os olhos quando adquiriu a oportunidade para ativar, outra vez, os mecanismos do domingo junto aos sistemas externos, porém fundamentais à existência dos humanos, dependentes vorazes da corrente elétrica. Agradecido, contudo, estendeu a mão e depôs sobre a mesa o pássaro impaciente, a única via de contato real quando perdera os impulsos do mundo, naquela crise de abstinência temporária dos multimeios.

terça-feira, 10 de maio de 2011

EFEITO AGREGADOR - Emerson Monteiro

Noto que as ideias formam blocos parecidos com a evaporação que forma as nuvens no céu. À medida que essa formação das ideias ganha densidade, tende a produzir palavras e ações. Quais as nuvens carregadas de água da evaporação, as ideias também resultam em resultados novos. As nuvens, na chuva. As ideias, nas palavras e atitudes. Quando chovem, as nuvens perdem suas características iniciais e, já na terra, criam os córregos, rios, reservatórios e mares. As ideias, colhidas pelos que ouvem e leem, geram outras ideias, ações, e seus frutos. No andar de tal raciocínio, lembrei dos versos de Castro Alves, no poema “O livro e a América”, quando dizer: “O livro caindo n'alma / É germe - que faz a palma, / É chuva -- que faz o mar”.
Veja só aonde vou chegar neste raciocínio de agregação das águas em nuvens e das ideias em palavras e praticados. Derivo a considerar o efeito multiplicador da moeda, que antes era só uma ideia, hoje assunto técnico de economia, e aspecto importante das transações sociais. A moeda que gira, e o mundo gira com ela. Lá nos primórdios, quando ela ainda não existia, se dava o contrário, o mundo apenas girava, e a moeda dormia no celeiro inocente das ideais.
Nasceu o dinheiro, inventado, ou descoberto fruto da necessidade das pessoas, ocasionando todo movimento conhecido de portos e navegações, indústrias e mercados. Indústria, comércio, serviços. Patrões e operários.
O dinheiro existe para ser utilizado. Dinheiro guardado representaria água retida, sujeita à estagnação. A poupança pública, tão decantada no tempo do presente, por exemplo, trabalha em mãos dos bruxos financeiros, a fim de gerar a riqueza dos povos e das nações.
Essa moeda, que pode ser de papel, de metal ou, apenas, de números escriturados nas contas das instituições, circula e multiplica a riqueza que representa. Este o denominado “efeito multiplicador da moeda escritural”, estudado nas academias, quando pagamentos e recebimentos passam a acontecer por meio da multiplicação do uso do dinheiro e representa o maior volume da riqueza em circulação nos mercados mundiais.
Bom, cheguei enfim ao instante contar do que me trouxe nesse encaminhamento.
Isso, de falar na lei de acumulação de águas, ideias e moedas, em que funcionam os barcos da coletividade. Ainda que, por vezes, achemos que há dinheiro escuso, mal ganho, sujo, capital não tem pátria, nem mortalha tem bolso, na voz da experiência. Enquanto corrompidos costumes políticos, morais, econômicos, financeiros, ainda assim a riqueza segue seu curso na história e a vida continua. Visto que leis maiores a tudo isso regem, dentro da mais sábia das ordens universais de todos os acontecimentos, aqui nos achamos, sim, no firme propósito de salvar as nossas consciências.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

