quarta-feira, 31 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

A LONGA ESPERA DE UM NÁUFRAGO - Emerson Monteiro

Que inigualável o pensamento!... De um momento a outro, formam-se nuvens de imagens e apontam no horizonte as palavras, quadro nítido a contar o que isso quer dizer, no trânsito filosófico de conceitos, à pulsação de significados. Existência quer falar, neste mar sem fim. Os endereços das mensagens abrem portas, pedindo clemência, num fervilhar de ancas, dançarinas fogosas de lábios convidativos, e descem pelas veias do instante a seiva de persistir, diferente de quando o barco afundou, largou tripulantes no alto mar, ou em meio aos rochedos afiados de continentes escuros, ou areias escaldantes de ilhas desertas, indiferentes projetos ilusórios que antes alimentavam sonhos fantasmagóricos, perdas largadas nas ondas por náufrago agarrado a vida incógnita qual derradeira esperança irresponsável.
Vem o Sol, vem a Lua, as Estrelas, dias e noites pontuais... Popas distantes de outros barcos passam ao largo inalcançáveis... Chuva... Vento... Uma lâmina impaciente de vagas brilhantes cobre de espumas cinzentas narinas ofegantes.
Boiar sobre escombros, agarrado aos laços de cordas rotas, língua seca e lábios tostados, marcas purulentas de esverdeadas escamas lhe cobrem a pele. Nisso, luz intensa perfura-lhe os olhos, enquanto a pulsação das águas fustiga o flanco do destino à deriva, ritmo de canção entranhada na memória sem qualquer sentido, que persiste no oceano de inconsciente sonâmbulo, vadio marulhar forte na caverna dos ouvidos.
Lento esperar por quem nunca avisou que chegaria aos comboios próximos das circunstâncias possíveis... Porém mandara subscrito inevitável demonstrando a obrigação de viver enquanto no peito sacudir o tambor do coração...
Ao apagar das luzes do verão absurdo, fogo-fátuo indiferente crepita o infinito da planura e saltam mechas derradeiras de poente, cenário próprio ao delírio da sede que lhe corrói as entranhas, aviso pegajoso do trilho comum a todos os seres vivos.
Retornam, através da sensação, espasmos frios de gotas saltitantes, desejo apreensivo de rever a família reunida em torno do pão, à mesa do jantar, quando filhos se divertem com menores assuntos. Ouvir o futuro, abandonar asas ao crepitar sereno das tardes simples, solenes, espaço das certezas que fogem, fagulhas amolecendo na brisa de ausências que apenas aguardam outras combinações de letras e argumentos, exemplos eternos da cena seguir em frente, maior do que meros organismos que se dissolvam.
Essa espera também domina o Universo; aves resvalam terras douradas, às vezes bem aqui, outras distantes, reforços do instinto de sobreviver, contenção da indesejável solidão do cérebro tostado no calor das tempestades da alma. Dormir bem que acalmaria por algum tempo o impulso de levar aos outros aquela aventura vivida, e ver outra vez nascer o dia.