UM MONSTRO DEVASTADOR - Emerson Monteiro

Outra vez falar das drogas, da fera que tomou para refém a sociedade, inoculando seu veneno sobre a doce flor da melhor juventude dos nossos tempos. Recentes notícias falam de um filme documentário na fase de conclusão denominado “Quebrando o tabu”, do cineasta brasileiro Fernando Grostein Andrade, que trata do assunto de modo a repensar aquilo o que Estado pode oferecer como alternativas para o fracasso na guerra às drogas.
Numa sequência de entrevistas com personalidades importantes; políticos, intelectuais e cientistas; Bill Clinton, Jimmy Carter, Dráuzio Varella, Gael Garcia Bernal, Paulo Coelho, etc.; esse trabalho quer indicar maneiras novas de abordar o grave problema, considerado muito mais uma questão de saúde pública do que, apenas, fator e origem da criminalidade. A dependência das drogas ocasiona males inimagináveis à família e à sociedade, deixando cicatrizes profundas na história, desde as remotas eras.
O maior perigo das substâncias estupefacientes é que prendem pelo prazer físico imediato, motivando a ânsia da repetição e estabelecendo a sujeição química dos seus usuários.
No filme, no meio de outros depoimentos, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton declara haver conhecido as drogas através da dependência de um seu irmão que se tornara dependente de cocaína, levando-o saber, na própria pele, os males da trágica matéria.
Flagelo avassalador, as drogas chegam inclusive às penitenciárias de segurança máxima, conforme analisa um dos entrevistados. Indiscriminadamente, vitimam todas as classes sociais, todas as idades, todos os países, raças e credos. Ninguém se dirá livre da infelicidade das drogas, que aparecem na gênese dos piores delitos e maldades humanas.
No filme, também o escritor Paulo Coelho observa os riscos a que incorrem pessoas quando assumem o ônus de conhecer as drogas, a partir de quando nada mais poderão decidir com liberdade. Uma viagem sinistra, as drogas impõem condições irreversíveis, da doença à morte, no confronto de situações extremas e destruidoras.
A fatalidade das perversas substâncias rasga os olhos desta civilização, limitando as providências dos governos, que ainda ignoram as proporções reais do terrível inimigo em termos de consequências atuais e futuras. Deste modo, sombras de medo percorrem ruas e palácios, numa escalada jamais vista admitida em tempo algum.
A ciência e os órgãos de segurança, só por si, enfrentam a crise na esperança dos meios ideais de, pelo menos, reduzir o prejuízo comum, enquanto a responsabilidade do problema pesa nas costas de gregos e troianos, pais, irmãos, filhos, amigos e desconhecidos, numa luta surda para conter os números da triste servidão.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

UM AMOR PARA SEMPRE - Emerson Monteiro

Existem infinitas abordagens para o fenômeno da morte entre os seres humanos. O assunto envolve as concepções filosóficas, religiosas, sentimentais, de quem o considere. Impacto extremo, a hora do desaparecimento da vida no corpo ocasiona dores atrozes, abalos devastadores, a exigir firmeza e renúncia dos que passam por isso, que são todos, sem nenhuma exceção. Sendo, pois, a morte o ponto final do processo vida e limite da pesquisa científica, nela se interrompem as avaliações do método e seus estudos matemáticos. Quando cessa a vida na carne, também cessa o objeto da cultura como instrumento de respostas para as ações da natureza. Nessa hora, entrem em campo os valores da metafísica, ramo da filosofia que cuida dos fenômenos depois da morte. Será o momento da religião, tendo a transcendência por sua principal abordagem do Universo.
Os credos religiosos trazem considerações a propósito do que resta quando as pessoas deixam de existir no mundo visível. Há hipóteses desde as religiões mais remotas, o hinduismo, o taoísmo, o zoroastrismo, até as escolas da atualidade. As respostas indicam aspectos tratados como matéria de fé. A formação adquirida pelos devotos significará, nesta hora, o valioso instrumento de superar a crise das perdas dos entes queridos. A aceitação inquestionável da existência de um Ser Superior, por exemplo, definirá, sobremodo, o quanto de sabedoria comanda tudo na Vida. Esse é o dado principal: Aceitar a existência de Deus, pai e criador do quanto existir.
A seguir, sustentar a permanência da vida após a morte, ali quando, um dia, se reencontrarão os que se amam, porquanto consciências individuais não morrem com o desaparecimento do corpo material.
E compreender que a força suprema do Amor organiza as existências, energia poderosa e permanente, justa e acessível, fruto maior das compreensões elevadas e motivo do que as criaturas realizam durante o tempo, neste pedaço de galáxia girando no grande Cosmo, no sentido de um dia seres perfeitas.
Nisso, os laços eternos jamais se desprenderão, pouco importando as justificativas apenas intelectuais para minorar as dores pungentes da distância física. No entanto, a linguagem que os corações desenvolvem entre si oferece consistência nas respostas às marcas da saudade que machuca. Essa linguagem estabelece o contato dos seres que, de verdade, se amam. Nesse contanto amoroso, por isso, acham-se as soluções para a dor da separação, porta aberta da Eternidade. No isolamento das horas amarguradas, transes só conhecido pelos que vivenciam, a voz de Deus e do seu amor tocará o íntimo profundo de pais que perdem seus filhos, ocasião própria de ouvir com bem clareza os que saem de cena, mas continuam vivendo tão perto de nós.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A MÚSICA E OUTROS SINAIS - Emerson Monteiro