sábado, 13 de março de 2010

EITA MUNDÃO SEM CANCELA! - Emerson Monteiro

Por vezes o atendi na Carteira Agrícola, proprietário e ativo agropecurista era sempre alegre e conversador, buscava seus empréstimos ou acertava suas contas no Banco do Brasil. José Inácio de Lucena, conhecido por Zequinha Chicote, guardava a fama de homem disposto, membro de família tradicional de Brejo Santo, lugar de histórias aguerridas de um passado conhecido pela saga dos seus primeiros habitantes. Dele uma frase característica definia bem o jeito de ser:
- Eita mundão sem cancela! – de longe sabíamos quem chegava, no chiste acompanhado da mais sonora gargalhada que preenchia o recinto, introdução para início de conversa seguida dos assuntos diários, bancários, negociais, técnicos...
Todo colega gostava dele. Ouvíamos tantas vezes narrativas de sua liderança, o respeito que lhe tinham seus pares, as proezas pelas quais houvera de passar nos confrontos dessa vida. Dado ao que desse e viesse, jamais se dobrava às contingências.
Quase todo final de semana me deslocava ao Crato, para a casa de meus pais. Organizava o passeio saudosista preso às amizades que deixara, o gosto por literatura, bebida, rádio, namorada, saídas aos pés de serra, um apego exacerbado à vida adolescente em diminuição. Livrarias, cinemas, bares. Em poucas oportunidades ficava no Brejo, onde tomara posse no banco em junho de 1967. Raras ocasiões permaneci, apenas em dias de festa, de acontecimentos marcantes, ou movido pelo coração, nalguns momentos especiais.
Retornava nas segundas de madrugada, em uma rural azul pertencente a Tércio Siebra, colega que fretava o veículo à turma do Crato, Zé Vicente, Bartolomeu, Seu Zé Siebra, Zé Oton, que ficava em Barbalha, e eu. Certas viagens ocorriam ainda no domingo à noite. Outras, a maioria, nas madrugadas da segunda, ressacados, saudosos, sonolentos, apressados, a fim de chegar no tempo do expediente rigoroso.
Num desses fins de semana, lembro bem, retornei ainda no domingo de tarde. Na véspera, no Bar Alvorada, centro da cidade, bem na frente da praça principal, enquanto bebia com amigos, Zequinha Chicote morrera alvejado com disparos de arma de fogo.
Algo tocara meu sentimento ao saber da notícia. Era dia nublado, desses quase escuros que prenunciam chuvas no sertão, e saí pelas ruas desertas da tarde, a rever na lembrança a figura daquele personagem do nosso cotidiano, um mutuário da Carteira. Alguma coisa restaria a menos diante do universo de funcionários procedentes das variadas origens que ali se encontravam tangidos para o trabalho. Levávamos existência burocrática, meio estrangeira, sobretudo, daí uníamos nossas histórias às dos moradores do lugar.
Com a perda de Zequinha Chicote, dia anterior, se fechara cancela de alegria daquele mundão primoroso, o que cheguei mesmo a pensar alguma cancela houvesse, face ao grito recorrente quantas vezes escutado:
- Eita mundão sem cancela!...

quinta-feira, 11 de março de 2010

RELATÓRIO ANUAL DE ATIVIDADES

Academia Lavrense de Letras – ALL
RELATÓRIO E PRESTAÇÃO DE CONTAS EXERCICIO 2009
Caros (as) colegas acadêmicos (as)
Apresentamos o Relatório e a Prestação de Contas do Exercício de 2009 da ALL, com desculpas pelo atraso, pois o correto teria sido apresentá-lo nos primeiros dias do mês de janeiro do corrente ano de 2010.
Seguem o Relatório e Prestação de Contas, em resumo, pois a transcrição na integra ficaria muito denso... Contudo o Relatório e a Prestação de Constas na integra, inclusive documentos comprobatórios, acham-se a disposição dos interessados na Sala da ALL, em Fortaleza, devendo a visita ser combinada com o Secretário Geral, Jeová Batista de Moura (fones 3226.4173 e 9916.3537); ou, numa próxima reunião da Diretoria, que será divulgada oportunamente entre a comunidade acadêmica.
Resumos:
01 - Seis acadêmicos (as) tomaram posse: Maria Carmosa Soares, Maria Iria Zogob Pereira, Maria de Fátima Lemos Pereira Cândido, Francisco Ferreira Lima, Maria Lúcia de Macedo Maciel e Madre Marieta Moura, Cadeiras 23, 24, 32, 33, 34 e 35, sendo patronos: Maria Oliveira Dias, Antônio Bezerra da Silva (Tota Bezerra), Maria do Rosário Augusto Mota (Rosária Mota), Vicente Ferrer Correia Lima (Correinha), Maria Augusta Ferrer Lima (Moreninha) e Cônego Honório Joaquim de Moura, respectivamente.
02 - Oito Sessões realizadas: 18 de janeiro, 07 de fevereiro, 06 de março, 25 de abril, 01 de junho, 19 de junho, 21 de agosto e 26 de agosto. Na sessão de março comemoração do aniversario do nosso Presidente de Honra da ALL, poeta Linhares Filho; na sessão de junho (dia 1º), palestra no Seminário da Prainha, proferida pelo Padre Clairton Alexandrino de Oliveira sobre o centenário de nascimento de Dom Helder Câmara; na sessão de junho (dia 19), palestra no Colégio Lourenço Filho, proferida pelo Presidente de Honra da ALL, poeta Linhares Filho, sobre centenário de nascimento do educador e poeta lavrense Antônio Filgueiras Lima. Nas demais sessões ocorreram posses de novos acadêmicos.
03 - Oito reuniões da Diretoria: (Notas 06, 07, 08, 09, 10, 11,12 e 13) para tratar de diversos assuntos, principalmente administrativos, sendo destaques a manutenção da documentação, abertura de conta bancária, arrecadação da contribuição social dos (as) acadêmicos (as), manutenção da página eletrônica, elaboração de perfis dos patronos e dos acadêmicos e outros assuntos pertinentes.
04 - Destacamos, ainda, a Confraternização Natalina, realizada no dia 05 de dezembro, o lançamento do livro da acadêmica Maria Carmosa Soares em Lavras da Mangabeira, condecoração da banda de Musica “Maestro Zuza Vasques” de Lavras da Mangabeira
05 - Aspectos Financeiros da Entidade:
- Recitas...................................................................R$ 2.412,45
- Despesas................................................................R$ 2.139,37
- Saldo em 31.12.2009...........................................R$ 273,08

06 – Dividas:
- Ao colega acadêmico Jeová Batista de Moura....R$ 442,45
- Ao colega acadêmico Gilson Batista Maciel.........R$ 420,00
- Total.........................................................................R$ 862,45

07 – Inadimplência...................................................R$ 4.410,00
Observação: Corresponde a 14 acadêmicos que não pagaram, ainda, os medalhões e a 07 acadêmicos que não pagaram anuidades (2008 e 2009).
08 – Conclusão
É muito importante que os(as) acadêmicos(as) procurem saldar suas dividas junto à Entidade, comunicando-se com o nosso colega Mário Bezerra Fernandes, Diretor Financeiro e de Eventos, – Fones 3219.6988 ou 9903.0140. A Academia precisa, também, da colaboração de seus sócios acadêmicos sob outro modo de colaborar como, por exemplo, falar sobre os patronos e, assim, estabelecer debate útil sobre a vida e obra de cada patrono. ALL só se consolidará mediante a participação de todos, cada um participando naquilo que sabe e pode.
Atenciosamente, a Diretora: João Gonçalves de Lemos (Presidente), Jeová batista de Moura (Secretário Geral), Mário Bezerra Fernandes (Diretor Financeiro e de Eventos) e Gilson Batista Maciel (Diretor Executivo).

terça-feira, 9 de março de 2010

DA. SARAH CABRAL - Emerson Monteiro

O Ceará perdeu, neste início de março de 2010, uma das principais responsáveis pelo crescimento da educação universitária em nossa região do Cariri, a professora Sarah Esmeraldo Cabral. Lutadora incansável e líder emérita, que movimentou céus e terra no objetivo de reivindicar a Universidade Regional do Cariri, isto já proveniente das batalhas iniciais pelas faculdades antes existentes em Crato, Filosofia, Ciências Econômicas e Direito, nas quais também pontificou.
Sarah Cabral teve atuação marcante na instalação e no prosseguimento por décadas da Fundação Padre Ibiapina, da Diocese do Crato, com o seu espírito precursor e seu conhecimento. Uma referência indispensável quanto ao sucesso da administração do bispo diocesano Dom Vicente de Paula Araújo Matos, que exerceu importante papel na consolidação dos alicerces do que hoje o Cariri dispõe no âmbito universitário.
Em testemunho de justiça, registro com emoção a chance de haver trabalhado na URCA na ocasião do seu mandato à frente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico do Cariri – Fundetec, cujo desempenho impecável assegurou as bases do sucesso da professora Violeta Arraes em seu mandato de Reitora daquela instituição.
Falar em Sarah Cabral é patentear, pois, a objetividade e o zelo de alguém para com os negócios da educação e o seu acendrado amor pelo Crato, sobretudo, expoente de família tradicional do lugar, impondo qualidade e eficiência na organização técnica de todas as ações de ordem administrativa nos pleitos conduzidos junto a órgãos oficiais, inclusive nos setores mais sofisticados da Capital Federal.
Por tudo isso e muito mais, além da saudade que deixa em seus contemporâneos, a partida a outros planos dessa distinta educadora abre lacuna impreenchível no mundo intelectual das terras caririenses.