Quem passa, as pessoas; são elas quem passa no silêncio dessas paragens entranhas da consciência e no terno movimento, a refletir as horas e o seguir do correr inevitável das coisas. Espécie de saudade descomunal acompanha o deslizar da sombra que desce pela infinita ladeira dos instantes em sucessão.
As luzes que circulam em volta dessas poças d´água espalhadas pelo vento encantam canções que insistem tocar as células do esquecimento preguiçoso dentro da alma da gente. Aves, no céu alto, deslizam indiferentes em meio das mesmas marcas de nuvens rápidas que encobrem o céu acinzentado das cerrações nas manhãs, que vestem de fantasmas os dias que se foram através da fatalidade. Tetos de névoa tênue, véus de paisagens desaparecidas, ausentam-se, quando rondaram aqui tão perto, livres, porém, do controle dos nossos sonhos e braços de dominá-los.
Contar quanto andou nesses caminhos interiores ao som das pulsações demoraria igualmente a quantidade do que desfilou nas telas do presente, pois reviver é viver. Algo de constante aos olhos da repetição. Por isso, a diferença significa o tanto proporcional das saudades depositadas nos lixões e museus. Impressões permanecem do intervalo das paredes e das histórias, período exato de servir aos demais seres humanos, pratos da realização dos desejos. Paz, satisfação de viver. Em processo equivalente, uns desprezam as oportunidades para favorecer o esforço de outros que precisam. Reunir as forças suficientes de facilitar a jornada dos que arrastam fardos pesados, próximos, hoje, ontem, amanhã, disposição e trabalho em nome de quem necessita.
Ter medo de abandonar o percorrer dessas horas impacientes que jamais esperam pode pedir a vontade do serviço ao semelhante, única atitude que vence o morrer que o tempo tritura todo momento.
Romanos narravam lenda que falava de Cronos, o deus do tempo. Ele paria e devorava seus próprios filhos. Continua dominando os passos nas histórias das outras civilizações, ente misterioso que lhe toca adiantar os frutos que servem de alimento. Todos sem exceção calcam o cenário aos próprios pés. A música das esferas domina os sentidos, na audição. As cenas em ação, na visão. A mesa, no paladar. O perfume do estrume e das flores, no olfato. E no tocar dos objetos, o tato. E nós, atores principais do processo vida.
Alternativas de juntar num bloco este momento cabem no papel de instrumento de salvação criaturas, quebrar o cristal da inutilidade de olhar indiferente o rio correr sem responder ao que pergunta a música invisível do tempo no seio dos corações.

MENSAGEM

Minha ilustre acadêmica Cristina Couto.
Meu estimado imortal e amigo Dimas Macedo

A Academia Lavrense de Letras ganha alento e mais projeção com a chegada desta viandante, Cristina Couto, verdadeiro polo irradiador de cultura e alegria das Lavras de Mangabeira, ora recebida pelos braços fraternos de Dimas Macedo, a quem a literatura cearense tanto deve.

Queiram transmitir ao ilustre Presidente da Academia Lavrense de Letras os mais sinceros cumprimentos extensivos aos demais empossandos.

José Carlos Gentili
Presidente da Academia de Letras de Brasília