sábado, 6 de março de 2010

LEITURAS - Emerson Monteiro

Houve um tempo quando coisas inesperadas complicavam o meio do campo da impaciência angustiosa que instinto selvagem parecia querer jogar fora a canga e destruir de qualquer jeito os quebra-mares estabelecidos nos sistemas de defesa. Comodidades vaidosas atiravam tudo para o ar, e acendia dentro de mim fome cruel de romper o ferro dos laços da organização pessoal, no sabor dos caprichos que aparecessem à porta principal. Com isso, contrariava fácil o ditame das regularidades, invadia outras praias, feria suscetibilidades, a começar pela saúde interna do respeito aos prospectos guardados meses a fio, na malha do esforço consistente.
Não queria aceitar que mesmo no calor dos testes necessários habitasse o mistério do drama secular das permanências e conquistas cotidianas. Perdia, a bem dizer, o senso do tanto das melhores partes, porque desistia de pagar o preço de acumular a poupança da paz, naqueles momentos de chegar aos limites e merecer resultados produtivos, lições que a vida traz aos seres sobreviventes, livres da discriminação de raça, credo, cor, sexo, idade, partido, time, filosofia, indo, nesse prumo, justificar lá adiante o querer sem a comprovação da resistência, azeite doce da hora de receber o que se ganha com esmero e qualidade.
Já hoje, talvez isso o que denominam experiência, descubro faceiro que inexiste vitória sem a luta correspondente. Noites insones, dúvidas, opiniões, renúncia. Bajulação perde a força no que tange ao valor real das sementes verdadeiras. Ninguém, de insana consciência, que aguarde pacote pronto dos reservos do destino, usufrui da mera credulidade indecorosa, insuficiente, que alimentou. Pode até, nas horas vagas, parece que ganhou qualquer lance, porém o custo da incúria corre solto atrás dos presságios alvissareiros da inércia.
Apresentou-se o desafio, logo em seguida, fruto daquela árvore imensa, cresce, no lodo e no tempo, as perguntas da justiça do merecimento. A cada um conforme seu mérito, porquanto a Natureza trabalha à base de leis matemáticas, soberanas, longe de peixadas sociais dos mundos tortos.
Quase uma mensagem cifrada indica: ou plantou ontem ou haverá de plantar agora, caso pretenda dispor de resultados sonhados para o futuro. Há normas equitativas, independente de que funcione ao passo da individualidade pretensiosa, luxenta, da própria barriga.
Depois de muito forcejar as barras da inconsequência, nenhum vento leve conduz aos segredos universais só por conta dos belos olhos.
Há batalhas pela frente antes da vitória. Luzes das doutrinas humanas caem aos primeiros acordes do dia, residência fiel da balança que estabelece princípios firmes.
O acaso de dados ao vento passa longe do Santo Graal, no passo dos peregrinos. E suportar espinhos permite a maciez da rosa mais perfeita.

quarta-feira, 3 de março de 2010

CONVITE

Amados Lavrenses
Sexta-feira, dia 5 de março, às 18:00 horas, nos Jardins da Reitoria da Universidade Federal do Ceará - UFC, (13 de Maio com Av. da Universidade), será prestada uma homenagem ao Cientista (lavrense) Melquiades Pinto Paiva, pela passagem dos seus 80 anos; como o idealizador e fundador do LABOMAR, autor vários livros e trabalhos científicos, reconhecido em todo o mundo pelos conhecimentos em oceanografia. Na ocasião será distribuído o livro de memórias do homenageado,como historiador e um dos maiores estudiosos sobre a cultura nordestina. Seus conhecimentos sobre o cangaço e livros publicados o credencia como autoridade no assunto.
Convidamos aos filhos, amigos e familiares lavrenses para prestigiar esse grande conterrâneo.
A sua presença faz uma grande diferença.
Atenciosamente
João Gonçalves de Lemos
Presidente